50 | ALL I GIVE YOU IS GONE
{ Tudo que eu te dei se foi }
⎊
TONY STARK ESTAVA morto por dentro, alguma parte de sua alma que antes brilhava por conta do sorriso da mulher que amava — agora estava apagada, vazia, como se não restasse nada além de escuridão. Ele não saberia dizer quantas horas, dias ou minutos haviam se passado, Tony não fazia questão de nada. Algum barulho estridente ecoava por sua cabeça, como se nada no mundo pudesse lhe salvar. Tony estava fraco e cansado, não sabia quanto peso havia perdido, aquilo também não importava mais. Nada importava mais para ele.
Todo seus esforços, suas metas e planos, tudo estava destruído a partir do momento em que viu a pessoa que mais amava desaparecer diante a seus olhos.
Ele não saberia dizer o quanto chorou, nem se lembrava se foi capaz de chorar. Tony perdeu todo o raciocínio que um dia existiu em seu corpo, se sentia cansado demais para sentir alguma outra coisa.
Não tinha ninguém, não havia Stella, não havia mais esperança. Estar vivo não era mais alguma coisa que valia a pena para si, ele não tinha ela... não a tinha, então era impossível passar por tudo aquilo. Tony sentia que estava se afogando, se afundando cada vez mais, e dessa vez, não havia ninguém a quem pedir ajuda. Não que ele quisesse ser ajudado, na verdade ele esperava morrer o mais rápido possível — para que pudesse estar com Stella mais uma vez.
Todas as vezes em que fechava seus olhos para descansar (quando já era impossível os manter aberto de tamanho cansaço) ele sentia os braços dela ao redor de seu pescoço... e por alguns segundos podia jurar que estavam bem e salvos, deitados na cama. Mas, quando voltava a abrir seus olhos sempre se deparava no mesmo lugar de antes, perdido no espaço.
Ninguém sabe dizer qual vai ser a última vez em que veremos aqueles cujo amamos, mas perder a pessoa diante a seus próprios olhos é inimaginável. Ninguém está pronto, ninguém espera por esse momento... tudo desmorona em um piscar de olhos.
A única companhia de Tony era Nebulosa, a qual também foi a única coisa que lhe impediu de morrer. Pois, Tony não tinha força para muita coisa, e mesmo se tivesse ele se recusaria a fazer. Ele estava cansando de continuar vivo, estava esgotado. Tony ficava sempre sentado no mesmo lugar, na frente da nave — olhando o espaço a sua frente, desejando que tudo aquilo fosse um pesadelo do qual acordaria em breve... e outras vezes desejando morrer o mais rápido possível.
— Tá ligado? — ele deu duas batidinhas no capacete da armadura, se esforçando para se manter de pé — Oi Stella Kieran, Stell. Se achar essa gravação não poste em nenhuma mídia, todo mundo vai chorar. Eu nem sei se você vai chegar a ver isso... eu nem sei se você ainda tá... — engoliu em seco, pois era impossível dizer aquela palavra — ah, meu Deus, eu espero que sim. Hoje é o dia vinte e um, não... é vinte e dois. Se não fosse pelo horror existencial de olhar literalmente para o vaco do espaço, diria que estou me sentindo melhor hoje. A infecção já chegou ao fim graças a rabugenta azul ali atrás, ah, você ia adorar ela, muito prática. Só um pouquinho sádica. As células de combustível se romperam na batalha, mas revertermos a carga iônica ganhando cerca de quarenta e oito horas de tempo de voo. Agora estamos vagando por aí, e milhares de anos luz da sorveteria mais próxima. O oxigênio vai acabar amanhã de manhã, e ai já era. E amor, eu... eu sei que disse que não teríamos mais surpresas mas tenho que dizer que tô torcendo para que você esteja bem. Mas parece que... é você sabe o que parece. Não se sinta mal com isso, quero dizer se você chorar por algumas semanas e ai... seguir em frente com a culpa gigante. Eu vou me deitar por um minuto, descansar meus olhos. Por favor saiba que quando eu apagar será como minhas últimas noites... eu tô bem, tô super bem. Vou sonhar com você, por quê é sempre com você... eu sinto sua falta.
