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parte quatro



001 — A música desse capítulo é Youngblood, quero ver muuuitos comentários, ok?








"Lembra das palavras que você me disse

"Me ame até o dia que eu morrer"?

Entreguei-me por completo

Porque você me fez acreditar que você era minha"


ERA A PRIMEIRA VEZ QUE alguém me sequestrou, a experiência estava sendo tão ruim quanto imaginei que seria. Não ajudava que o sequestrador fosse, por acaso, a minha própria mãe.

Foda-se essa coisa de amor materno.

Eu não tinha certeza de quanto tempo já tinha se passado desde que havia sido presa ali, meus pulsos doíam como o inferno, Mary estava sendo criativa naquela coisa de tortura, o que era uma merda.

As fotos ainda estavam espalhadas pelo chão, mas agora elas estavam manchadas de sangue, o meu sangue.

Minha esperança era que meu pai aparecesse logo, o que era uma droga, considerando que a presença dele fazia parte de todo o plano mirabolante de morte em família e tudo mais. Minha cabeça estava doendo e o galpão velho parecia girar, havia grandes chances de eu estar com uma maldita concussão.

Mary havia saído e o único que tinha sobrado era seu querido amigo, o cara que havia bancado o stalker e me perseguido por meses.

Pela janela que ficava atrás de onde o homem estava parado percebi uma movimentação, mordi o lábio inferior para não sorrir como uma idiota, é isso, meu pai realmente tinha vindo daquela vez. A esperança floresceu dentro de mim, minha relação com meu pai havia melhorado nos últimos anos, mas logo após a separação e o caos envolvendo minha mãe, nossa relação não estava boa, ele nunca estava lá, o trabalho era mais importante do que a própria filha.

Anos de terapia tinham ajudado nossa relação a melhorar, mas saber que ele tinha vindo dessa vez me fazia querer chorar de alívio.

— Como você conheceu Mary?

Isso chamou a atenção do homem, se o reforço tinha chegado, eu precisava o manter distraído até ser tarde demais e o pessoal entrar.

— Eu trabalho como psiquiatra na clínica.

Fiz uma careta com a informação, ele não deveria trabalhar ajudando aquelas pessoas ao invés de se apaixonar?

— Uma coisa meio Coringa e Arlequina? Se apaixonar pelo paciente? Eu tenho que dizer que acho meio brega... — murmurei lentamente — altas chances de dar errado.

O homem me encarou.

— Mary me ama.

— É, ela fez todas as suas vítimas acreditarem nisso, o que posso dizer? Ela sabe convencer bem as pessoas quando quer.

Antes que ele pudesse responder, a porta abriu e diversos agentes entraram. Mesmo morrendo de dor, forcei um sorriso ao ver Emily e Morgan, que rapidamente imobilizaram e algemaram o cara. Senti alguém soltar meus pulsos, demorei alguns momentos para perceber que era Spencer, que agora se ajoelhava na minha frente.

Olhei ao redor, mas não vi meu pai.

— Você parece...

— Péssima? — sugeri, cansada — É.

Ele suspirou baixinho e passou o braço ao redor do meu corpo, senti o lugar inteiro girar e não precisava ser muito inteligente para saber o que viria a seguir.

— Reid, o que são essas fotos no...

— Desculpe — murmurei.

Spencer me encarou confuso, mas no segundo seguinte eu desmaiei.


"Sim, você costumava me chamar de "amor"

Agora você está me chamando pelo nome"


— A TERAPIA VAI TE ajudar, minha princesa — David Rossi disse, enquanto dirigia o carro — vai nos ajudar.

Olhei para a janela, me sentindo desanimada.

— A terapia vai mudar o fato de você ter me abandonado e a minha mãe ser uma assassina? — murmurei, cansada — Se a resposta for não, então eu não acho que seja muito útil para mim.

Ele suspirou.

— Eu sinto muito, nunca imaginei que sua mãe iria agir dessa forma e fazer essas coisas.

O encarei pela primeira vez desde que tínhamos entrado no carro.

— É o seu trabalho reconhecer esse tipo de gente, como você não percebeu? — perguntei, sem conseguir me conter — Eu te disse que ela ficava louca quando você ia embora, mas você nunca acreditou em mim.

Meu pai me lançou um rápido olhar.

— E isso é algo que nunca irei conseguir me perdoar — ele sussurrou — é diferente quando você está envolvido tão intimamente e...

— Porque você nunca tinha tempo para mim? Ajudar pessoas desconhecidas é mais importante do que ajudar a sua própria filha? Eu só queria meu pai.

