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Capítulo XXVII

Ao chegarem em um determinado corredor no andar superior da mansão, o grupo se viu diante de portas que davam acesso aos quartos, a primeira coisa a perceberem foi a distância significativa de uma porta para a outra, a segunda coisa que notaram foi o fato das paredes serem grossas e as portas possuírem um aspecto que denunciava madeira maciça, Erna e Frieda trocaram olhares, as garotas perceberam sinais de reformas mais recentes. Eles seguiram cada vez mais para o fundo do corredor frio e pouco iluminado, e passaram por umas cinco portas aparentemente trancadas, até que a senhorita Hummel finalmente parou frente a uma das portas.

– Preparei um quarto para cada um. – Disse eloquente e doce. – Espero que gostem. Um dos meninos pode ficar com esse. – Informou levando uma das chaves do molho, que ela tirou só os deuses sabem de onde, até a fechadura no intuito de abrir. Ela girou uma vez.

– Agradecemos imensamente pela hospitalidade e cuidado, mas não há necessidade de tantos quartos. Nós podemos dividir apenas dois. – Experimentou Griselna.

A mulher parou subitamente de girar a chave na segunda volta, Frieda estava atenciosamente contando.

– Ora, não seja assim. – Falou amavelmente. – A própria Duquesa me pediu que os recebesse, eu não cometeria tal desrespeito lhes oferecendo menos que um quarto para cada.

Erna e Frieda se entreolharam outra vez.

– Tenho certeza que Vossa graça entenderá perfeitamente se eu explicar que foi segundo a nossa vontade. – Disse Griselna.

– Eu insisto! – Falou senhorita Hummel, e por "falou" significa que ela praticamente atropelou o que era dito por Griselna, uma vez que exclamou quase que interrompendo a mulher. O sorriso em sua face até mesmo desapareceu momentaneamente.

Griselna silenciou-se, ela foi pega de surpresa pela brusca mudança no comportamento da jovem. Ralf sentiu um arrepio na espinha. Após segundos de silêncio o sorriso meigo da senhorita retornou como se nunca houvesse ido embora e ela girou a chave uma terceira vez, sim, uma terceira vez. A ênfase sobre número de vezes em que a chave foi girada advém do fato de que geralmente, nas portas comuns, são necessárias apenas duas voltas com a chave para destrancar.

A porta se abriu revelando um quarto enorme, mas praticamente vazio, havia um armário relativamente grande, um enorme tapete estendido perto da cama colossal coberta por lençóis brancos e cobertor azul marinho, uma mesinha em cada lado da cabeceira, longas cortinas na janela de ferro e resistente vidro temperado, mas nada além disso.

Silêncio.

– A cama é grande. – Ressaltou Leon, mesmo ele que geralmente não temia praticamente nada, estava incomodado com a aura daquela mansão. Ele lançou um olhar de incentivo para Ralf, que estava congelado com a ideia de ser o escolhido para dormir naquele quarto.

Ralf percebeu o olhar de Leon e não desperdiçou a oportunidade.

– Eu posso... Não, eu quero dormir aqui com o Leon. – Disse ele.

– Como eu disse... – Intervia a senhorita Hummel.

– Eu insisto. – Leon a interrompeu abruptamente. Deixava claro que não iria recuar e que era melhor para ela desistir.

Ela voltou seu olhar para Leon, olhando-o de baixo até chegar em seus olhos. Havia certa malícia naquele olhar superficialmente ingênuo, ele estava carregado com duas coisas: interesse, afinal Leon era um garoto muito bem apessoado e a segunda coisa foi sugestão, já que ela olhou para Ralf em seguida, ela claramente estava sugerindo que Leon e Ralf eram um casal. Leon já estava acostumado com esses tipos de olhares.

– Lamento destruir as fantasias de uma senhorita tão bela, mas ele e eu não compartilhamos outro relacionamento além do de irmãos. – Disse Leon sem decoro, devolvendo a ela um olhar malicioso.