Ele finalizou a gravação, vestiu sua blusa com dificuldade — evitando pensar, mas era impossível. Pois a lembrança da última vez que a vira, apareceu novamente em sua cabeça. Tony se deitou no chão gelado da nave e fechou os olhos, esperando adormecer logo para que pudesse sonhar com Stella. Alguma coisa nele doía muito... e não era física. Ele simplesmente não aguentava mais estar vivo e continuar com as lembranças da mulher que amava...
Ele não sabe quanto tempo adormeceu, para falar a verdade ele esperava que não acordasse novamente. Mas, alguma coisa parecia brilhar a sua frente, lhe fazendo gemer como se fosse um pesadelo. Tony abriu os olhos, mas os fechou rapidamente — pois a luz que emanava ardeu sua vista. Ele tornou a os abrir novamente alguns segundos mais tarde, parecia alguma coisa... viva. Tony não sabe dizer o que de fato aconteceu, pois perdera a consciência por vários minutos de tamanho cansaço que sentia. Apenas quando notou que o que via era o complexo e não o vaco do espaço, ele se deu conta de que talvez estivesse morrido e ido para o céu ou que aquilo de fato estava acontecendo.
A mulher loira pousou a nave no gramado do complexo. Nebulosa apoiou o corpo enfraquecido de Tony para que ambos pudessem descer da nave, a primeira pessoa que veio correndo em seu alcance fora Rogers. O loiro passou o braço pelo ombro do amigo para o manter equilibrado, Tony estava muito magro.
— Não consegui impedir. — balbuciou, cambaleando com fraqueza.
— Nem eu.
— Olha, — Tony parou, se virou para ele, arfando por ar. Havia olheiras abaixo de seus olhos, seu rosto estava pálido — eu perdi ela.
Steve não conseguiu responder, pois Pepper apareceu correndo com os olhos vermelhos e o abraçou — tentando não chorar em seu ombro. Natasha, Bruce e Rhodes vieram para o apoio para verificar Tony. O moreno estava enfraquecido, que mal conseguia andar sozinho. Então quando eles entraram no complexo, Tony logo começou a receber o tratamento especializado. O lugar estava vazio e frio, sua cama da enfermaria também não era muito diferente. Ele tentou dormir enquanto o soro entrava por suas veias, tentou não pensar mas era impossível. Depois de um tempo ele conseguiu cochilar e quando acordou notou que seu rosto estava molhado, não de suor, mas sim de lágrimas.
— Tony.
Ele ergueu os olhos para a porta, encontrando uma Natasha com uma feição nervosa. A ruiva entrou, enquanto Tony se sentava na cama.
— Eu quero... te mostrar uma coisa.
— O que? — perguntou ríspido, mas na verdade queria apenas voltar e dormir mais uma vez. Pois estar dormindo era o mais próximo da morte que poderia estar naquele momento.
— Eles me falaram pra esperar até você se recuperar totalmente, mas eu não concordo com isso. — Natasha arrumou a cadeira de rodas, e um Tony descabelado e com olhos inchados sentou nela.
A ruiva tentou não apressar os passos pois sabia que o moreno não conseguia empurrar a cadeira de rodas com muita força, mas Natasha se sentia impaciente. Suas mãos tremiam e seu coração batia rápido. As paredes dos corredores do complexo pareciam mais brancas do que nunca, estava silencioso, os únicos sons era do andar da ruiva sobre o assoalho. Os dois andaram por três minutos, até Natasha parar frente a uma porta cinza — um dos quartos do complexo. Tony olhou para ela com o rosto neutro. Romanoff girou a maçaneta, se afastando em um passo para que Tony conseguisse enxergar o que tinha ali dentro. Não era como um quarto comum do complexo, parecia mais uma enfermaria. Tinha alguns aparelhos médicos, soros, agulhas e uma máquina para controlar batimentos cardíacos. Ele rodou a roda da cadeira para que conseguisse entrar mais um pouco, e quando fez isso alguma coisa em seu peito começou a queimar de dentro para fora.
— Não sabemos o que aconteceu, quando voltamos para cá ela estava caída no chão, totalmente desacordada. Fizemos de tudo para que ela não morresse...
