60 | WAR
Então... aqui estamos nós pela última vez.
Como dizia nosso amável Stark, parte da jornada é o fim.
Nunca senti tanto um aperto no coração como estou agora, sim estou chorando muito, quero abraçar cada um de vocês que me acompanharam até aqui. Não sei muito o que dizer, então os deixarei desfrutar nossa última trajetória.
Para uma melhor experiência gostaria que ouvissem "Dancing with your ghost" (tá na mídia) para se aprofundarem mais no clima. Para aqueles que não sabem está é a música que tocou quando nosso casal dançou pela primeira vez, lá no capítulo cinco. Acho nada mais do que justo que seja essa a última música dedicada a eles.
Espero de verdade que gostem.
Pela última vez aqui em WAR, eu amo vocês ❤
Aproveitem a leitura!
{ Guerra }
⎊
A MANEIRA QUE levamos para cair na realidade e acordar de um pesadelo é gradual, lentamente ou do nada. Existe uma pequena etapa que temos que seguir, uma pequena etapa extremamente crucial neste ponto específico. A guerra que travamos contra nós mesmos, dia após dia, manhã pós manhã — tudo com a pena um propósito em comum: conseguir sobreviver.
O sorriso amarelo dançava pelos lábios do moreno, enquanto as pequenas ruguinhas faziam parte abaixo de seus olhos. Os fios de cabelo bagunçados, a blusa branca e o nariz franzido. Tony estava lindo, como sempre fora desde a primeira vez em que Stella o conheceu. Ele curvou o corpo sobre ela, ficando no meio de suas pernas e se apoiando nos cotovelos para não depositar todo o peso de seu corpo contra ela. As bochechas de sua garota ardiam, pois segundos antes ele havia jogado um ataque de cocegas contra ela, que resultou em Stella arfando por ar em desespero, gargalhando e rindo que nem uma boba. Quando por fim ambos conseguiram parar de rir descontroladamente, com o indicador Tony afastou os fios loiros que havia caído sobre o rosto dela. Dessa vez mantendo um sorriso um pouco mais controlado.
— Eu te disse, se lembra? — perguntou, beijando a pontinha do nariz de Stella, voltando a encarar as orbitas azuladas confusas — Eu falei que você veio como um sopro de ar fresco, como se eu estivesse me afogando e você me salvasse.
Se ele olhasse atentamente — o que era algo que ele estava de fato fazendo — conseguiria ver a maneira em que as pupilas dela se dilataram por completo. Quase como se desse para sentir as borboletas dançando em seu estômago.
— Eu ainda me sinto dessa maneira. — o achocolatado de seus olhos trasbordavam afeto, amor, e mais uma coisa que ela não soube distinguir. Algo naquelas palavras, naquele olhar de Tony parecia brilhar — Quando eu vejo você... o que temos, nossa família. Esse é o sentimento. É você. Sempre será você.
— Posso te abraçar? — sussurrou, tentando não chorar. Tony franziu os lábios, observando cada detalhe do rosto dela.
— Que pergunta boba, amor. Claro que pode.
Stella fechou os olhos por alguns segundos, tentando impedir que as lágrimas derramassem, mas foi em vão. Tony jogou o próprio corpo para o lado e a puxou para seus braços, aconchegando ela perfeitamente da maneira que sempre fizera. Seu coração palpitava feito um louco apaixonado. O calor que o corpo de Tony lhe proporcionava, a calmaria, a excitação, o alvoroço. Tudo junto e misturado, de milhões de maneira diferentes. A guerra que Tony Stark causava dentro dela, desde o começo, desde a primeira vez em que se conheceram. Stella sabia que não existiria nada no universo inteiro que lhe fizesse se sentir da maneira que aquele homem fazia.
— Que barulho é esse? — ele perguntou, olhando para baixo, encontrando sua própria blusa molhada e Stella aconchegada em seu peito de olhos fechados.
— Não importa.
— Não acha melhor vermos o que é, docinho? — Tony beijou a testa dela, deixando a região úmida.
— Se eu for ver, eu irei acordar.
Então, tão rápido como a chuva começa cair do céu... gradualmente e do nada. Seus olhos foram abertos, e tudo a sua volta foi puxado para a fria realidade em que estava vivendo. O quarto escuro, o barulho dos pingos de chuva acertando o telhado com uma velocidade frenética. O cheiro do assoalho de madeira, o cheiro das fronhas e do cobertor — tudo que a lembrava o que havia perdido. Stella se encontrava em uma posição fetal, com os joelhos dobrados até o peito, os braços abraçando seu próprio corpo e o rosto sufocado no travesseiro. Havia apagado daquela maneira, todo o desespero de horas atrás desde que perdeu o amor da sua vida, parecia dilacerar sua alma de dentro para fora.
