Velaris

            Alynia acordou gritando. Ainda conseguia sentir a lâmina de Clythia rasgando seu corpo inteiro, ainda conseguia ouvir sua risada cruel enquando o fazia.

              Ela se debateu e sentiu sangue escorrer pelo seu corpo. O coração da illyriana batia forte dentro do peito e ela sentia mãos a prendendo.

-Me solta, me solta!- ela gritou, mas não foi solta. Ela conseguia ouvir um coração batendo forte também.

                 E ela logo entendeu o porque. Não estava mais em Sob a Montanha. Não estava com Clythia. Não estava naquele altar de pedra pregada com freixo. Estava deitada numa cama, mas não em sua casa, seu quarto. Na casa de Rhysand e Feyre. E Lucien a segurava, tentando fazer com que se acalmasse.

-Está tudo bem.- ele disse, mas ela sabia que não era verdade. Ela respirava ofegante e somente olhava para o olho vermelho e o de metal de Lucien.

                 Gentilmente ele puxou os cobertores que cobriam a fêmea e ela percebeu o motivo. Manchas de sangre cobriam a camiseta roxa que ela estava vestindo. Lucien suspirou e puxou a camiseta dela pra cima, vendo os ferimentos que Alynia tinha aberto novamente e começando a cura-los com sua magia. Não era tão grave.

                   Eles ficaram em silêncio enquanto Lucien fazia isso. Alynia somente olhava para o teto, tentando esquecer o barulho da lâmina de Clythia contra seu corpo. Tentando esquecer os horrores que viveu naqueles dias.

                  Enquanto isso, Lucien fez tudo sem falar nada. Trocou o cobertor manchado por um novo e colocou uma outra camiseta limpa nela. Alynia só se mexeu pra ajudar enquanto ele fazia isso. Nem sequer abriu a boca, o olhar assombrado.  

-Vou te deixar descansar.- ele disse se levantando e se virando para ir até a porta. Alynia esticou a mão e segurou a dele.

          Ela nem tinha notado o quanto estava magra e fraca até aquele momento. Suas palmas tinham cicatrizes finas e quase invisíveis mas que pra sempre lembrariam Alynia do horror que tinha vivido. Ela nem conseguia descrever o quanto estava se sentindo inútil. A illyriana olhou nos olhos de Lucien.

-Não vai.- pediu Alynia, baixinho. Tão baixo que teve dúvidas de que ele tinha escutado.

-Tem certeza?- ele perguntou e ela assentiu.

            Lucien se deitou com cuidado ao lado dela. Alynia ficou ouvindo sua respiração, o som do coração dele batendo. Tentando descobrir se aquilo era real ou não. Tentando manter a vontade de chorar dentro de si. Se estava ali ou era somente sua mente a pregando uma peça novamente. Não seria a primeira vez.

-Quanto tempo?- ela perguntou num murmúrio e Lucien não precisava de mais que isso pra entender o que ela queria saber.

-Vinte e nove dias, onze horas e sete minutos.- ele disse baixinho e ela sentiu um gosto amargo na boca.

Isso é real. Ela dizia incansavelmente para si mesma enquanto apertava a mão com força em punho, força o suficiente para se machucar. A dor despertava. Isso é real, é real, é real.

-Como?- ela murmurou e Lucien se mexeu ao lado dela para olha-la nos olhos.

-Acha que eu não ia perceber que tinha algo errado, Ly? Eu disse que sempre vou te encontrar. - ele falou e ela sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Alynia queria saber a história do que tinha acontecido em sua ausência, mas não naquele momento.

-E Jurian? Ele está bem?- ela conseguiu dizer, sentindo a preocupação pelo mortal a dominar. Lucien segurou com cuidado a mão dela, como se pudesse a machucar.

-Ele está bem. Está com Vassa no quarto ao lado. Vamos todos ficar aqui por um tempo, onde é mais seguro.- disse Lucien e ela assentiu.

-Eu estava preparada pra morrer.- ela disse num sussurro. Escutou o coração de Lucien acelerar e o medo dele invadiu suas narinas. -Eu não aguentava mais.

-Eu sei, Ly, eu sei.- ele disse passando a mão pelo rosto dela e limpando as lágrimas que tinham escorrido.

              Alynia se esticou para se aproximar dele e sentiu a dor invadir seu corpo. Ela gemeu infeliz e Lucien a ajudou a se ajeitar, a deitando com cuidado sobre seu peito. A illyriana pressionou o ouvido bem em cima do coração de Lucien, tentando se acalmar ouvindo ele bater.

-Eu achei que ia morrer lá. - disse Alynia baixinho. -Achei que nunca mais ia te ver.

-Não diga isso.- falou Lucien um pouco desesperado. -Está aqui, Alynia. Está viva. Vamos dar um jeio.

-Não sei se consigo, Lucien.- ela disse num sussurro vazio e cheio de desesperança, algo que partiu o coração do macho.

-Você não está sozinha e nem nunca mais vai estar. - ele disse a apertando com cuidado e carinho. -Nunca deveria ter te deixado sair sozinha aquele dia.

-Não é sua culpa.- ela disse fechando os olhos. -E eu sou uma guerreira. Sei me virar. É por isso que ainda estou viva. Que sobrevivi vinte e nove dias com Clythia me torturando.

-Não pense mais nisso, Alynia.- disse Lucien, mas ele sabia que não era simples assim. Que aquilo seria a única coisa que a illyriana pensaria por um bom tempo.

-Ela disse que você não ia atrás de mim.- disse a fêmea baixinho.

-Eu sempre irei atrás de você, pra onde quer que seja. - ele disse seriamente a olhando.

              Ela sentia o corpo tão pesado e vazio, se sentia tão estranha. Não era mais a mesma Alynia de sempre e talvez jamais voltasse a ser. Porque Clythia havia partido uma parte dela que Alynia não sabia como reconstruir.

-Descanse.- ele disse passando a mão pelo cabelo dela. -Não vou a lugar nenhum.

                Alynia fechou os olhos e soube que, eventualmente, tudo ficaria bem. Ela já tinha passado por coisas ruins e estava viva. Ela superava os problemas. E, naquele momento, estar ali abraçada com o macho que amava e tendo o apoio dele era tudo o que ela precisava para começar a fechar as feridas profundas que Clythia havia deixado em seu interior. Até mesmo as mais difíceis.

Nosso nenê já tá segura, mas sofrendo ainda :c meu coração doeu escrevendo esse cap

Mas to me sentindo generosa, entãooo, querem mais um capítulo hoje?

Se sim, vou postar as 22h

Vejo vocês no próximo capítulo!
~Ana

Data: 31/01/21