Tony chegou ao lado da cama, vendo o rosto desacordado da sua garota. Os cabelos loiros caídos ao lado do corpo, uma blusa clara, os olhos fechados. Ele sentiu seu coração palpitar como um louco... havia visto ela sumir diante seus próprios olhos. Por alguns segundos achou que tivesse de fato morrido e agora estava no céu, já que ali diante de seus olho estava a única coisa que agora importava em sua vida.
— Eu vi ela... — hesitou, tocando com delicadeza sobre mão gelada de Stella.
— Ela não tá morta. — a voz de Natasha saiu quase falha — Ela tá consciente, ás vezes acorda chamando pelo Peter... outras vezes por você. Mas, nunca fica muito tempo acordada.
— C-como isso... como isso é possível? — sua boca estava seca, as pupilas dilatadas e o brilho de seus olhos achocolatados indicavam que estava se esforçando para não desmoronar ali mesmo.
Nesse mesmo instante a mão que Tony segurava pareceu se mexer por alguns segundos, o que fez ele arregalar os olhos nervoso e olhar na direção dos de Stella, que ainda permaneciam fechados.
— Eu acho que foi a joia... ou alguma outra coisa. — Natasha cobriu os pés da amiga que estava saindo para fora da coberta — Tony... eu acho que a joia quis proteger... proteger o bebê.
— Que? — achou ter ouvido errado.
— Ela tá grávida de três meses.
Ele não soube o que dizer, suas mãos começaram a suar e seu coração acelerar mais uma vez. Olhou para Stella deitada naquela cama e segurou sua mão com tanta força, se debruçando sobre ela. Esperando que alguma coisa acontecesse, mas não aconteceu, então Tony começara a chorar. Não de um jeito escandaloso ou algo do tipo, ele deitou a cabeça sobre a beirada da cama e segurou a mão dela como se fosse a coisa mais importante do mundo. Seu peito subia e descia, as lágrimas desciam pelo seu rosto, ele soluçava silenciosamente.
Aquela foi a primeira vez em que chorou em vários anos, não sabia que era capaz de se sentir tão triste e tão feliz ao mesmo tempo como naquele instante. Tony não sabia o que sentir, então continuou com a cabeça baixa chorando em silêncio — sentindo a mão gelada da pessoa que mais amava em toda sua vida. Como ele achou que conseguiria continuar sem ela? Tony jamais viveria sem Stella. Ele não seria capaz, ele nunca conseguiria viver sem aquela mulher em sua vida. Não importasse o tipo de herói que fosse, Tony Stark não era de ferro. Seu coração era fraco e pertencia profundamente a aquela garota. E se a perdesse seria infeliz pelo resto de sua vida... como conseguiu continuar respirando achando que ela estava morta? Como fora capaz de suportar tudo aquilo?
Ele jamais seria capaz de lhe auto responder, isso nem importava mais. Pela primeira vez desde os seus treze anos, Tony passou a acreditar que Deus existia ou pelo menos algo bem próximo disso.
Tony não sabe dizer quanto tempo se passou depois que saiu do lado de Stella, já que Pepper e Natasha ficaram muito irritadas quando viram que ele não estava tomando o soro que deveria. Então por alguns minutos Stark fora obrigado a abandonar a cadeira ao lado da cama de Stella, até que ele estivesse um pouco melhor para ficar ali o dia inteiro. Ele não queria saber muita coisa sobre o que aconteceu, apesar de saber que tinha uma reunião com os Vingadores que sobraram dali a algumas horas... Tony evitava ao máximo pensar nisso, pois não queria chorar mais, por quê pensar em Peter partia seu coração. Ele tentou não ficar preocupado com o bebê que Stella carregava, será que ela já sabia? Será que dava para saber?... Tony não saberia responder, isso parecia uma coisa arrebatadora. Pois algumas vezes ele se pegava pensando se trazer uma criança para aquele mundo era uma coisa boa, depois de tudo que aconteceu.
Era como se aquele bebê fosse um pingo de esperança no fim do túnel, ao mesmo tempo em que era uma avalanche de sentimentos espantosos. Tony não queria que seu bebê vivesse no mesmo Universo que Thanos... não depois de tudo. Então algumas horas depois de tomar seu soro, a reunião estava prestes a ser iniciada.
