58 | I WANT TO GO BACK HOME
Cá estamos nós com o anti penúltimo capítulo dessa jornada que estamos a NOVE MESES.
Amo muito cada um de vocês, que me ajudaram, apoiaram e sempre estiveram aqui por mim. War não seria nada sem vocês, verdadeiramente.
Esse capítulo foi até grandinho {5 mil e poucas palavras}, foi um dos mais sentimentais que escrevi e mexeu MT COMIGO.
Espero que gostem.
Quem aqui já adicionou SKY na lista de leitura? O segundo livrinho da nossa saga de heróis.
Beijão, amo vocês. ❤
Aproveitem a leitura!
{ Eu quero voltar para casa }
⎊
LEVA PEQUENOS SEGUNDOS para cairmos na realidade sobre a vida e a morte. Nunca paramos de fato para pensar nas consequências que acarretam em cada pequena atitude que fazemos em nosso dia a dia, isso vai de escovar os dentes, até decidir fazer uma viagem no tempo. Às vezes chegamos tão longe, no ápice do melhor momento da nossa existência e outras vezes nos encontramos no pior ambiente para se estar — reconhecido como o fundo do poço.
A perda de uma pessoa querida, uma amiga, um amigo, uma família, é o tipo de coisa que ninguém está preparado para lidar. O luto é um filho da puta esperando o momento exato para te engolir para as profundezas da tristeza... ou um dos outros milhares de sentimentos que a morte nós traz. Lidar com a morte já deveria ser algo conhecível para Stella, achava que estava vacinada sobre tudo contra aquele pequeno ato natural que acontece no Universo, mas não, ela não estava pronta para nada daquilo e pelo visto jamais estaria.
Seus joelhos desabaram no chão, acertando o metal da base em um forte estalo. Tudo a sua volta parecia extremamente atordoante, embaçado, como se não fosse real. Stella desejou que tudo aquilo não passasse de um pesadelo, e que quando acordasse iria estar na sua cama com Tony em seus braços, lhe assegurando que nada de ruim aconteceria... mas, aconteceu, não é?
— Pegamos todas?
— Estão me dizendo que isso funcionou? — a voz de Rhodey parecia distante demais para Stella ouvir.
— Nath, cadê o Clint? — Bruce questionou.
Mas, a ruiva não conseguia, não tinha forças o suficientes para responder, assim como Stella. As lágrimas desciam por seu rosto, sua respiração estava entre cortada. O pequeno espaço que separava Rogers dela, foi extremamente cortado — pois o Capitão correu até a amiga, a apoiando para não se deixar desabar no chão.
Stella se encontrava da mesma maneira, só que diferente da ruiva, ela não havia presenciado a cena... e saber disso lhe machucava muito mais, pois era para ter ido com eles, era para serem os três atrás daquela joia da alma. Os braços grossos e pesados de Tony tocaram seus ombros, lhe ajudando a se reerguer novamente. Stella não conseguia se controlar, Natasha também não... as duas eram as mais próximas de Clint, mas para Romanoff a dor era muito pior. Stella nem viu quando Steve a ajudou a sair dali, pois também nem notou quando Tony lhe ajudou a manter os passos firmes.
O ataque de pânico que acertou seus pulmões, veio de forma lenta e dolorosa. Não foi como as outras vezes, não lhe queimou por dentro, era ao contrário, a dor parecia lhe queimar de fora. As mãos de Stella tremiam, de medo e pavor. Tony a ajudou a sentar na cama, e tirou a blusa suja de poeira que parecia estar impregnada em seu corpo. Quando ele achou que Stella fosse retomar um pouco a si, o choque se passou e então ela começou a chorar. Era muito pior quando você tinha a sensação de que algo ruim iria acontecer, pois quando acontecia e você não tinha feito nada para impedir — a culpa era sua. Sempre acabava sendo sua.
Ela abaixou a cabeça entre os vãos das pernas e desatou a chorar, soluçando, emitindo sons de engasgos. Stella fez isso por aproximadamente quinze minutos seguidos, sem ser interrompida. As coisas pareciam que estavam caindo a sua volta, desmoronando pedaço por pedaço, primeiro havia sido Peter e Wanda, agora Clint? Parecia coisas demais para conseguir compreender.