Estava em casa. Mas, não era a sua casa... não sem Tony ali.
Ela não conseguia manter os próprios olhos abertos, pois eles doíam e ardiam como o inferno, da mesma maneira que todo o resto de seu corpo. Queria dormir novamente e voltar para as lembranças que mantinham ele vivo... Stella não queria continuar acordada, não queria ter sobrevivido.
Não sabia como havia conseguido deitar na própria cama... a cama que esteve ali na primeira vez em que fez amor com Tony após a perda de todos. A cama que aconchegava sua pessoa favorita no mundo. A cama que era seu lugar preferido em todo o universo, pois sabia que quando a noite chegasse ele estaria lhe esperando nela. Stella não suportava estar naquela casa, com todas as coisas de Tony, roupas, objetos, perfumes... tudo. Ela queria apenas sair correndo e fugir para o mais longe possível da realidade, para algum lugar em que pudesse estar novamente segura... em um lugar onde ele estaria segurando sua mão como prometera.
Eles dizem que a morte é mais difícil para quem fica vivo. É difícil dizer adeus. Às vezes, é impossível. Você nunca para de sentir a perda. É o que deixa tudo tão agridoce. Nós deixamos pequenas partes para trás, pequenos lembretes. Uma vida inteira de memórias, fotos, objetos... coisas para que se lembrem de nós quando partirmos.
Era isso que ela sentia, a perda corroía seus ossos, sua alma, sua vontade de viver. A pior parte do luto é que não dá, não se pode controlá-lo. O melhor que se pode fazer é tentar se permitir senti-lo, quando ele vem. Mas isso para Stella estava fora de cogitação, pois acima do luto estava o ódio, a negação, a raiva. Ela não conseguia sentir o luto normalmente como a maioria estava fazendo, ela não conseguia olhar na cara de todos que sobreviveram e se sentir feliz por estarem vivo. Pois sem Tony ali nada fazia sentido. Ele era a razão de tudo.
Uma leve batida na porta fez com que Stella abrisse os olhos — vermelhos e inchados — novamente. O quarto que antes pertencia ao casal, se encontrava em perfeita escuridão, mas a luz que vinha do corredor permitiu que ela pudesse ver quem de fato era ali.
Peter segurando Zeppelin nos braços.
— Vim te chamar pra jantar. — forçou um sorriso — Tia May fez espaguete de pupunha. Não pergunte, não faço a mínima ideia do que seja.
Ele deu uma risadinha fraca, tentando de uma forma leve transformar todo aquele clima ruim em algo melhor. Peter segurava o bebê nos braços com facilidade, o que para Stella foi uma pequena alegria momentânea ao ver seus dois garotos juntos pela primeira vez. Mas desde o princípio não foi isso que queria... sempre quis foi ver seus três garotos juntos.
Ela se forçou a levantar da cama, mas no instante em que seus pés bateram no chão, um aperto agudo chegou a sua garganta — lhe fazendo travar os lábios, tentando impedir que o choro voltasse a tona. Pois, pelo visto a cochilada havia lhe dado mais energias para desatar a chorar. Tentou respirar fundo três vezes seguidas, contando e recontando, para conseguir ganhar novamente o controle do próprio corpo. Ela sabia perfeitamente que não estava pronta para aquilo, que não queria ter que aceitar o que havia acontecido. Não queria estar viva, queria morrer, tirar a própria vida para se impedir de sentir aquela coisa sufocante lhe dilacerar por dentro como um verme faminto. Mas não podia fazer isso, pois tinha um filho, um bebê que dependia dela... a última coisa que restava dele.
— O Tony está morto.
Sussurrou para si mesma, em uma tentativa inútil de convencer a dor a se acalmar.
Era o segundo dia desde a batalha final contra Thanos, desde que ele morrera em seus braços. E nesses exatos dois dias, era o tempo em que Stella não conseguia ficar sozinha com Zeppelin por muito tempo — pois todas as vezes em que olhava para ele, via Tony. Todos os detalhes, as sobrancelhas, o formato dos olhos, a cor do cabelo, a boca... era tudo originalmente da fábrica Stark. E olhar para seu filho lhe machucava tanto... que lhe fazia sair correndo para não ter que chorar a sua frente.
Toda a casa estava silenciosa, quando Stella chegou na cozinha a única coisa que fazia barulho era o bater das mãozinhas de Zeppelin no pratinho de macarrão, que escorria entre seus dedos e caia no chão. Toda sua boca estava melecada de molho vermelho, e um sorriso pequeno se instalava em seu rosto — enquanto Peter tentava impedir que ele derrubasse mais comida.
