Well, Shit
Estepes Illyrianas
250 anos atrás
Alynia foi atirada com força contra a árvore e suas asas se chocaram contra a madeira e gritaram de dor. Ela gemeu e deixou o corpo cair no chão, o rosto batendo na grama fofa.
-Levante.-disse Cassian, mas ela não o fez. Estava dolorida e quebrada e seus ossos gemiam e imploravam para parar. -Alynia.
-Não consigo.- choramingou ela.
-Preguiçosa, está ficando muito mal acostumada. - sibilou Cassian. Ela bufou, mas não mexeu um músculo de onde estava. Qualquer movimento doía, e ela poderia passar a tarde inteira largada naquele lugar. -Deveria chamar Azriel pra te dar uma surra, ele certamente não te daria um minuto de paz.
-Você que pensa. Azriel é mais decente que você. - falou ela. Cassian revirou os olhos.
-Então porque não pede pra ele treinar com você?- disse ele e Alynia sorriu.
-Vou pedir. - retrucou ela. Cassian revirou os olhos. -Para, seu illyriano irritante. Estou brincando. Sabe que devo a você.
-Você não me deve nada, Aly. - ele disse se sentando em frente a ela. -Eu só fiz o que achava certo.
-Salvou minha vida. Me treinou. Me tornou uma verdadeira guerreira illyriana.
-Não fiz nada sozinho. O Rhys e o Az também tem seus créditos em algumas surras que você levou. - disse Cassian e ela deu risada.
-É, mas você quem me tirou da merda, seu mané. É meu melhor amigo e eu sou grata a você por tudo o que fez por mim. E vai me ouvir dizendo isso só essa vez, então não fique se achando. - ela disse e Cassian deu uma gargalhada.
-Está bem, vou fingir que não escutei nada pra você manter sua dignidade intacta. -zombou Cassian e Alynia grunhiu.
-Por que ela está no chão?- disse uma voz atrás de Cassian e Alynia levantou a cabeça para encarar Azriel.
-Cassian me quebrou.- reclamou ela.
-Eu não fiz nada disso!- reclamou o Illyriano. -Ela está ficando preguiçosa. Setenta anos treinando comigo, e ela começou a ficar preguiçosa.
-Você está pegando muito pesado. - ela disse com um sorriso. Cassian arqueou a sobrancelha.
-Boa sorte com o Azriel hoje.- disse Cassian e se levantou. O coração de Alynia deu um salto, e ela se sentou rapidamente, gemendo de dor ao fazê-lo.
-Espere, o que?- chiou ela. Azriel deu um sorrisinho.
-Tenho uma reunião com o idiota do Devlon. Exatamente agora. E você disse que queria aprender a ser mais silenciosa e sei lá o que. Ser silencioso não é comigo.- disse Cassian e abriu as asas. -Tchau.
E, sem dar tempo de Alynia gritar com ele, Cassian bateu as asas e foi para os céus, sumindo segundos depois.
-Mané.- resmungou ela e Azriel se aproximou da fêmea, estendendo a mão cheia de cicatrizes para ela. Alynia não pensou duas vezes antes de aceitar a ajuda do illyiano para ficar de pé. -Pega leve comigo, tá ok?
-Desde quando você quer um "pega leve"? - disse Azriel franzindo o cenho pra ela. Alynia suspirou.
-Tá bom, você tem razão. Eu não voltando mais quebrada pra casa, sem problemas. Mostre seu pior, Encantador de Sombras.
Alynia e Azriel voaram em silêncio até a vila illyriana onde a fêmea morava. De fato, ele não havia pego leve com ela e Alynia só queria cair na cama e dormir.
Quando pousaram, alguns illyrianos os encararam, principalmente a Azriel, com expressões e caras feias direcionadas ao Encantador de Sombras. Alynia sentiu a tensão crescer dentro de si.
-Az, pode ir. Não precisa ficar aqui, sei que odeia os olhares. E os illyrianos.- disse ela baixinho e Azriel a encarou. Ficaram em silêncio por um tempo até o encantador determinar:
-Te acompanho até sua casa.
As sombras ao redor de Azriel se intensificaram com os olhares feios e cochichos dos illyrianos. Alynia já estava acostumada, afinal, era considerada uma fêmea desonrada pelos outros por ter se negado a fazer as funções que se espera de uma fêmea. Mas Alynia não se arrependia nem por um segundo disso.
A casa dela ficava mais afastada da vila, apesar de terem que passar por ela para chegar lá. Quando estavam perto o suficiente, Alynia suspirou, já imaginando qual seria a briga da noite com o pai, um guerreiro tradicional illyriano que não aceitava o fato da filha ser uma guerreira também.
-Obrigada... Por me acompanhar.- disse ela e Azriel assentiu com a cabeça.
O macho ao seu lado estava prestes a se dissipar em sombras e atravessar quando sentiu, ao mesmo tempo que Alynia, um cheiro de ódio atingir as narinas. Ambos enrijeceram o corpo, e o coração de Alynia disparou quando ela viu a porta da frente ser escancarada.