Stella parecia viver em vários loopings diferentes de pesadelos, ela vira Steve virando pó, Natasha, Tony, Wanda, Clint e por fim Peter — que era exatamente no momento em que as lágrimas desciam descontroladas por seu rosto. Ela abria os olhos, chorava em silêncio, fechava os olhos e voltava a ter o mesmo pesadelo que acabara de ter. Todas as vezes quando chegava a vez de Peter morrer, ela começava a se debater, tentando correr até o garoto para impedir que aquilo acontecesse. Mas, ela sabia, não adiantava quais esforços se pusera a fazer, jamais seria suficiente. Stella nunca conseguiu alcançar Peter, esse é e sempre foi o seu pior pesadelo.
Na última vez em que acordou com o rosto molhado de lágrimas, diferente das outras vezes ela sentiu um clarão sobre sua visão. Na hora Stella fechou os olhos, esperando que o pesadelo se reiniciasse mas isso não ocorreu. Então ela abriu mais uma vez os olhos e conseguiu perceber que não estava morta, nem no planeta de Thanos — ela estava em um quarto. Seus olhos demoraram a se focar, pois a claridade que acertava suas córneas era bastante forte. Ela se forçou a sentar, sentindo uma agulha enfiada na parte de cima de sua mão (dentro de sua veia). Seus olhos correram pelo quarto, até se dar conta de que era uma enfermaria, a qual já devia estar acostumada. Por alguns segundos Stella não se lembrou de Peter e nem de nada que havia acontecido, era como se seu cérebro estivesse em uma pequena pausa — para que ela conseguisse respirar novamente.
Segundos mais tarde a porta branca fora aberta e cabelos loiros passaram por ela. Steve não olhara de imediato para a cama, estava lendo alguma coisa no celular, como se estivesse indo ali no quarto apenas para confirmar que Stella ainda estava respirando. Mas no momento em que Rogers notou a movimentação na cama, seus olhos bateram na garota. Os pés de Stella estavam pendurados sem conseguir tocar no chão, já que ela também não era muito grande. Os cabelos amarelados estavam bagunçados — apesar de Pepper e Natasha os pentearem de vez em quando. Os olhos azuis de ambos se encontraram.
— Stella. — ele quebrou o pequeno espaço entre eles, se sentando na cama, abraçando a amiga — Você está bem? Sabe quem eu sou? Sente algum tipo de dor?
— É o patriota que fica com a bunda realçada quando usa aquele uniforme. — Stella forçou um sorriso, mas contraiu de dor em seguida. Então foi quando o banque veio — O P-peter está... morto?!
— Eu sinto muito. — a abraçou mais uma vez, achando que ela fosse chorar, mas Stella estava em choque. Não havia mais lágrimas para descerem, os pesadelos acabaram com todas.
— Eu achei que...
— Não consegui detê-lo. — Steve confessou, sentindo todo o peso sobre seus ombros.
— O Tony... o Tony tá...
— Ele tá bem, não se preocupa.
Mas Stella já tentava se levantar da cama, pois queria sair a procura do marido.
— Stella... você não pode fazer esforços assim. Não arranca o soro.
— Steve, eu te amo. — ela parou no meio do quarto após arrancar a agulha do braço — Eu amo muito, estou completamente grata por... estar vivo. Mas entenda, eu quero ver ele... eu quero ver a Nat... ah, meu deus, ela tá?...
— Não. Ela tá bem.
Stella percebera o que acabara de falar e isso pareceu trazer a tona mais uma crise de choro, seus olhos brilharam, ela fez bico enquanto tentava segurar. Mas, por fim acabou perdendo e as lágrimas desceram por seu rosto. Logo ela sentiu os braços do amigo te segurando, lhe impedindo de desabar no chão.
— O P-p-peter... — gaguejou, fungando o nariz — eu nunca disse que o amava.
— Ele sabia.
Não demorou muito para que as lágrimas de Stella se secassem novamente, seu corpo estava fraco e não tinha tanta água disponível assim. Mesmo assim, Steve concordou em a acompanhar até Tony e Natasha.