Ela se sentou no balcão, olhando de relance o filho comer. May e Peter haviam decidido ficar ali com ela pelos próximos dias, até as coisas se ajeitarem por completo. Claro, que no começo Stella detestou a ideia, pois parecia ridiculamente insuportável conseguir ficar com outras pessoas no mesmo ambiente. Mas, depois que viu a maneira que não conseguiria lidar com o próprio filho e a sua própria vida sozinha, acho melhor que ambos estivessem mesmo ali com ela.
O jantar foi silencioso, não que Stella tenha conseguido comer tudo muito bem, apenas deu pequenos beliscos no espaguete para que não desmaiasse de fome mais tarde. Tudo a sua volta era pesado demais, sufocante demais, horrível demais para conseguir lidar. Não parecia real, nada do que acontecia, nenhum pequeno detalhe parecia de verdade. Tinha uma pequena parte dentro do coração de Stella, que parecia querer insistir que tudo aquilo era um pesadelo — a qual acordaria em breve. Mas também continha uma outra parte que sabia perfeitamente que tudo aquilo era real, que nada nunca mais seria o mesmo. Pela primeira vez desde que começou a morar naquela casa, Stella começou a achar o lugar tenebroso. Havia muitas árvores, muita grama, muito silêncio, coisa que estava a fazendo começar a repensar se a ideia de ter aceitado morar ali não era muito ultrajante... agora para dois.
Seu corpo não tinha mais água o suficiente para conseguir a fazer chorar, quando a dor apertava o peito. A pior parte de ter seu mundo desmoronando, é de quando nem o choro é mais suficiente. Quando nem as lágrimas querem mais fazer parte de você.
Stella sentou a bunda no banco acolchoado ali do jardim, que ficava quase de frente para o lago, mas ainda um pouquinho afastado — e fechou os olhos. O céu estava estrelado, a lua estava cheia, o vento batia em seu rosto como se fosse mais uma noite normal. Ela apertou as duas mãos contra uma a outra, tentando reforçar para si mesma de que aquilo ali era a sua realidade, e não a lembrança que estava presa a uma hora atrás.
— Sou um herói afinal. Vou ser o seu se quiser.
Era perfeitamente como se pudesse ouvir a voz dele sussurrando no pé de seu ouvido, as mãos pesadas tocando sua cintura enquanto conduzia a dança. O perfume importado acertando suas narinas... a cor achocolatada de seus olhos...
— Oi. — a voz de Peter fez com que Stella abrisse os olhos alarmada, olhando para o garoto — Não sabia se...
— Tudo bem. — ela forçou um sorriso, indicando com a cabeça para que ele se sentasse.
Não sabia como o garoto se sentia, para falar a verdade Stella não havia parado para pensar muito bem em como todas as outras pessoas estavam se sentindo, já que ele era o seu Tony Stark. E se dar conta disso agora fez com que uma pequena parte de seu coração se partisse um pouquinho mais do que já estava, pois sabia o quão Tony era importante para Peter. E ver a maneira que o garoto parecia deixar isso de lado e colocava os sentimentos dela acima dos dele, foi suficientemente opressivo para ela conseguir suportar as lágrimas mais uma vez.
— Tia May tá tentando fazer ele dormir, já que..., uhm, — limpou a garganta — ele tá meio agitado.
— Ele não tá agitado. Ele sente a falta do pai. — foi curta e grossa, se deu conta disso logo em seguida — Desculpa, Peter.
— Eu também sinto a falta dele. — sussurrou, abaixando o olhar para baixo.
— Eu sei. — foi sincera, fechando os olhos novamente tentando impedir as lágrimas — E se ele se esquecer dele? E se daqui um tempo ele se acostumar sem a presença do Tony. Eu... como eu vou conseguir viver sabendo que ele não vai se lembrar do que o pai fez.
— Claro que ele vai lembrar. Todo mundo vai se lembrar do que ele fez por nós.
— Não, porra... — Stella apertou as palmas das mãos contra os próprios olhos — Ele só tem um ano. Não vai se lembrar... O pai dele... está morto.
Peter não soube o que dizer, ou talvez tenha preferido o silêncio. Era algo pesado demais para ele conseguir suportar e fingir ser forte pelos dois... como ele não deixaria o próprio mundo desabar, quando o da Stella já parecia estar desabando por ambos?
— Eu não quero fazer isso. — ergueu o rosto, olhando para o achocolatado dos olhos dele que também estavam molhados.
— Fazer o que? — Peter franziu os lábios e o nariz, da mesma maneira que Tony fazia quando tentava não chorar — O funeral amanhã?!
— Eu não quero. — repetiu, começando a chorar novamente, soluçando desesperadamente — Eu não... eu não quero fazer. Isso significa... significa que vai ser de verdade, que vou estar dando adeus.