Quando Stella finalmente conseguiu para de chorar pois o ar estava praticamente inacessível, ela se deu conta de que não estava sozinha no quarto.
Sentado no chão, com os joelhos dobrados até o peito e um dos braços apoiado na perna, enquanto o outro apoiava o rosto, Tony olhava para a esposa. Primeiro Stella achou algo extremamente ridículo, ele estar ali mas não estar lhe reconfortando. Em segundo ela notou a maneira que o achocolatado de seus olhos pareciam brilhar mais do que o normal, indicando que também havia derramado algumas lágrimas. Quando o olhar deles se cruzaram, ela soube o que Tony estava fazendo. Invés de a abraçar e dizer que as coisas ficariam bem, ele deixou o mundo dela desmoronar... pois ás vezes, quando amamos alguém, temos que deixá-la sofrer em silêncio.
Ele se levantou do chão, caminhou até ela e entrelaçou sua mão na dela. Stella se levantou da cama, ainda sentindo a visão embaçada e seguiu o caminho que Tony trilhava até o banheiro.
A primeira coisa que Stella notou fora o excelente cheiro de rosa, depois percebeu que a banheira estava totalmente cheia e espumas transbordavam por elas. Tony a ajudou tirar os tênis, o jeans, calcinha e o sutiã. Não com malícia, nem nada do tipo, mas com amor, o tipo de amor que ele transbordava por ela. Quando a água morna acertou seu corpo, Stella voltou a derramar algumas lágrimas, sendo observada pelos olhos preocupados e amorosos de seu marido. Mas dessa vez ela não chorou por Clint, nem por Peter, ou por qualquer outra morte... Stella chorou pois foi a primeira vez que algo dessa maneira havia acontecido.
Aquela era a maneira de Tony dizer "eu entendo como você se sente". Sem nenhum conselho, abraço de conforto ou coisa do tipo. Aquela atitude de Tony Stark era algo que ninguém nunca havia feito com Stella, simpatizado com a sua dor.
Tony tirou a blusa cinza também suja de poeira, o resto da roupa, e entrou na banheira junto a ela. Era grande o bastante para caber os dois, mas pequena o suficiente para ele conseguir sentir a perna dela lhe tocar.
— Obrigada. — agradeceu, abaixando um pouco a cabeça, se sentindo estranha.
— Me desculpa. — Tony hesitou em dizer, mas acabou ganhando a atenção dos olhos avermelhados de choro da sua esposa — Prometi que...
— Não. — o tom de voz dela saiu um pouco mais alto que o normal — Não faz isso.
Os fios de cabelo molhado do moreno caiam sobre sua testa, dando um ar extremamente bonito a ele. Mas, a maneira que os olhinhos achocolatados pareciam mais preocupados que o normal, fez o coração de Stella acelerar bruscamente. Ela não queria ter que ouvi-lo se lamentar pela morte de Clint, pois sabia que ele iria se culpar, Tony sempre se culpava no final. Sendo Peter, ou terem perdido a batalha contra Thanos — não havia nada no mundo que tirasse a culpa sobre os ombros do Homem de Ferro, mesmo Stella sabendo que não era nenhum pouco verdade. Estava bastante longe de ser.
Tony queria dizer alguma coisa a mais, sejam elas palavras de conforto ou de desculpas. Ele se sentia preso naquele limbo infinito de culpa que parecia engolir seu corpo cada vez mais a fundo, terem perdido o Clint estava longe de tudo que planejaram sobre a viagem do tempo. Então era perfeitamente justo Stark se sentir culpado sobre aquilo, pois era para ele saber o preço da joia da alma... como fora tão estúpido a esse ponto? E agora sentado ali olhando a sua garota totalmente assustada, isso só o fez se questionar muito mais se o que estava fazendo era de fato o certo.
— A única coisa que você prometeu, — Stella quebrou o silêncio, após ver que ele não havia encontrado nenhuma outra coisa a dizer — é que não soltaria minha mão.
