Invitation
Estepes illyrianas
Uma semana depois
Alynia estava jogada no sofá da casa de Thery, o caderno largado no chão enquanto ela apertava com força a caneta em sua mão.
-Tia, vai ficar ai o dia todo?- disse a voz de Roland e ela ergueu um pouco o corpo para encarar o sobrinho mais velho. Ele estava com as mãos na cintura de uma forma adorável, a olhando com um ar mandão.
-Não me provoca, pirralho.- ela disse sem conseguir conter o sorriso. -Meu humor estão um cão.
-O que está fazendo?- ele disse se aproximando e se jogando ao lado dela no sofá. Roland pegou o caderno de Alynia e leu atentamente as anotações. -Achei que sua missão para o Grão Senhor tinha acabado quando encontrou as crianças que sumiram.
-Está bem longe de acabar, pestinha.- ela disse pegando o caderno de volta e suspirando. -Conseguimos todos de volta e sem nenhuma morte, o que é ótimo, mas estamos perdendo o foco principal do assunto: o culpado por tudo isso ainda está a solta. Ou seja, ainda é problema meu. Não quero que nada machuque minha família. - ela esticou o braço e apertou levemente a bochecha de Roland.
-Somos fortes, tia, não vamos nos machucar. - garantiu ele e ela sorriu levemente. Ele se aproximou, como se fosse contar um segredo. -Não conte pro papai, mas Bonnie é mais forte que Haise e eu juntos. Acha que um dia ela vai ser guerreira que nem você?
-Se ela quiser.- ponderou Alynia e a fêmea deu um sorrisinho. -Seu pai vai ficar tão, tão, mordido.
-Alynia!- ela escutou Thery gritar do lado de fora da casa. Roland e ela trocaram um olhar aterrorizado. Teria ele escutado a conversa?
-Não se preocupe, tia, se papai te matar eu vou fazer um enterro digno pra você.- disse Roland. Alynia o deu um beliscão na coxa.
-Mas que peste você é, menino!
-Alynia, está ficando surda?- gritou Thery de novo, a voz mais próxima da porta dessa vez.
-Foge, tia, corre.- brincou Roland e Alynia o deu uma almofadada. Roland retrucou e eles começaram uma guerra, ignorando o chamado de Thery.
-Ah, ai está você! Pelo Caldeirão, o que vocês dois estão fazendo?- Thery deu um gritinho esganiçado. -Se Lily chegar e ver o estado da sala e o que fizeram com as almofadas dela, ela vai me matar!
-Ai, para de ser chato, Thery!- retrucou Alynia sem se virar para o irmão, ainda ocupada em atacar Roland.
-É, pai!
-Menino...- alertou Thery. -Eu te chamei, Alynia, ficou surda?
-Eu não...- ela finalmente se virou e viu o macho que estava ao lado de seu irmão. O choque dela foi tanto que não viu quando Roland atirou com tudo a almofada no rosto de Alynia, a fazendo cambalear. -Roland, tempo!- ela disse e o menino deu uma gargalhada. Ele se virou de vez para o irmão e o macho. -O que está fazendo aqui?
-É assim que você recebe seus amigos?- disse Thery pra ela, incrédulo e, se virando para Lucien, completou: -Peço perdão pela falta de educação da minha gêmea.
-Ah, pode ter certeza que já me acostumei com isso.- respondeu Lucien, sorrindo para Alynia.
-Raposinha, você veio até aqui só pra insultar?- ela perguntou cruzando os braços e semicerrando os olhos.
-Claro que não. Temos, hm, assuntos pra tratar.- ele disse e ela suspirou.
-Já volto.- ela disse para o irmão. -Roland, quando eu voltar, se prepare pra maior guerra de almofadas que você já presenciou.
E, sem esperar por uma resposta, Alynia arrastou Lucien até o quintal atrás de casa, longe dos ouvidos de Thery. Ela olhou para Lucien e ficou na dúvida se deveria abraça-lo ou soca-lo.
-Faz uma maldita semana, Lucien. - foi o que ela disse, tentando permanecer calma.
Depois que levaram as crianças para suas devidas casas, Lucien simplesmente atravessou e sumiu, sem nem mesmo se despedir, sem nem mesmo dizer se estava tudo bem, sem nem mesmo se justificar, deixando Alynia completamente confusa. E levemente preocupada.
E quem ela queria enganar? Havia se acostumado com a presença de Lucien, e passar aqueles dias sem ele havia sido estranho. Quase como se tivesse algo faltando, e de fato havia.
-Eu sei, mas, olha...
-Você sumiu por uma semana. E não me disse onde estava. Nem se despediu. Eu fiquei preocupada com você.- ela disse e o empurrou, magoada. Lucien segurou as mãos dela, não com força, mas com carinho. -Você é uma maldita raposa.
-Pode me xingar o quanto quiser, ok? Me desculpa. Eu deveria ter avisado, mas precisava resolver umas coisas. - ele disse e ela suspirou, se afastando dele.
-Tanto faz, porra.
-E ainda temos coisas pra resolver.- ele disse e ela cruzou os braços.
-Suponho que só me procurou por causa disso.- ela disse arqueando a sobrancelha, tentando não demostrar que se importava. Mas, bem, ela se importava. E muito, aliás.