O corpo dela tremia incontrolavelmente, talvez por causa do frio, ou por causa do desespero que tomava conta de seu corpo mais uma vez. Peter esticou os próprios braços, a envelopando em um abraço — e começou a chorar também. As lágrimas dela molhavam sua blusa, da mesma maneira que as lágrimas dele molhavam a dela. Bem naquele instante Peter deixou seu mundo desmoronar pela primeira vez desde que Tony morrera, se deixou ser fraco. Pois, nada mais importava naquele momento além de provar para Stella que ele entendia de sua dor, e que também sentia a perda e o luto da mesma maneira que ela.
O tempo é linear, algumas coisas sempre parece passar mais rápido do que outras. Como a noite passa lentamente e o dia decorre de uma maneira diferente. Stella não sabe como conseguiu pegar no sono, talvez seu corpo não aguentasse mais lidar com tamanho sofrimento — que acabou por se desligar automaticamente. Ela não teve nenhum tipo de sonho, nem pesadelo... nada. E isso de uma forma acabou a quebrando muito mais, pois preferia ver Tony mais uma vez nem que fosse em um pesadelo sinistro. Ela precisava vê-lo, toca-lo, quase tanto quanto beber água.
Levantar da cama nunca pareceu tão difícil quanto este dia... o do funeral. Stella não aguentava sentir que o ambiente de sua casa parecia encher cada vez mais de pessoas... que haviam sobrevivido... e outras que ela sabia que não mereciam estar vivas, e sim seu marido. Então, ela enrolou o máximo que pode.
Chorou no box do banheiro por uma hora e meia, sentindo toda a água fria acertar seu corpo como um tiro no peito. Chorou por dez minutos enquanto secava o cabelo com o secador. Chorou por dois minutos quando esbarrou no porta retrato que ficava na cômoda do lado dele... onde os sorrisos ainda continha vida.
Quando Stella começou a procurar algo para vestir no guarda roupa, algo preto. Se deu conta de que não havia mais lágrimas para serem derramadas, enquanto presenciasse todas aquelas pessoas dando adeus ao Homem de Ferro. Stella sentou na beirada da cama, respirando fundo, uma, duas, três vezes até conseguir retomar o controle. Se levantou, sentindo o corpo fraco e começou novamente a fuçar no closet... perto o bastante para sentir o perfume que as roupas dele emanava.
— Não posso chorar... não posso chorar. — repetiu a si mesma, em uma tentativa falha em conseguir obter sucesso com isso.
Mas, como não se deixaria chorar quando seu mundo havia sido destruído?
Por fim, encontrou o vestido preto — o único que tinha — que havia usado no funeral das pessoas que morreram em São Francisco, e o puxou do cabide, ao mesmo tempo em que um envelope branco caiu sobre o carpete. De uma maneira grotesca, seu coração começou a disparar e as mãos tremerem. Antes mesmo de tocar naquele envelope, era como se soubesse o que estava lhe aguardado. E mesmo tendo quase certeza disso, ela não queria verificar o que havia ali dentro. Não poderia suportar a dor lhe dilacerar mais um pouco.
Então se foram dois minutos com Stella parada olhando para o envelope caído no chão até sair do transe e o pegar em mãos. Não havia remetente, estava em branco. Ela deslacrou, pegou o bolinho de papel em mãos e se sentou, respirando fundo.
"Eu nunca fiz isso antes. Uma carta, um amor, uma família, coisas para me fazer querer continuar vivo. Eu nunca em toda minha vida, nunca Stella, fiz essas coisas. Você foi a primeira em todas as coisas importantes. Se estiver lendo isso agora, eu sinto muito amor. Eu sei que prometi não te machucar nunca mais, sei que prometi ficar ao seu lado. Eu prometi muitas coisas... eu sei, sou um idiota que não consegue nem cumprir com as próprias palavras.
Pode me odiar, sentir raiva, tudo de ruim. Eu aceito, eu sempre fui seu. Se eu pudesse achar uma pequena maneira de fazer seu coração parar de doer, eu faria amor. Eu faria tudo por você.
O tempo nos torna sentimentais. Talvez, no final, seja por causa do tempo que sofremos. O tempo veio, se foi, mas nada mudou... não aqui dentro de mim. Eu não mudei. Depois que conheci você, uma parte dentro de mim soube no instante em que te vi que nada mais seria o mesmo. Você veio como um furacão, que socou o meu nariz. Veio como a calmaria, que segurou meu mundo quando estava desabando. Você trouxe sentindo a minha existência, querida.
Enquanto eu estava sentado no laboratório naquela época, tentando descobrir o que havia de errado com seu sangue, você entrou e se sentou a meio metro de distância de mim. Você me evitava, eu sei disso docinho, sempre soube. E eu te evitava também, pois era impossível ficar no mesmo ambiente que você e conseguir me controlar. Então, nesse dia você tinha seus olhos em mim e eu pude senti-los penetrar minha nuca. Mas, o que eu poderia fazer? Você estava ali, sentada, nervosa, me vendo trabalhar. Eu teria aceitado sua amizade, eu queria aceitar sua amizade ou algo mais do que isso, qualquer pequena coisa que fizesse ter seus olhos em mim todas as vezes.
