Corte Primaveril

Quando Alynia e Lucien voltaram de tarde, Tamlin teve a decência de não perguntar onde estiveram. Mas pareceu verdadeiramente chocado quando Alynia não se importou em provocar o Grão Senhor e simplesmente ignorou sua mísera existência.

Para o grande azar deles, não havia comida. Afinal, Tamlin ainda estava em uma situação ruim com seu próprio povo, então não tinha ninguém naquela mansão para ajudá-lo com essas coisas.

-Pelo Caldeirão, vamos comer o que então, pedra?- reclamou a illyriana que já sentia a barriga começando a roncar. Lucien suspirou.

-Talvez eu consiga pegar algo. Você trouxe um arco, não trouxe?- ele perguntou pra fêmea e ela riu.

-Você nunca vai conseguir usar um arco illyriano, raposinha. É tão difícil de usar que nem mesmo os machos illyrianos conseguem direito. São raros os que tem maestria usando essa arma.- disse ela e Lucien arqueou a sobrancelha.

-Então trouxe pra que?- provocou ele e ela o olhou indignada.

-Só pra você saber, cinquenta por cento dos babacas que me odeiam é porque se sentem intimidados pelo fato de que eu, uma simples fêmea, sei usar o arco e eles não.- disse ela cruzando os braços e Lucien riu.

-Você não é uma simples fêmea, quem quer enganar? É a violência em pessoa.- ele disse e Alynia fez um gesto vulgar pra ele.

-Pode usar um dos meus arcos, se quiser.- disse Tamlin e os dois pararam suas provocações para olharem o Grão Senhor da Primaveril. Haviam até esquecido que o macho estava parado ali, os observando. Lucien trocou um olhar com Alynia antes de responder.

-Está bem.- ele suspirou. -Eu volto em algumas horas. Não se matem, por favor.

-Não posso prometer nada, raposinha.- disse Alynia sorrindo pra ele. Lucien balançou a cabeça e saiu sozinho, afinal, ele já conhecia a casa e onde tudo se encaixava. Alynia se virou para Tamlin e cruzou os braços.

-O que é?- disse ele a encarando de volta. Ela deu de ombros.

-Bom, já que teremos que ficar aqui sozinhos por algumas horas até ele voltar, pode me dizer o que tem pra fazer nesse hospício antes que eu me mate de tédio.

-Se você não significasse tanto pro Lucien, eu arrancaria essa sua língua. - grunhiu Tamlin.

-Ah, por favor. Como se você desse a mínima pra ele.- ela rosnou.

-Eu me importo mais do que você imagina.

-Claro que sim. Passou séculos o tratando que nem merda e depois o colocou pra fora por causa do Rhys. - disse Alynia e riu com escárnio. -Que belo amigo que se importa você é.

-Você não sabe de absolutamente nada.- ele disse fechando a mão com força.

-E você sabe de algo? - ela disse arqueando a sobrancelha pra ele.

-Qual é o seu problema comigo?- ele disse e ela deu risada.

-Meu problema com você, Tamlin, começou quando você preferiu ser livre leve e solto ao invés de fazer um sacrifício por Prythian. Você preferiu deixar que todos os Grão Senhores se lascassem sozinhos e que todos nós ficássemos nas garras de Amarantha ao invés de simplesmente ficar com ela.- disse Alynia irritada. Tamlin abriu a boca para responder, mas Alynia o cortou. -Sim, seria uma bela merda passar a eternidade com ela.

"Mas não é isso que é ser um líder? Se sacrificar pelos outros? Pelo seu povo? A sua corte teve sorte, mas as outras ficaram cinquenta anos presas naquela maldita montanha. E como se não bastasse, tinha os monstros que Amarantha soltava por aqui, cortesia de Hybern." Ela deu um sorriso cruel para Tamlin.