Quebrado. Destruído. Culpado. Com medo. Receio. Todos esses sentimentos e milhares de outros que Tony não fora capaz de distinguir, o acertaram em cheio quando ela pedira por aquilo. Promessas machucam a alma quando não são cumpridas. No instante em que a fazemos, as coisas podem correr na direção certa, ou em uma totalmente contrária. Ele não sabia o que esperar do futuro, pois o medo parecia controlar suas emoções. Mesmo com a perda de Clint, eles não poderiam se deixar abalar por completo. Tinham as seis joias, todas elas, prontas para serem usadas. E Tony sabia que isso dependia do seu trabalho árduo em fazer uma cópia perfeitamente sustentável de uma manopla, forte o suficiente para usufruir de todo o poder que as joias acarretavam.
— Eu quero ir pra casa.
Tony piscou os olhos com força, tentando não se deixar chorar por completo, mas foi inútil pois as lágrimas desceram sem permissão. Ir para casa, não significava abandonar todos os amigos ali e se isolar novamente. O ir para casa de Stella, era o lugar sem preocupação, sem medo e conforto que Zeppelin e Tony sempre proporcionava ao seu coração. Ela ainda queria acima de tudo trazer todos de volta, e isso estava mais perto do que nunca. Mal esperava pelo momento em que fosse reencontrar Peter mais uma vez, suas mãos até suavam com aquela possibilidade.
Stella queria ir para o lugar onde tinha certeza do que aconteceria, onde não existia monstros no armário e mortes prematuras.
Demorou quase uma hora para que Stella aceitasse sair da banheira, Tony se vestiu primeiro e ficou sentado observando ela se arrumar. Tinha alguma coisa no ar, algo que o moreno conseguia sentir mas que não conseguia explicar corretamente. O fato de terem perdido um dos seus... novamente, era mais um peso que Tony parecia fazer questão de carregar sobre seus ombros. Era doloroso, pesado.
Duas horas apôs terem voltado da viagem do tempo, o grupo estava reunido no pequeno deque do lago do Complexo. Os olhos de Stella estavam vermelhos da mesma proporção que os de Natasha, Tony entrelaçou os dedos na mão da esposa para que ela conseguisse sentar por completo ao lado da amiga. Quando o silêncio se fez presente por mais segundos do que o desejado, Tony o quebrou.
— Será que ele tinha família? Além dos que se foram.
— Tinha. — Steve o respondeu, mantinha o olhar para o chão, se deixando se abalar finalmente — Nós.
Stella sentiu os braços da ruiva se entrelaçarem no seu. Natasha nunca foi muito de toque, mas parece que tudo havia desmoronado sobre ela, como se seu mundo tivesse sido destruído. Clint fora seu melhor amigo desde Budapeste, a pessoa a qual ela confiava tudo de olhos fechados, foi seu companheiro de batalha inúmeras vezes... ele era a sua família.
— O que? — Thor perguntou com a voz alarmada, apoiando as duas mãos na cintura.
— Oi, am? — Tony não entendeu. Seus olhos achocolatados estavam cobertos pelo óculos escuro. Seu jeito de esconder a maneira que seu olhar pudesse poderia lhe entregar.
— O que você tá fazendo?
— Eu só perguntei uma coisa. — o moreno respondeu na defensiva.
— Tá agindo como se ele estivesse morto, por quê tá agindo desse jeito? Temos as joias, não é? Enquanto tivermos a joia Capitão, podemos trazê-lo de volta. Parem com essa droga! Somos os Vingadores, se controle!
— Ele não vai voltar. — Natasha murmurou, encarando as próprias unhas sujas de terra.
— O que ela, o que ela, o que? — Thor perguntou atordoado, se perdendo nas próprias palavras.
— Não pode ser desfeito... não dá. — outra lágrima escorreu pelo rosto da ruiva.
Thor deu uma gargalhada irônica, como se achasse aquilo uma piada sem graça. Stella olhou de relance para os outros amigos.
— Olha, sem ofensa, eu sinto muito. Mas, você é um ser terreno demais, tá? E estamos falando sobre magia espacial. E "não dá" soa bem definitivo, não acha? — o Deus do Trovão saia do controle mais uma vez.
— Olha, eu sei que eu estou fora da minha alçada aqui. Mas, ele não tá entre a gente, não é? — Natasha se ergueu do chão, ficando cara a cara com o amigo.
