39 | THE PROJECT 94
{ O projeto 94 }
⎊
OUTUBRO DE 1994
O FRIO NAQUELA SALA NÃO ERA nada comparado ao frio que Howard sentia, de uma maneira surreal as palmas de suas mãos suavam como nunca havia suado antes. Não era o receio do que aquilo de fato significava, mas sim o medo do que aconteceria com todos que amavam pelos próximos meses. O Stark mais velho parecia ter envelhecido dez anos nos últimos dois dias — quando suas mãos tocaram pela primeira vez naquela pedra amarelada e desconhecida. De fato ele não fazia ideia de como aquilo fora parar em seu laboratório e de como todas aquelas pessoas que trabalhavam com si, conseguiram lidar com aquele fato. A joia parecia os atrair cada vez mais para perto dela, como um feitiço que não poderia ser quebrado. Todos haviam chegado a conclusão de que o lugar mais seguro para algo daquele tipo era lá no laboratório, mas claro que não fora isso que Howard pensou. Ele queria ficar com ela... a ter por perto e a estudar.
Deve ser esse um dos motivos por se sentir tão inquieto naquele momento, olhando para aquilo. Não conseguia compreender, aquela joia estava a mil anos de revolução a sua frente. Ele estava parado no tempo, não tinha como entender e a estuda-lá do jeito certo pois não tinha as tecnologias necessárias.
Essa é uma das últimas coisas que Howard se recordava, pois dali para frente sua cabeça começara a girar em milhares de maneiras diferentes. Uma onda magnética dançava por cada molécula de si mesmo transformando seu próprio corpo em uma carga pesada de energia. Ele não se lembrava de muita coisa, se parasse para tentar relembrar aqueles últimos segundos ele definitivamente não lembraria. Vários looping das lembranças daquele dia acertaram seu cérebro, enquanto tentava se manter sã no que de fato estava ocorrendo ali.
Ele se lembrava de ter acordado antes das 07:00, tomado café da manhã feito por uma das empregadas. Abraçado sua esposa, a beijado. Ter pego sua pasta para ir trabalhar, e ter esbarrado em seu filho Tony totalmente descabelado e com a cara inchada — tudo isso em questão de minutos até sair pela porta a fora e enfrentar mais um dia cheio.
O nome que haviam dado a aquele novo estudo era o Projeto 94. De um jeito estranho Howard sentiu que alguma coisa viria dali e não poderia estar mais certo.
Quando abriu seus olhos a pequena pedra amarelada com algumas partes em laranjas — ainda estava em seu bolso. Howard se levantou do chão cinzento em que se encontrava, tentando adivinhar o que havia acontecido. Não estava mais em seu laboratório, aquilo não tinha nada do que era seu. Era um lugar completamente diferente, mas não tanto como imaginou que seria. Se certificou que a joia ainda estava em seu bolso e conseguiu dar os primeiros passos para dentro daquele lugar que mais parecia uma ficção. Stark nunca fora um homem que acreditava em mitos, lendas ou coisas do tipo. Ele era um cientista, acreditava apenas no que podia ver e ser comprovado. Então estar naquela posição era completamente estranho para si, pois nunca se imaginou sem saber de fato o que era alguma coisa.
Conforme seus pés lhe levavam para aquilo que parecia ser uma pequena cidade, ele conseguiu notar pessoas andando por ali. Quase como se estivesse em Nova Iorque, só que a de décadas atrás — pois a maneira que os prédios e as estruturas se encontravam, aquilo ali só podia ser em outro lugar. Howard andou por mais alguns minutos, com as duas mãos enfiadas no bolso da calça girando a joia entre seus dedos até chegar na conclusão de que aquilo ali não era sua casa de fato. Mas então o que era?
As árvores daquele lugar parecia ter um tom de verde diferente, quase puxado para o cinza. Agora que reparara, se deu conta de que cinza era de fato a única cor que mais se sobressai. Então foi quando seu coração se apertou e seus pulmões pareceram também ignorar qualquer tipo de oxigênio. Ele se sentou no banco da praça, olhando alarmado para as pessoas a sua volta. E então aconteceu...Desde a primeira vez em que seus dedos tocaram aquela joia amarelada, algo estranho transbordou daquilo. Mas, sentado ali naquele lugar ele sobe distinguir o que de fato era. Poder extraterrestre, nunca antes visto pelo homem. A maior força sobrenatural que já estivera em mãos humanas.
Seus olhar vago logo esbarrou em algo estranho. Roupas amareladas, algo parecido como um cinto enorme sobre aquela cintura fina. E cabeça raspada.
