O homem termina de contar a fascinante história. A história havia me dado arrepios do início ao fim e, depois de ouvi-la, algo me conectou a Ballwerrior e aos moradores dali.

— Uau isso é... — Não sabia o que falar — Eu sinto muito.

— Não sinta princesa, você não tem culpa de nada e muito menos esta aqui para trazer mais tristeza e caos, pelo contrário, irá nos salvar. Você e o guerreiro. Diga-me princesa, qual dos dois rapazes é nosso salvador.

— Eu não, eu nem mesmo sei como poderei salvar Ballwerrior. Ainda estou muito confusa.

— Posso lhe contar outra breve história? — Assenti para o homem, que ainda nem mesmo sabia teu nome.

A coroa de Ballwerrior

A magia não era muito usada em Ballwerrior, os soberanos achavam que ela trazia infelicidade, para eles a real felicidade estava na natureza, na família e nas poucas coisas do dia a dia.

A magia foi usada apenas uma vez, em uma coroa, a coroa que indicaria ao povo quem é o verdadeiro governante. Ela era extremamente delicada, feita a mão pelo mais competente artesão, o que mais chamava atenção no adereço eram suas pedras cor de esmeralda, simbolizando: harmonia, esperança e fertilidade. Essas lindas joias verdes brilhavam intensamente quando posta na cabeça de uma pessoa com sangue real.

Porém, em mão erradas isso é um problema. A coroa fica presa em uma caixa de ouro, se retirada da caixa por mais de 12 horas o futuro soberano sofrerá as consequências: Dores fortes pelo corpo como pontadas na cabeça ocasionalmente ou nos músculos, sensação de enfraquecimento, vômitos e febre muito alta, tudo isso até levá-lo- a morte. Isso é fruto da incompetência do governante e de seus soldados de terem sido incapazes de cuidarem de algo tão valioso. A coroa, caso colocado em alguém que não deveria, perde totalmente sua cor e os prejuízos ao futuro governante são os mesmos.

Vale ressaltar que, uma vez colocada na cabeça, o individuo tem um laço com ballwerrior até sua morte.

— A coroa estava escondida durante muito tempo. Assim que o rei foi morto, alguns soldados conseguiram a esconder muito bem. Ela estava segura até pouco tempo. Edette a encontrou e pretende fazer sua coroação daqui a uma semana. Caso ela consiga, Ballwerrior não terá mais salvação.

— E por que ainda não comecei a sentir os sintomas, tem certeza que está chamando a pessoa certa de princesa?

— A mais pura! Você tem a marca de nascença da realeza o triângulo pontilhado. Ainda está saudável, pois a coroa ainda está na caixa e a rainha das sombras não pode nem sonhar que há uma princesa entre nós, caso contrário irá querer elimina-la. Então, princesa, como a senhorita e seus cavaleiros se chamam?

— Eu sou a S/n S/s e esses são os irmãos Sam e Dean Winchester.

— Sou Fedric Thyri, serei seu guia nessa jornada. Esse é meu sobrinho Milo Thyri — Ele aponta para o jovem que ficava em suas costas o tempo inteiro, em silencio. Ele não parecia que confiava muito em nós, percebi isso pelo seu olhar frio.

Eu estava aflita. De repente sou mandada para outra realidade, além de ter um titulo super importante ainda tenho que salvar um reino inteiro.

Por que eu? Dentre 7,8 bilhões de pessoas no mundo, sendo elas humanas ou criaturas, por que justo eu, a mocinha que sempre fica em casa enquanto o namorado e melhor amigo vão caçar e matar os monstros que vivem a solta na Terra.

Ligeiramente as palavras de Sam soam na minha mente. Eu nunca estarei pronta para uma luta, uma guerra, sou frágil e medrosa. Ele tem razão e agora eu percebo isso.

Sinto medo.