-Minha família morreu por causa dela. Por sua causa. Sim, eu te culpo e te culparei pra sempre. E eu teria te matado quarenta e cinco anos atrás se Lucien não tivesse me impedido. Ah, sim, fique com essa cara de espanto. Não sabia da história? Talvez um dia Lucien te conte, mas eu duvido muito. Acho improvável que ele te perdoe por toda a merda que o fez passar. E se ele te perdoar, ah, se ele te perdoar eu mesma vou soca-lo.

"Como se não bastasse toda essa bosta, você fez o que fez com minha Grã Senhora. E com um dos melhores amigos que eu já tive, minha família. Sim, estou falando do Rhysand. Você acha que o conhece, Tamlin, mas não sabe de nada sobre ele. Nada. E nem sobre Lucien. E se você algum dia magoar minha raposinha de novo, eu destruo sua corte toda com você junto e estou pouco me lixando pras consequências disso."- Alynia terminou de falar e olhou Tamlin que a encarava sem reação. Ela sorriu friamente pra ele. -Pronto. Terminei. Agora, se me da licença, eu vou ficar bem longe de você, porque, caso não tenha notado, não vou nem um pouco com sua cara.

Alynia se virou para sair de perto de Tamlin, mas as palavras do Grão Senhor a fizeram estacar no pedestal da escada.

-Fico feliz que Lucien tenha achado alguém como você. - a voz dele não trazia nenhum sarcasmo ou maldade. Ele olhou diretamente nos olhos da illyriana quando disse: -Alguém que se importe de verdade com ele.

-Claro que me importo com ele, Lucien é meu amigo.- ela disse franzindo o cenho para o Grão Senhor. Tamlin deu um sorriso sem diversão pra ela.

-Nós dois sabemos que ele não é só seu amigo. Você literalmente se referiu a ele como seu. - disse ele e Alynia trincou o maxilar. Desgraçado. -Eu o conheço, apesar de você achar que não. Vejo a forma como ele te olha, como ele se importa com você. Lucien está apaixonado por você. Muito mais que isso. E pode ter certeza que ele só sentiu isso uma vez antes.

Alynia somente encarou Tamlin, sem saber ao certo o porque ele revelava essas coisas pra ela. Qual o objetivo dele com aquilo?

-Por que está me dizendo isso? - ela disse irritada. -O que você quer?

-O que eu quero? Não quero nada. E estou te dizendo porque ele nunca vai se sentir a vontade para confessar, ainda mais depois do que aconteceu com a fêmea que ele amou. Acho que você sabe da história.

-Eu sei.- ela disse e cruzou os braços.

-Mas você está bem longe de ser indefesa. E eu acho que deveria saber.

-Por que se importar? Por que se dar ao trabalho? - ela disse e Tamlin bufou.

-Porque apesar do que você pensa sobre mim, não sou uma pessoa horrível. Cometi erros, erros que carregarei comigo pra sempre. Agi da forma errada com a situação Amarantha, e paguei por isso. Fiz coisas horríveis com Feyre e carregarei pra sempre o peso disso. Fiz muita merda com Lucien, e perdi o meu melhor amigo. Errei com Rhysand milhares de vezes e ainda carrego a culpa das minhas escolhas. Então, você pode me odiar e me julgar pra sempre, Alynia, mas eu estou tentando concertar minhas merdas de alguma forma. - e, sem dizer mais nada, Tamlin se transformou e saiu andando naquele forma bestial para longe da illyriana.

E Alynia ficou ali, parada, por um bom tempo. Somente digerindo e processando tudo o que havia acabado de acontecer. E o que tudo aquilo significava.

Voltei voltei

Me enrolei aqui pra postar, mas postei

Sobre Tamlin e Alynia: ela detesta ele e ele detesta ela KKKK

Alynia nunca vai perdoar o Tamlin, mas ela tá só aturando a existência dele, esperando o momento certo pra descer a porrada nele. Eu adoro escrever os dois querendo se matar

Enfim, espero que tenham gostado!

Vejo vocês no próximo capítulo!
~Ana

Data: 21/01/21