Howard imediatamente sentou ereto, mas sentia os olhos daquela pessoa sobre si de uma forma surreal. Como se soubesse. Ela parou no meio do campo acinzentado com os olhos sobre Stark, esperando que ele fizesse alguma coisa. Mas Howard não sabia o que. Então tudo aquilo veio tão forte que ele ficou tonto com tamanha informação, parecia algum tipo de pensamento mas não era seu... não era... a não ser que fosse... de outra pessoa. Ele levantou os olhos alarmado para a mulher novamente, esperando para que ela se aproximasse e prosseguisse dizendo alguma coisa. Howard precisava saber.
Mas então foi pior, e dessa vez ele soube que aquilo definitivamente não era um pensamento seu — pois nem em um milhão de anos seria capaz de imaginar alguma coisa parecida.
Caos. Fumaça. Pessoas morrendo. Nova Iorque inteira se dizimando, tudo virando pó. Desaparecendo conforme os segundos se esvaiam.
Ela sorriu, a mulher tinha algum tipo de sorriso estranho sobre seus lábios — mas seus olhos ainda pareciam sombrios e sérios. Howard sentiu que estava hiperventilando, eram tantas coisas que sua cabeça não era capaz de entender. Aquelas imagens estavam impregnadas em seu subconsciente... como se fosse um filme que pudesse colocar o replay diversas vezes seguidas. Nem se deu conta de que a mulher estava ao seu lado, apenas quando percebeu-se que aquele vislumbre de imagens era algum tipo de alucinação maluca. Chegou a pensar que estava drogado.
— Isso não lhe pertence.
A voz dela era tão aguda que entrou em sua cabeça como uma magnitude amplificada.
— Sinto muito. Mas, quem é você? — ele questionou. Observando agora um pouco melhor o que de fato eram todas aquelas coisas sobre aquela roupa estranha dela, algo como um colar estava pendurado em seu pescoço. Ela ergueu os olhos para ele, com se pensasse em alguma coisa.
— Sei que não é daqui, Stark. Digamos que sou alguém a qual você está predestinado a encontrar. — ela cerrou os olhos, voltando sua própria atenção ao parque cinza a sua frente.
O mais velho sorriu, meio debochado, meio estranho. Howard não sabia que sensação ridiculamente eletrizante era aquela a qual passava por todo seu corpo, lhe sobrecarregando de tamanha tensidade como naquele instante. Uma parte sua sabia perfeitamente que não estava mais em casa, que aquela ali não era a sua Nova Iorque.
— Ela é uma das seis joias do infinito. — a anciã começara a explicar, mas parou no instante em que Howard franziu a testa achando ridículo aquele nome — Simplificando, são seis pedras cômicas extraordinariamente poderosas. Cada joia concede um poder específico ao seu portador no domínio de um aspecto do universo: Poder, Tempo, Mente, Espaço, Realidade e Alma.
— Espera que acredite nisso? — o olhar de desdém pairava sobre os olhos de Stark.
— Não. Essa não é a primeira vez que algo do tipo acontece, sei como os Stark's são.
Howard estava meio alucinado com tudo a sua volta, a cor cinza parecia pairar muito mais sobre tudo. Começou a achar que pudesse estar sonhado, ter desmaiando no laboratório e tudo aquilo ali não passava de um sonho... Mas novamente, ele jamais teria capacidade de elaborar tudo o que aquela mulher lhe mostrou. Era surreal para qualquer ser humano normal.
— Venha comigo, não temos muito tempo. — ela se levantou, esperando que ele fizesse o mesmo — Alguém como você não suportaria ficar muito tempo nesse lugar, a partir de algumas horas começa a fazer um efeito estranho em meros mortais.
— Meros mortais? — Howard se levantou, começando a acompanhar a mulher. Lado a lado. Se fosse apenas um sonho, nada daquilo lhe machucaria de verdade, não é?
— Esse lugar tem exatamente duas horas até que seja destruído.
— Destruído?
— Extinto. Já ouviu falar sobre multiverso? Aposto que sim, afinal você é um cientista. Este daqui é a Terra número um. É considerada a principal em todos os outros que existem, mas sera destruída de qualquer maneira. É algo como a predestinação, não importa quantas vezes eu volte aqui sempre acaba do mesmo jeito.
— Tirou isso de uma história em quadrinho? Pois parece as baboseiras que meu filho lê. — desdenhou.
— Existem milhares de multiversos em todo a galáxia, muitas dessas realidades paralelas foram criadas por conta das inúmeras viagens no tempo. É chamada de interferência temporal. Quando esse tipo de coisa acontece milhares de vezes da uma quebra de continuidade no espaço-tempo. É isso que gera o caos multiversal, quando uma pessoa é levada para outro universo justamente por conta dessa quebra na continuidade causada por várias viagens. — ela explicou, parando ao lado de um lojinha com uma fachada azul acinzentada — É isso que lhe trouxe aqui, sempre de novo e de novo, em um looping que se repete todas as vezes em que escolhe a joia. Ou seja, sempre. Pois você não consegue evitar.
