Capítulo XXVI
O grupo de Heinrich saiu primeiro, enquanto isso o grupo de Frieda terminava os últimos preparativos, quando todos já estavam com seus itens necessários a postos, se dirigiram aos estábulos. Griselna os guiou para o local onde estavam cinco cavalos já selados e prontos para partir.
Griselna estava vestindo uma calça de montaria justa e calçava botas de cano curto, vestia também uma blusa azul de botões e mangas compridas arregaçadas até a altura dos cotovelos, a blusa era levemente folgada e passava dos quadris. Erna estava vestida de modo semelhante, mas sua blusa era verde escuro e suas mangas não estavam arregaçadas, estava bem alinhada e nenhum pouco amassada, a gola estava perfeitamente arrumada, usava botas de montaria. Frieda vestia calça masculina folgada, vestia uma blusa de manga longa e um colete feminino por cima, assim como Erna, calçava botas de montaria. Ralf usava uma calça verde escura com bolsos e algo parecido com uma camiseta Henley de manga comprida na cor cinza bem clara, calçava botas de couro. Leon vestia uma camisa com oito botões, na cor preta, as extremidades das mangas bem como a parte interna da gola eram marrons, a calça era de linho na cor azul bem escuro e sapatos de couro marrom avermelhado.
– De quem são esses cavalos? – Inquiriu Erna.
– São do Benno, ele gosta de cavalos, mas ficou mais do que feliz em nos emprestar alguns. Vai tornar nossa viagem mais rápida e segura. – Respondeu a mulher, ela prendeu alguns de seus itens no arreio e foi dar uma última verificada na condição dos cavalos, das selas e outras partes que compunham os arreios.
– A gente poderia usar apenas três desses cavalos, um para você e nós dividimos a montaria em duplas. – Disse Leon.
– É mais seguro cada um ter o seu, se tudo der errado e precisarmos fugir às pressas, poderia ser problemático ajustar duas pessoas em cima de um mesmo cavalo. – Argumentou ela. – Mas se cada um tem o seu é só montar e pronto. É claro que a conversa mudaria se algum de vocês não soubesse montar, o que não é o caso, já que todos tiveram aulas de montaria e o fizeram com excelência.
Frieda olhou para todos os cavalos com atenção até que seu olhar pousou em um deles, trata-se de um Standardbred negro,um puro sangue, é uma raça conhecida por ser veloz. Apesar de jovem o animal foi bem treinado, estava saudável e não demonstrou nenhuma ansiedade ou hostilidade quando Frieda caminhou até ele e o tocou delicadamente com as pontas dos dedos, uma boa sensação fez os pelos dos braços de Frieda se arrepiarem e o sentimento de sinergia foi instantâneo... ela já havia escolhido aquele que seria não apenas seu companheiro em uma única viagem, mas para toda a vida. Mais tarde Benno perceberia o apego da menina em relação ao cavalo e o daria para ela como presente.
Cada um montou em seus respectivos cavalos e iniciaram sua jornada até o local onde realizariam a missão que lhes fora atribuída.
A missão era simples, apesar de ter sido requerida pela própria duquesa, estavam havendo múltiplos casos de desaparecimentos numa cidade chamada Schwarm, um nome digno de uma cidade que embora fosse menor que Bienenstock em extensão territorial, era muito populosa. O fato de ser populosa foi uma das razões para os casos de desaparecimentos terem vindo à tona apenas após muito tempo desde que começaram, acreditasse que tal acontecimento bizarro tenha começado a mais de um ano. Ao ouvir falar sobre datas, os jovens se entreolharam, eles certamente pensaram no mesmo, talvez tenham notado uma infeliz coincidência.
A viagem durou dois dias, nesse meio tempo o grupo relaxou e aproveitou o máximo que dava para fazer sem baixar a guarda, eles conversaram muito sobre a missão e trocaram informações, não se sabia muito sobre os desaparecimentos, o trabalho deles era descobrir se a causa era realmente algum Haidu, ou se era apenas algum humano se aproveitando do terror causado pelas criaturas para satisfazer sua própria inumanidade.
Eles chegaram ao destino de tardezinha, ficariam hospedados na casa da família mais proeminente da região, entretanto, atualmente tal família contava com um único integrante, uma jovem com pouco mais de quinze anos. O nome da jovem era Bathild Hummel, não se sabe muito sobre ela, apenas que seus pais morreram a pouco mais de um ano devido a uma doença misteriosa e que desde então ela se isolou na mansão e que de alguma forma colocou para correr todos os interessados em ser seu tutor. No geral, a população evita os arredores da mansão, dizem os boatos que o lugar é amaldiçoado e que às vezes é possível ouvir o som de metal sendo arrastado no chão.
A cidade de Schwarm estava longe de ser uma Bienenstock, não estava arruinada, mas não tinha o mesmo brilho contagiante, o ar parecia pesar nos pulmões e apesar das ruas serem calçadas, a muito tempo não viam uma manutenção. O mesmo se diz sobre as casas, quase todas possuíam uma tonalidade amarronzada, as tavernas que deveriam começar a abrir aquela hora, estavam fechando, ao que tudo indica nem mesmo os mais insanos estavam dispostos a arriscar ser ou não ser o próximo número na crescente lista de desaparecidos. O quinteto trotou rumo à mansão sob os olhares curiosos de alguns moradores, haviam aqueles que até mesmo proferiram cochichos inaudíveis entre si.
– Viramos notícia na cidade. – Comentou Ralf.
– Certamente estão curiosos sobre quem seria maluco o suficiente para vir aqui depois de ouvir sobre os desaparecimentos. – Falou Erna.