Ele respirou fundo.

— Não posso concertar o passado, mas posso prometer que sempre vou estar do seu lado no futuro, que não vou te abandonar nunca mais. É uma promessa.

Mesmo que todo o meu coração quisesse acreditar em suas palavras, eu sabia que era apenas uma doce ilusão.

— Ok.

Nos anos seguintes, David Rossi iria fazer de tudo para provar que a sua promessa era verdadeira para mim e, aos poucos, nossa relação melhoraria.


"Preciso reconhecer, sim

Você me venceu no meu próprio maldito jogo"


— VOCÊ ACORDOU — Spencer disse, aliviado — Como está se sentindo? Você teve uma concussão.

Eu estava deitada em uma cama de hospital, o lugar era branco demais de uma forma que me dava dor de cabeça. Spencer não parecia tão perfeitamente arrumado como sempre, sua roupa estava amassada e seu cabelo bagunçado.

Tentei me sentar, ignorando a dor no meu corpo.

— O que aconteceu com...

— Rossi conseguiu localizar e prender Mary, dessa vez decidiram que ela vai para uma prisão de segurança de alto nível ao invés de uma clínica — ele respondeu, me ajudando a sentar corretamente na cama — Ele está cuidando pessoalmente de tudo.

Fiz uma careta com a informação.

— Claro, cuidar da ex psicótica é mais importante do que cuidar da filha machucada.

Spencer suspirou.

— Ele queria estar aqui, mas precisava cuidar de toda essa coisa e eu prometi que não sairia do seu lado enquanto você não acordasse, então...

Ótimo, ele estava ali por pena.

— Eu acordei, pode ir embora agora.

Ele me enviou um olhar cansado enquanto se sentava na beirada da cama, Spencer pegou minha mão com cuidado, fazendo carinho nela.

— Quase enlouqueci quando achamos seu carro abandonado na frente da lanchonete com o celular desligado no banco de trás — Spencer murmurou, olhando nos meus olhos — foi uma sorte que aquele restaurante velho tivesse uma câmera funcionando, vimos você e Mary mas filmagens e... Teve um momento sombrio que eu achei que não conseguiríamos chegar a você a tempo.

Spencer parecia estar sendo sincero, mas eu sabia que palavras bonitas eram apenas palavras.

— Eu não preciso da pena de ninguém, Reid — eu disse, o encarando — tudo isso que você disse é muito bonitinho e...

— Será que você pode parar de me afastar? Eu só terminei o que a gente tinha porque foi você que desde o começo falou que não queria nada sério, passei meses me sentindo um idiota por ter sentimentos por você e naquele dia que você veio com aquela coisa de talvez sentir algo a mais e querer mais, eu surtei e sinto muito por isso, mas você é... O livro mais complicado que eu já li — Spencer disse, andando furiosamente pelo quarto — Só dessa vez quero que você seja sincera comigo, sem máscaras ou armaduras. Alexandra Rossi, eu te amo, você sente o mesmo?

Demorei alguns minutos para assimilar todas as implicações do discurso de Reid, eu não conseguia acreditar em tudo aquilo.

— Você gosta de mim?

— Foi o que eu acabei de dizer — ele me encarou, franzindo a testa — Agora você poderia, por favor, responder minha pergunta?

Inesperado.

— Eu amo você.

Spencer suspirou aliviado.

— Ótimo, estamos na mesma página, agora eu vou beijar você.

Não tive tempo para responder, pois ele se aproximou e colocou as mãos no meu rosto, me beijando com cuidado e delicadeza por causa dos meus machucados.

— Uau, parece que vocês se acertaram... Reid, cuidado, ela está machucada!

Ele se afastou de mim e eu olhei para a porta, onde Emily estava nos encarando com uma expressão divertida. Ver ela imediatamente fez com que eu me lembrasse de algo, eu ainda estava extremamente chateada com aqueles dois.

— Vocês concordaram com Hotchner me tirar do caso.

Emily se aproximou e sentou na beirada da cama, me encarando com atenção.

— Estávamos tentando te proteger, mas agora vejo que foi uma escolha estúpida e apenas serviu para te lançar direto nos braços da suspeita — ela suspirou, então pegou minha mão — Eu nunca duvidei das suas capacidades, mas sei que nem sempre é fácil voltar a encarar um trauma que nos persegue por tanto tempo.

Senti meus olhos começarem a lacrimejar.

— Vocês deveriam ter ficado do meu lado.

Spencer fez uma careta.

— Prometemos nunca mais fazer isso.

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