— Essa pedra amarela me trouxe para um universo paralelo? — o homem velho arqueou as sobrancelhas, transformando seu rosto em vários pontos de rugas.
Ela não o respondeu, pois no segundo seguinte não estava mais ali. Howard olhou em volta desesperado, tentando compreender de fato como iria conseguir inventar tudo aquilo — sentindo a ficha cair quando descobriu que de fato poderia ser verdade. Ele se sentou no banco da lojinha, verificando se tinha algum trocado no bolso para tomar pelo menos um copo de água. Mas não tinha nada.
Foi quando aconteceu em questão de segundos, se ele não tivesse olhando para a frente desejando voltar a sua devida casa — Howard não teria visto aquela mulher. Os cabelos batiam até a cintura, ela trajava um vestido amarelado quase da mesma tonalidade de seu cabelo. Ela segurava a mão de uma criança, que se lambuzava de sorvete. As duas rias, a mãe parou ao lado de uma vendinha de morango — enquanto a criança se sentava ao banquinho, bem de frente a Howard. Ele não sabia qual era seu interesse contínuo naquela cena, de uma forma estranha aquilo lhe lembrou de quando seu filho tinha aquela idade e como ele adorava tomar sorvete escondido no closet. Howard rodou a joia em mãos dentro de seu bolso da calça, então aquilo aconteceu mais uma vez. Mas, não da maneira que havia visto antes. Eram pensamentos doces, felizes, alegres — como o de uma criança sempre deveria ser. Porém, aquilo lhe prendia sem saber o por quê. Ele fora ficando mais fixado nos pensamentos calmos que a garotinha tinha, até que chegou a um ponto que o ar faltou em seus pulmões e ele quisera sair correndo. O pensamento constante bem ao fundo como se estivesse escondido com sete chaves, sibilava o nome de uma pessoa quase como se fosse uma canção.
Howard queria se concentrar a descobrir o que de fato significava, mas conforme ia vendo os pensamentos daquela criança, algo dentro de si ia ficando cada vez mais tonto e inquieto. Se aquela joia lhe desse aquela probabilidade de entender o que outra pessoa estava pensando, então aquilo era mais surreal do que imaginava. Então aconteceu novamente como um filme que poderia ser dado o replay diversas vezes seguidas, mas dessa vez não fora aquela destruição toda que viu — e sim um rosto conhecido. O rosto que colocou na cama todas as noites até completar sete anos, o rosto que lhe dava trabalho chegando bêbado das festas e agarrados a qualquer garota. O rosto que tinha traços de seu próprio DNA, o rosto de seu filho. O rosto de Tony.
Ele se levantou do banco, arfando por ar. Com os olhos arregalados e a pulsação acelerada.
— Ele vai morrer? — começou a repetir a pergunta a si mesmo milhares de vezes, hiperventilando.
— Todos vamos algum dia. — a voz da anciã o trouxe de volta a sanidade. Howard lhe olhou amedrontado.
Em toda sua vida nunca vira algo tão perturbador como o que acabara de acontecer.
— O que... foi isso?
— Você leu a mente dela. É isso que a joia da Mente faz, até você começar a enlouquecer. Leia a minha novamente.
— O que? — sua voz saiu falhada.
— Rápido Stark, não temos o dia todo. Eu sei que já leu, então faça de novo.
— Eu não... — então ele tocou mais uma vez naquela coisa em seu bolso, olhando fixadamente para os olhos castanhos da mulher a sua frente.
Howard não queria ver todo aquele fim do mundo mais uma vez, ele não queria presenciar tamanha catástrofe como aquela. Estava começando a se sentir zonzo, o ar faltando novamente. Suas mãos suando de calor. Mas foi diferente dessa vez, havia guerra, havia luta e muitas mortes, mas nada comparado a primeira vez em que vira. Ele viu o rosto dele mais uma vez, Tony estava presente naquele pensamento também. Mas era diferente, mais velho, com expressões faciais distintas. Não havia destruição mundial, nada havia sido dizimado. Era um visão completamente diferente e distorcida...
— Por que?...
Ela não o respondeu, seus olhos apenas percorreram a garotinha sentada do outro lado da rua tomando seu sorvete. Howard ainda não estava compreendendo, não conseguia encaixar as peças em seu subconsciente.
— Por...
— Você sabe o que fazer. Já passou muito tempo aqui, você não aguentaria mais.
— Por que ela tinha ele nos pensamentos? — sua voz saia tão incrédula que ele nem acreditava no que propriamente dizia. — Você não tá me dizendo pra matar uma criança, né.
