Velaris

           Alynia havia chegado em casa estressada depois de passar a manhã com Azriel buscando alguma pista, qualquer coisa, sobre Jurian. Eles não acharam nada, e Alynia não sabia dizer quem havia ficado mais irritado, ela ou ele.

              Quando abriu a porta do apartamento, encontrou Lucien deitado no sofá olhando pro teto. Ela franziu o cenho, mas se aproximou e se deitou cuidadosamente em cima dele seu peito pressionado contra o do macho, e ele deu um sorriso leve. Lucien a abraçou com carinho e passou a mão de forma preguiçosa pela asa dela.

-O que aconteceu?- ela perguntou apoiando o queixo na mão e o olhando nos olhos. Ele deu um sorriso fraco e contornou a cicatriz dela com o nó do dedo.

-Só estava pensando.- ele disse e ela arqueou a sobrancelha.

-Em que, exatamente?- perguntou a illyriana se inclinando para ficar cara a cara com ele.

-Essa história do Jurian. É muito estranha.- ele disse e Alynia suspirou, voltando a se deitar contra ele, a cabeça enterrada na curva do pescoço de Lucien.

-Eu sei. Mas vamos dar um jeito nisso.- ela disse e esticou a mão para tocar a bochecha dele. -Não é só nisso que estava pensando, não é?

-Droga, me conhecê bem demais.- ele resmungou.

-Claro que conheço. Como não ia conhecer bem o idiota que eu amo?- ela disse e Lucien a deu um peteleco no nariz.

-Sempre tem que vir com uma ofensa no meio.

-Não é ofensa quando é verdade, raposinha.- ela disse e ele riu.

-Estava pensando em Elain.- ele disse e Alynia enrijeceu ao ouvir o nome da fêmea.

-Hum.- ela resmungou puxando a mão de volta, tentando não demonstrar nada. Lucien a deu um beliscão na perna.

-Pare com isso, sabe que a única pessoa que eu amo e quero no mundo é você. - ele disse pegando a mão dela. -Mas ela me disse coisas estranhas.

-Como assim?- perguntou Alynia confusa.

-Disse pra eu aproveitar enquanto ainda posso ficar com você.- ele disse, seriamente, e Alynia sentiu como se tivessem pressionando seu peito e ela não conseguisse respirar.

-Isso foi um tipo de ameaça? Como se ela fosse, sei lá, puxar o laço?- disse Alynia seriamente.

-Ela que puxe o quanto quiser, não muda nada.- ele disse.

-Lucien, você acha que conseguiria...- ela começou, mas ele a cortou.

-Sim. Pelo Caldeirão, sim, eu resistiria a esse laço. Por você. - ele disse a olhando seriamente. -Nem que eu tivesse que sofrer pelos instintos, ainda assim o faria.

-Lucien, eu nunca pediria pra você sofrer por minha causa.

-Se Elain puxasse o laço sabendo que você é a única que eu amo, quem estaria causando meu sofrimento seria ela. O peso iria todo pra ela.- ele murmurou e Alynia se calou. -Mas não acho que foi uma ameaça. Não acho que tem nada relacionado ao fato deu ser parceiro dela.

-Então acha que foi...- Alynia nem conseguiu concluir sua frase, engolindo seco.

-É. Isso que está me preocupando. Significa que algo vai acontecer com você? Não posso deixar isso acontecer.- ele disse a apertando mais em seus braços.

-Não quero pensar nisso, Luci.- ela disse meio nervosa, enterrando a cabeça no peito dele e o apertando com força. -Não vou deixar que nada aconteça com nenhum de nós.

-Ah, eu sei.- ele disse a puxando e segurando o rosto dela em suas mãos antes de beijar delicadamente seus lábios. -Não vamos falar nem pensar nisso, tudo bem? Nada vai nos separar, Alynia, nunca. Ninguém, nem mesmo que a própria Mãe tente. Eu sempre vou arranjar um jeito de chegar a você. Sempre.- ela encostou a testa da dele e fechou os olhos.

-Eu te amo.- ela disse baixinho passando a mão pelos cabelos ruivos de Lucien.

-Eu te amo.- ele disse a segurando com carinho.

               Que o mundo se destruísse e ruísse em chamas e gelo. Porque quando Alynia estava com Lucien, nada mais era importante. Nada era assustador. E tudo parecia que daria certo no final.

Corte Diurna

             Alynia ficou meio incrédula quando chegou na Corte Diurna com Lucien para um jantar com Helion e a mãe dele e encontrou o lugar completamente diferente. Não parecia mais um bordel, afinal. Onde Helion tinha enfiado os machos e fêmeas que desfilavam pelo seu palácio com uma roupa tão transparente que parecia não servir pra nada, Alynia não sabia.

-Você está dando muito na cara seu choque.- murmurou Lucien no ouvido dela.

-Mas é chocante. Conheço Helion tem séculos e nunca o vi ser decente.- ela disse baixinho para que somente ele escutasse. -Ai, merda, sempre esqueço que ele é seu pai.- ela arregalou levemente os olhos e Lucien tentou conter a gargalhada, mas falhou.

-Vocês estão atrasados. - disse a voz de Helion atrás deles e ambos se viraram, encontrando o sorriso brilhante do Grão Senhor. Ao lado dele estava a mãe de Lucien, com a mesma expressão séria, mas, de certa forma, diferente. Alynia tinha uma noção do motivo para aquela diferença.