Erna revirou os olhos. A senhorita Hummel enrubesceu.

– Já que insiste. – Falou a senhorita acerca da decisão sobre o quarto, ela se virou afetada e rumou para fora do cômodo, onde esperou pelos demais.

– Leon. – Reclamou Erna aos sussurros. – Se comporte.

– Eu não fiz nada. – Respondeu igualmente aos sussurros. O rapaz fez-se de desentendido e desviou o olhar do dela.

– Vamos! – Chamou Frieda, dando a discussão que se iniciava por encerrada.

Os rapazes deixaram sua bagagem para trás e foram com o resto do grupo, era uma prática comum sempre saber onde os outros dormiriam em qualquer viagem, tudo para que pudessem agir rapidamente em caso de emergência.

Cerca de três quartos foram pulados até que a senhorita Hummel voltasse a parar e destrancar outra porta.

– Imagino que você poderá gostar desse quarto. – Ela fez menção para Erna, antes de girar a chave pela terceira e última vez.

– Certamente entenderá que Frieda e eu somos inseparáveis. – Argumentou Erna.

A jovem fez uma longa e silenciosa pausa antes de empurrar a porta e abri-la.

– Que ótimo! – Disse com contido descontentamento.

O quarto era exatamente igual ao outro e também trazia aspectos de recente reforma, a cama também forrada com lençóis brancos, mas o cobertor era na cor vinho.

O grupo entrou no quarto, mas a anfitriã aguardou na porta, os rapazes fizeram uma sutil vistoria enquanto as meninas procuravam onde deixar suas poucas bagagens. Assim que terminaram, o grupo voltou a seguir a senhorita Hummel corredor adentro, passaram por sete portas antes de finalmente chegarem ao quarto no qual ficaria Griselna, Erna e Frieda deram várias aberturas para que ela dissesse que ficaria com elas no outro quarto, mas a mulher decidiu que seria sensato não provocar ainda mais a anfitriã.

– O meu quarto fica na segunda porta depois daqui, ao fundo do corredor. – Anunciou a jovem. – O jantar será servido em uma hora, fiquem a vontade para me procurar caso precisem de mim. – Dito isso ela se foi.

Após terem certeza que ela não poderia ouvi-los, Griselna se adiantou em falar.

– Evitem comentários dentro da mansão. – Ela não precisava explicar sobre que tipos de comentários estava falando. – Agora vão, tomem banho e se troquem, nos vemos no jantar a menos que algo ocorra antes disso. – Fez o último comentário olhando para o cômodo como um todo.

O quarteto prontamente obedeceu, trocaram olhares pelos corredores, conversando sem proferir uma única palavra. Entraram nos seus respectivos quartos e revezaram na hora do banho, mantendo-se sempre de guarda alta. Após passadas uma hora, o grupo se reuniu na frente da porta dos meninos e desceram à procura da sala de jantar.

Erna usava um vestido na cor verde escuro, com detalhes em bordado dourado, leve e rodado que ia até a altura dos joelhos, por baixo usava uma meia calça preta e sapatilhas de estampa de flores em um fundo verde ainda mais escuro que o tom de seu vestido, seu cabelo estava preso em um arrumado coque alto. Frieda vestia uma calça preta e uma camisa de manga longa com um pouco de babado paralelo os botões que desciam centralizados desde a gola até o fim, um total de onze botões, a camisa tinha a cor azul bebê, ela usava um lenço no lugar da gravata, calçava sapatos de couro na cor preta, seu longo cabelo estava preso em ser característico rabo de cavalo, mas duas mechas soltas se prendiam atrás das orelhas. Leon vestia uma blusa social de manga comprida na cor rosa bebê, usava uma calça azul bem escuro, na pouca luz se confundia com preto, e calçava botas de couro na cor marrom. Ralf usava uma camisa de manga na cor azul marinho e calça na cor bege, calçava sapatos pretos e seu cabelo estava levemente úmido devido ao banho. Griselna usava um vestido mid de cor roxa bem clarinha, delicadas pulseiras douradas enfeitavam seu pulso e ela usava uma sandália que deixava seus dedos a mostra e contava com um pequeno salto.