O pai de Alynia estava colérico quando saiu, caminhando duro na direção da filha, ignorando os gritos de protesto da mãe e da irmã dela implorando para que ele parasse.
-Uma filha minha além de querer ser guerreira aparece na porta de casa com um macho bastardo!- rosnou o homem.
E Alynia, sem entender o que estava acontecendo, não teve tempo de desviar antes que um soco a atingisse na boca. Alynia cambaleou e escutou um grito sair da garganta de sua mãe.
Mas o pai dela não se contentou com somente aquele soco, e estava prestes a dar mais um quando Azriel se moveu. Ele segurou o punho do pai de Alynia com uma facilidade assustadora, e a fêmea escutou o barulho de osso partir antes de escutar o grito de dor do pai.
-Você nunca mais encosta nela ou eu quebro todos os seus ossos. - disse Azriel, a voz fria e cruel. Ele soltou o macho, que caiu de joelhos no chão enquanto gemia de dor.
-Eu cansei dessa merda.- disse Alynia irritada e entrou dentro de casa, passando pela mãe e pela irmã que gritavam com ela. Alynia foi para o quarto que dividia com a irmã e enfiou as poucas roupas que tinha em uma bolsa antes de sair de novo. -Eu amo vocês. Mas pra mim já deu. Já deu há muitos anos. Eu devia ter ido embora depois que Adrien morreu. E não vou adiar mais isso.- disse a guerreira antes de dar as costas pra família e caminhar até Azriel.
Ela parou a poucos centímetros do pai e o olhou de cima a baixo. Alynia fedia a raiva e desprezo, e cuspiu no chão ao lado do macho. Azriel estendeu a mão pra ela, uma pergunta silenciosa. Ela segurou.
-Onde?- perguntou ele, simplesmente.
-Qualquer lugar, longe daqui. - ela disse, um nó se formando na garganta.
Então Azriel os atravessou dali. No segundo seguinte, estavam no alto de uma montanha. Alynia caiu de joelhos no chão e cobriu o rosto com as mãos.
-Sinto muito por isso.-ela disse baixinho. -E obrigada.
-Nenhuma fêmea merece ser tratada assim, Alynia. E você merece respeito.- disse o Encantador de Sombras se sentando ao lado dela. Azriel a encarou e estendeu a mão pra limpar o sangue que escorria da boca dela.
-Ele nunca vai entender. Todos os dias era uma luta naquela casa. Ele tentou cortar minhas asas milhares de vezes, Az. Eu sempre tenho que dar um jeito de me livrar disso. Minha irmã não se livrou e eu não pude fazer nada por ela na época. - Alynia respirou fundo e deixou que uma lágrima silenciosa escorresse enquanto ela olhava pro céu. -Por que machos deveriam ter o direito de voar e nós não? Eu odeio isso.
-Eu também odeio.- confessou Azriel.
-Eu não tenho ninguém. Talvez meu irmão me deixe morar com ele. Sempre foi menos extremista que meu pai. Não concorda com minhas decisões, mas respeita.- ela disse e suspirou. -Mas pra onde eu vou se Thery não quiser me aceitar?
-Você sabe que sempre vai ter um lugar em Velaris.- disse Azriel.
-É. Acho que sim.- ela inspirou profundamente. E quando o fez... Choque percorreu seu corpo quando ela sentiu.
Porque aquele macho ao seu lado não era somente o illyriano mais poderoso dos últimos séculos, não era somente um encantador de sombras, não era somente o mestre espião do Grão Senhor, não era somente seu amigo. Azriel era seu parceiro. E ela conseguia sentir o laço que os unia. Fraco, meio escondido, quase imperceptível, mas existente. E naquele momento estava gritando pra ela, a puxando.
-O que foi?- perguntou Azriel. Ele não sabia. Não havia percebido.
Alynia não o contaria, decidiu então. Não quando Azriel estava apaixonado por Mor há tantos séculos. Não quando não sabia o que de fato existia entre ele e a fêmea. Não quando o próprio Azriel não havia notado. Não quando Alynia não sabia se ela seria capaz de um dia amar novamente alguém dessa forma. Ela não arriscaria, não arriscaria colocar em uma corda bamba sua amizade com Azriel. Pois qual seria a reação do Encantador de Sombras caso soubesse? Não. Ela não falaria. Ela própria demorou setenta anos para notar aquele laço. Talvez ele nunca percebesse, não com o laço não firmado. Então, Alynia forçou um sorriso e disse:
-Acho que terei que descobrir o que fazer a seguir.
Boa noitinha meu povo! Como estão? Espero que bem.
Tô me sentindo generosa essa semana, então resolvi postar mais um capítulo rsrsrs.
Ainda tem muita coisa pra rolar por aqui hehehe.
Espero que estejam gostando!
Vejo vocês no próximo capítulo!
~Ana
Data: 21/12/20
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