— É disso que estou falando.
— Não dá pra ser desfeito, Thor. — Stella interrompeu, também se levantando. Havia começado a ficar irritada com a maneira que a amiga estava sendo tratada.
— Ao menos foi o que o cara vermelho flutuante disse. — continuo a ruiva — Talvez, você queira ir falar com ele, tá legal? Pegue seu martelo e vá voando falar com ele.
As lágrimas desciam descontroladamente pelo rosto de Natasha, sua voz havia tomado um tom histérico e alto demais para todos que estavam ali. Ao notar a maneira que havia deixado ela, Thor ficou sem palavras para continuar dizer alguma coisa.
— Ele se jogou por mim. — levou a mão até a boca, tentando omitir o som de engasgo que estava fazendo — Ele sacrificou a vida por uma droga de joia... o que vou dizer a família dele, aos filhos e a Laura? Que o pai deles deu a vida por essa... por essa merda.
Era uma junção de crise de pânico com desespero que tomava conta do corpo da ruiva. Steve se levantou do banco em que estava, caminhou até Natasha e a envolveu em seus braços.
Stella não percebeu quando Rogers levou Natasha de volta para dentro do Complexo, ele sabia a maneira que deveria lidar com aquilo e isso fez Stella se sentir um pouco melhor por completo. Pois Steve era para Natasha, como Tony era com ela. E isso aqueceu o coração da loira de uma maneira que a fizesse conseguir suportar o buraco enorme que Clint havia deixado.
A noite no complexo foi caindo gradualmente, parecia passar mais devagar do que antes. O silêncio pairava pelos corredores brancos, o medo, a angustia, a ansiedade. Todos queriam que o estalo de dedos consertasse tudo de errado que aconteceu. Por isso Tony perdeu quase a noite inteira estudando as joias, fazendo uma manopla que conseguisse suportar o poder delas — enquanto Stella ficou presa no próprio quarto, segurando o exemplar de Jogos Vorazes que Clint lhe deu na primeira vez que se encontraram. É engraçado o tipo de coisas que conseguimos nos lembrar quando algo do tipo acontece, os pequenos detalhes que antes pareciam estar apagados parecem ressurgir das cinzas. Stella sentiu o coração apertar novamente, pois Clint nunca lhe ensinaria a usar arco e flechas, como havia prometido um dia.
As promessas estão ali... e rapidamente elas somem.
Entre um de seus pensamentos melancólicos relembrando o passado, seu celular tocou —uma música do Zayn — indicando uma chamada de vídeo. Ela atendeu em questão de segundos.
— Aconteceu algo? — bombardeou a pergunta para Pepper, dando nem tempo dela responder.
— Não. — riu com graça — Tony pediu pra ligar, alguém sente sua falta. — ela virou a câmera do celular para o bebê com as duas bolinhas de gude azuladas.
— Ai meu Deus! — Stella exclamou exasperada — Oi meu príncipe, como você tá? Estou morrendo de saudade.
Zeppelin parecia querer tomar o celular das mãos de Pepper, que ria a cada movimento falho que o bebê fazia.
— A-mama.
Ver o rostinho de seu bebê foi a coisa que Stella precisava para sair daquele fundo do poço onde se encontrava. Zeppelin era a razão por estar viva, por lutar dia apôs dia. Ele era seu tudo.
— Bom, Tony me disse que se tudo der certo amanhã já posso devolve-lo a você. — Pepper sorriu para Zeppelin, voltando a câmera para o próprio rosto — Claro, se a Morgan permitir, pois esses dois não se desgrudam nunca.
Stella riu dessa vez. Não havia se dado conta de que ficar longe de Zeppelin, acarretava em alguns daqueles sentimentos ruins. Ser mãe era realmente espetacular. A conversa se finalizou alguns minutos depois, pois Pepper precisou dar comida para as crianças. Stella continuou com o sorriso no rosto, apenas pensando no pequeno tesouro que lhe esperava, e no tanto que ela sentia falta de seu abraço.