Como forma de refugio, deslizo minha mão sobre a pele coberta pela calça jeans do meu grande e forte namorado, a procura de sua mão para segura-la.

— Oh princesa, não sinta isso — Fedric começa a dizer — Não sinta medo. Tudo dará certo só precisa de um pouco de coragem.

— Como... Como sabe? Eu não disse nada.

— As mãos — Ele olha para minha mão junto com a de Sam, ela certamente parece minúscula sob a dele — Está com medo e procurou refugio na pessoa que ama. Vocês precisam se situar e relaxar um pouco, irei mostrar um lugar onde vocês podem tomar banho e comer um pouco.

Fedric caminhava na frente junto com Milo. A pequena avenida entre as casas era feita de pedra, meus passos eram sutis, estava descalço e a grandes pedras estavam machucando as solas dos meus pés. Não me importei.

As pessoas ali eram muito magras, sinal da desnutrição. As casas eram frágeis e estavam à mercê de alagamentos, incêndios e até mesmo virem ao chão. Porém, naquela pequena vila que claramente faltava comida, água e dinheiro, não faltava uma coisa:

Alegria.

Edette pode ter tirada tudo deles, mas não coseguiu tirar o sorriso e boa recepção dos habitantes daquela vila. As crianças brincavam numa pequena poça de lama ocasionada por uma chuva ocorrida recentemente. Algumas mulheres bordavam roupinhas para seus bebês na porta de sua casa, observando a movimentação. Alguns homens consertavam o telhado de suas casas, a chuva com certeza trouxe prejuízos.

Recebi alguns olhares estranhos, umas moças ficaram espantadas já os homens além de terem a mesma sensação, me analisavam de cima abaixo. Mesmo estando em outra época à história é a mesma, nunca posso andar na rua sem receber olhares. Até que me toquei em um detalhe, o problema nunca será a roupa que estou vestindo, mas aqui era diferente!

Como não estava com pretensão de sair do bunker essa noite, usava meu pijama diário. Shortinho de cetim dourado e um top de renda preto.

As mulheres dessa época não vestem short e top. Suas roupas são vestimentas pesados e provavelmente sufocantes com diversas camadas de tecido. Ninguém aqui está acostumado a ver uma mulher mostrando o corpo dessa maneira. Ainda bem que evoluímos, não aguentaria usar esses vestidos no clima do Kansas.

Dean foi o primeiro a perceber a situação, rapidamente dando um cutucão no irmão. Sam se aproximou de mim, jogando sua jaqueta pelos meus ombros. O resto do caminho inteiro ele foi me abraçando de lado.

Ninguém garante que sairemos vivos daqui, isso é o que preocupa. Os irmãos estão mais do que acostumas em matar bruxas, mas acho que nunca se encontraram com criatura tão forte. Nunca em todo meu tempo de pesquisa eu ouvir falar em alguma bruxa que poderia se transformar em um animal. Não sabemos qual dos dois ficará responsável por salvar Ballwerrior.

Dean com certeza tem um espírito de guerreiro, o pai o criou para ser uma sem duvidas ele sempre preferiu uma vida arriscada e com adrenalina do que a vida tipo torta de mação — Mesmo amando as tortas — Lutar sempre foi um ponto forte do irmão mais velho. Mesmo sendo, na maioria do tempo, sarcástico e imaturo com algumas situações, ele sempre colocou a família e principalmente o irmão como prioridade á salvação.

Sam, por outro lado, não foi criado para ser um guerreiro. Ele se tornou um por conta própria. Precisou abandar a vida normal que ele tinha para aprender a lutar ao lado de seu irmão, mesmo não querendo isso no começo, ele se mostrou forte também disposto a proteger o irmão a todo custo.

Não conseguiria ter que escolher um dos dois para tal tarefa. De coração aberto sei que os dois tem coragem, força e determinação o suficiente para essa tarefa e não consigo imaginar eles a executando sem estar unidos.

— Chegamos.