-Lucien demora horas pra se arrumar. - disse a illyriana sorrindo pro Grão Senhor. -E se eu estivesse falando isso só pra zoar a cara dele seria ótimo, mas ele demora mesmo pra se arrumar.

-Eu não demoro tanto assim, é você que veste a primeira coisa que aparece na sua frente.- ele disse fazendo uma careta. Alynia deu risada e sorriu pra ele.

             Helion e a mãe de Lucien se entre olharam e Alynia se lembrou que não estava sozinha com Lucien. Ela sentiu vergonha, mas não o suficiente para dar na cara.

-De qualquer forma, sugiro irmos logo jantar antes que Alynia comece a reclamar e ficar mais violenta do que já é naturalmente.- disse Lucien e ela o olhou boquiaberta.

-Você é um maldito. Vai me deixar mal vista pra sua mãe.- ela disse o olhando feio.

-Você se esquece que ela viu você chegar na Outonal parecendo uma maluca, cuspir na cara do Beron e depois decapitar ele, né?- disse Lucien e Alynia sentiu as bochechas pegarem fogo.

-Sobre isso. É.- o olhar da illyriana se encontrou com o da fêmea, que a olhava de uma forma avaliadora. Ai que merda. -Sinto muito por ter matado seu marido. Quer dizer, nem tanto assim. Mas, enfim.

-Quase morreu e não está nem um pouco arrependida.- disse Lucien a olhando feio. Ela deu de ombros.

-Era ele ou você, por mais irritante que você seja, não foi uma escolha difícil.- ela zombou e Lucien a deu um beliscão.

-Vocês parecem duas crianças.- disse Helion com um sorrisinho. -Mas suponho que crianças não façam as coisas que vocês com certeza fazem juntos. - Alynia quase teve um desmaio e Lucien corou tanto que Alynia achou que ia pegar fogo. 

-Helion! Isso lá é coisa que se fala pro seu filho?- disse a fêmea ao lado dele e Helion deu risada.

-Helion, você é pior que o Cassian quando o assunto é limites.- murmurou a illyriana seguindo o Grão Senhor até a mesa onde jantariam.

-Aliás, fiquei sabendo que Cassian ameaçou quebrar a cara do Lucien.- disse Helion sorrindo e Alynia tentou não rir ao ver a cara horrorizada da mãe de Lucien. Ela olhou pro filho, como pra se certificar que tudo estava em ordem no rosto dele.

-Cassian só sabe falar.- disse Alynia.

-Que bom, né?- disse Lucien a olhando. Alynia deu de ombros.

-Enquanto a você -começou Helion, a olhando seriamente pela primeira vez em séculos. -Falei pra tentar não ser morta e você mata um Grão Senhor? Sério mesmo?

-Er...- ela começou e suspirou. Alynia segurou a mão de Lucien na dela. -Ok, eu me descontrolei um pouco.

-Um pouco? - Lucien disse a encarando.

-Cala boca, Lucien.- ela disse baixinho, mas, claro, todos escutaram. -Para de fazer parecer que eu sou maluca.

-Mas você é. Helion sabe disso também. E nem tenta reparar as coisas com a minha mãe agora.- ele disse e ela fez cara feia pra ele.

-Fiz isso porque te amo, seu grande idiota.- ela resmungou. Lucien sorriu e olhou pra mãe dele.

-Eu disse que ela era adorável, mãe.- ele falou e Alynia arregalou os olhos. Ele falou de mim pra mãe dele? Sério? Agora que ela vai me odiar mesmo.

-Mais agradável que sua parceira ela é.- disse a fêmea tranquilamente e Alynia piscou, chocada. -E pelo menos ela te ama de verdade.

-Acho difícil negar isso depois que mostrei estar disposta a morrer por ele. - soltou Alynia ganhando a atenção da mãe de Lucien. Alynia corou um pouco. -Caso não esteja óbvio. Sei que não sou fácil de lidar, aliás, sou péssima.

-Alynia.- murmurou Lucien ao seu lado, um pedido para parar de se xingar. Ela o ignorou. 

-Mas realmente me importo com seu filho e o que sinto por ele é verdadeiro. - ela disse e mãe de Lucien a olhou com um ar avaliador. Então abriu um sorriso.

-Soube disso no momento em que desafio Beron. Não me importo com seu jeito de ser. Você daria a própria vida pelo meu filho sem pensar duas vezes. O faz feliz como nunca vi antes. É só isso que eu queria. Mas ainda assim você se preocupou com a possibilidade de eu não gostar de você, o que só mostra outra vez o quanto você se importa. Não tem que se preocupar comigo, querida. Mas se vai fazer você se sentir melhor, saiba que eu te aprovo.- Alynia segurou um suspiro aliviado e deu um sorriso para a mãe de Lucien.

-Você provavelmente não se importa.- disse Helion cortando o momento. -Mas também aprovo. - ele disse dando um sorriso grande e fazendo um joinha. Alynia não sabia se ria ou batia nele.

-Tem razão, Helion.- disse a illyriana o dando um sorriso debochado. -Com você eu não me importo mesmo!

                Daquela vez, todos riram. E Alynia passou ali uma das suas últimas noites em paz antes que seu mundo virasse de cabeça pra baixo.

Boa noite meu povo!

Fiquei sem tempo, só consegui postar agora

Daqui uma hora eu posto outro capítulo, meu povo

Espero que estejam gostando!

Vejo vocês no próximo capítulo!
~Ana

Data: 29/01/21