– Vocês nem tentam se vestir apropriadamente. – Disse Erna sobre os outros três, Frieda inclusa.

Ralf fingiu que não falava com ele.

- Quem é bonito não precisa de muito adereço. – Alfinetou Leon.

Frieda percebeu que o caos começava a nascer outra vez.

– O importante é estar confortável. – Disse como se Erna não tivesse falado com ela também.

Erna olhou para ela em busca de algum sinal de cinismo, mas não encontrou nada.

– Eu desisto! – Declarou cansada.

– Vamos! Já estamos atrasados. – Argumentou Griselna.

A mulher não deu tempo para respostas, imediatamente começou a andar e liderou os demais na busca pela sala de jantar, chegaram com vinte minutos de atraso, sentaram-se à mesa, onde a anfitriã já os aguardava e o jantar foi servido, o que foi feito pelo mesmo garoto de antes. O garoto não disse uma palavra, ele olhava para os visitantes com certa medida de aflição, às vezes sua boca abria e fechava como se quisesse falar algo, mas bastava um olhar de esguelha para sua senhora que ele logo se abstinha de tecer qualquer comentários. O fato dele ser o único servindo tanta gente chamava a atenção, uma vez que era trabalho demais para uma pessoa só, principalmente alguém tão jovem.

O rapaz em questão tinha cabelos castanhos claros, não era grande, na verdade ia até a altura das orelhas. Sua pele era castigada pelo sol, seu corpo era forte e com musculatura definida o suficiente para aparecer ainda que cobertos pela camisa de manga longa na cor branca e a calça preta, certamente estava habituado a fazer trabalhos braçais, mas certamente treinava, algo que a senhorita Hummel certamente não saberia diferenciar, ele era um pouco mais baixo que Leon. Seus olhos verdes passeavam ansiosamente por todo o lugar e todos os convidados, não era inesperado que em algum momento seu olhar cruzasse com o de alguém que o observava e analisava atentamente.

Quando seu olhar se prendeu ao rosto inexpressivo de Frieda, por alguma razão ele não conseguiu desviar. O rapaz já tinha servido todo mundo e por isso estava parado de costas para a parede à espera de novos pedidos ou orientações. Frieda não desviou o olhar, sentia uma aura de certo desespero vindo do rapaz, estava curiosa e inquieta da sua própria maneira. Eles sustentaram o olhar por quase um minuto inteiro, até que o garoto lentamente balançou a cabeça para um lado e para o outro em negação, o que ele queria dizer com aquilo? Frieda inclinou levemente a cabeça para o lado em uma atitude que expressava dúvida, ela que quase não falou durante toda a sua vida era expert em leitura corporal e conversas através de gestos. A menina notou que o garoto tinha olhos inteligentes, ela foi além em sua análise e pôde deduzir que ele era inteligente a um nível em que era capaz de propositalmente ocultar sua capacidade intelectual, alguém assim não se submeteria aquela situação se fosse perigoso, ele já teria dado um jeito de escapar, mas seus gestos e expressão pareciam tentar avisar que algo ruim iria acontecer, ele estava dizendo que Frieda deveria ir embora, isso ficou claro quando ao notar que a menina inclinou a cabeça de modo interrogativo, ele imediatamente repetiu seu gesto de balançar negativamente com a cabeça enquanto sustentava o olhar, exatamente da mesma forma que antes, sem tirar nem pôr, e isso indicava confirmação, era como se ele dissesse "eu sei que você me entendeu, e eu realmente quis dizer aquilo.". Isso deu a Frieda ainda mais perguntas a serem respondidas: O que aquele garoto sabia? Sobre que perigo ele se referia? Se era perigoso, por que ele mesmo não fugia dali também? Tendo em mente a questão "onde está o perigo?", Frieda abriu e fechou a boca, depois levou a mão direita discretamente até o braço esquerdo e inclinou levemente a cabeça para o lado direito, olhou para a mesa, para o lustre e voltou a olhar para ele, com isso ela fez os gestos proteção + interrogação + procura, um sinal que perguntava onde estava o perigo. O rapaz entendeu imediatamente, ele sustentou o olhar para que Frieda tivesse certeza de que ele estaria apontando algo específico logo a seguir, então o garoto lentamente direcionou seu olhar para um ponto da mesa. Frieda seguiu o olhar dele e sua expressão não mudou quando seus olhos encontraram a senhorita Hummel levando mais um pedaço de carne de cordeiro até a boca. A garota imediatamente olhou outra vez para o rapaz, mas ele olhou para o chão, um gesto que significava "não me pergunte mais nada".

Frieda não poderia pedir mais, ele já tinha confirmado a suspeita de que a senhora daquela mansão estava envolvida em algo obscuro, ir além disso poderia colocá-lo em perigo desnecessário. A garota buscou então o olhar de sua irmã, Erna estava propositalmente sentada não ao lado, mas a frente de Frieda, ela já tinha percebido os olhares trocados entre o rapaz e sua irmã, afinal ela sempre estava atenta ao que Frieda fazia. Erna esperou pacientemente todo esse tempo pela orientação de sua irmã, sabia que deveria começar um diálogo com a senhorita e instigá-la em algum momento.

– A comida está formidável. – Comentou Erna. O rapaz de pé não pôde evitar e lhe desferir uma olhadela. – O que justifica uma mesa tão silenciosa. – Sugeriu educadamente que conversassem

Os rapazes souberam imediatamente que algo já havia sido tramado pelas garotas.

– Muito lisonjeiro da sua parte. – Agradeceu a senhorita Hummel. – Mas concordo que poderíamos animar as coisas. Podemos começar com um brinde a essa oportuna reunião. – Disse erguendo a taça.

Bem, não haviam leis, normas ou costumes que proibissem maiores de doze anos de consumir bebidas alcoólicas. Então os demais ergueram suas taças, mas apenas bebericavam.

– O que sugere como tema de nossa conversa? – A anfitriã cedeu a Erna o direito de decidir sobre o que falariam.

– Eu estaria mentindo se dissesse que não tenho interesse em saber mais sobre você, senhorita Hummel. – Disse Erna.

A garota se viu surpreendida.

– Ouh!? – Riu fracamente. – O que há para se saber sobre mim? – Tentou desconversar.

– Aos meus olhos, além de bela, é uma mulher interessante. – Argumentou Erna.

– Tenho que concordar. – Auxiliou Leon.

Seria pouco educado recuar uma vez que já havia cedido o direito de escolha sobre o assunto.

– Bom... – Ela bebeu um pouco de vinho. – A minha história pode fazê-los perder o apetite, uma vez que suponho não ser um assunto feliz.

– Quanto a isso não se preocupe. – Garantiu Ralf. – Apesar da pouca idade, todos já tivemos que lidar com um problema ou dois.

Era estranho vê-lo falando de forma tão comedida.

– Já que insistem. – Disse meio que a contragosto. – Por onde começo? – Perguntou em retórica. – Então... Para começar, posso não parecer muito saudável hoje, mas já estive bem pior. – Revelou. – Eu nasci com uma doença grave, que afetava minha formação óssea e comprometia minha imunidade, minha mãe estava tentando ter um bebê a anos e por isso deve ter sido bem frustrante dar a luz alguém de saúde tão frágil, quanto ao meu pai... – Ela fez uma pausa sutil. – Ele era alguém bem ocupado, vivia viajando, a minha mãe dizia que ele estava buscando um médico para me curar, mas eu tenho minhas dúvidas. Sabem bem como os homens nessa sociedade gostam de trair e mentir para suas esposas, mas a minha mãe era ingênua demais e realmente acreditava que ele a amava. – Ela riu sem vontade. – Eu até tentei avisá-la, mas ela me desferiu um tapa na face na ocasião, e me disse " como pode falar assim de quem está lá fora se arriscando por você?" Aquela foi a primeira e única vez que ela me bateu. – Relatou. – Muitos anos se passaram, meu quadro piorou, eu já nem conseguia andar, sequer me sentava na cama sem ajuda, um médico que estava de passagem me examinou e disse que eu não viveria mais que alguns meses, isso foi a pouco mais de um ano? – Ela tentava recordar a data. – Nessa época meu pai voltou e com lágrimas de crocodilo ele disse que não tinha encontrado nada, a minha mãe ficou histérica, ela até me pediu desculpas por ter me dado a luz. Imagina como foi ouvir isso? – Indagou revoltada, mas procurou se conter logo a seguir. – De qualquer forma, eles faleceram algum tempo depois, aparentemente meu pai trouxe com ele a doença que os matou. – Ela disse isso com certa naturalidade. – Eu, por outro lado, fui melhorando a cada dia e hoje estou bem, felizmente fui curada e pretendo viver muito. Aquele médico que me sentenciou a morte era um ignorante. – Disse ela. – Depois que meus pais morreram ninguém queria cuidar da menina doente, então até os servos foram embora. – Frieda olhou para o rapaz de pé, mas a expressão dele não se alterou, contudo ela notou quando ele sutilmente cerrou os punhos. – É claro que houveram alguns familiares tentando se aproveitar de uma garota tão frágil e roubar a minha posição, mas ninguém conseguiu. De qualquer forma, já tenho mais que quinze anos, será difícil fazer qualquer coisa agora que sou uma adulta diante da sociedade. – Encerrou o relato. – Como disse, não era um assunto leve.

– De todo modo, lamento por sua perda. – Disse Griselna.

– Obrigada! – Falou a garota. – Eu vou me recolher agora, vão precisar de mais alguma coisa?

– Não, terminaremos por aqui e retornaremos aos nossos aposentos. – Falou Griselna.

– Que assim seja. – Disse a senhorita. – Hansel, me acompanhe até meu quarto.

Ela deixou a sala com o silencioso e apático servo logo atrás dela.

Seguindo a orientação de a princípio não comentar nada no interior da mansão, os integrantes do grupo terminaram de comer e seguiram para seus quartos, primeiro os rapazes, depois as garotas e então Griselna. Contudo, Frieda estava inquieta e curiosa, já passavam das nove e meia quando ela decidiu deixar o seu quarto.

– Onde vai? – Sussurrou Erna.

– Eu preciso checar uma coisa. – Disse ela.

– Sozinha? – Indagou Erna. – Nem pensar.

– Vai ser mais difícil me notarem se eu for sozinha. – Argumentou Frieda.

Erna então percebeu para onde ela ia e sua preocupação diminuiu.

– Se ela te pegar é melhor tu ensaiar o que vai dizer. – Alertou Erna.

– Ela mesma nos disse onde procurá-la caso precisássemos de algo. – Revelou a menina de expressão ilegível.

– Tenha cuidado e não volte tarde. – Erna se enfiou debaixo das cobertas. Arrastou para perto de si algo embrulhado em tecido.

– Evite dormir até eu voltar, não é seguro fazer isso sem alguém de vigia. – Disse Frieda antes de escorregar para fora do quarto e fechar a porta atrás de si.

A garota estava descalça e transitava pelo corredor como uma sobra, ela praticamente apagava qualquer sinal de sua presença, ao chegar no final do corredor encontrou a porta do quarto da anfitriã, um pouco de luz saia da fresta da porta, única porta que não era de madeira maciça e único quarto que não apresentava sinais de reforma, aparentemente estava igual a mais cem anos de história daquela família. Frieda não precisou encostar na porta para ouvir os sons que vinham de dentro, ela sempre teve uma visão excepcional, mas olhou através da fresta da porta, por breves segundos, ela desejou ser cega. Agora os sons vindos do quarto faziam completo sentido.

O garoto, que agora Frieda sabia se chamar Hansel, alguém que mais tarde ela descobriria ser surpreendentemente apenas dois anos mais velho que ela, estava ajoelhado no chão diante da cama, as roupas estavam espalhadas pelo chão e ele se encontrava nu, a frente dele, sentada na cama de forma relaxada, estava a senhorita Hummel. A senhorita tinha uma expressão de raiva contida em seus olhos, como se o rapaz tivesse feito algo para ofendê-la, e após se segurar para não sair correndo dali ou simplismente invadir o quarto, Frieda pôde fixar sua atenção unicamente no rapaz. O pobre Hansel parecia querer sumir, seu rosto estava voltado para algum ponto do chão e seus olhos desprovidos de brilho fitava a parede, sua face não possuía expressão, ele era como um boneco e para aquela garota diante dele era exatamente isso que ele era, ver aquela expressão no rosto de outra pessoa fez o coração da menina pesar. Hansel estava sujo, o vermelho vivo manchando o seu corpo denunciava feridas que Frieda não era capaz de enchergar daquela posição, em suas mão estava um chicote de várias pontas, também sujos de sangue. Em algum momento o olhar dele vagou pelo cômodo, alheio ao que estava lhe acontecendo, e ele viu que alguém o estava olhando pela fresta, imediatamente o olhar inexpressivo mudou para um olhar repleto de tristeza, agonia e angústia, sua expressão piorou quando ele reconheceu os olhos de Frieda, o rapaz ficou ali olhando para garota atrás da porta enquanto sua senhora divagava sobre como seu "amigo" estava sendo mal com ela mais cedo, e por um momento ele parou de sentir o nojo que sentia de si mesmo, ele estava em paz, então ele continuou olhando-a, se convencendo de que estava sozinho com ela, dizendo a si mesmo que não estava sofrendo todo aquele abuso e humilhação, se esquecendo inclusive da condição desnuda de seu corpo. Mas sua paz durou pouco, pois a mulher  se moveu sem que ele esperasse e lhe segurou o rosto, fazendo-o olhar para ela e o beijou, mas ele não correspondeu, desviou o olhar do dela e olhou para o teto, queria olhar para a porta, e se sentiu mal ao pensar que ela poderia ter ido embora deixando-o sozinho com o que para ele era um demônio.

– Por que estava olhando tanto para a recém chegada? – Perguntou raivosa, quantas vezes já não tinha questionado isso? – Por acaso acha ela melhor do eu? Não me ama mais, é isso?

Ele queria dizer a ela que nunca a amou para começo de conversa, mas sabia das consequências.

– Eu vou te permitir se reconciliar comigo agora, te darei a chance de se desculpar e de se redimir. – Falou isso se aproximando do rosto dele enquanto pisava em sua coxa com certa força. – É melhor me fazer sentir bem ou vou te entregar para que ele te discipline outra vez, mas não se preocupe, ele não vai te matar. Não vê como sou benevolente? Ou você prefere que seja ele a colocar juízo em sua cabeça. 

O rapaz estremeceu, ele sacudiu a cabeça em negativa com veemencia e profundo horror.

A garota retirou o pé da coxa do rapaz e voltou a se sentar de forma relaxada. O rapaz não obedeceu de imediato, considerava se ser torturado nas mãos "dele" era tão ruim assim, se era menos humilhante que aquela situação.

– Se você for obediente, talvez eu considere deixar viver ao menos a garota pela qual você se interessou. – Propôs ela, as palavras saiu por entre os dentes cerrados.

