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Capítulo XLVI


Conradine olhava fixamente para Erna, mas não disse uma palavra, a garota se perguntava a quanto tempo estava sendo observada e como não havia percebido antes, ela encarou a mulher de volta e sustentou o olhar como quem não tem nada a temer, estava certa de que mesmo que a examinadora soubesse que ela havia trapaceado, de nada adiantaria a menos que ela compreendesse a técnica ou a oração por trás de tudo. Entretanto, sua fé se abalou um pouco quando ela viu os lábios da assessora dando indício de que iria se mover e proferir alguma coisa.

– Assento doze, fileira dois. – Disse a mulher. – Você está sendo convidado a se retirar, por favor não resista, posteriormente será informado o motivo de sua desclassificação desta fase do teste.

Um auxiliar caminhou até o assento do participante em questão e aguardou silenciosamente que ele se levantasse, o homem se encontrava parado ao lado de Erna. A garota não se mexeu e não desviou o olhar que ainda estava sobre a examinadora, foi então que houve uma movimentação atrás dela, um rapaz se levantou e seguiu o auxiliar para fora dali, Erna o olhou de relance e quando voltou a olhar para Conradine outra vez, se deparou com um sorriso que dizia "não pense que não te vi, hoje foi seu dia de sorte". Conradine quebrou o olhar e voltou sua atenção para outro canto na sala, um auxiliar sinalizava alguma coisa para ela.

– Assento vinte e seis, fileira um. – Convocou Conradine. – Você está sendo convidado a se retirar, por favor não resista, posteriormente será informado o motivo de sua desclassificação desta fase do teste.

O auxiliar que havia sinalizado caminhou até o assento do examinado para escoltar-lhe para fora, mas a medida que via o homem se aproximar, a garota do assento vinte e seis tentou protestar.

– Isso é um absurdo, eu não... – Dizia ela.

– Por favor não resista. – Conradine repetiu impiedosa, a ameaça estava implícita no modo que falou, aquele auxiliar ou ela mesma certamente estavam autorizados a usar a força se necessário, e havia a possibilidade de que eles adorariam que a situação fosse por esse caminho. A mulher falou tão pouco, mas aquela única ordem estava carregada com uma aura ameaçadora que foi capaz de chamar a atenção de todos os participantes, todos alí sentiram uma pressão invisível que parecia tentar forçá-los a se submeter, era como se a vontade de Conradine fosse convertida em uma energia e que para resistir a ela fosse necessário forçar sua própria vontade da mesma forma que ela para resistir.

Aquela habilidade associada à presença, podia ser encontrada mesmo antes dos Haidu e crianças santas, era algo que alguns humanos se tornavam capazes de emitir, uma aura poderosa que esmagava a força de vontade do oponente antes mesmo de um combate sequer ter começado. Essa aura recebeu diversos nomes no decorrer da história, alguns a chamavam de intenção assassina, outros de aura do caçador, mas pouco importa o nome pelo qual é chamado, afinal se trata da mesma coisa.

A garota desclassificada se encolheu, como a aura havia sido direcionada a ela, foi quem mais acabou sendo afetada, estava pálida. Ela se levantou devagar e com muita cautela, então seguiu o auxiliar para fora dali.

Erna julgou que a presença daquela menina não era muito forte, julgando por suas roupas finas e caras, certamente era de uma família abastada e isso somado ao fato de que era uma desperta tornava bem provável que não estivesse acostumada a ser contrariada.

A fase continuou, mesmo aqueles que já haviam terminado tiveram que aguardar até que o tempo terminasse, até porque eles ainda estavam sendo avaliados, caso algum deles fosse pego passando cola poderia ser desclassificado. Um total de onze pessoas foram desclassificadas da fase.

– O tempo acabou, coloquem as mãos à vista. – Disse Conradine. – Nesse momento as folhas serão recolhidas e após isso vocês deverão se dirigir a entrada da base, lá haverá listas com os nomes dos aprovados na primeira e segunda fase, os nomes estarão dispostos do melhor avaliado para o pior avaliado. – Falou. – Estejam cientes de que mesmo aqueles que não encontraram o local na primeira fase também foram avaliados e receberam pontos de acordo com vários critérios, ninguém foi realmente desclassificado e apenas foi vetado de participar da segunda fase e angariar mais pontos como punição. O mesmo ocorreu com aqueles que fizeram a segunda fase na floresta, ainda que tenham ficado incapazes de concluir a fase, esses também foram avaliados e receberam pontos. – Explicou ela. – Não completar a fase não te desclassifica do teste como um todo, afinal esse teste não é de caráter eliminatório, todos aqueles que prestaram o teste serão aprovados, contudo, sua classificação influenciará no ranking e aqueles com menores pontuações serão colocados em classes mais baixas dentro da Ordem. – Expôs. – Dito isso, sigam a auxiliar Raika, ela os levará até o local em que encontrarão as listas.

Os examinados seguiram Raika, eles falavam em voz baixa, grupos já haviam se formado, alguns deles desde antes dos testes, a maioria dos provenientes de famílias abastadas se resignavam a formar grupos apenas com seus "iguais".

– Essa prova estava terrível. – Comentou Johann. – Estava cheia de pegadinhas e frases ambíguas para nos fazer falhar por falta de atenção, porém, mesmo que não tivesse essas pegadinhas, ainda seria uma prova impossível de passar para aqueles que não estudaram. Tenho que agradecer ao tio Meine, que perseverantemente me ensinou até mesmo as coisas que eu não queria aprender. – Disse juntando as mãos como se fosse rezar para algum deus.