– Vamos resolver logo o mistério e dar o fora daqui, esse lugar me trás uma sensação ruim. – Disse Leon.
– Você quer é voltar para perto de sua irmã. – Falou Ralf. – Você precisa aprender a ser mais independente.
– Quieto, lobo! – Rebateu Leon.
Ralf sorriu e olhou para Frieda, ele sempre verificava se ela estava lá já que a garota geralmente ficava quieta a maior parte do tempo.
O grupo chegou finalmente na frente da mansão dos Hummel, Griselna procurou por algum porteiro, tentou ver se alguém estava no jardim...mas não havia ninguém, a mulher abriu então o portão e os demais entraram, ao chegarem na frente da porta de entrada apearam dos cavalos. Não demorou muito para uma frágil figura feminina aparecer na porta, ela tinha um metro e oitenta, sua pele pálida claramente não via o sol a muito tempo, seus cabelos longos a faziam parecer mais nova do que realmente era, sequer parecia alguém que debutaram em poucos meses, usava um vestido branco de mangas compridas que lhe fazia parecer um fantasma, ela passava a sensação de que desapareceria se você desgruda o olhar dela por alguns segundos.
– Bem-vindos! – Disse docemente, ela sorria. – Podem deixar os cavalos aí, meu servo virá recolhê-los. – Ela gesticulou para algum lugar à sua direita.
O grupo olhou para o local que ela indicou, junto às paredes da mansão, paralelo ao jardim, havia um caminho que levava para a uma área ao oeste da mansão, possivelmente era ali que ficavam os estábulos, mas o que chamou a atenção deles foi a figura de um garoto parada, os observando com olhos quase vidrados, ele não era muito mais velho que Frieda, seus ombros pareciam pesados e ele não se moveu, permaneceu ali, bem parado.
– Vamos entrar, o tempo está esfriando aqui fora. – Convidou a anfitriã, sua expressão era doce. – Vou lhes mostrar seus quartos, espero que gostem. Além disso, vamos comer cordeiro no jantar, tenho certeza de que estará delicioso, o Hansel cozinha muito bem.
– Estou ansioso. – Comentou Griselna.
Griselna seguiu a senhorita Hummel de perto, elas emendaram em uma conversa que parecia interminável, os demais andavam logo atrás, Erna liderava o grupo. Eles entraram e saíram de corredores, dizer que a mansão é grande é eufemismo, cada corredor tinha uma decoração diferente, alguns contavam com vasos valiosos, outros com quadros em molduras pomposas, mas o que todos tinham em comum era o ar sufocante e frio, bem como o fato da iluminação ser praticamente ausente.
Frieda segurou gentilmente a mão de Erna, ela estava na frente de Frieda, e ergueu só um pouco o braço na lateral do corpo, com a palma da mão voltada para trás, um simples gesto que indicava que os outros deveriam parar e eles assim fizeram.
– Na frente dessa garota, finjam que são crianças ingênuas e comuns. – Ordenou. Sua expressão estava impassível como sempre. E sua voz soava baixa e suave.
– Notou algo errado? – Perguntou Erna, seu corpo estava voltado para frente, mas olhava de esguelha para Frieda. Falava em voz baixa.
– Ela está escondendo algo, sua expressão antagoniza o que ela fala, haviam mudanças sutis em suas linhas faciais, gestos corporais levemente desnaturais, os olhos também se mexiam de forma quase ensaiada. – Frieda entregava o resultado de sua primeira análise, era um hábito comum para ela, a garota sempre fazia isso quando conhecia alguém novo, era assim que ela consegue compreender um pouco as pessoas. Acontece que ela também conseguia identificar mentirosos, mesmo Heinrich não lhe escapava. – Ela é uma boa mentirosa, mas não é a mais excelente, pode tentar omitir e tentar enganar o quanto quiser, mas eu vejo tudo... eu sempre verei. – Disse a garota de olhos heterocromáticos.
– Não posso dizer nada quanto a ela estar mentindo ou não, apenas confiarei no seu julgamento. – Disse Leon. – Mas quanto a esse lugar tenho algo a dizer, desde que chegamos, sinto uma estranha vibração que vem do solo e sobe pelos meus pés.
– Terei que concordar. – Falou Erna. – A água nesse lugar possui ondulações incomuns, para não dizer bizarras.
– Vocês falam de um jeito esquisto, mas devo dizer que desde que entramos pelo portão meus instintos estão gritando que esse lugar é perigoso. – Comentou Ralf.
– Até descobrimos o que aquela garota esconde e o que há de errado com esse lugar, atuem como crianças inócuas e sob hipótese alguma a deixem saber sobre nossas habilidades santas. – Falou Frieda.
Todos assentiram.
– Está tudo bem? – A garota perguntou ao notar que o quarteto tinha ficado para trás.
– Estamos sim. – Respondeu Erna com naturalidade. Ela começou a caminhar na direção da garota e o restante do grupo a imitou. – Frieda estava um pouco enjoada devido a longa viagem, mas já está muito melhor após fazer uma pausa. – Mentiu.
– Enjoada? – Indagou Griselna em voz baixa, assim que os demais chegaram mais perto dela.
– Sim... Enjoada. – Respondeu Frieda passando por ela, cruzando propositalmente o olhar com o dela no processo, mas fez isso breve o suficiente para que não levantasse suspeitas.
Griselna entendeu o recado, não existia naquele mundo um quadro em que Frieda ficasse enjoada devido a uma viagem.
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Finalmente o último do combo foi postado, não esquece de votar, te vejo na próxima. 💜💜💜😘😍
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