O Complexo continuava em um silêncio abatedor, parecia abandonado. Os passos que Stella dava pelo corredor eram lentos e quietos, pois estava com receio de acabar acordando alguém sem querer. Quando estava passando pelo quarto de Natasha, desacelerou os passos ao ver a porta aberta. Não queria ser enxerida nem nada do tipo, apenas queria ter a certeza de que a amiga estava bem. Os cabelos ruivos estavam deitados na cama, mais especificamente no peito de alguém — Steve Rogers — Stella sorriu ao ver a cena, orgulhosa daquelas duas pessoas se encontrando uma na outra. Logo, seguiu o caminho até a oficina onde era o lugar mais provável de seu marido estar.
Não deu outra, assim que adentrou o lugar — com os pés descalços tocando o assoalho — notou de cara Bruce, Rocket e Tony concentrados em alguma coisa. Stella se aproximou sorrateira, tentando ver por cima dos ombros deles. Com a tecnologia ultrajante de Stark, neste momento ele estava pegando as joias e tentando posicionar elas lentamente sobre uma luva vermelha.
Stella franziu o cenho com receio daquilo. Mesmo assim, continuou quieta, apenas observando os três.
Quando as seis joias se aproximaram totalmente da luva, micro buracos apareceram para as encaixar. Dois segundos mais tarde elas se encaixaram perfeitamente, como se não fosse nada demais.
— BUH! — Stella gritou atrás dos três. Tony saltou da cadeira, virando alarmado com a mão sobre o peito — Ha-ha, você tinha que ver sua cara.
— Engraçadinha. — remedou o moreno.
Stella cessou o riso, se aproximando por completo, olhando a luva com as joias.
— Essa é a nossa manopla? — questionou — Funciona?
— É claro que funciona, — Tony revirou os olhos — eu que fiz.
Ela elevou os lábios pensativa, olhando cada detalha da luva vermelha — que tinha a cor da armadura do Homem de Ferro. Era bem bonita de se olhar, as joias pareciam brilhar de uma maneira atraente. Stella continuou olhando por mais um minuto, até por fim dizer.
— É, tem razão. Eu gostei. — sorriu, observando Tony arquear as sobrancelhas.
— Tá melhor? — tocou na mão livre dela.
— Um pouco. — foi sincera — Pepper me ligou, nosso bebê tá enorme.
Tony sorriu da expressão que ela fizera.
— Faz praticamente um dia, amor. — ele gracejou, recebendo um tapa fraco no braço — Isso me faz lembrar, — sorriu amarelo — que tenho algo pra você.
— Ah, um tapa te faz lembrar? Aposto que é merda.
O jeito que Tony sorria era calorosamente gostoso, um conforto de lar, algo em quê se apoiar. Ele se levantou da cadeira, clicando em algo no computador para proteger as joias e entrelaçou rapidamente a mão na de sua esposa. Stella vestia um blusão branco comum, shorts jeans e os pés continuavam descalços. Ele começou a trilhar o caminho misterioso, até terem saído por completo do Complexo e estarem no gramado do quintal.
— Tony...
Ignorou totalmente o chamado dela, dois segundos mais tarde a armadura de nanotecnologia já estava sendo acoplada em seu corpo. Stella começou a murmurar o quão estranho ele estava agindo, mas Tony não deixou brechas, agarrou a cintura dela e levantou voou. O vento frio da noite acertou em cheio o rosto da mulher, a forçando fechar os próprios olhos com medo de escorregar. Mais três segundos depois, o Homem de Ferro pousou a armadura em algo firme. Era o telhado.
Stella olhou para ele confusa, ao mesmo tempo em que a armadura já se desfazia de seu corpo.
— O que é isso? — havia um colchão a sua frente, com uma coberta grossa, um buquê de flores, um telescópio.
— Um encontro. — Tony pegou o buquê do colchão e estendeu a sua garota.
— Qual... o motivo? — Stella pegou as flores e as cheirou, fechando os olhos por dois segundos.
— O motivo é que eu te amo, ué? — ele franziu o cenho com graça, puxando ela para seus braços e beijando seus lábios com delicadeza — Eu te amo. Isso não basta, docinho?
— Bobo. — as bochechas dela estavam vermelhas de vergonha — Sempre bastou.
— Bom, — ele caminhou até o telescópio — eu queria fazer algo... digamos, diferente.