Para Hansel, não havia um cenário no qual todos os hóspedes sairiam daquela mansão vivos, então ele agiu pelo que ele mesmo denominou egoísmo, o rapaz havia se sentido bem em conversar com Frieda no jantar, ainda que não tenham verbalizado uma única palavra um para o outro, e ele se sentiu em paz quando sem querer ela o consolou apenas por estar ali, atrás daquela porta, mais cedo, ele estava certo que ela já teria ido embora após presenciar aquela cena hedionda, algo que uma criança não deveria ver, ainda que para a sociedade ela já fosse "grandinha o suficiente", qualquer pessoa normal ficaria perturbada vendo uma cena daquela. O ponto é que ele desejou salvá-la, mesmo que tivesse que se submeter a algo tão degradante e humilhante, mesmo que tivesse que satisfazer os desejos narcisistas da pessoa que ele mais quer matar nesse mundo. O garoto se ajeitou sobre suas próprias pernas com dificuldade e  continuou com os atos anteriores até que ela estivesse satisfeita, golpeando suas próprias costas com toda a força, abafando  os gemidos de dor e agonia enquanto o líquido quente escorria, ciente de que faria isso até ficar inconciente. Ele quis morrer e chorar, mas a cerca de um ano havia decidido que nunca mais o faria, não até que tivesse completado sua vingança. Ao olhar para o local onde estava Frieda, o garoto percebeu com pesar que estava sozinho outra vez, ele não sabia que a menina estava sentada de costas para a porta e que ouvira todo o diálogo, ele não estava sozinho.

Frieda deixou aquele lugar e voltou ao seu quarto antes das dez e meia, enquanto caminhava pelo corredor, ela pensava sobre as respostas que conseguiu, sobre o que faria a respeito daquele garoto e sobre suas novas dúvidas, ela não conseguia fazer desaparecer de sua mente a imagem da expressão de completa agonia que o rapaz trazia na face, mas ela precisava pensar racionalmente, nesse momento ela se convencia de que era o que Erna faria naquela situação. Quem era o "ele" de quem ambos falavam? Por que o "ele" tinha tanto poder sobre Hansel, mas parecia obedecer a senhorita Hummel de algum modo? Também precisava descobrir como os acontecimentos na mansão estavam relacionados ao crescente número de desaparecimentos naquela região. A conversa no jantar foi proveitosa, as expressões e gestos corporais da anfitriã deram a Frieda mais respostas que qualquer coisa que ela tenha dito naquela historinha mal contada, cheia de informações ocultadas e meias verdades.

Frieda finalmente chegou em seu quarto, encontrou Erna ainda desperta, aguardava seu retorno. Erna olhou atentamente para Frieda, mas não perguntou nada, apesar de ter notado que algo estava errado não era sensato perguntar qualquer coisa até que aquele lugar se provasse seguro para terem essas conversas, não haviam garantias de que aquele garoto que vira mais cedo era o único servo na mansão, isso sequer fazia sentido para ela. No dia seguinte ela teria suas respostas. Frieda escorregou para debaixo do cobertor, essa era a deixa para que Erna dormisse.

Olhando para o teto, Frieda não podia deixar de pensar sobre toda aquela situação, a Duquesa é conhecida por ser uma mulher de intelecto elevado, ela tinha os enviado ali, mas por alguma razão ela não contou a senhorita Hummel o que eles tinham ido fazer naquele lugar. Em vez de avisar a senhorita que eles foram ali para investigar, a Duquesa mentiu, ela enviou uma carta para a senhorita apenas avisando que um grupo de pessoas por quem ela tinha consideração chegariam na cidade e pediu que a responsável por aquela região lhes fornecesse hospitalidade, ou seja, para a senhorita Hummel o grupo não era mais nem menos que amigos da Duquesa, soberana daquela terra, cujo pedidos eram irrecusáveis. O fato da Duquesa não ter deixado claro as reais intenções do grupo, só mostra que ela nutria alguma desconfiança sobre a mansão dos Hummel e que imaginava que quaisquer informações compartilhadas poderiam vazar e comprometer as investigações, para dizer o mínimo.