— Não precisa me segurar, não vou mais chorar. — murmurou, fungando o nariz mais uma vez.
Mas Steve não estava preocupado com o fato dela chorar e sim com a coisinha que ela carregava consigo mesmo.
Logos eles chegaram no cômodo que Stella conhecia perfeitamente, a sala que fazia divisa com a cozinha. Ela não conseguiu contar quantas pessoas tinham ali, pois era muitas, pelo menos mais de dez. A conversa que antes estava acontecendo parou-se por completo — no exato momento em que eles adentraram. Os olhos de todos foram postos na garota, Stella procurou pelo marido, o encontrando sentado na ponta da mesa. Era a primeira vez que vira Tony tão doente, estava mais magro do que o habitual, havia olheiras abaixo de seus olhos e os fios de cabelos estavam espetados. Foi por pouco que Stella não tropeçou nos próprios pés, pois correu tão rápido na direção do marido que sentiu que fosse desmaiar. Ela se jogou para cima dele, o agarrando pelo pescoço, começando a chorar de novo.
— Stella... — a voz dele saiu falha, seus braços agarraram o corpo da garota com toda sua força.
Ela ergueu os olhos inchados e molhados para ele.
— Tony... — e o abraçou novamente.
— Tá tudo bem, — ele passou os dedos sobre seu rosto, tentando secar as lágrimas — eu te amo muito...
Mas Stella parecia não ouvir, continuou chorando por mais alguns minutos até finalmente as lágrimas secarem mais uma vez. Ela se sentiu fraca e tonta, tendo que se sentar. Os olhares de todos estavam pousados sobre ela, e por vez Stella percebeu que Thor estava ali — mas o olhar do Deus do Trovão era o único que não estava sobre ela. E isso de algum jeito deixou Stella magoada, pois estava extremamente feliz por ele estar bem.
Talvez por todo o resto de sua vida Tony nunca seria capaz de conseguir explicar a maneira que se sentiu quando abraçou sua garota novamente, quando sentiu o coração dela bater contra o seu, quando as lágrimas dela molharam seu pescoço. Ou a maneira em que seus braços pareceram que foram moldados para a segurar.
Alguns segundos mais tarde, Natasha voltou com um copo de água e uma vitamina. A garota abraçou a amiga mais uma vez, toda manhosa e voltou para o lado de Tony — tomando a vitamina. A reunião pareceu ser adiada por alguns minutos, pois várias das pessoas que estavam ali haviam se dissipado da sala.
— Como você está? — Tony perguntou mais uma vez.
— Bem, eu acho... como eu?...
— Não sabemos. — Bruce respondeu — Você simplesmente apareceu aqui.
— Isso... — Natasha começou a falar mas fora cortada pelo olhar de Tony. Ela compreendeu na hora.
— Amor... — Tony a chamou, tocando em seu ombro. Ele a abraçou de lado, para que ela ficasse segura em seus braços — Você sabe que?...
— Eu sei que o Peter morreu. — se estremeceu ao dizer isso.
O rosto de Stella também continha vestígios de uma perda de peso, olheiras abaixo dos olhos que estavam vermelhos e inchados.
— Não, uh, é que... você parece que tá grávida.
— Ah Stark, pelo amor de Deus. — Natasha se irritou — Você tá grávida, não "parece". — fez aspas nos dedos.
Stella olhou para o meio da mesa por um minuto inteiro, depois olhou para Natasha e Bruce, depois voltou a olhar para o Tony.
— Você tá muito calma. — Stark se aborreceu, pois lembrou a maneira que surtou quando descobriu tal coisa — Quer dizer...
— É que... não parece real, tudo isso, — vez um gesto com o dedo a sua volta — não sei se é real.
Os três olharam para a garota com a testa franzida. Pois por um momento Stella pareceu se perder em seus devaneios... mas na verdade estava apavorada, pois parecia um sonho... como se estivesse morrido e estava no céu. Dois minutos depois ela pareceu voltar ao normal e disse.
— Estou grávida!? — sussurrou para si mesma, levando a mão até a barriga sem perceber.
— Sim.