— É, isso é bem diferente.
— Então, — continuou Tony — isso é pra você. — apontou para o objeto.
Stella franziu o cenho com graça, completamente apaixonada pelo seu homem. Caminhou até o telescópio, se abaixou e colocou o olho para ver. Era incrivelmente branca, brilhava como algo que ela nunca havia visto na vida. Isso a encantou.
— Eu te amo. — ela estava sorrindo tanto que suas bochechas ardiam.
— Bom, — Tony fez um movimento banal com a mão, sorrindo sem graça — ela é sua.
— O que?
— A estrela. — explicou, mas notou a expressão confusa da esposa — É sua. Seu presente. Eu comprei pra você.
Dois minutos ou três? Não da para dizer quanto tempo Stella ficou com uma cara de choque. Olhos arregalados e boca aberta.
— O... o que você disse? — gaguejou, dando uma risada sem graça. Achou ter entendido errado.
— Eu queria algo que estivesse gravado para sempre. — entregou o papel nas mãos dela — Se chama, — ele esticou um pouco a cabeça para ler o papel — docinho. Em sua querida homenagem.
— Tony... — ficou sem palavras, suas mãos tremiam — Como... por quê... como eu vou?... Tony.
Stella tentou segurar as lágrimas, mas foi em vão, pois no minuto seguinte estava chorando. Ela se agachou no chão, apoiando a cabeça no vão das pernas, soluçando. Tony se abaixou na sua altura, beijando o topo de sua cabeça, a aninhando em seus braços.
— Não gostou?
— Você é Tony Stark, — os olhinhos azulados brilhavam por causa das lágrimas — tudo que você fizer eu irei gostar. — pronunciou em meio a soluços.
— Eu não seria Tony Stark, sem você. — beijou os lábios úmidos e molhados de Stella, iniciando um beijo calmo e lento.
Era a jogada final, a última coisa que restava era o estalar de dedos para que todos que tivessem mortos voltasse de volta a vida. Talvez por saber e sentir isso, dormir em um colchão no telhado do Complexo havia sido uma das melhores noites da vida de Stella — como se fosse um momento extremamente crucial. A surpresa, as flores, o presente, os beijos molhados de Tony, a maneira que o achocolatado dos olhos dele pareciam fazer contraste contra o céu estrelado, a transa intensa que eles fizeram... tudo aquilo jamais seria esquecido por Stella, pois pareceu diferente...algo que seria lembrado para sempre.
A ansiedade por rever Wanda e Peter, parecia começar a corroer todo o corpo de Stella. Assim que viu o nascer do sol, ela e Tony já entraram para dentro do Complexo — tomaram um banho, transaram outra vez — e agora estavam ali de café da manhã tomado, esperando para que todos os amigos se reunissem por completo.
A luva que Stark havia feito, parecia brilhar de uma maneira ultrajante, que atraia perfeitamente os olhos de Stella. Tony se sentia ansioso, sua perna balançava, enquanto sua outra mão segurava intacta a mão de sua garota. Quando estava prestes a começar a ficar mais nervoso ainda, todos já estavam presentes, reunidos na sala de reunião. Stella notou como o rosto de Natasha estava um pouco melhor do que no dia anterior, apesar de saber que a dor de ter perdido Clint ainda continuava ardendo como o inferno dentro dela. Isso iria continuar por um bom tempo, Stella sabia por conta própria. A única coisa que ela não achou que veria tão cedo, era Steve segurando a mão da ruiva — como se quisesse estar presente e dar apoio de alguma maneira.
Tony se levantou até onde a luva estava, e junto a Rocket os dois tocaram no objeto para se certificar de que realmente estava funcionando.
— Tá, a luva tá pronta. A pergunta é: quem vai estalar os dedinhos?
— Eu estalo. — Thor afirmou, cruzando a sala até onde eles estavam.
— Como é que é? — Stark perguntou, como se não tivesse entendido direito.
— Tá tudo bem, deixa que eu...
— Ei, ei, ei, ou.
— Espera, espera, Thor.
Steve, Tony e Scott colocaram a mão na frente do Deus do Trovão, para o impedir de chegar totalmente a luva.