Ah, se você soubesse, se você soubesse que eu estava te dando todas as chances de somar dois mais dois e chegar a um número maior que o infinito. Aquilo era especial, como mostrar seus segredos mais obscuros para alguém. Foi naquela noite que eu sonhei com você pela primeira vez... antes de você entrar por completo na minha vida. Naquele tempo eu queria que você se lembrasse daquela tarde em que fomos ao Orfanato, que passamos o nosso primeiro momento de verdade juntos sozinhos. De quanto eu te beijei não a primeira vez, mas sim a segunda vez. Aquele foi o dia em que eu tive a certeza de que não conseguiria ficar longe de você, tudo que fazia parecia ficar impregnado em mim.
Nunca consegui suportar o seu silêncio ou quando passava por mim e fingia que eu não existia. Você é e sempre foi a luz dos meus olhos, do mundo. Isso é o que você é. Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida, essa foi a única coisa que escolhi bem e que não tenho nenhum arrependimento.
Nós encontramos as estrelas, o primeiro amor de verdade, você e eu, e isso é dado apenas uma vez. Eu sei disso agora. Você é a razão por tudo isso fazer sentindo, Stella você é a minha casa, quando estou com você e estamos bem juntos, não há nada mais que eu queira.
A oficina da minha antiga casa, onde eu estava dando uma festa. Fiz você descer até lá embaixo depois de presenciar a cena mais ridícula da minha vida, você e Rogers dançando, ew. Eu tinha acabado de beber boas doses de Whisky, e você entrou toda irritada comigo. Me chamou de velho, me lembro perfeitamente.
Você me beijou ou eu te beijei. Esse beijo... esse bendito beijo ainda tá impresso lá, ainda tá impresso em mim. E acho que vai estar impresso para sempre, meu amor. O que eu quero dizer é que você vai estar para sempre em mim, acho que meu coração sempre foi seu pra inicio de conversa, você apenas fez descaso.
Preciso ir agora, nosso bebê esta rolando para todos os lados da cama, você está no banho e o deixou sobre meus cuidados. Eu nunca vou conseguir me acostumar a olhar para aquelas duas pequenas bolinhas de gudes azuladas, que são perfeitamente iguais as suas amor. Obrigado por ter me dado uma vida a qual ser grato. Deus finalmente acertou, hein?
Não sou bom com palavras, acho que escrever cartas é coisa de pessoas idiotas. Mas, o que posso fazer se sou idiota por você? Sou completamente seu.
Eu te amo, Stella. Meu coração de ferro vive em chamas, ardendo por você.
Ha ha, quem diria que eu estaria escrevendo isso algum dia. Chupa essa Batman.
Zeppelin caiu da cama, tenho que ir.
Amo você, docinho.
Do seu herói, Tony Stark."
Os sentimentos, o tempo, o ar, tudo pareceu parar. As lágrimas queriam descer desesperadamente, porém Stella não conseguia colocar para fora. Sua alma ardia, suas mãos tremiam tanto que acabou amassando um pouco as folhas. Tudo a sua volta pareceu ficar escuro, como se estivesse prestes a desmaiar novamente. Então, como um passe de mágica, o choro veio. Dessa vez não foi de raiva ou ódio por ele ter feito o que havia feito, dessa vez foi o choro de luto, da perda, do adeus. Era tão estridente o barulho que escapava por sua garganta, tão quente, tão doloroso. Não conseguia suportar, não queria estar viva. A dor, tudo a sua volta... parecia doloroso demais para continuar sozinha.
Desde o momento em que conheceu Tony, nunca se imaginou de fato estando um dia longe dele. Nem mesmo no início, nem mesmo quando o Tratado de Sokovia aconteceu. A sua vida toda pareceu se iniciar a partir do momento em que acordou na torre dos Vingadores, como se todo o seu passado não valesse a pena de ser lembrado, pois era apenas dor. Então, quando conheceu aquele grupo de herói, quando conheceu Tony, tudo mudou. Não era mais dor, medo e solidão que reinava sobre seu corpo. Era felicidade em estar rodeada de pessoas tão importantes... Stella se apaixonou por ele, se apaixonou pela aquela família, eles eram tudo que ela tinha.