Tony colocou a mão sobre a dela, sentindo a barriga lisa. De uma maneira que jamais seria capaz de explicar a qualquer outra pessoa, Tony fora grato por sua mulher estar viva e saudável e por ela... por ela estar carregando um bebê dos dois.
— Então... aquele sonho... você estava certo. — ela ergueu os olhos azuis cheio de lágrimas para o homem.
— Eu disse, mas achei que... foi tão real. Quer dizer, é real.
O casal se abraçou mais uma vez, cagando totalmente para quem estivesse vendo a cena. Stella chorou mais um pouco, pois imaginou a cara de Peter se soubesse disso... então ela se lembrou, quase como se fosse um flash. Peter sabia... ele sabia desde a primeira vez em que se sentou ao lado dela e segurou sua mão... Peter sabia... Peter quis lhe proteger a todo custo...
— Ele sabia. — falou sem perceber, Tony ficou em silêncio — Peter sabia sobre o bebê... ele tentou ficar me dando barrinhas o tempo inteiro e segurou a minha mão o tempo todo. Ele sabia.
Tony não soube o que dizer, pois sabia que se entrasse novamente naquele assunto sobre o garoto — Stella começaria a desmoronar mais uma vez. Então ele apenas entrelaçou os dedos na mão gelada dela, fazendo carinho com o polegar. Ao mesmo tempo em que a sala de reunião se enchia novamente.
— Se passaram vinte e três dias desde que Thanos veio a terra. — Rhodes começou.
Stella se remexeu na cadeira um pouco desconfortável, lançando olhares de vez em quando para a própria barriga sem conseguir acreditar no que havia ali dentro. A mão de Tony ainda segurava a sua.
— Os Governos mundiais estão... despedaçados. — Natasha comentou, ao mesmo tempo em que aparecia na telinha transparente as fotos de todos que morreram. Stella sentiu o estomago revirar ao ver Wanda... e depois Peter — As partes que ainda funcionam estão tentando fazer um sensor e parece que ele conseguiu.
Tony apoiou a mão sobre o rosto, lamentando em silêncio. Ele ainda estava fraco, o soro estava ao seu lado entrando em suas veias. Stella olhou de relance para o reator no meio de seu peito e depois voltou a olhar para a amiga, tentando manter o foco ali e não voltar a pensar em Peter.
— Ele fez exatamente o que disse que ia fazer, Thanos dizimou..., — ela fez uma pausa, recobrando a força — cinquenta por cento de todas as criaturas.
— Onde ele tá agora? Onde? — quis saber Tony.
— Ninguém sabe. — Steve respondeu.
O loiro também não tinha uma cara muito boa. Agora com um pouco das forças recobradas, Stella conseguia observar melhor o amigo. Rogers vestia uma camiseta xadrez esverdeada, os cabelos penteados para trás e os braços cruzados. Stella se pegou pensando em Peter mais uma vez.
— Ele só... abriu um portal e atravessou. — continuou Steve.
Tony rodou a cadeira de rodas um pouco para frente, soltando um suspiro pesado.
— Que que ouve com ele? — apontou para Thor que estava calado. O loiro parecia abalado, pois trajava um moletom e suas duas mãos estavam pressionadas uma na outra, enquanto seu olhar se perdia no chão.
— Ele tá possesso, acha que fracassou. Que foi o que aconteceu, mas tá todo mundo no mesmo barco, não tá?
— É sério até esse exato segundo achei que você fosse de pelúcia. — o moreno declarou, olhando para Rocket.
— Talvez eu seja.
— Estamos caçando o Thanos a três semanas já, com os sensores espaciais e satélites e até agora nada. — Rogers começou novamente, com a voz arrastada — Você enfrentou ele.
— Quem te contou? — Tony perguntou, entrelaçando a mão novamente na de Stella — Não enfrentei. Ele esfregou minha cara com o planeta, enquanto o mago da blit streat entregou o ouro. Foi isso, não teve luta por quê...
— Ok.
— Ele é invencível.
— Ele chegou a te dar dicas? Ou coordenadas, qualquer coisa? — Steve perguntou sério.