-Sim, porque mais eu te procuraria?- ele disse franzindo o cenho. Alynia não demostrou, mas sentiu como se levasse um soco no estômago. Lucien deu risada e ela quis voar no pescoço dele por rir dela. -Pode usar essa máscara de gelo que você adora, mas te conheço. Pare de ser idiota, eu vim aqui porque me importo com você e senti sua falta. - admitiu ele e ela sentiu algo estranho dentro dela, algo que preferiu ignorar.
-Você é um imbecil e a pior amizade que já tive. - ela disse irritada e Lucien sorriu. -Onde você esteve?
-Nas terras humanas.- ele disse e Alynia teve vontade de socar Lucien outra vez. Sabia que ele não estava contando tudo.
-Não estava porcaria nenhuma, acha que não te procurei por lá?- ela disse o dando um chute na canela. Lucien grunhiu.
-Porque tudo pra você se resume a violência?
-Lucien, onde você estava?
-Está bem, eu fui na corte diurna.- ele disse e suspirou. O coração de Alynia parou de bater. Ah. Ah.
-Você...
-Sim.
-E o Helion...
-Sabe.
-E vocês...
-Tentamos.
-Porra. Me deixa completar uma frase.- ela disse e ele riu. -Você está... Bem?
-É. É, acho que sim. - respondeu ele se abaixando pra arracar uma das rosas que Bonnie tinha plantado, talvez para evitar olhar nos olhos de Alynia. Ele a colocou sobre a orelha da illyriana ajeitando o cabelo dela e a flor e Alynia revirou os olhos, tentando ignorar aquele gesto.
-E Helion?
-Ele disse que suspeitou disso quando fomos na Corte Diurna e só teve a confirmação. - disse Lucien com um suspiro. -Passamos alguns dias juntos, eu disse que voltaria depois. É tão... Estranho. Ver ele como meu pai.
-Ele foi gentil com você?
-Helion foi legal.- disse Lucien e deu de ombros, mas ela sabia o quanto aquilo o deixava desconfortável. O sentimento de não pertencer a lugar nenhum. -Mas eu mal o conheço.
-Vai ter tempo pra isso, Luci. Depois que a gente caçar quem quer que seja a pessoa responsável por sequestrar aquelas crianças.
-É. Eu sei. Bem, depois disso eu voltei pras terras humanas. Vassa me disse que você passou três horas me xingando e ameaçando quebrar meu nariz quando me visse de novo por ter sumido sem te avisar. - ele disse e deu um sorrisinho. Alynia o fuzilou com os olhos.
-E eu deveria!- ela disse apontando o dedo pra ele. -Mas não vou quebrar esse seu nariz bonitinho, nunca mais ia se recuperar e eu me sentiria culpada para sempre de deixar seu nariz torto, raposinha.
-Que gentil da sua parte!- zombou ele e Alynia fez uma cara de deboche. Lucien se aproximou um pouco mais dela. -Aliás, tem algo que eu queria te perguntar. Meio importante.
-Ai, não!- ela disse fingindo animação. Ela deu um sorriso afetado para Lucien e colocou a mão no peito. -Você vai me pedir em casamento, Luci? Mas é tão cedo, paramos de nos odiar faz tão pouco tempo!
Lucien gargalhou e deu um peteleco no nariz de Alynia. Ela sorriu pra ele, dessa vez de verdade.
-Está bem, falando sério agora. O que quer conversar?
-Você disse que não tem uma casa em Velaris, certo?- ele disse e ela assentiu, confusa. -E você disse que ia se mudar para lá assim que possível.
-Bem, sim, eu ia preocupar por apartamentos quando fosse pra lá na semana que vem.- admitiu ela. -Por que?
-Eu tenho um apartamento em Velaris. Eu mal passo tempo lá pois geralmente fico mais nas terras mortais, mas a questão é, tem dois quartos e é grande o bastante. E, se você quiser...- ele começou, mas ela o cortou.
-Espera. Está me convidando pra morar com você?- ela disse e Lucien desviou o olhar do dela.
-Bem, sim, você precisa de uma casa! E, como eu disse, eu mal fico lá, então não vai ter que se preocupar comigo e...- ele começou, mas a risada dela o fez se calar. -O que é engraçado?
-Você achar que eu só aceitaria morar na sua casa porque você mal fica lá. Lucien, pelo amor da Mãe, passamos mais de um mês juntos vinte e quatro horas por dia.- ela disse rindo. -Não vou dizer que foi fácil, você é um pé no meu saco, mas eu gosto da sua companhia. Sim, sim, eu quero morar com você no seu apartamento em Velaris, mas não porque você mal fica lá, mas sim porque é com você, Luci. - Lucien não conseguiu conter seu sorriso para ela.
-As vezes você é tão carinhosa que assusta.- ele admitiu. Alynia deu de ombros.
-Eu sei que sou intensa no meu jeito de ser.- ela disse dando uma piscadinha pra ele, o que fez Lucien balançar a cabeça. -Se acostuma porque vou fazer da sua vida um verdadeiro inferno.
-Que a Mãe me ajude. - ele disse, mas não parecia nem um pouco desesperado por ajuda. Alynia deu um sorrisinho diabólico para ele.
-Ah, você está tão ferrado, raposinha.
Sim, vocês leram certo: Alynia e Lucien vão morar juntos. Posso pensar em milhares de formas disso dar extremamente errado KKKK e ser extremamente divertido.
Espero que estejam gostando!
Vejo vocês no próximo capítulo!
~Ana
Data: 15/01/21
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