O choro se alastrou por muito tempo. Soluçando e berrando. Outras vezes, tentava sufocar o grito no travesseiro. Era escaldante, insuportável. Nem se deu conta de que braços foram passados ao redor de seu corpo, tentando lhe acalmar. Ela continuou chorando por mais minutos, sentindo todo o corpo tremer, enquanto soluçava. Quando por fim, conseguiu se acalmar um pouco — mas ainda chorando — porém mais calma, conseguiu ver que a pessoa que lhe abraçava era Steve. Da mesma maneira que ele sempre fez quando ela tinha seus pesadelos.
Ver o rosto do amigo fez com que o desespero do choro tomasse um controle maior sobre seu corpo. Steve tentava a fazer olhar para ele, porém era impossível pois os espasmos de choro eram mais altos e incontroláveis.
— E-eu não consigo lembrar. — Stella tremeu ao tentar dizer a frase, soluçando em meio as lágrimas — O nosso u-ultimo b-beijo. Eu não consigo l-lembrar.
Os olhos azulados de Rogers tentavam transparecer alguma coisa, a qual a garota não soube distinguir, pois seu próprio mundo estava em um caos total. Como se não houvesse nenhuma outra coisa importa.
— Eu sinto muito. — foi a única coisa que ele conseguiu dizer, a abraçando novamente enquanto o choro dela continuava.
— Eu não consigo voltar a ser como era antes. Eu não consigo esquecer. Não consigo! Porque eu não consigo?! Alguém tem que parar com isso, não aguento mais. Achei que conseguiria, mas estou sufocando. — ela atropelou as palavras, com a voz estridente.
Os dois ficaram nessa mesma posição por longos minutos, talvez até dez. Depois de tanto chorar chega um momento que nem seu corpo aguenta mais fazer tantos esforços para expelir as lágrimas, pois é como se apenas chorar já não fosse o suficiente. Apesar de não querer que aquele funeral acontecesse, Stella conseguiu vestir o vestido preto, colocou as duas sapatilhas nos pés e saiu para fora — se apoiando no braço de Steve.
Tinha muitas pessoas para que Stella conseguisse fazer uma conta sozinha, pessoas demais para lamentar o sacrifício que Tony fizera. Mesmo assim, ela conseguiu se manter de pé, ainda sentindo seus olhos arderem como o inferno. Pepper entregou Zeppelin em seus braços, que também vestia roupas pretas e tinha o cabelo perfeitamente penteado para um lado apenas, os olhos azuis brilhavam como o céu naquele instante.
Com dificuldade em tentar segurar o filho em um braço e colocar o arranjo de flores, com o reator escrito Prova de que Tony Stark tem um coração. Stella por fim conseguiu o colocar na água, sentindo a maneira que as pessoas ao seu redor ficaram tensas ao presenciar aquela cena. De fato, desejou chorar mais um pouco, porém as lágrimas pareciam ter se esvaziado.
Quis xingar em voz alta e mandar todos ali embora, ele não precisava de algo para provar que tinha um coração — pois o coração dele batia dentro de Zeppelin. Mesmo assim, Stella conseguiu se segurar, conseguiu ser forte o suficiente para seu bebê. Ela sentiu a mão de Natasha segurar em seu braço, da mesma maneira que fizera no dia de seu casamento. E foi exatamente ali que perdeu toda sua estrutura.
Quando o arranjo de flores já havia sumido de vista, todos entraram para dentro para assistir o vídeo que Tony fizera. Mas, Stella não entrou. Tudo que tinha para saber já havia ocorrido pela carta, então preferia que isso não acontecesse. Ela se sentou na beirada do lago embaixo da árvore, da mesma maneira que os três faziam quase todos os dias após o almoço. Zeppelin dormia profundamente em seus braços, e por aqueles pequenos minutos em que eram apenas os dois — Stella conseguiu sentir seu coração se acalmar um pouco. Como se a dor pudesse desaparecer junto ao vento.
Esses pequenos minutos em que seu coração se aquietou, foram destruídos quando notou uma presença atrás de si. Ela se virou por cima dos ombros, encontrando Natasha.
— Eu queria que houvesse uma maneira deles saberem que conseguimos. — se sentou ao lado da viúva, acariciando os cabelos negros do bebê.
Stella fechou os olhos, sentindo a brisa novamente, sem saber o que responder já que não queria tocar naquele assunto. Quando tornou a abrir os olhos novamente, notou que Steve também estava ali e que junto a ele Doutor Estranho acabara de chegar.
— Meus pêsames. — se lamentou.
Por dois segundos a loira achou que aquilo fosse um tipo de piada, então piscou os olhos com força e encarou o mago a sua frente. Era como se tudo a sua volta tivesse parado naquele exato segundo. Pois, se deu conta de que nunca havia gostado dele... que nunca havia confiado nele.
— De verdade. Se existir algo que eu possa fazer...
— Eu realmente, realmente não quero falar sobre isso. — enfatizou Stella, totalmente séria.
— Eu sinto muito.
Foram mais alguns pequenos segundos que Steve e Natasha notaram a maneira que os olhos azulados da loira mudaram de tom, para um tom mais quente... de ódio. As bochechas de Stella ficaram vermelhas, os olhos brilharam e ela se levantou em um sobressalto, ficando frente a frente com Stephen.
— Eu perdi o meu marido, o pai do meu filho, e você sente muito?! — berrou — Você sabia. Você fez isso. Então vai tomar no seu cu.
O choro de Zeppelin acertou o ouvido de todos, ele acordou assustado pela gritaria. Stella virou as costas e saiu andando, deixando o bebê aos cuidado de Steve e Natasha. Não conseguiu suportar a raiva que percorria suas veias naquele exato instante, pois Stephen sempre soube... e era impossível que não existisse outra maneira de fazer aquilo. Ele omitiu a verdade e Stella sabia disso. Não sabe o caminho que fez até sumir completamente da vista de todos, queria ficar sozinha consigo mesma, chorar em paz. Precisava disso... precisava suportar o peso de seus problemas.
Natasha tentava acalmar o bebê nos braços, enquanto Steve continuava olhando fixamente para o lugar onde Stella havia sumido.
— Vou atrás dela, conversar e...
— Não pode pedir pra ela não sofrer, Steve. — soltou um suspiro cansado, conseguindo acalmar um pouco Zeppelin.
— Ela precisa de apoio, Nat. — hesitou.
A ruiva se levantou do chão com dificuldade, afinal nunca havia pego nenhum bebê em toda sua vida.
— Não, ela não precisa de apoio. Ela precisa sofrer o que tem pra sofrer. — foi sincera — O Tony foi o grande amor da vida dela, foi uma grande história. O coração dela batia por Tony Stark, nunca me ocorreu que ela jamais ficaria com outro. Ele era perfeito, ele era tudo. Aquele homem era o mundo dela.
Steve não soube o que dizer, como se suas palavras estivessem sido arrancadas de sua boca.
— Temos que devolver as joias primeiro. — Natasha mudou de assunto, enquanto dava tapinhas na costa de Zep — Cadê o Peter, hein? Ninguém nunca me disse que ele era tão pesado, meus braços tá doendo.
O loiro soltou um sorriso singelo, pegando o afilhado nos braços para aliviar a tensão muscular de Natasha. Ver Zeppelin tão de perto era estranhamente familiar, cada pequeno detalhe parecia ter saído do Stark — isso fez com que algo queimasse dentro do Capitão. Ele se lembrou da primeira vez em que conversou de amor com Stella, ela estava hospitalizada e pediu pela história de seu primeiro amor. Claro, que ele tentou evitar o assunto, mas ela era tão insistente que fez Steve acabar cedendo. Então, contou sobre Peggy, sobre a dança prometida e sobre a maneira que ela foi o seu primeiro amor. Lembrar disso agora machucou Rogers, pois ele lembra perfeitamente de Stella dizer que nunca havia tido um primeiro amor de verdade e que aquela chance era de uma em um milhão. Irônico, não? Estava segurando em seus braços agora o fruto do primeiro amor de verdade de Stella, o amor que ela achou que nunca fosse encontrar.
Steve sentiu duas lágrimas escorrerem por sua bochecha, e deu um sorriso quando Zeppelin sorriu de volta. Havia tantas coisas no mundo a qual ser grato, e ter a oportunidade de ver aquela criança fora uma das coisas a qual Steve agradeceu.
Rapidamente Peter veio socorrer os dois Vingadores que não faziam ideia de como segurar um bebê direito, deixando-os livres para fazer o que estavam prolongando a três dias. Eles haviam conseguido montar a base da viagem no tempo bem no quintal da casa dos Starks, perto um pouco do lago. Steve se voluntariou a devolve-las, então já estava usando seu uniforme de Capitão América.
— Lembra, hein, você tem que devolver as joias no momento exato em que pegamos ou vai abrir realidades alternativas doidas. — Hulk repetiu a frase novamente, abrindo a maleta com as seis joias para o loiro ver.
Natasha e Sam também estavam ali, aguardando.
— Tá tranquilo, Bruce. — fechou a maleta — sem ramificações.
— Olha, eu tentei... quando estive com elas... as joias, eu tentei fazer ele voltar. — Bruce murmurou, se referindo a Clint quando estalou os dedos pela primeira vez — Ele faz falta.
Natasha concordou com a cabeça, abraçando Steve com força, aproveitando aqueles pequenos segundos em seus braços. Quando ele se afastou, deixou um beijo na bochecha da ruiva, permanentemente. Subiu os degraus da máquina com ferocidade, deu dois toquinhos no bracelete em seu pulso — acoplando o traje de viajem a seu corpo.