— Não sei por que ainda tenho expectativas com você. — ela murmurou impaciente — Você sabe que não é matar, acredite em mim isso vai ter um grande peso no futuro.
Howard se levantou da cadeira no mesmo instante em que um barulho estrondoso fora ouvido por toda aquela pequena cidade, ele correu os olhos na direção da criança a sua frente. Ouvindo os gritos desesperados a sua volta, aquilo a qual a anciã havia falado estava acontecendo — a extinção daquele lugar. Tomado por uma vontade de viver nunca vista antes, Howard correu em direção ao outro lado da rua. A garotinha segurava a casquinha com as grandes órbitas arregaladas, olhando assustada esperando sua mãe.
— Oi, você está bem? — ele perguntou, se agachando na altura dela.
— Cadê minha mãe?
— Ela me pediu para te levar para um lugar seguro, onde você estará segura. — Howard segurou na mãozinha lambuzada de sorvete, se preparando para sair correndo dali.
Ela não retrucou, a garotinha segurou em suas mãos com força — totalmente assustada pelos gritos de desespero que as pessoas ao redor soltavam. Howard começou a correr em direção ao parque cinza, onde havia acordado. Aquele seria o único lugar o qual ele provavelmente conseguiria voltar, se aquilo de fato estivesse acontecendo. Correr nunca fora algo tão difícil como estava sendo naquele momento, suas pernas pareciam não lhe obedecer. Howard estava próximo a um ataque cardíaco. Então eles chegaram no parque cinza, haviam alguns corpos caídos a volta com sangue manchando o gramado escuro. Ele pegou a criança no colo, para que conseguissem chegar mais rápido no local onde havia acordado.
Mais gritos aconteciam, então ele percebeu que a garotinha soltava alguns gritinhos histéricos de choro.
— Está tudo bem, está tudo bem. — tentou a acalmar, mas percebeu que era péssimo naquilo. Sempre era Maria que acalmava Tony quando ele chorava.
A joia em seu bolso fora remexida mais uma vez por sua mão livre fazendo com que alguma coisa em seu corpo ganhasse vida. Luzes dançando ao longo de seu corpo meramente humano, uma névoa estranha pairava sobre eles. Então Howard ouviu o grito de desespero de alguém, a tempos de ver os olhos da mãe da garotinha — olhando para ele.
Aquela coisa era diferente de tudo que já havia sentido. Tudo a sua volta era uma zona negativa, vasta e brilhante, cheia de objetos de todos os tamanhos e formatos — estrelas, asteroides, planetas distantes. Parecia o espaço sideral, como se alguém o tivesse enchido de matéria e arrumado uma coluna de espelhos escondidos para distorcer as distâncias envolvidas.
Então o frio lhe acertou, tão forte e tão preciso. Que Howard segurou com força a criança em seus braços. Até sentir que a tontura estava passando, abriu seus olhos mais uma vez e percebeu que estava de volta a sua própria casa. No laboratório. Sua pressão caiu e sentiu suas pernas bambas. Tinha sido só um sonho. Respirou fundo algumas vezes, até se dar conta de que havia um pequeno corpo acoplado ao seu. Ele olhou alarmado para a criança que lhe segurava com todas suas forças, o cabelo amarelado preso em rabo de cavalo — as mãozinhas gordinhas sujas de sorvete. Ela estava tão quieta, que ele achou que ela poderia ter morrido. Mas então percebeu que ela apenas dormia.
Howard a colocou no sofá bege no canto do laboratório, tirou a joia do bolso da calça com o maior cuidado do mundo e colocou dentro de uma caixinha de vidro. Longe de seus olhos.
Então ele deu play na câmera a sua frente, suando frio e tremendo conforme ia gravando a fita. Suas pupilas dilatadas, o cabelo desgrenhado e a voz saindo falha.
— {...} Tony, você é muito novo para entender agora. Não sei como vai acontecer e nem como, mas quando você encontrar... quando a conhecer, — moveu os olhos para o sofá — faça as escolhas certas. O único jeito de salvar o mundo está em suas mãos... faz parte de algo grande... você é o meu maior projeto.
E desligou a câmera, olhando para a criança adormecida no sofá ao fundo da sala. Sentindo todo o peso do futuro do mundo desabar sobre seus ombros.
Esse foi definitivamente o capítulo mais difícil de escrever, mas por incrível que pareça é o mais planejado de todos. Tô com esse rascunho a séculos, esperando pelo momento em que iríamos descobrir o que de fato aconteceu naquele ano.
Espero de verdade que tenham gostado, foi meio diferente já que acompanhamos a jornada do nosso sogrão kkkkk mas era essencial.
Vejo vocês no próximo ❤❤
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