— Só espera. Não decidimos quem vai colocar ainda. — tentou apaziguar Rogers.
— Ah, então vamos ficar aqui sentados esperando a oportunidade? — indagou Thor, começando a perder o controle novamente.
Stella e Natasha observavam atentamente, cada detalhe da discussão que se iniciava.
— Não é melhor discutir? — disse Lang.
— Olha, ficar sentado aqui olhando essa coisa não vai trazer todo mundo de volta. — Thor expôs — Eu sou o Vingador mais forte, tá? Então a responsabilidade cai sobre mim. É o meu dever!
— Bom, normalmente você tem razão, — interrompeu Tony, com a voz mais calma do mundo — mas isso...
— Não, não, não...
— Aí. — tentou continuar o moreno.
— Para. Deixa eu fazer. — Thor gritou exasperado — Deixa eu fazer isso. Deixa eu fazer uma coisa honrada, uma coisa certa.
— Olha, — Tony soltou um suspiro — não é só o fato da luva estar canalizando energia que iluminaria um continente. Eu tô dizendo, você não tá em condições.
— O que você acha que está correndo nas minhas veias agora?
— Requeijão? — ironizou Rodhey. Fazendo com que Natasha e Stella conseguissem dar a primeira boa risada do dia.
— Eletricidade. — corrigiu Thor.
— É.
— Eletricidade não vai te ajudar. — interrompeu Bruce, ganhando a atenção de todos na sala — Tem que ser eu.
Stella só se deu conta da maneira que o amigo estava tão silencioso até aquele instante.
— Viu o que as joias fizeram com o Thanos? — comentou Bruce.
— Não acho que seja uma boa ideia... — a Stark murmurou baixo.
— {...} quase o mataram. Nenhum de vocês sobreviveria. — ele caminhou até a luva.
— E como você conseguiria? — Natasha perguntou algo pela primeira vez desde que estava ali.
— É um chute. Mas a radiação é basicamente gama. Eu acho que... eu fui feito pra isso.
Decisões são tomadas em questão de segundos, era bastante perceptível a todos ali. Bruce não deixou que ninguém opinasse mais nada. Afinal, em partes ele tinha razão. Nenhum ser humano normal, conseguiria suportar o poder de todas as seis joias juntas.
— Tá pronto? — Tony perguntou a ele, no instante em que Bruce pegou a luva.
— É agora.
— Tá, se lembre, todo mundo que o Thanos desintegrou cinco anos atrás, só traz de volta pro dia de hoje. Não altere nada desses cinco anos. — relembrou Tony mais uma vez.
Eles haviam formado meio que um circulo desajeitado ao redor de Bruce, todos prestando bastante atenção no que estava para acontecer. O corpo de Tony logo fora transformado na armadura, e puxou Stella um pouco para trás de si, criando um escudo de nanotecnologia na frente dela. Os outros se defenderam da maneira que podiam, cada um do seu jeito.
— Sexta-Feira, faz o favor de por em ativo o protocolo porta de celeiro. — pediu Tony.
— Sim, chefe.
Menos de um segundo depois todas as portas, o telhado, e as janelas foram trancadas. O ambiente da sala escureceu um pouco. Se algo desse errado, daria errado apenas ali dentro.
— Todo mundo volta pra casa. — murmurou o verdão, enfiando a mão por completo na luva que se ajustou ao tamanho de sua mão.
Em um piscar de olhos, Bruce caiu de joelhos no chão, com uma eletricidade escaldante percorrendo todo seu braço em diversas cores diferentes. Stella tomou um susto, dando um passo para frente rapidamente, como se quisesse se aproximar do amigo, mas foi detida por Tony. Bruce gemia de dor, a eletricidade parecia começar a percorrer por todo seu corpo.
— Tem alguma coisa errada. — Stella tentou gritar por cima dos gemidos de dor do amigo.
— Tira a luva. Tira a luva! — Thor gritou também, apavorado.
— Não, espera. Bruce, tudo bem? — perguntou Rogers.
— Fala comigo, Banner. — pediu Tony.
Mas, Bruce parecia não escutar nenhum dos amigos, sua dor parecia falar mais alto.
— Eu tô legal. — conseguiu responder embargado — Eu tô legal.