Tony fez um gesto, levou a mão até a testa e fez: pluf. Indicando que não sabia de nada e que aquela era a sua maneira de lidar com a perda. Stella apertou a mão mais uma vez sobre a do marido, começando a se sentir cansada. Quando parava para pensar tudo agora fazia sentido, as dores, enjoos, sentimentos extrapolados. Nunca foi o poder da joia sobrecarregando seu corpo, sempre foi aquele bebê...
— Eu previ isso a alguns anos, — Tony lembrou, gesticulando com ironia — eu tive uma visão, não quis acreditar. Achei que era um sonho.
— Tony, eu preciso que se concentre...
— Eu precisei de você. — o tom de voz de Stark estava pacifico, da mesma maneira de quando estavam em Titã. Stella apertou um pouco a mão dele, mas ele desvencilhou rapidamente, pois não queria a machucar sem querer — É isso ai no passado, isso supera o que você quer, é tarde demais. Sinto muito. Eu preciso... preciso me barbear.
Na tentativa de se levantar da cadeira, Tony empurrou o copo de suco de laranja e a tigela de cereal sobre a mesa. Ele se afastou um pouco da Stella, tentando tirar o soro de seu braço. A paciência havia se esgotado.
—... Ah, eu acredito que me lembro de dizer a todos aqui...
— Amor...
— Tony...
— ... aos vivos e aos outros, — arrancou o soro do braço em um puxão forte — que era necessário que existisse uma armadura em volta do mundo. Se lembram disso? Com ela impactando nossa preciosa liberdade ou não. Isso era necessário.
— Tá mas não deu certo, não é? — Steve irrompeu.
— Eu disse que íamos perder, você disse: faremos isso juntos também. E adivinha? A gente perdeu a guerra... e você não estava lá. Mas é o que fazemos, não é? Trabalhamos melhor depois do fato que os Vingadores, somos os Vingadores. Não somos precavidos? Né?
— Ok. — Rhodes tentava segurar Tony — Todos compreenderam, agora senta.
— Ok. Não, não, não. Isso tem que ficar claro, ela é ótima a propósito. — apontou para a Capitã Marvel — Precisamos de você, essa é sangue novo. Somos mulas cansadas, não tem nada pra você Capitão. — Tony apontou o dedo na cara de Steve, frente a frente — Não tem coordenadas, nem dicas, nem estratégias, nem opções. Nada. Nada disso.
Eles estavam frente a frente, Tony apontando o dedo para Steve — enquanto o loiro o olhava sem nenhuma expressão facial. Stella observou Natasha lhe lançando um olhar do tipo: não vai fazer nada para o impedir?. Não, Stella não iria fazer nada, pois aquele era o momento de Tony surtar. Stella havia surtado todos os momentos em que esteve com ele, enquanto ele lhe segurou de piorar. Ela sabia que Tony nunca fora tão calmo assim, ele estava sempre acumulando tudo dentro de si. E aquele fora o momento em que ele explodiu.
—... traidor. — então Tony arrancou o reator do peito, facilmente e jogou na mão do loiro — Toma, segura. Se você achar ele põem isso, se esconde.
Então as pernas de Stark falharam e ele bateu os joelhos no chão, Stella correu ao seu alcance.
— Eu tô bem. Eu tô... — e desmaiou.
(...)
Após ficar sozinha novamente os pensamentos de Stella voltaram a tona, ela tentou com toda sua força não se deixar levar novamente pela crise de desespero — pois não tinha que ser mais forte por si mesma, e sim pela criança. Fora difícil acreditar que seus amigos conseguiriam matar Thanos e trazer todos de volta, pois era como se a esperança tivesse abandonado seu corpo.
Ela estava sentada agora na poltrona ao lado da cama do seu marido (que estava completamente desacordado após o desmaio). Bruce deu medicação para que Tony conseguisse dormir, já que seu corpo estava completamente sobrecarregado de estresse. Então já fazia algumas horas que ele adormecia e que Stella estava ali ao seu lado. Aquela explosão de Stark fora a primeira vez em que ela viu o marido perder totalmente o controle, nem quando o Tratado de Sokovia aconteceu Tony pirara como ali. Isso só comprovava o quão desesperador era Thanos... e o quão Tony tinha pavor do que ele fizera.
— Você é real? — a voz embargada dele fez com que a mulher olhasse rapidamente para ele — Ou um sonho?
— Oi, amor. — Stella se debruçou sobre ele, tocando seu rosto magro.
— É real? — Tony tentava pronunciar as palavras direito, mas saiam levemente arrastadas.
— É claro que é real.
Ela segurou a mão gelada dele dentro da sua, tentando segurar as lágrimas que insistiam em sair. Tony estava acabado.
— É que eu te vi... morrendo. — os olhos achocolatados brilhavam, indicando que ele também estava bem perto de chorar — Sabe...
Mas Stella não deixou que ele continuasse, ela se levantou da poltrona e se deitou no pequeno espaço ali ao lado dele. Alguns segundos mais tarde Tony pareceu perceber que de fato ela era real e não apenas um de seus sonhos que tinha toda vez que ia dormir enquanto estava no espaço. Stella evitou se deitar sobre ele, pois seu corpo ainda estava fraco. Mas, Tony pareceu não se importar pois a puxou para perto de si, aninhando sua cabeça no topo da cabeça dela — sentindo o perfume.
Eles não falaram nada pelos próximos minutos, não era importante. A dor de perder alguém que você ama é trivial... não há palavras suficientes para descrever o que ambos estavam sentindo. Eles não precisavam expor em voz alta, os dois sabiam perfeitamente o que o outro estava sentindo.
— Eles foram atrás dele? — após dez minutos Tony quebrou o silêncio, encaixando Stella mais perto de si.
— Uhum.
Então se passaram mais meia hora, com apenas um ouvindo a respiração do outro e sabendo que nada mais importava além deles. Eles não queriam pensar em Thanos, não queriam relembrar tudo que passaram. Apenas queriam ficar juntos... um agradecendo em silêncio pelo outro estar vivo.
Stella pediu mais de três vezes para ele fechar os olhos e descansar mais uma vez, só que Tony não ouvia — ou fingia não ouvir. Pois apesar de sentir Stella ao seu lado, apesar de poder a tocar, ele ainda tinha medo de fechar os olhos para dormir e depois acordar e ela não estar mais ali.
— Se for menina o que acha de Flora? — Stella ergueu um pouco a cabeça para ver o chocolate dos olhos de seu marido, quebrando o silêncio após quase uma hora.
— Eu acho bonito, — beijou a testa dela, a encaixando mais em seu peito — por que Flora?
— Era o nome da minha mãe. — respondeu, sustentando o olhar sobre o dele.
Apesar de Stella nunca ter dito a Tony que se lembrava do dia em que Howard lhe salvou, de fato ele sabia que ela havia recobrado algumas daquelas memórias.
— Flora Maria. — Stella continuou, sorrindo dessa vez, já que a pronúncia do nome das mães de ambos havia sido bonita.
— Não acho que exista um mais bonito. — mal conseguiu conter o sorriso, evitando chorar mais uma vez. Tony a deu um beijo na testa — E se for menino?
— Estava pensando em... Peter.
Oi meus pithcucos amores da minha vida. Venho pedir desculpas por demorar tanto atualizar, estou tentando deixar o mais próximo da perfeição que consigo.
Também estou tentando ajustar meu tempo para planejar os últimos capítulos de War, enquanto estou tentando planejar os primeiros capítulos da nossa fic de Harry Potter que sai mês que vem. Espero que gostem bastante 😭
Confesso que chorei escrevendo esse capítulo, quem aqui achou que nossa bebezinha tinha morrido? O bebê mal chegou e já é a salvação da pátria.
Estou preparando outro especial como aquele de perguntas e respondas para quando batermos 70K. Aguardo todos vocês, hein?
Beijão, espero que esse mês de novembro seja magnífico para todos vocês. Pois merecem. ❤
p.s:
Para quem curte o universo dos bruxinhos talvez no finalzinho desse mês ou no começo de dezembro — Harry Potter and the girl who knew too much — será lançada. Iremos acompanhar a jornada de Savannah Black, chegando para estudar seu terceiro ano em Hogwarts. Ao mesmo tempo em que seu único parente vivo, acabou de fugir de Azkaban.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro