🍼 [ CAPÍTULO ESPECIAL ]
{ O recomeço }
⎊
TEM CERTAS COISAS que ninguém te conta sobre a gravidez. Por exemplo, que seus pés irão ficar tão inchados ao ponto de você mal conseguir andar, ou que você não conseguirá ficar mais de dez minutos sem correr para o banheiro. Stella fazia questão de enumerar todas aquelas coisas ruins, para se certificar de não passar por isso outra vez. Apesar de amar o outro lado.
Estava farta de estar grávida, em partes era muito mais cansativo para lidar do que seus próprios pensamentos.
Estar grávida passou a ser um tipo de refúgio para ela. Stella conseguia passar horas sem lembrar de Peter, e até mesmo cozinhar alguma coisa — com muita dificuldade — mas fazia mesmo assim. Ela gostava de quando Natasha e Steve vinham lhe visitar, apesar de agora estar cada vez menos frequente. Pepper também insistia em passar lá diversas vezes, levando sorvete, doces e todos os outros tipos de coisa que uma mulher grávida desejaria. Apesar de isso quase não adiantar nada, pois os momentos em que Stella desejava alguma coisa era sempre de madrugada, e quem tinha que se virar e ir atrás era sempre Tony.
Em uma dessas noites Stella acordou chorando, com o rosto totalmente molhado e o coração acelerado. Tinha sonhado com Peter e Wanda, as lembranças daquele dia tinham passado como um filme diante a seus pensamentos.
Ela se sentou na cama chorando, com bastante dificuldade, tentando não fazer tanto barulho mas foi em vão, pois segundos mais tarde Tony se sentou esfregando os olhos com as costas da mão — ligando o interruptor.
— Amor, você está bem? Tá sentindo alguma dor?
Os olhinhos achocolatados dele transbordavam preocupação e afeto. Tony nem se esforçava mais em tentar esconder seus sentimentos, afinal a que fim aquilo iria lhe levar? Ele tentava sempre demonstrar mais e mais, pois amava Stella. E isso era o bastante para ele se esforçar até esgotar todas suas energias.
— Eu quero sorvete. — murmurou, secando o rosto com as palmas da mão. Olhando para Tony, mentindo totalmente sobre o por quê estava daquela maneira.
— Está de madrugada, não podemos comprar sorvete agora.
Stella franziu o nariz, segurando novamente as lágrimas.
— Mas, eu quero...
— Tem sorvete de morango que a Pepper trouxe. — Tony tocou suavemente os cabelos dela.
— Mas, o bebê quer sorvete de limão.
Aquela foi a primeira vez em que Stella usou a gravidez para algo a seu favor entre sete meses. Lembra perfeitamente da cara emburrada de Tony, de seus fios de cabelos todos desgrenhados e um sorriso cansado no rosto — já que havia trabalhado o dia todo no deque do lago. Stella se empurrou para fora da cama também, pois queria sair um pouco de casa (mesmo sendo duas horas da manhã).
Enquanto Tony pegava a chave do carro, Stella já estava sentada no banco do motorista, observando o céu estrelado. Foi naquela noite que ela soube que ele seria um pai perfeito, que Tony seria muito mais daquilo que ele imaginava. Mas, em algum lugar em seu coração ela sabia que mesmo Tony estando presente sempre que podia e vice e versa, ele estava terrivelmente preocupado. Passava horas sentado com um livro na mão, outras vezes ficava deitado sobre o assoalho fitando o teto imaginando mil e umas coisas. Era daquela maneira que ele tentara não pensar no pior dia da sua vida, era daquele jeito que Tony Stark se obrigava a continuar vivo.
Quando os dois chegaram no supermercado — ele estava quase completamente vazio, tirando outro casal e uma garota. Stella andou o mais rápido que pode e com dores agudas no pé da barriga, até a sessão de sorvete, deixando um Tony sonolento parado olhando fixamente para as prateleiras de massa de bolo, sem saber um motivo exato. Depois de perder dez segundos olhando, ele pegou o primeiro pacote de baunilha e segurou em uma mão — percorrendo os olhos pelo corredor em busca da sua esposa.
Lidar com a morte de Peter foi uma coisa extremamente difícil para Stella, principalmente por causa dos hormônios. Ela acordava no meio da noite chorando, as vezes no meio do banho começava a ter uma crise, pois também se sentia incomodada com a maneira que seu corpo estava mudando. Nos últimos nove meses, Stella era a própria montanha russa de emoções. Tony teve que aprender a lidar com isso, de um jeito ou de outro. Para ele as coisas que Thanos fizera trouxe um certo tipo de culpa a qual ele nunca havia experimentado antes. Perder Peter diante a seus olhos, não existia palavras suficientes nesse universo para descrever a maneira que Tony se quebrou naquele dia. Conseguir organizar o peso da culpa, as crises de hormônios da Stella, o bebê novo chegando, tudo isso naqueles últimos meses fez Tony mudar de um jeito que ele nunca se imaginou.
— O que tá fazendo? — perguntou se aproximando de Stella que estava nas pontinhas dos pés inchados se inclinando totalmente para cima, em uma tentativa inútil em alcançar o que queria.
— É o último, pega pra mim. — Stella murmurou fazendo bico, e Tony notou a maneira que os olhinhos azulados brilhavam com a esperança de comer aquele sorvete.
Tony pegou o pote médio com uma mão, sem precisar se esticar nem nada, com tamanha facilidade.
— Você quer bolo? — ela perguntou, olhando em volta animada.
— Eu quero dormir, amor.
— Agorinha...
Ela cortou a frase, arregalando os grandes olhos azulados para o marido. Tony se assustou na hora.
— O que foi?
— Eu acho que... a bolsa.
— Bolsa? A bolsa tá bem aqui. — apontou para o próprio ombro onde a bolsa dela estava.
— Não. — revirou os olhos — A bolsa estourou.
— A bolsa estourou? — franziu o cenho meio confuso — Ah! Você quis dizer...
Stella apontou com o dedo indicador para os próprios pés, onde algo molhado parecia fazer a festa.
— Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus. — Tony começou a hiperventilar, gesticulando rapidamente.
Até então ele não havia pensado de fato o que significaria ter um bebê. Afinal, parecia estar em um futuro completamente distante. Como aqueles meses haviam se passado tão depressa?
— Eu acho que, que, que...
Stella nem teve tempo de comentar o quão bizarramente engraçada a cara dele estava, pois fora quando o quadro de contrações começou. Sua própria feição deve ter sido bastante feia, pois Tony cortou o pequeno espaço que tinha entre eles e lhe agarrou pela cintura — colocando uma mão sobre a sua barriga. Era insano demais se parasse para pensar nisso agora, a dor parecia quebrar as suas entranhas. Stella começou a se contorcer literalmente de dor.
— Porra!! — lágrimas escorriam por seus olhos — Isso não... isso não é normal.
— O que eu faço? O que eu faço? — Tony estava agitado, como se estivesse dado um pane em seu sistema — Eu não tô preparado.
— E acha que eu... que eu tô, porra? — outro gemido de dor.
Demorou em média dois minutos para Tony cair na real e lembrar que deveria levar a esposa para o hospital.
— E se tiver trânsito? Não prefere que eu te leve com a armadura?
— Você é retardado? Não ouse responder, Stark.
E aquela foi a última vez que ele tentou dizer alguma coisa enquanto Stella estava em seu trabalho de parto. Chegaram no Hospital quinze minutos mais tarde, com uma Stella choramingando e xingando com todas as suas forças possíveis.
— A mala do bebê... — outro gemido alto de dor.
Mal sabia ela que Sexta-Feira já estava voando em direção ao Hospital com a mala da criança.
No começo da gravidez, Stella queria sexo o tempo inteiro, o que acabou deixando Tony muito mal acostumado. Depois que a barriga dela começou a crescer, ela se sentia incomodada como se aquilo fosse machucar o bebê ou coisa parecida. Apesar de terem aproveitado até onde deu, Stella ainda se sentia desconfortável as vezes. Pensar nisso agora enquanto acabara de chegar no hospital, fez Tony meio que voltar no tempo.
Não demorou nem três minutos e Stella já estava em uma maca sendo guiada para o quarto particular. Tony seguia meio desorientado, pois aquilo parecia irreal demais para acreditar. Iria ter um bebê... um bebê.
Nos últimos meses ele sabia que Stella estava grávida, amava aquilo a todo custo. Mas, as coisas não haviam mudado tanto em sua vida — apesar dela estar grávida, eles continuavam levando uma vida normal. Mas, agora estando ali naquele hospital o simples fato de que nas próximas horas seu filho irá nascer lhe apavorou por completo. Tony nunca nem havia segurado um bebê em seu colo antes. Ele estava em pânico total.
Stella choramingava de dor, se contorcia na cama tentando fazer a dor diminuir. Sua dilatação não estava totalmente pronta para iniciar o parto, isso era muito pior pois parecia fazer a dor da garota aumentar. Quando havia se passado quase três horas que haviam chegado, as contrações começaram a diminuir o intervalo — estava vindo em intervalos de 2 e 2 minutos.
Stella sentava. Stella deitava. Stella chorava. Stella xingava.