— Quando tempo isso vai durar? — Nat questionou a Bruce, olhando preocupada para o cara que estava apaixonada.
— Pra ele o tempo que ele precisar, pra nós cinco segundos. — respondeu Bruce — Tá pronto, Capitão? A gente te espera aqui, hein.
— Tá bem. — murmurou o loiro, agarrando a maleta com precisão.
— Ficando quântico em, três, dois, um.
Bruce apertou o botão e Rogers desapareceu diante os olhos de todos. Natasha sentiu o coração queimar de preocupação e medo.
— E voltando em, cinco, quatro, três, dois, um.
Mas, nada aconteceu. O lugar que antes era para Steve ter aparecido, ainda continuava vazio.
— Cadê ele Bruce?! — gritou Natasha exasperada.
— Não sei, ele passou direito pela marca de tempo. Devia tá aqui.
— Trás ele de volta agora!
Eles dizem que depois de um tempo a gente se acostuma com a dor, que só fica restando um buraco profundo onde aquela pessoa que amamos acostumava estar. Que um dia você vai acordar e se dar conta de que anos se passaram, desde a última vez em que seu coração foi despedaçado por completo. Pensar nisso, faz com que Stella deseje congelar o tempo nesse exato momento enquanto observar a maneira que a tarde esta se esvaindo por completo. O por do sol sempre foi seu momento favorito do dia, quando ele finalizava isso significava que a qualquer momento voltaria para a cama — onde ele estaria lhe aguardando. Mas não era isso que aconteceria hoje... nem pelos próximos dias... nunca mais.
Ela gostaria que houvesse uma maneira para lhe impedir de esquecer, para impedir que ela superasse aquela dor horrível. Stella não queria ter que acordar um dia e perceber que havia se acostumado... ela não quer se acostumar com a ausência dele. Será que algum dia ela deixara de saber de cor os lugares do rosto dele onde as rugas se formavam quando ele sorria? Será que um dia esquecerá a sensação que aqueles olhos achocolatados lhe davam? Aquele frio na barriga? Será que algum dia Stella será capaz de esquecer a maneira que ele franzia a testa e a boca ao mesmo tempo, todas as vezes que estava pensando em algo?
Se algum dia isso for acontecer... se acontecer, ela não será capaz de lidar com a perda de todos esses pequenos detalhes também.
Luto deve ser algo que todos temos em comum, mas parece diferente em todos. Não é só pela morte que temos que sofrer. É pela vida. Pelas perdas. Pelas mudanças. E quando imaginamos porque algumas vezes é tão ruim, porque dói tanto... temos que nos lembrar que pode mudar instantaneamente. Quando dói tanto que não se pode respirar, é assim que você sobrevive. Lembrando-se que um dia, de alguma forma, impossivelmente, não se sentirá mais assim. Não vai doer tanto. O luto vem em seu próprio tempo para todos. À sua própria maneira. O melhor que podemos fazer, o melhor que qualquer um pode fazer, é tentar ser honesto. A parte ruim, a pior parte do luto, é que não se pode controlá-lo. O melhor que podemos fazer é tentar nos permitir senti-lo, quando ele vem. E deixar pra lá quando podemos. A pior parte é que no momento em que você acha que superou, começa tudo de novo. E sempre, toda vez, ele tira o seu fôlego. Há cinco estágios de luto. São diferentes em todos nós, mas sempre há cinco. Negação. Raiva. Barganha. Depressão. Aceitação.
Saber disso, ter a total certeza de tudo isso, faz com que o peso do mundo sobre os ombros de Stella lhe sobrecarregue até o impossível. Não sabe em qual dos estágios está, talvez tenha começado tudo de novo e está negando o fato de que um dia esquecerá os detalhes, que esquecerá o dia em o beijou pela primeira vez... isso tudo parece tão frágil agora. Como se estivesse guardado em potinhos, esperando o momento certo de se espatifar no chão e perder a existência.
Depois de um certo tempo chorar se torna inútil. A única coisa que lhe resta é o desejo da mudança, sem de fato mudar. Stella queria apenas por alguns minutos desligar a sua cabeça, parar de pensar, parar de sofrer, parar de sentir a dor.
Estava travando uma guerra dentro de seu próprio peito, a batalha de um amor perdido e de um futuro todo incerto.
Ela deitou para trás, olhando o céu roxo, amarelo e azul. Uma mistura fantástica de cores bonitas. Fechou os olhos, tentando suprir os sentimentos que pareciam lhe engolir. Quando se deu conta, as lágrimas já escorriam por seu rosto, molhando toda sua pele. Não tentou impedir, pois não tinha mais forças para isso, apenas ficou ali, chorando em silêncio até não aguentar mais.
— Você está muito chateada? Eu demorei muito?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro