Capítulo XXXVII
Após se fartar, o grupo se dirigiu aos quartos, estavam exaustos e doloridos, mas cientes de que deveriam deixar a cidade o quanto antes, uma vez que ficar alí poderia arrastar aquelas pessoas para problemas se alguém viesse exigir vingança pelo sangue de Wilderer. Todos dormiram aquela noite, mesmo Frieda que pouco dorme o fez, e cedo na manhã seguinte Griselna se esgueirou pela cidade, sem que os demais soubessem, a fim de ir à mansão buscar os cavalos e suas coisas, retornando tão sutilmente quanto como fora. A mulher não quis levar ninguém consigo nessa empreitada, julgava que quanto menos exposição às lembranças das horas anteriores, melhor seria para eles, afinal eles ainda eram tão jovens. Ela lamentava que eles não pudessem viver a vida de crianças normais, brincando por aí, cometendo erros, aprendendo sobre esse mundo aos poucos enquanto se diverte, mas ela sabia bem que um desperto sequer poderia sonhar com uma vida assim.
Os jovens ainda não tinham despertado quando Griselna voltou, então ela teve que acordá-los ainda que quisesse deixá-los dormir mais um pouco. Ela acordou Erna e nem precisou chamar por Frieda, a menina despertou achando que era com ela que falavam, depois Griselna foi até o quarto dos meninos e bateu na porta, segundos depois Leon atende com o cabelo desgrenhado, roupa amarrotada e a cara amassada, ele mal abre os olhos e recebe em silêncio as instruções da mulher em sua frente, quando ela se vira e marcha de volta ao quarto onde estava Erna e Frieda, Leon vai até Ralf acordá-lo.
– Lobo. – Chamou ele. – Acorda aí, já já partimos de volta para casa. – Leon tentava arrumar a cama, um hábito que todos eles desenvolveram em sua convivência com Erna e Frieda.
Ralf apenas se remexeu um pouco e ajeitou o cobertor sobre o corpo.
– Nada disso! Sem preguiça. – Disso Leon. Ele tentou tomar o cobertor, mas Ralf resistiu.
Indignado, Leon apanhou o travesseiro e deu a volta na cama, parando ao lado de Ralf, ele ergueu o travesseiro acima da cabeça e golpeou, mas não acertou pois Ralf em pleno uso de suas habilidade instintivas fugiu do golpe rolando para o lado. Leon se sentiu desafiado, insatisfeito, ele golpeou com o travesseiro freneticamente, mas Ralf seguiu esquivando.
– Tá de brincadeira comigo? – Indagou ele subindo na cama, mas quando ele desferiu mais um golpe em seu irmão, Ralf reagiu arrastando seu próprio travesseiro sob sua cabeça e o usando como escudo.
Eles se encararam.
– O que está fazendo? – Perguntou Ralf.
– Acordando uma princesa. – Respondeu Leon.
Eles se encararam novamente. Então começaram a rir.
– "Acordando uma princesa", que raios de resposta é essa? – Ralf tentava se conter. – Essa foi nova.
– Não deu para pensar em nada melhor. – Leon sorria. – Não foi tão ruim assim. – Se defendeu. – Levanta logo, a gente vai embora daqui a pouco e eu ainda quero tomar café, se a gente demora é capaz de Griselna nos fazer sair sem fazer o desjejum.
Ralf levantou e começou a ajudar a arrumar a cama. Hans não precisou acordar, uma vez que ele sequer tinha dormido, assistiu em silêncio toda a algazarra dos dois irmãos logo pela manhã em silêncio. Era quase como se ele não estivesse alí, não queria ser um incômodo. Hansel tentava pensar no que faria agora, já não tinha para onde ir, não possuía um propósito ou vontade, estava tão acostumado a ser escravo de alguém ou de alguma coisa que não conseguia pensar em um futuro. O que faria agora?
– Estou todo quebrado. – Disse Ralf. – É muito pior que descer um morro rolando e cair todo torto no chão.
– Nem me fale, gastei heilig demais de uma vez só, me sinto esgotado. – Falou Leon. – Meu corpo está todo desalinhado, é como se eu estivesse usando o corpo de outra pessoa, sem pleno controle sobre meus movimentos. Tenho que treinar melhor o meu núcleo, agora entendo o porque pode ser perigoso usar heilig demais em uma luta, ficar nesse estado no meio de um combate levaria a morte.
Os rapazes se organizaram e deixaram o quarto tão arrumado quanto quando chegaram nele, ao abrir a porta Frieda, Erna e Griselna já estavam esperando do lado de fora.
– Que demora, estavam fazendo o quê? – Perguntou Erna.
– Estávamos arrumando o quarto. – Leon foi rápido em responder.
– A gente fez o mesmo e não demorou tudo isso. – Implicou Erna, Leon fez careta.
– Não comecem a brigar tão cedo no dia. – Pede Griselna.
Eles sequer perceberam que Frieda havia passado por eles até que ela, parada diante de Hans, se pronunciou.
– Para onde vamos agora? – Ela perguntou a ele.
Hans a encarou um pouco, pensou que ela tinha formulado a pergunta do jeito errado, mas não a corrigiu.
– Eu quero ir ver o túmulo dos meus pais. – Disse ele. – Já faz muito tempo e talvez eu nem tenha esse direito, mas quero vê-los uma última vez antes de deixar a cidade.
Hansel tinha decidido que era melhor ir embora daquele lugar que lhe trouxe tanto sofrimento, talvez vagar por aí o levasse ao caminho que ele deveria seguir.
– A gente vai com você logo depois do café da manhã. – Falou a menina, ela o olhava nos olhos com intensidade, sem lhe dar oportunidade de recusa.
– Não precisa, isso vai atrasar a viagem de vocês. – Argumentou o rapaz.
– Não se preocupe com isso. – Disse Griselna. Ela se sensibilizou com a situação do garoto e sentia que não era bom simplesmente abandoná-lo em uma situação como aquela.
– Além disso, eu também quero falar com eles. – Expôs Frieda.
Hanse olhava para ela confuso, tentava entender os motivos para alguém que mal o conhecia tê-lo ajudado tanto, se questionava se poderia existir alguém com um coração tão bom nesse mundo, se perguntava sobre o que Frieda queria dizer aos seus pais.
– Vou levá-los comigo após o café. – Concordou finalmente.
O café da manhã passou bem rápido, eles tinham pressa, Griselna pagou a taberneira e eles deixaram o local. Lá fora os cavalos já esperavam prontos para a partida, os jovens ficaram surpresos, só agora eles se lembraram dos cavalos e de suas coisas, prontamente agradeceram aos esforços da mulher.
O grupo deixou os cavalos onde estavam e seguiram Hansel cidade a fora, se afastando do centro e indo para a zona mais periférica da cidade. O garoto fazia o caminho com um misto de profunda tristeza e nostalgia, ele seguiu até uma das casas mais afastadas e foi até a porta, tentou levar a mão até a maçaneta, mas desistiu, segurava o choro em seu olhar cansado, recolheu a mão e deixou a porta, então se dirigiu ao fundo da casa, o quintal, indo a um ponto específico deles e parando na frente de duas estacas fincadas no chão com algo escrito em carvão, estava ilegível devido a ação do tempo, perto dali uma pá enferrujada descansava encostada no que sobrou da cerca de madeira.
Os demais ficaram um pouco atrás, dando espaço suficiente para que Hansel tivesse alguma privacidade, mas perto o suficiente para que ele não parecesse sozinho. O rapaz ficou parado por um bom tempo, imovel, tentou falar qualquer coisa, sua boca abriu e fechou várias vezes, porém ele simplesmente não era capaz de dizer nada. O que estava fazendo ali? Quão descarado poderia ser? Porque estava agindo como um coitado quando a culpa era dele? Sim, culpa. Um sentimento tão forte que pode adoecer um indivíduo, uma sensação que levaria a mais sã das pessoas a questionar até mesmo seu direito de estar vivo. Hansel ainda segurava o choro, teria ele sequer o direito de chorar?
– Eu estou tão cansado. – Ele murmurou ao vento.
Nesse momento Frieda se moveu, ela se aproximou do garoto com tranquilidade, mas ao falar não foi a ele que ela se dirigiu.
– Ele vai ficar bem agora. – Disse ela ao parar diante dos túmulos, curvando-se um pouco para frente. – Vocês estavam preocupados, não é? Estavam preocupados com ele porque o amavam muito, não é?
Hansel a olhava surpreso.
– Vocês podiam ter fugido naquele dia, podiam tê-lo abandonado, mas o amavam demais para fazer isso, o amavam mais do que valorizavam suas próprias vidas. Eu sei que pessoas assim jamais guardariam ressentimento da pessoa que amam. – Ela seguiu falando. – Vai ficar tudo bem agora, ele está livre. Mas vocês podem continuar observando de onde quer que estejam, continuem olhando, pois eu tenho certeza de que ele se tornará alguém de quem vocês continuarão tendo muito orgulho. Vai ser difícil para ele, mas não se preocupem, nós vamos cuidar dele.
Leon, Erna, Griselna e Ralf sorriam.
Hansel desviou o olhar dela e fitou os túmulos.
– Eles foram os melhores pais que esse mundo já viu... Eles... Eles... – O rapaz se permitiu transbordar, as lágrimas rolaram como se nunca fossem parar de vir. – Por que teve que ser assim?
– O meu pai me disse uma vez que coisas ruins acontecem com pessoas boas. – Falou Frieda. – Não foi culpa de vocês, o mundo é um lugar injusto cheio de pessoas injustas, no final só nos resta tentar nos reerguer a cada dia e prosseguir na esperança de encontrarmos um pote de ouro no final do arco-íris que surge após a violenta tempestade. É tudo que podemos fazer uma vez que nascemos nesse mundo.
Hansel olhou para ela.
– Você fala como se soubesse. – Disse ele.
– Eu sei. – Respondeu ela. – Então já te aviso que o fardo de ser o único que continua vivendo será, mas em nome daqueles que se foram é nosso dever seguir vivendo tanto por nós mesmos quanto por aqueles que não tem mais essa oportunidade. – Argumentou . – Às vezes você sentirá tanta dor e vazio que pensará estar morrendo, talvez o ar fuja dos seus pulmões e você sinta formigar e adormecer as extremidades de seu corpo, talvez você sinta que está se afogando e morrendo, mas vai passar. Eu posso prometer que haverão dias em que a dor não virá, você até mesmo esquecerá do seu sofrimento mesmo que por apenas algumas horas, e então será a pessoa mais livre que esse mundo já viu. Como eu, você talvez se esqueça como sorrir ou chorar, tenha dificuldades para se expressar, ou talvez seja completamente o oposto, cada um reage de um jeito. – Falou.
Hansel assimilava tudo que Frieda falava, pensando profundamente sobre o que ouvia.
– O ponto, Hans, é que de qualquer forma só haverão dois caminhos para a dor que você está sentindo agora, ou você a supera com o tempo, ou você se acostuma com ela com o tempo. Você vai ficar bem.
– Não me esquecerei disso. – Falou o rapaz abatido.
Eles ficaram esperando em silêncio por vários minutos, deram ao Hans o espaço necessário para resolver suas pendências e poder seguir em frente.
❇❇❇
Frieda segurou a mão de Hans quando eles deixaram a casa, ele precisava de apoio naquela situação dolorosa, a ocasião foi tratada com respeito e solenidade pelos demais, era como se fizessem um funeral. Quando chegaram na frente da taverna, o grupo começou a ajeitar os cavalos à sua própria maneira, sempre incluindo Hansel em tudo para que ele não ficasse escanteado, porém tomando o cuidado de não sufocá-lo.
– Todos prontos? – Perguntou Griselna.
Sons que indicavam que sim foram proferidas.
– Então subam já nos cavalos, vamos partir. – Falou ela, seguindo sua própria ordem a seguir.
– Bem... – Hansel chamou a atenção dos demais. – Acho que é aqui que nos despedimos.
– O que vai fazer agora? – Perguntou Leon.
– Eu decidi deixar a cidade, o resto eu vejo depois. – Respondeu ele.
– Entendo... – Falou Ralf. – Então a gente vai te dar uma carona.
Hansel foi pego desprevenido.
– Não precisa, eu posso... – Dizia ele.
– Mas é isso que a gente tá dizendo, que a gente vai te dar uma carona. – Erna o interrompeu.
– Eu agradeço, mas...
– A gente concorda com você, já entendemos que vamos te dar uma carona. – Disse Leon.
Griselna queria avisá-lo para desistir e que resistir era inútil, mas decidiu não interferir.
Frieda trotou lentamente e parou diante de Hansel, estendendo para ele sua mão.
– Suba a bordo, estamos saindo da cidade também, vamos te... – Falava ela.
– "dar uma carona". – Hansel agarrou a mão de Frieda e subiu no cavalo, atrás dela. – Eu já entendi. – Suspirou ele. – Mas é só até a entrada da cidade.
– Vamos pessoal. – Frieda incentivou o cavalo a se mover.
O grupo galopou rumo a saída, conversavam entre si sobre o que fariam ao chegar em casa, Frieda seguia em seu silêncio habitual, quebrando-o apenas quando solicitado, Hansel observava a relação das pessoas diante dele, fazia tempo que não via uma verdadeira família.
Alguns minutos após deixar a entrada da taverna, o grupo finalmente alcançou a saída da cidade. Todos estavam quietos.
– Parece que chegamos no meu ponto. – Disse Hansel.
Ninguém respondeu nada e isso deixou o rapaz desconcertado, se perguntava se haviam esquecido da presença dele.
– Aqui está bom, Frieda. – Falou.
Frieda não respondeu e em vez de fazer o cavalo parar, ela simplesmente o atiçou, passando na frente de todos os outros, deixando para trás a cidade.
– Ei, Frieda. – Hansel tentou chamá-la, ele se segurava firmemente para não cair.
– A gente disse que ia te dar uma carona. – Gritou Leon.
– Mas a gente não disse para onde. – Ralf ria.
Hans estava atônito, o que estava acontecendo?
– Você vem com a gente. – Disse Erna, bem alto para que o som do vento não sobrepusesse o da sua voz.
– Do que estão falando? – Inquirir confuso.
– Não é óbvio? – Indagou Griselna.
– Somos irmãos agora. – Frieda finalmente falou. – Não posso deixar meu irmão vagar por aí sozinho. Além disso, eu prometi aos seus pais que a gente ia cuidar de você.
Hansel olhou a sua volta, tentava encontrar alguém com juízo o suficiente para impedir Frieda, mas encontrou expressões faciais que concordavam com ela.
– Vocês são loucos? – Perguntou ele.
– Enfrentamos uma criatura que podia ter nos enviado para o oblívio e você só pergunta isso agora? – Questionou Leon.
Ralf gargalhou.
– É meio tarde para cair fora agora. – Disse Erna. – Frieda já decidiu. – Ela suspirou.
Hansel permitiu que a ficha fosse caindo, ele olhou para as costas de Frieda e pensou por um tempo.
– Obrigado! – Disse finalmente.
O rapaz acabava de receber um novo sul e leste, já não precisaria vagar sem rumo em busca de um caminho. Hansel então olhou para o céu azul acima dele e sentiu seu espírito se tornar mais leve, ele já não estava mais sozinho.
❇❇❇
O percurso de volta a Bienenstock foi feito sem incidentes, o grupo tinha pressa, não viam a hora de retornar ao conforto e segurança do lar, quando alcançaram a entrada da cidade sentiram-se revigorados ao respirar um ar tão familiar para eles. Apenas Hansel seguia um pouco apreensivo, ele ainda temia que o pai de Frieda e os demais não o aceitasse e o mandasse embora, mas ele já tinha resolvido em seu coração que não guardaria ressentimento se o homem o fizesse. O sexteto galopou até a guilda Stachel, essa seria a primeira vez deles apresentando o relatório de uma missão de rank maior e estavam satisfeitos que ao menos ela foi bem sucedida. Hansel aguardou no saguão.
Benno quase chorou ao ouvir sobre o que suas amadas crianças tiveram que passar, ficou frustrado por tê-las mandado em uma expedição como essa, ainda que ele também não tivesse meios para adivinhar que a situação era tão grave assim. Depois de ouvi-los, ele os abraçou bem forte, sufocando-os com todo o seu carinho parental, então os mandou para a enfermaria e autorizou o pagamento deles pela missão concluída. Os filhos de Heinrich propositalmente "esqueceram" de contar ao tio Benno sobre seu mais novo sobrinho, decidiram deixar a cargo de Heinrich fazer tal sacrifício e até mesmo Griselna não pensou duas vezes em jogar para ele tal responsabilidade enquanto dizia em sua mente "descanse em paz, querido amigo.".
Griselna levou as crianças de volta ao saguão e após se encontrarem com Hans, todos foram para a enfermaria.
– Vocês vem tanto aqui que poderiam facilmente trazer as bagagens e passar a morar aqui na enfermaria. – Disse Verena, uma das curandeiras da Guilda, a usuária de heilig de atributo água que geralmente remendava aquela família problemática.
A princípio a curandeira ficava aflita ao ver as crianças machucadas, mas se acostumou com o tempo.
Uma vez curados e com a recompensa pela missão em mãos, era hora de voltar para casa, se despedindo de antes Griselna. Eles deixaram os cavalos nos estábulos da guilda e carregaram sua própria bagagem, Hansel não tinha nada para carregar, então ajudou os demais.
O caminho até a hospedaria pareceu ter triplicado de tamanho, a ansiedade para chegar logo em casa fez o que eram algumas quadras virarem dezenas. O quinteto passou pela dona da hospedaria e a saudaram, ela estranhou o recém chegado, mas não teceu comentários, imaginou que fosse apenas um amigo novo das crianças. Frieda parou diante da porta da frente do lugar onde viviam e levou a mão a bolsa para apanhar a chave, podia ouvir a movimentação lá dentro e a luz fugindo pela fresta da porta, era o começo da noite. A menina não precisou levar a chave até a fechadura, pois antes que o fizesse a porta se abriu revelando a face animada do menino sorridente.
– Eles voltaram. – Disse Felix, incapaz de conter sua alegria, saltando sobre Frieda para um caloroso abraço.
Em questão de segundos ele agarrou, abraçou e beijou todos os seus irmãos, até que seu olhar curioso caiu sobre o único rosto desconhecido.
– Estamos em casa. – Falou Frieda entrando.
Os membros da família saíram de onde estavam para receber os recém chegados, a preocupação os abandonava e o alívio acometia. Frieda sentiu seu coração aquecer diante de todos aqueles rostos conhecidos, ela sentiu tanta saudade que antes de perceber já estava nos braços calosos de seu amado pai.
– Bem vindos de volta. – Disse Heinrich serenamente.
– Eu senti saudade, papai. – Falou a menina de olhar heterocromático.
– Eu também senti. – Respondeu ele, a abraçando com força.
– Papai. – Chamou Frieda.
– Filha?
– Eu amo você. – Expôs. A situação de Hans bem como o árduo embate contra o Haidu, reaviva em Frieda um medo que ela não lembrava que tinha, o medo de perder as pessoas com quem ela se importa.
Heinrich sente imediatamente que algo estava fora do lugar.
– Eu também te amo. – Fala ele. – Estou aqui com você agora. – Acrescentou.
Hansel finalmente tomou coragem para entrar na casa, e sua chegada chama a atenção do homem. Hans está deslocado e cabisbaixo, sequer sabe para onde olhar, se sente um intruso.
Heinrich olha para ele com atenção e então olha para Erna, Leon e Ralf em busca de uma explicação, mas seus filhos apenas desviam o olhar de forma evasiva. Ele suspira, já tinha entendido tudo.
– Frieda. – Chamou Heinrich. – Quem é ele? – Indagou gentilmente. O homem coloca a filha no chão.
– Aquele é o Hansel. – Respondeu ela. Como se isso fosse o suficiente.
– Por acaso ele é mais um de seus irmãos? – Inquiriu o pai.
– Exatamente. – Respondeu Frieda, e lançou a ele uma expressão surpresa. – Como o senhor percebeu ?
Heinrich estava incrédulo.
– Hansel. – Chamou ele, sua voz soou suave, mas Hans não pode evitar de se encolher. – Por acaso é um desperto também?
– Sim senhor. – O menino respondeu.
Heinrich percebeu a aflição do rapaz, não era sua intenção causar tal efeito.
– Não precisa me chamar assim, pode ser mais informal. – Falou ele se aproximando. Heinrich levou uma das a cabeça do garoto e bagunçou delicadamente seu cabelo. – É assim que fazem os meus filhos. – Ele sorriu.
Hansel não compreendeu imediatamente o que estava sendo dito a ele, na verdade ele achava irreal demais para acreditar, mas quando finalmente aceitou o que tinha ouvido seu rosto se iluminou. Um peso deixou seus ombros e ele sentiu que começaria a chorar a qualquer momento.
– Bem-vindo ao lar, Hansel. – Disse Heinrich.
– Eu prometo que não vou dar trabalho, senhor. – Praticamente berrou.
O homem sorriu.
– Não se preocupe tanto com isso, apenas seja você mesmo. – Falou. – Não se esforce tanto.
Tais palavras calorosas chegaram até Hansel e preencheram sua alma que antes estava quase vazia.
– Eu fiz bastante comida para o jantar de hoje, vamos todos encher nossas barrigas. – Falou o homem. – Você pode dormir junto com o Felix? Pelo menos até eu arrumar as coisas para você?
Hans estava pronto para tentar descobrir quem era o Felix, talvez ele não gostasse da idéia de ter um estranho dormindo perto dele, mas sequer precisou, o menino o agarrou pela mão e o arrastou na direção do lugar onde dormia.
– Eu vou te mostrar onde é. – Falou o menino sorridente.
– Vocês todos precisam de um banho. – Comentou Leona evitando o braço do irmão a tempo.
– Que maldade. – Reclamou Leon.
– Eu posso emprestar algumas roupas para o Hansel. – Se ofereceu, Johann.
– Vai ficar grande demais, eu empresto. – Propôs Ralf. – Vou pegar algumas para ele usar depois do banho.
– Eu vou procurar por uma toalha nova no baú. – Leona saiu em busca da toalha.
– Amanhã mesmo eu compro as coisas dele. – Avisou Heinrich.
Hansel ouvia toda aquela comoção atrás de si, de fato, ele não era um incômodo. Era estranho o que sentia agora, mas era bom e confortável, aquela era a primeira vez em muito tempo que sentia aquilo... o sentimento de estar em casa.
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