No momento em que bateu quatro e pouco da manhã e os indícios do nascimento do sol começou a aparecer, foi quando o momento chegou. As pernas de Stella foram levantadas e abertas em uma posição totalmente desconfortável, mas nem tempo para pensar nisso ela tinha. As lágrimas escorriam por seu rosto, enquanto gritos agudos escapavam do fundo de sua garganta, e sua mão apertava com toda força a do homem ao seu lado.
Tony Stark estava pálido dos pés a cabeça, as próprias mãos tremiam e seu coração pulava feito um doido dentro de seu peito.
Meia hora depois o grito agudo e estridente, ecoou por todo o quarto. Stella fechou os olhos, deitando a cabeça na cama, respirando fundo. Nunca havia sentindo uma tremenda dor em toda a sua vida, era como se todas as suas forças tivessem se evaporado de seu corpo.
— É um menino. — anunciou o médico, enrolando o corpinho esbranquiçado e sujo de sangue em uma manta clara.
Stella abriu os olhos novamente, seus fios de cabelos estavam totalmente colados em sua testa, sua respiração estava falha e seus olhos inchados.
— Me-menino? — gaguejou, começando a chorar novamente.
O médico entregou o bebê em seus braços, e foi exatamente nesse instante em que o mundo de Stella mudou. O amor incontrolável que sentiu ao ver aquele pequeno pedacinho de gente em seus braços foi surreal. Ele muitos fios de cabelos escuros que tomavam quase todos os cantos da pequena cabeça, a boca aberta chorando desesperadamente, os olhos fechados expremidos.
Quando descobriram que iriam ter um pequeno Stark, Stella e Tony chegaram em um consenso que o sexo do bebê seria uma surpresa. Era algo em que eles precisavam se apoiar.
— Tá tudo bem. — sussurrou, aconchegando ele em seus braços — A mamãe está aqui... sou eu, lembra de mim? Isso... sou eu.
Stella chorava e sorria, nem percebeu quando Tony se sentou ao seu lado na cama. Os olhos do moreno estavam marejados, o achocolatado deles pareciam brilhar. Para Tony aquele foi o segundo melhor dia da sua vida, ver aquele pequeno ser, seu filho, seu primogênito. Ele achava que era impossível sentir um amor maior do que sentia por Stella, mas ver o que ela lhe proporcionou, ver o pequeno Stark em seus braços, foi amor demais pro coração humano do homem de ferro aguentar.
— Viu se tem os vinte dedos? — perguntou, tocando no pézinho gelado do bebê que fugia para fora da manta.
— Quer pegar?
— Eu... eu...
— O que foi? — as lágrimas já haviam se cessado, mas o sorriso ainda permanecia em seus lábios.
— E se ele não gostar de mim? — Tony deixou escapar.
— É claro que ele vai gostar de você, ele vai te amar. Você é o pai dele. — passou o bebê com cuidados para os braços trêmulos do marido.
— Mas... — ele não completou a frase, pois já estava com o filho nos braços. As lágrimas encheram seus olhos achocolatados — O nariz é seu.
— E o cabelo é seu. — Stella sorriu, completamente apaixonada com aquele momento.
Sabia o que significava para Tony toda aquela relação de pai e filho, e que ele nunca teve a oportunidade de ter uma relação dessas por completo.
— Os olhos são seus. — confidenciou Tony mais uma vez, hipnotizado com o bebê em seus braços.
— E as sobrancelhas suas.
— Ele é muito branco, dá pra ver as veias. Meu Deus, e se eu derrubar? — ao fala isso começou a tremer um pouco.
Stella soltou uma gargalhada gostosa, vendo o amor da sua vida segurar o fruto de todo aquele amor. Tony tirou os olhos do bebê e olhou para ela.
— O que foi?
— Essa foi a melhor coisa que eu já fiz. — foi sincero, entregando o filho novamente para os braços da mãe.
— Você também me salvou, foi uma das melhores também.
— Eu sei é que...
— Eu sei. — Stella beijou o topo dos cabelos do bebê — Eu amo você, Tony.
Os olhos achocolatados brilharam de uma maneira surreal, ele estava feliz, os dois estavam orgulhosos um do outro. Tony se inclinou e beijou os lábios de Stella, como se fosse a primeira vez dentro do carro causando todo aquele engarrafamento.
Desde o primeiro momento em que virou o homem de ferro, Tony estava sempre pronto pra morrer. Cada batalha, cada luta, ele sempre esperava pela sua última. Mas aí ele conheceu Stella, e agora havia conhecido seu filho, tinha construído uma família... a sua família. E isso que lhe fez querer continuar vivendo pelos próximos cinquenta anos, ou o quanto mais pudesse. Mas, pela primeira vez em sua vida Tony Stark teve medo de morrer.
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