A mente de Frieda fervilhava e ela nem notou o tempo passar, ela estava tão absorta em seus pensamentos que despertou abruptamente quando, lá por volta das uma e meia da manhã, ouviu um ruído estranho. Ao olhar para o lado constatou que Erna já estava sentada com o embrulho em mãos, em vista disso, Frieda se sentou também.

– Você ouviu isso? – Sussurrou Erna. Frieda assentiu.

O som fez uma breve pausa e retornou como se estivesse mais perto, lá estava ele, o característico som de metal arranhando o chão e as paredes.

– A água está vibrando de um jeito estranho outra vez. – Falou Erna. – Eu sinto duas ondulações, uma é quase linear e constante, a outra é compassada como o ritmado e lento bater de um tambor, é como...

– Passos. – Constatou Frieda. – Minha visão é inútil dentro do quarto, não posso ver através das paredes. – Sussurrava.

– O que diabos é isso? Pelo comprimento das ondulações não pode ser muito maior que um humano comum, mas... – Erna se concentrava.

– Mas... – Incentivou Frieda.

– Espera... – Erna ainda sussurrava.

Erna se concentrou completamente, ela fechou os olhos, apagou todas as outras ondulações e isolou a que ela queria analisar, ela chegou ainda mais fundo na concentração, deixou de lado tudo à sua volta, após restringir a visão ela fez o mesmo com a audição, deixou-se guiar pelos caminhos que a água faz na terra e no ar. Ela abriu os olhos, estava confusa, consternada.

– O que houve? – Indagou Frieda.

– Eu vi o equivalente a duas pessoas andando, mas o ritmo está estranho. – Disse Erna.

– Estranho como?

– É como se fosse uma única pessoa com quatro pernas. – Respondeu Erna, nem ela entendia o que estava dizendo. – Seria mais fácil se Felix estivesse aqui.

As duas se encararam, mas após alguns segundos Erna se voltou repentinamente para a porta.

– Esta aqui. – Ela murmurou.

Frieda não ouviu passos no corredor.

– Não sinto o heilig, tem certeza? – Murmurou de volta, estava em alerta. – Não, na verdade eu sinto uma pressão, algo que me diz para não abrir a porta.

Antes de entrarem na mansão, Griselda tinha dito a eles para suprimirem o heilig, mas para identificar a causa do ruído, Erna deixou parte do seu heilig vazar.

– Droga! – Lamuriou. – Eu fui descoberta.

Erna sabia, ela sabia que não havia como enganar o rastreador, tinham duas pessoas naquele quarto e se ela ocultasse completamente seu heilig outra vez o rastreador não saberia qual delas deixou o heilig vazar, mas fazer isso apenas o deixaria em alerta, pois poderia desconfiar de que os outros estavam cientes de que ela poderia ser uma desperta, ou pior, descobriria que os demais também estavam suprimindo seu heilig. O que fazer?

Frieda via a aflição estampada na face de sua irmã, para ela naquela situação tudo o que importava era a segurança de seus irmãos, ela não ouviu o som de resistência por parte dos outros, o que poderia significar que a criatura foi direto atrás de Erna.

– Erna. – Chamou Frieda ainda sussurrando. – Suprima seu heilig.

Erna ficou aflita com o comando de Frieda.

– Mas... – Tentou resistir.

– Tá tudo bem, Erna. – A menina olhava fundo nos olhos da irmã. – Eu sei o que estou lhe pedindo.

Erna não entenderia até que lhe fosse explicado, para ela aquela era uma ideia irracional, mas isso é porque ela só conseguia ver duas situações, mais tarde, ainda naquele dia, ela aprenderia a ver ainda mais além mesmo quando a situação fosse desesperadora, e que às vezes a resposta é bem simples e pode estar diante de seus olhos. Mesmo sem entender, Erna obedeceu.

Assim que Erna suprimiu seu heilig, quem estava do lado de fora foi embora.

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