II: Ballwerrior
Meu banho foi rápido. As lágrimas de tristeza e raiva se misturaram junto à água morna que caia do chuveiro sobre minha cabeça. Meus pensamentos intercalavam entre socar a cara de Sam e imaginar ele no banho comigo, já que ele sempre me acompanhava depois de noites como essa.
Os dias em casa enquanto os meninos estavam trabalhando eram resumidos em ler e chorar com medo de que eles nunca mais voltasse. Quando vim morar aqui eles me prometeram que eu seria útil e, se eu treinasse bastante, poderia viajar pelo país com eles. Deveria ter notado a "mentira" quando essas palavras nunca saíram da boca de Sam, mas apenas das do meu cunhado, Dean.
A esperança de ser um dia quase perfeito com meu namorado se foi depois de nossa pequena discussão no quarto. Em geral nosso dia pós sua chegada de uma caçada era maravilhoso. Ficávamos deitados no sofá assistindo nossos programas favoritos, riamos com vídeos engraçados, dançávamos ao som de nossas músicas prediletas e, ao cair da noite sentávamos perto da lareira - Em dias frios - ou no terraço do bunker - Em dias quentes - Onde líamos livros de fantasia.
Hoje não seria assim.
Ele ficaria irritado durante todo o dia, com resultado disso ele faria muito barulho como: Jogar os livros na mesa após terminar de ler, não ter o mínimo de delicadeza ao fechar as portas e gavetas ou apenas suspirar em momentos de tensão.
Eu estava certa! O dia foi horrível exatamente do jeito que imaginei que seria. Já era noite, o horário em que eles sairiam para o trabalho convencional, Dean disse algo como apenas sal e queima, seria rápido. Lidar com fantasmas, eu tenho certeza que estou apta para isso.
Sam não pensa igual.
— Você vai ficar bem? — Dean pergunta após eu o ajudar a colocar a ultima bolsa no porta malas.
— Eu sempre fico né?
— Só... Entenda o lado dele — Já entramos nesse discurso várias vezes. "Ele te ama muito e não quer te perder. Você tem que ficar protegida e blá, blá, blá".
— Só queria que ele entendesse o meu. Sinto-me inútil trancada aqui.
— Você não é. O que seria de nós se não tivéssemos você para cozinhar? — Ele brinca e eu dou leve tapa no seu ombro.
— Idiota! — Me afastei do mais velho e caminhei até a porta da garagem, não sabia se procurava Sam para me despedir ou se o deixava partir sem nem mesmo um abraço. Mesmo com raiva, não sabia se ele estaria mesmo de volta em dois dias para nos desculparmos e fingir que nada disso aconteceu.
Não precisei me despedir, ele passou por mim como se eu fosse invisível, nem ao menos que deu aquele seu olhar de "vai ficar tudo bem, estarei de volta em breve". Por que eu ainda me surpreendo?
Apenas fiquei ali, analisando ele entrar no carro, segurando para não me derramar em lágrimas. Dean me olhava com pena. Dei um aceno antes dele também entrar no carro. Abrir o portão da garagem era tarefa minha então segui o roteiro que sempre fazia antes de me ver completamente sozinha no meu isolamento rotineiro.
Não cheguei perto disso.
Quando retirei o cadeado do portão, o ambiente pareceu mudar repentinamente. Arrepios tomaram minha pele com o clima frio que se instalou, minhas mãos começaram a tremer involuntariamente. Do carro, os meninos pareciam discutir, deveria ser a última tentativa do meu cunhado de mudar os pensamentos do irmão.
Não achei que seria algo tão grave, até a situação piorar e a temperatura diminuir ainda mais. Ao cair meu olhar sobre minhas mãos, a coloração roxa começava a aparecer. Não conseguia fazer nenhum movimento, a sensação era que meu corpo estava petrificado.
No lugar do ronco de carro antigo do impala, um som agudo se fez presente. O ruído ia tomando meus ouvidos em uma dor abundante, segurar o grito não foi tarefa fácil e não consegui por muito tempo. Depois de gritar, com as mãos nos ouvidos tentando não ouvir mais aquele barulho, meus joelhos colidiram com o chão.
Eu não estava desmaiada. Ainda conseguia ouvir tudo aquele barulho peculiar e as vozes de Dean e Sam me chamando estavam em segundo plano. Eles não conseguiram chegar até mim. Eles também gritavam. Depois do meu ultimo grito, tudo ficou preto e em silêncio.
— Eles devem acordar em breve — Uma voz grave ecoou. Nunca a havia ouvido antes — Não os temam, o portal os trouxe. A profecia está acontecendo. Seremos salvos.
Ouvi um gemido baixo ao meu lado, conhecia aquele suspiro de longe. Sam. A procura de abrigo e conforto, ele procurou minha mão, como sempre fazia ao acordar. Do meu lado direito Dean parecia se sentar. Ainda não conseguia abrir os olhos.
Um beijo suave é posto em minha mão, em seguida um toque leve na minha bochecha.
— Diga que esta bem — Ele sussurra.
— Não consigo abrir o olho, ainda dói. Onde estamos?
— Eu não sei, mas não estamos sozinhos e nem no bunker.
— E nem na nossa época, olha o que eles estão vestindo - Dean brinca e Sam resmunga um "Cala a boca".
A dor na minha cabeça foi amenizando e me esforcei para abrir os olhos. Muitas pessoas estavam ao nosso redor, vestidos como na época medieval e com armas brancas em mãos, mas não pareciam querer atacar.
— O portal suga muita energia, bebam um pouco de água — Um rapaz forte, não parecia ser tão velho, entrega um cantil nas mãos de Sam. Em vez de beber o primeiro gole, ele coloca suas mãos atrás de minha cabeça e me levanta um pouco, ajudando-me a beber a água. Assim que ela chega à metade de minha garganta, eu engasgo. Minha garganta doía pelo grito forte que soltei antes de desmaiar, a tosse vem acompanhada de um pouco de sangue.
— Tome, um pano quente. Vai ajudar na dor. Não fale muito por enquanto, pode danificar sua voz — Uma senhora segurando a mão de uma menininha que aparentava ter uns seis anos e claramente estava com medo, pois segurava a barra da saia da mãe com força, me entrega o pano. Coloco-o levemente sobre meu pescoço. O calor acalmou a região.
— Obrigado — Sam agradece a mulher, que se afastou um pouco de nós.
Os irmãos me ajudaram a levantar depois de beberem também um pouco da água. Mesmo sabendo que eu já conseguia ficar de pé sozinha, meu namorado manteve as mãos na minha cintura para caso houvesse um deslize.
E foi agora que cai na real. Não estávamos mesmo o bunker. Aquilo não era um sonho. Tive que manter a calma, porém estava a um fio de surtar. Pelo menos tinha os dois caçadores comigo. Espero que estejamos em casa logo.
— Como chegamos aqui e onde estamos? — Sam pergunta, me puxando um pouco para mais perto quando o rapaz que nos ofereceu água caminhou para mais perto.
— O portal trouxe vocês aqui. Bem vindos a Ballwerrior!
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