Quando os gritos pareceram se alastrar por todo o complexo, quando a eletricidade parecia estar no limite. O estalo de dedos foi dado. Stella fechou os olhos com o barulho. A luva despencou da mão de Banner. Bruce caiu no chão.
— Bruce?! — Steve se aproximou.
Natasha correu também e chutou a luva queimada para longe do corpo do amigo.
— Não toquem nele. — pediu Stella, atenta a Bruce. O olhar dela e de Tony se encontraram rapidamente, ambos pensando na mesma coisa.
Com uma das mãos da armadura livre, Tony ejetou dióxido de carbono, na tentativa de impedir que a eletricidade se espalhasse por todo o braço de Bruce, que parecia queimado.
— Deu certo? — quis saber Banner, com a expressão de dor contínua em seu rosto.
— A gente não sabe ainda, tá tudo bem. — apaziguou Thor.
As janelas, o teto, e as portas foram voltando ao normal e a claridade foi adentrando o ambiente. Stella se ergueu do chão, saindo do lado de Tony e caminhou até o sofá onde seu celular estava — como se esperasse encontrar uma mensagem Peter. Seus dedos dedilharam pela tela rapidamente, em busca da confirmação de que tudo havia dado certo. No instante em que pensou que algo havia dado errado, surgiu uma mensagem de Wanda, como se tivesse lido seus pensamentos.
As mãos de Stella começaram a tremer, os olhos se encheram de lágrimas e um sorriso gigante brotou em seus lábios. Ela olhou novamente para a mensagem, depois olhou para Bruce que tentava se levantar do chão com a ajuda dos amigos — e por último esbarrou seus olhos azulados sobre os olhos achocolatados de seu Homem de Ferro. Era como se Tony conseguisse transmitir sua pergunta apenas com um olhar... e no instante em que ele percebeu a maneira que Stella estava — olhos molhados, sorriso no rosto e mãos tremendo — ele soube que havia dado certo. Tony sorriu do outro lado da sala, com as pequenas rugas aparecendo ao redor de seus olhos e de seu sorriso, pronto para abraçar sua mulher e leva-la para casa. Stella também se preparou para correr até os braços dele e o beijar.
Mas também da mesma maneira rápida em que Bruce havia conseguido estalar os dedos e trazer todos de volta, fora na mesma velocidade em que tudo desandou. No instante em que Stella se preparou para ir até seu marido, um barulho atordoante e uma luz azul explodiu diante a seus olhos. Então, ela não via mais nada. Sentiu a maneira que seu corpo despencou, e apenas conseguia ouvir os barulhos de bombas e explosões ao seu redor... ela buscou desesperadamente os olhos de Tony, mas a única coisa que encontrou fora a escuridão.
Quando era criança nunca entendia cenas de mortes em filmes, parecia sempre dramático demais ou irrealista demais. As duas pessoas se arrastando com a última força que restava a elas, apenas para segurar a mão um do outro.
No momento em que seu corpo acertou o concreto gelado, no escuro e ela sentiu a maneira que o sangue pareceu escorrer atrás de sua nuca e de sua boca, bem nesse momento, Stella conseguiu entender o por quê eles se esforçavam tanto para agarrar a mão um do outro. O medo de não saber para onde estar indo, o medo de estar sozinho. Em um momento como esse, você buscam desesperadamente a mão de alguém, essa mão irá lhe assegurar de que não estará sozinho.
É engraçado quando a gente sabe que vai morrer, o sentimento de não ter feito o bastante parece pesar sobre nosso coração — ou talvez um dos pulmões já estavam fraturados, impedindo Stella de conseguir respirar.
Bem nesse instante, quando ela se deu conta de que não havia outra alternativa, ela desejou desesperadamente que fosse a mão dele segurando a sua, como estava segurando a minutos atrás. Stella estava errada, completamente errada, depois de quase três anos havia se dado conta. Quando morresse, haveria alguém que choraria por ela.
O fato dessa pessoa ser ele, a deixava triste e feliz.
Em uma única coisa ela estava certa, desde o princípio. Quando desse seu último suspiro, em seu último segundo de vida — seu coração ainda bateria por Tony Stark. Para todo o sempre.
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