– Nem me fale. – Falou Felix. – Esqueça o que falei sobre lutar contra um Haidu, eu prefiro fazer isso que ter que passar por outra fase como essa. – Suspirou cansado. – Eu teria me dado muito mal se Erna não tivesse me ajudado.

– Idém. – Ralf ergueu a mão. – Muito Obrigado, Erna! – Ele juntou as mãos imitando o que Johann tinha feito.

– Nunca pensei que escrever me deixaria tão cansada. – Leona suspirou pesadamente enquanto relaxava a postura de maneira desleixada.

– Quando Erna apareceu eu já tinha feito algumas questões. – Expôs Ralf. – Se soubesse não teria feito isso.

– Então ia se escorar na habilidade dela para passa? quanta cara de pau. – Provocou Leon.

– Não comecem. – Avisou Erna.

– Mas é claro, o importante é passar, não importa como. – Respondeu Ralf. – Além do mais, eu sei o suficiente para me virar sozinho e quando isso não bastar ainda teremos a inteligência de Erna para salvar as nossas bundas.

– Tão vulgar. – Comentou Hans. – Já lhe aconselhei a melhorar o palavreado.

– Eu falo do modo que eu quiser. – Respondeu Ralf. – E digo mais...

– Ralf. – Frieda chamou sua atenção, ela bem sabia que eles começaram a brigar e aquilo poderia durar horas.

Ralf bufou birrento. Félix riu.

A família finalmente estava diante do quadro com os nomes e a classificação da primeira e segunda fase, na lista não havia a pontuação. Erna estava na primeira posição da primeira fase, seguida por Félix, Frieda, Ralf, Hans, Leon, Johann e Leona. Com exceção de Erna e Felix, é bem provável que os demais irmãos tenham recebido pontuações iguais ou semelhantes. Eles seguiram então para a segunda lista, referente à segunda fase do teste, lá Frieda encontrou seu nome na quinta posição, seguida por Hansel, Leona, Johann, Erna, Félix e Ralf.

– Bem... – Disse Erna. – Era o esperado, o objetivo da segunda fase nunca foi caçar o Haidu, certamente ganhamos pontos por isso, do contrário estaríamos muito mais abaixo, porém o objetivo era atravessar a floresta o mais rápido possível, evitando os obstáculos.

– Desculpa! – Leona disse cabisbaixa. – A culpa foi minha.

– Você realmente se arrepende? – Perguntou Frieda.

Leona ponderou.

– Nem um pouquinho. – Respondeu.

– Foi o que pensei. – Disse a garota de olhar heterocromático. – De todo modo ainda ficamos em uma boa posição, considerando que nos saímos bem nessa prova e que vamos nos sobressair na última fase... ainda dá para assegurar a chance de conseguirmos uma boa classificação dentro da Ordem.

– Senti vibrações vindo da área a oeste daqui, imagino que já estejam terminando os preparativos para a próxima fase. – Expôs Leon.

– Acredito que a próxima fase será física e talvez até mesmo possamos usar heilig. – Comentou Hans.

– Será que teremos que combater? – Inquiriu Johann.

– Não dá para saber, contudo, imagino que não será nada impossível. – Disse Erna. – Não faz sentido fazer nada muito absurdo agora, isso apenas iria desmotivar os participantes e seria como dar um tiro no próprio pé, deixar desmotivado aqueles que serão seus soldados.

– Não importa o que vier, só há uma opção válida para nós que é ser aprovado com a maior nota possível. – Falou Erna.

Os candidatos receberam tempo mais que o suficiente para conferir seus nomes e posições nas listas, após isso eles foram levados para o setor leste da base e descobriram que ali funcionam arenas de treinamento. O espaço era amplo e na margem do lugar, rente ao muro alto, havia três barracões e dois galpões, nesses lugares certamente eram armazenadas as armas e materiais de treinamento, bem como outros suprimentos. Os espaços de treinamento a céu aberto foram divididos e demarcados, na extremidade de cada um deles tinha um mastro com uma corda pendendo dele.

– Por acaso vão nos executar? – Felix brincou, já que a maneira como penduraram a corda lembrava muito com uma forca.

– Alguém com um senso de humor duvidoso deve ter dado essa ideia horrorosa. – Comentou Hans.

– O que você estava dizendo sobre "desmotivar" mais cedo? – Leon provocou Erna.

Ela ignorou.

Após algum tempo aguardando, Frieda viu entrar um grupo de cavaleiros sagrados, aparentemente aqueles seriam os próximos examinadores e auxiliares. Alguns deles foram para cada uma das áreas demarcadas, um em cada uma das aréas, e ficaram de prontidão a dois metros de distância do poste, eles traziam algo nas mãos, os outros ficaram aguardando em uma das margens do lugar. O último a entrar subiu no palanque improvisado e olhou para os candidatos.

– Olá a todos! – Disse o homem de voz grave. – Que a graça de Ismar e seus deuses irmãos esteja com vocês. – Falou. – Eu me chamo Klaus, poucos de vocês conhecem o meu rosto, mas muitos de vocês certamente já ouviram falar de mim. Então, permitam que eu me apresente melhor: Eu me chamo Klaus e faço parte dos Inquisidores. – Disse ele. – Percebam que não disse a vocês o meu sobrenome, afinal, por aqui pouco importa a sua família ou origem, o que importa é a sua força e quão útil você será para a nossa causa. – Expôs.

Algumas pessoas não conseguiram conter as expressões que iam desde medo até desprezo, afinal um Inquisidor é aquele responsável por ceifar vidas humanas, são os inquisidores que caçam membros de seitas e combatem os traidores da humanidade. Apenas pessoas que se sobressaem dentre os Cavaleiros e que tiveram sua lealdade a raça humana comprovada, podem ocupar tal posição. Ainda assim, é da natureza humana sentir aversão ao carrasco, é fácil simpatizar com quem mata outra espécie e demonizar quem mata a sua própria espécie, independentemente das motivações por trás disso.

– Recebi a honra de ser o examinador chefe do teste final e vim diretamente de Kamelie para tal. – Falou o Inquisidor. – Agora, vamos ao que interessa. – Anunciou ele. – O objetivo desta próxima fase é simples. – Nesse momento, os auxiliares que aguardavam nas áreas demarcadas caminharam até o mastro e amarraram o item em suas mãos na corda fina que pendia. O objeto em questão era o mesmo que eles receberam antes de atravessar a floresta e que foi devolvido aos avaliadores do outro lado. – Cada um de vocês terá que recuperar a bandeira azul pendurada no mastro, entretanto, os examinadores não pretendem facilitar a vida de vocês, cada um deles é de grau Vertraut. O uso de heilig está permitido, contudo, tenham em mente que essa não é uma prova de combate, força letal está proibida, porém, estejam cientes de que sua sobrevivência não é nossa responsabilidade, podem usar armamentos de sua preferencia, apenas não esqueçam de observar o que falei anteriormente. Nem preciso dizer que se você é fraco nas artes do uso de heilig terá que compensar sua fraqueza com outros meios, sejam criativos. Os auxiliares não poderão tomar o objeto se já estiver nas mãos de vocês. Todos receberão a mesma quantidade de tempo para concluir a fase. – Expôs Klaus. – Alguma dúvida?

Algumas pessoas timidamente ergueram as mãos.

– Ótimo! – Falou Klaus. – Vamos iniciar, aqueles que tiverem seus nomes chamados se apresentem. – Disse ele ignorando todas aquelas mãos levantadas, que logo foram recolhidas.

– Sabem o que fazer. – Frieda murmurou para seus irmãos. – Eu não vou me conter. – Falou ela.

– Antes só fazia sentido nos contermos para não chamarmos atenção demais dos Haidu e dos Cavaleiros Sagrados, agora que estamos aqui fazer isso perdeu o sentido. – Comentou Erna.

– Pelo que entendi, vale tudo menos matar. – Falou Leona.

– Deve ficar tudo bem, eles são de grau Vertraut, não vão morrer facilmente. – Considerou Johann. – Alguém de segundo grau é forte, além disso não sabemos o quão forte somos, até agora só tivemos uns aos outros para comparar, não dava para fazer comparativo nem com os integrantes da guilda.

Klaus, o Inquisidor, deixou o palanque e foi para uma estrutura alta a fim de ter uma visão mais ampla de todo o lugar, ele ficaria atento ao desempenho geral dos examinados, mas teria ajuda de seus auxiliares na avaliação individual. Dez nomes foram chamados, havia mais de cem pessoas ali, vindos de todo o reino e que usaram de todo tipo de método para sobreviver até agora. Cada uma das dez pessoas se posicionaram frente ao Vertraut responsável por avaliá-lo, o cavaleiro de segundo grau ficava entre o examinado e a bandeira, o avaliado tinha a missão de passar pelo Vertraut e pegar o item pendurado.

Na Ordem dos Cavaleiros Sagrados de Ismar existem toda sorte de personalidade, existem os de família nobre, os de família rica que não possuem um título de nobreza, os de família comum e os de origem pobre, dentre esses, temos aqueles que foram entregues a academia de Kamelie para ser criado e treinado e aqueles que entraram através de testes anteriores. Ainda que sejam ditas palavras bonitas como "na Ordem pouco importa a sua origem e sim a sua força e o quão útil você é para a causa", a verdade é que existe sim uma hierarquização que vai além da militar, existe uma hierarquia social, mas ainda que essa hierarquização não existisse, é um fato que se você nasceu em uma família mais abastada já começaria com um bônus que lhe daria vantagem na corrida pela vida ou sobrevivência e consequentemente na carreira militar, é muito mais fácil se concentrar em estudar quando não precisa se preocupar com quando irá comer de novo, se vai resistir ao inverno, sob que lugar público irá dormir essa noite ou quando terá que correr por sua vida outra vez devido ao aparecimento de um Haidu atraído a você, e ainda ter que se adequar a uma vida nômade para diminuir as chances de ser localizado por tais criaturas ou evitar o risco de chamar a atenção de uma criatura ainda pior, outros humanos, por ter ficado tempo demais em um mesmo lugar.

Não é incomum que aqueles em uma posição social superior, independente da hierarquia militar, dentro da Ordem, tornem mais difícil a vida daqueles em posição social inferior, apenas para alimentar os seus egos, e se você consegue se sobressair mesmo sendo de origem humilde, é provável que será alvo de muita inveja e desprezo, afinal "prego que se destaca leva martelada". Mas, por que é relevante ter essa informação? O motivo é bem óbvio até, uma vez que algumas dessas pessoas acabam se tornando avaliadores nos testes e a depender do quão nojenta for a sua natureza, cenas como a que estava se passando diante dos olhos de Frieda poderiam acontecer.

Na área mais próxima a garota de olhar heterocromático estava ocorrendo algo que chamou a atenção de todos, porém como não feria regra alguma ninguém interviu. O avaliador trajava uma roupa comum aos demais examinadores, mas diferente da dos auxiliares, uma camisa na cor roxo bem claro de manga longa, mas que ficava justa do cotovelo até o pulso, essa segunda parte da manga era preta, dando uma aparência bufante a parte superior da manga, também usava uma calça preta, ela era bem larga, contudo ficava justa do meio da canela para baixo, o que a ajudava a ser ajustada dentro das botas, sobre toda essa roupa, o cavaleiro ainda usava um traje sem mangas que ia até onde começavam as botas, semelhante a um vestido, entretanto continha cortes quase retos e a parte da saia contava com uma fenda na frente (no centro) e duas fendas laterais, uma em cada lado, o que facilitava a movimentação, o uniforme tinha também um cinto preto de tecido, o traje era azul marinho na frente e na saia, mas na parte superior de trás ele era preto. Sua insígnia pendia do cinto, ele tinha cabelos preto azulado e olhos avelãs, a pele estava bronzeada, seu porte físico demonstrava que ele havia se dedicado ao treinamento, mas não era exagerado, tinha cerca de 1,78 m de altura e era bem ágil,mal tinha alcançado os trinta anos, o queixo erguido lhe conferia não um ar altivo, mas sim arrogante e suas expressões denunciavam o contentamento que sentia em realizar aquilo que estava fazendo. Algumas pessoas na assistência o fitavam com desaprovação, outros pareciam compartilhar de sua satisfação.

O impiedoso avaliador exibia uma performance desproporcional, humilhando a pobre alma que tentava, com o seu melhor, chegar ao objeto pendurado. Os machucados no corpo coberto por trajes esfarrapados eram intensos, a boca do examinado sangrava, mas ele seguia perseverante, olhando para a pessoa a sua frente, Felix se questionava como alguém poderia ser tão azarado, afinal a pessoa em questão se tratava do mesmo que eles salvaram na floresta. Leona estava inquieta, Johann se sentia fisicamente mal diante daquela injustiça, ele detestava vislumbrar situações em que alguém que detém força a usa para maltratar o mais fraco. Frieda mal piscava diante da cena, Erna se perguntava o que estaria passando na mente inquieta de sua irmã naquele momento.

O rapaz estava apanhando muito, seu carrasco não lhe dava trégua e se divertia aplicando golpes fortes o suficiente para machucá-lo, mas não o suficiente para incapacitá-lo, certamente desejava prolongar aquele show de horrores o máximo possível. O rosto do jovem já começara a inchar, sua roupa adquiriu novos rasgos e estava mais suja devido às incontáveis vezes nas quais rolou pelo chão, seus ombros estavam evidentemente deslocado, provavelmente sequer conseguiria apanhar o item com as mãos ainda que fosse capaz de passar pelo examinador naquela altura. Estava ofegante, sua respiração foi prejudicada após receber alguns golpes no tórax e abdômen, muitas de suas costelas foram fraturadas, o simples ato de seguir se movendo era um perigo para sua vida. O que o motivava a se manter de pé? Por que ele não desistia simplesmente? Não é como se ele fosse perder a chance de entrar para a Ordem, então para que se expôr a toda aquela situação? O jovem tentou passar outra vez, considerando que não usou nenhuma técnica ou manipulação de heilig até agora, é provável que sequer tenha aprendido a entoar orações, o vil avaliador o golpeou de novo, já não conseguia conter sua obscena expressão de contentamento, ria alto enquanto acertava outro golpe e outro, também não tinha usado heilig até agora, a cada golpe ele esmagava o corpo e a dignidade de quem julgava estar abaixo de si.

Frieda estava confusa, seu peito estava estranho, ela se sentia estranha, mas aquela era uma sensação familiar, algo parecido com algo que ela experimentou anteriormente, mas quando? E o que? Diante daquela visão, sua mente buscava uma resposta lógica para aquilo, em algum momento a imagem infantil de Leon e Leona presos em uma gaiola como animais preencheu sua cabeça, a seguir veio a imagem abatida de Felix usando roupas e adereços femininos, então Ralf em suas roupas acabadas, correndo pelas ruas, roubando para sobreviver, também lhe veio à mente, a face em desgraça de Hansel naquela maldita galeria funesta. Sim, Frieda já tinha vivenciado aquilo várias vezes, a situação em que o mais forte pisa no mais fraco era comum, tão comum que podia ser considerado algo natural, mas se era natural, por que ela estava sentido aquilo? Ou melhor, o que era aquilo? O que era aquele sentimento?

O rapaz mal se mantinha de pé, quantas vezes já tinha caído e levantado? Ele sabia que não ia se manter consciente por mais tempo, então decidiu colocar todas as suas fichas naquela investida, ele firmou os pés no chão e flexionou os joelhos, então disparou com o máximo de velocidade que conseguiu, passando pelo examinador finalmente, talvez o tinha pego desprevenido, foi o que pensou. O jovem esticou o pescoço, teria que usar a boca para apanhar a bandeira, uma vez que era incapaz de mover os braços, o item estava ali diante do seu nariz, o delicado tecido azul farfalhava com o vento, mas antes que o tocasse, seus olhos se reviraram, sua íris sumiu e então suas pálpebras se fecharam, seu corpo foi ao chão inerte, ele havia recebido uma forte cotovelada nas costas e isso agravou o problema das suas costelas fraturadas, seu corpo não resistiu ao golpe e cedeu finalmente, traindo a sua força de vontade. O avaliador estava radiante, ele sorria de maneira doentia e desumana, não, na verdade aquela era uma expressão bem humana.

A imagem do corpo daquele rapaz sofrendo o golpe e indo ao chão, se passou em câmera lenta diante dos olhos de Frieda, nesse momento o ambiente se tornou perturbadoramente silencioso para ela. A menina não tinha consciência de sua aparência nesse momento nem da aura que estava emanando, ela estava alheia a sua volta, então não percebeu quando seus irmãos instintivamente assumiram posições defensivas a volta dela, sob sua influência, como se em resposta a uma ordem de combate dada por ela, nem notou que as demais pessoas se afastaram dela, contudo, havia mais alguém a observando, Klaus a olhava com interesse. O carrasco sentiu que tinha recebido uma atenção especial, que uma aura intimidadora estava sendo direcionada a ele, o homem se virou na direção da garota e a encarou de volta. Erna colocou a mão sobre o ombro de Frieda, ela conhecia aquela expressão no rosto de sua irmã, todos aqueles presentes na luta contra Wilderer a reconheceram, o mesmo olhar direcionado a senhorita Himmel e ao Haidu, Frieda não estava olhando para aquele examinador da maneira que ela olha para um ser humano.

– Eu estou bem, Erna. – Ela garantiu, a aura se dissipou e o examinador em questão deixou a área, alguns dos demais avaliadores lhe direcionaram olhares e frases curtas de repugnância, alguns estavam neutros, outros lhe parabenizaram pelo espetáculo.

Auxiliares entraram nas áreas nas quais já havia acabado a avaliação, eles prestaram primeiros socorros aos feridos e rebocaram o corpo desacordado do rapaz, ninguém conseguiu pegar sua bandeira azul ainda, nem mesmo os dois candidatos de família nobre que realizaram o teste naquele momento.

– Eles estão fazendo rodízio entre si, assim não ficam exaustos. – Leona observou após a segunda leva de dez candidatos. – Posso acabar pegando aquele troglodita na minha vez. – Concluiu. – Você disse que está tudo bem ir com tudo Frieda. – Comentou com certa frieza, algo bem atípico se tratando de Leona, ela estava furiosa.

Frieda não respondeu, ela se isolou em pensamentos desde que viu a avaliação daquele rapaz.

– Só não o mate, será desclassificada se o matar. – Exortou Erna. – E tenha cuidado, ainda não vimos nada de suas habilidades com heilig, ele é um Vertraut apesar de tudo. Não se esqueçam que conseguir uma boa classificação é a nossa prioridade, não se deixem levar pelas emoções agora, o mundo não vai mudar só porque vocês esmagaram um dos seus vermes.

Erna se manteve racional como sempre e Frieda foi alcançada por sua racionalidade, seu espírito de abrandou e aos poucos aquela sensação angustiante foi se esvaindo.

– Erna tem razão. – Frieda apoiou. – Não façam nada desnecessário, vamos manter o foco no nosso objetivo. 



❇❇❇ 




A quarta fase do teste de admissão continuou, de dez em dez os nomes foram chamados, dos filhos de Heinrich, Felix foi o primeiro a ser convocado, ele se dirigiu a arena empolgado e sorridente, Ralf e Leon deram tapinhas em suas costas, Leona expressou sua animação torcendo por ele com uma coreografia engraçada, os demais candidatos comentavam entre si como o grupo de irmãos estava fazendo parecer que aquilo tudo era um jogo e não estavam nem um poucos nervosos com a situação, a confiança deles até mesmo acalmou alguns daqueles à sua volta.

O examinador responsável por Felix tinha o dobro do tamanho dele, o homem analisou e julgou a aparência física do garoto, como os demais, Felix era plenamente capaz de controlar heilig de modo a não desperdiçá-lo, então a quantidade de energia vazando ao redor dele era ínfima. Considerando que a maioria dos candidatos não teve treinamento e que era do conhecimento do avaliador que Felix não era um nobre, o homem supôs que o jovem não tivesse uma quantidade significativa de heilig e certamente não teria um núcleo treinado e resistente, então ele certamente se surpreendeu quando Felix finalmente revelou parte de sua energia a fim de entoar uma oração.

Mieran jimbú! – Proferiu o rapaz, nesse momento um círculo sagrado surgiu sob seus pés. Em tradução ele disse: Irrompimento célere.

O garoto sorridente não gostou nenhum pouco da maneira como o seu examinador o olhou, apesar de seu sorriso, ele claramente estava ofendido, não era a primeira vez que o tomavam por fraco devido a sua aparência delicada.

– Senhor Examinador... – Ele disse de forma entre dentes, seu sorriso forçado em um rosto contorcido pela indignação lhe conferiam um ar maquiavélico. – É melhor esquivar. – Aconselhou.

Aquela era uma oração que aumentava os atributos físicos do manipulador do atributo vento, sobretudo aumenta a agilidade, Felix poderia ter usado isso somado ao elemento surpresa para facilmente passar pelo examinador, mas ele não conseguiria sair dali sem acertar ao menos um golpe pelo desrespeito. O rapaz reduziu a distância entre ele e o homem rapidamente, desferindo logo em seguida um chute na altura da cabeça, o examinador não esperava algo assim de um reles avaliado, alguém que não tinha recebido treinamento na academia, ele pensou em receber o golpe e mostrar a Felix que seus golpes não teriam efeito, mas seus instintos o fizeram esquivar. O pé do garoto passou perigosamente perto da cabeça dele como uma foice, ele tinha certeza de que tinha esquivado bastante, não deveria ter passado tão perto, só havia uma justificativa para aquilo, "não pode ser.", era o que estava escrito nos olhos dele, mas nada além daquilo faria sentido, o homem percebeu que Felix havia corrigido a trajetória de acordo com a esquiva dele no meio do movimento do golpe, isso não deveria ser tão absurdo, mas apenas se Felix não estivesse naquela velocidade.

– Oh!? – O homem estava surpreso.

O examinador se preparou para contra atacar no momento em que Felix recuasse, afinal esse era o esperado de alguém que usou toda aquela energia em um ataque que falhou, mas ele mal sabia que Felix não era conhecido entre os irmãos dele por ser o mais cauteloso, na verdade, ele potencialmente o mais insano, muitas vezes sendo chamado de louco sorridente ou diabrete. Quando Felix ficava empolgado em uma luta, era uma missão quase impossível fazê-lo parar até que estivesse satisfeito. O garoto surpreendeu o examinador com mais dois golpes marciais consecutivos, sendo eles uma joelhada com pernas trocadas e um soco cruzado, O avaliador tentou aumentar a distancia entre eles, mas Felix não planejava dar a ele a oportunidade de entoar oração alguma, diferente da maioria dos cavaleiros, que só aprendem a enfrentar Haidu, Felix havia recebido da guilda e de seu pai o treinamento para enfrentar outros despertos, em razão disso, o rapaz esteve tentando acertar pontos do corpo do adversário que comprometeriam o fluxo de energia heilig, ou o ato de entoar orações, mirando em seu estômago, caixa torácica, diafragma, garganta, cabeça, vez por outra tentando inutilizar os braços e mãos do adversário, bem como destruir a sua postura. Aqueles assistindo a luta não podiam acreditar no que viam, Klaus mal piscava.

– Ele é tão... – Murmurou Ralf. – Fraco. – Disse sobre o examinador de grau Vertraut. – Quero dizer... não é que ele seja realmente fraco, mas eu esperava mais. – Falou.

– Ele não é fraco, Felix que é um monstro fora da curva. – Respondeu Hansel.

– Olha quem fala, um puto que despertou um atributo raro. – Leon comentou indignado.

– Olha o palavreado. – Reclamou ele. – De todo modo, de nada adianta ter um atributo como esse com um núcleo tão limitado e baixa estamina, ainda me falta muito. – Externou Hans.

Felix ainda se divertia em sua avaliação, seu oponente se mostrou um manipulado do heilig tipo terra com alto poder defensivo, entretanto, uma vez que o garoto recobrou o juízo e se lembrou que a prova tinha tempo para acabar, abandonou o combate e passou a tentar pegar o item pendurado, sendo plenamente capaz de realizar o feito sem grandes dificuldades. Ao olhar para a ampulheta com a areia quase no fim, o jovem suspirou aliviado.

– Essa foi por pouco, quase perdi. – Disse o garoto sorridente já com o objeto em mãos. – A Irmãzona Erna não ia deixar essa passar se eu tivesse perdido porque fiquei empolgado. – Falou para si mesmo.

Felix deu as costas para o examinador e deixou a arena, não parecia em nada com a pessoa que antes estava tão interessada no combate, sequer se lembrava da ofensa da qual toda aquela situação surgiu, ele não se importava mais com isso. Quando já estava perto dos irmãos, o garoto acenou com a bandeira de forma bem animada e descontraída. Sem nada mais para fazer ali, o examinador deixou a arena também, parecia levemente confuso com o que acabou de acontecer, tudo estava tão frenético antes e de repente se deu uma calmaria. O garoto foi bem recepcionado por seus irmãos.

Quando os examinadores trocaram com outros e se prepararam para dar continuidade à avaliação, mais um grupo de dez candidatos foi convocado para a arena, Leon, Ralf e Erna faziam parte desse grupo. Eles passaram pelo mesmo processo que Felix, receberam carinho e palavras de motivação, então se dirigiram para suas áreas designadas.

Leon entrou na área em silêncio, mas no instante em que a ampulheta foi girada, ele começou a murmurar algo em voz baixa, a mulher diante dele o fitou com cautela, aparentemente pretendia dar a ele o direito da iniciativa, mas não o fazia por consideração ou por sentir que era mais forte e sim por precaução, principalmente depois que o combate de alguém que ela reconheceu fazer parte do grupo da pessoa a sua frente, isto é, a avaliação de Felix, lhe mostrou que talvez não fosse uma boa ideia supor que todos os candidatos que não faziam parte de uma família nobre eram inábeis. Contudo, Leon não fez nada, ele ficou ali olhando fixamente para sua avaliadora, a mulher começou a ficar inquieta, nada daquilo fazia sentido para ela, o rapaz não teria vantagem alguma em gastar seu precioso tempo daquele jeito. A volta deles estava um caos, havia muita gritaria e golpes estavam sendo aplicados, Ralf estava fazendo uma demonstração bem extravagante, Erna não fazia tanto barulho, mas os demais participantes praticamente estavam dando a vida para pegar a bandeira.

– Vai ficar aí plantado? – Provocou ela.

– Terá que me perdoar. – Pediu Leon. – Eu estava tão absorto em sua beleza que me tornei incapaz de tomar qualquer ação.

Felix usou o vento para bisbilhotar a conversa do irmão, ele também estava curioso diante a ociosidade do rapaz, ao ouvir a cantada infame acabou por ir e repassar a informação para os demais, Hansel não pôde crer na falta de vergonha, Johann enrubesceu com a audácia e Leona fez um comentário maldoso sobre a personalidade galanteador do irmão gêmeo, Frieda suspirou pesadamente. Contudo, os irmãos não puderam criticar a engenhosidade por trás do plano de Leon, uma vez que eles claramente, na posição de espectadores, estavam vendo o todo do que acontecia na arena. Os demais examinadores e auxiliares em espera não podiam interferir nas avaliações a menos que alguém estivesse morrendo, Klaus achava inacreditável que um plano tão estapafúrdio estivesse funcionando, ele avaliou a quantidade de heilig sendo utilizada, a consistência da oração entoada e seu efeito, a lábia de Leon.

A mulher mantinha o olhar nele, fingiu não ter ouvido a cantada e se manteve atenta ao heilig dele, ela tomou ciência de que ele o estava utilizando, mas não estava tão constante e estável que era difícil saber se ele estava se preparando para fazer algo ou se já tinha feito, a avaliadora tentou discernir qual o atributo ele manipulava, olhava para ele, de olho no menor de seus movimentos, olhava para cima e para os lados a fim de não sofrer nenhum ataque surpresa, também estava atenta ao chão sob seus pés, não queria ser tragada pelo solo se ele fosse um manipulador do atributo terra. Tudo aquilo parecia ocorrer em um longo tempo, mas mal tinham se passado dois minutos quando Leon finalmente se moveu.

– É realmente uma pena machucar um rosto tão bonito. – Disse ele. – Mas não se preocupe, eu conheço uma manipuladora de heiling do atributo água muito poderosa, ela vai curar você direitinho. – Leon espalmou a mão esquerda e posicionou as unhas da mão direita na palma dela, como se fossem garras. Aquele era um selo de concentração para uma oração de atributo terra, uma oração de primeiro grau de classe alta.

A mulher recuou dando um pequeno salto para trás, pousando no chão com pernas um pouco separadas, braço direito estendido na frente do corpo com a palma voltada para Leon, o outro braço estava recolhido e o punho fechado repousava junto a cintura, semelhante a uma pose de artes marciais, ela estava pronta para proferir uma oração defensiva.

– Então é um manipulador de atributo terra. – Constatou. – É uma pena, pois também sou e não acho que vou perder em um combate. – Disse enquanto se posicionava.

O heilig de Leon se agitou um pouco mais, a mulher deduziu que a quantidade era baixa demais para o golpe que ele estava prestes a aplicar, se perguntava de onde vinha a confiança dele. O chão começou a tremer... não, ele já estava tremendo antes, mas era tão fraco que a Vertraut ignorou até agora, chegou a pensar que ele vinha de outra área e estava sendo causado em outros combates, sua mente a informou todo esse tempo que o Leon lançaria um ataque a qualquer momento, o combate de Felix a deixou mais cautelosa que o normal. Leon começou a proferir uma oração e isso a confundiu outra vez, estava pensando demais?

Zenipo... – O rapaz começou a proferir, mas parou subitamente. – Brincadeirinha! – Disse erguendo as mãos, desfazendo o selo.

– An!? – Ela foi lançada ainda mais em confusão.

– Ele está se exibindo. – Leona comentou para os irmãos. – Que tipo de performance preguiçosa é essa?

– Deixa ele, sabemos que ele sempre foi assim, sempre evitando combates que julga desnecessário, sempre buscando um meio de resolver as coisas com mínimo de conflito possível. – Falou Frieda.

– Ou só está sendo preguiçoso mesmo. – Argumentou Hansel.

Leon apontou para um ponto atrás da examinadora, ela hesitou um pouco, mas virou o rosto cautelosamente, e é claro que ela se surpreendeu com o que viu.

– Onde está? – Perguntou enquanto varria o lugar em busca do mastro que tinha desaparecido. – O que fez com ele? – Foi então que ela olhou de volta para onde Leon estava e viu que o mastro já emergia ao lado dele. – Mas que porra... – Bradou ela.

Vendo que o cuidado para não ser pego já não era mais necessário, Leon liberou mais heilig e acelerou o processo de emergência, a mulher estava furiosa e envergonhada, havia sido feita de boba diante de todas aquelas pessoas, a bandeira ainda não tinha emergido então ainda dava tempo de evitar que o candidato a apanhasse.

Nevron un iumir! – Entoou ela. A mulher uniu os dedos ao polegar, com exceção do indicador, formando um aro, fez isso com as duas mãos, imediatamente um círculo sagrado surgiu sob seus pés e então se expandiu cobrindo toda a área de avaliação de Leon. O chão endureceu e se tornou uma superfície quase lisa. Em tradução ela disse: Endurecimento de superfície.

O feito daquela oração cancelou a de Leon e o poste parou de emergir, a mulher não lhe deu tempo de tentar nada, avançou sobre ele no intuito de afastá-lo do mastro, desferindo-lhe um golpe. Leon estava decidido a encerrar aquilo sem um combate, ele esquivou do primeiro ataque dela e se preparou para contra atacar, cerrou bem o punho e golpeou, mas o golpe não foi direcionado a mulher e sim ao solo sob seus pés, o golpe arrebentou o chão e seu punho penetrou o terreno destruído, ele apostou que sabia onde estava a bandeira e venceu, quando puxou a mão trouxe com ela o tecido azul em uma haste destruída, já não dava para chamar aquilo de bandeira. A mulher parou o golpe que estava prestes a deferir no meio do caminho, assim que viu o objeto já sujo de sangue na mão avariada de seu avaliado. O choque da mão contra o terreno extremamente duro fraturou várias das falanges proximais da mão direita de Leon, bem como os metacarpos dos dedos anelar e indicador,  o capitato, o Hamato e o trapezóide. A dor era terrível, mas Leon cerrou os dentes e aguentou firme, após alguns segundos ele relaxou e se concentrou em outras coisas a fim de mitigar a dor. 

– Você é completamente louco, nunca vi ninguém sã socar um chão endurecido como esse de propósito. – Falou ela desfazendo a postura, a avaliação dele estava encerrada. – Os ossos dos seus dedos devem ter virado pó, não vou te julgar se você chorar.

– Você não conhece a minha irmã gêmea e meu irmão esquentadinho, se eu chorar por depois de fazer uma cena como essa não me deixarão viver em paz. – Disse ele entre dentes. – Além disso... – Ele suspirou para suportar a dor. – Eu já lhe disse que conheço uma manipuladora do atributo água poderosa, minha mão vai ficar bem. – Garantiu ele.

– Se você diz... – Comentou a mulher. – Sua avaliação acabou, é vergonhoso admitir que fui derrotada dessa maneira bizarra, mas é mérito seu. Você está dispensado.

Leon deixou a área e se dirigiu aos seus irmãos, fingia não sentir nada.

– Não vou nem perguntar o que passou pela sua cabeça. – Leona fingia não se preocupar com o ferimento do irmão, mas ele sorriu pois ela não estava fingindo muito bem.

Erna viu de esguelha quando Leon deixou a arena machucado, estava satisfeita por ele ter pego a bandeira, mas queria ir logo dar um jeito na mão dele.

– Tem certeza de que deve ficar prestando atenção em outras coisas? – Indagou o homem à sua frente.

Ironicamente, Erna avaliou seu examinador, até mesmo trocou alguns golpes com ele, ficou muito satisfeita ao descobrir que ele não manipulava heilig de atributo raio e sim de atributo fogo. O simples fato dela manipular atributo água deixa qualquer manipulado de fogo mais cauteloso, salvo em situações onde a diferença de poder é claramente muito grande, o que não é o caso. O avaliador sabe muito pouco sobre as habilidades atléticas, de heilig e de combate de Erna, porém a menina já espera que ele seja um bom combatente, considerando que recebeu treinamento. A regra de não poder matar era ruim para os dois, teriam que se medir e ter o cuidado de não se exceder.

Naguren peno. – Erna entoou e um círculo sagrado surgiu acima da cabeça do examinador. Ela simplificou a oração, em tradução Erna disse: chuva de dardos.

As finas gotas de água assumiram uma densidade diferente, era como se ela se comprimisse formando pequenas agulhas. O examinador tentou evitar as agulhas, mas se viu obrigado a se proteger de outra forma.

Damen un viratis! – Disse invocando uma barreira de fogo para se proteger, o que lhe deu abertura para sair do raio do ataque. – Hamatsuren, viratis xu Tengo: – Ele já iniciou uma nova oração. – Perf viraczi. – Em tradução ele disse "Convergência, fogo e terra: Saraiva flamejante" e como a oração sugere, do círculo sagrado que surgiu na frente dele foi disparado projéteis de pedra em chamas.

Erna foi surpreendida, era a primeira vez que via alguém simplificar uma oração de convergência, mas ficou satisfeita em receber um novo conhecimento. Contudo, ela não podia se dar o luxo de ficar maravilhada no meio de um conflito, enquanto fazia o melhor para não ser atingida pelos projéteis, ela já começara a entoar uma oração defensiva.

Magunio lensun voratil. – Entoou Erna, invocando para si um escudo de água turbulenta. Em tradução ela disse: Escudo torrente impetuosa. O escudo foi eficiente o bastante para apagar as chamas e reduzir significativamente a velocidade das pedras, mas algumas delas não se detiveram com a barreira.

O examinador desfez seu círculo sagrado para entoar outra oração ofensiva, mas desta vez foi a vez de Erna surpreendê-lo com algo que ele nunca tinha visto antes. A garota não desfez o círculo defensivo, em vez disso entoou uma oração sobrepondo a anterior para ganhar tempo, reescrevendo o círculo sagrado anterior a fim de criar um novo.

Lifare isvo! – Entoou ela, agindo antes que ele pudesse responder de imediato. Em tradução ela disse: Afluentes vorazes.

Aquela era uma conjuração estranha, era veloz e massiva, tentáculos de água se estendiam para fora do círculo aos montes, perseguindo o examinador sem descanso, fazendo-o ter que esquivar e recuar, hora tentavam agarrá-lo e hora tentavam chicoteá-lo, os tentáculos, chicotes ou braços, chame como achar melhor, se moviam de forma desuniforme e imprevisível, o homem viu um dos chicotes acertar o chão e o vão que ele abriu deixou bem claro que ser golpeado por um deles poderia lhe custar um membro, ele se perguntava se a mulher tinha enlouquecido e decidido matá-lo, mas de repente os ataques cessaram e os tentáculos se se desfizeram no ar pulverizando o solo com a água. O examinador olhou para Erna e suspirou derrotado, agora fazia sentido ela ter usando um ataque tão extravagante e perigoso, a garota o mediu e concluiu que ele não morreria com aquilo, ao mesmo tempo, ela usou um dos braços de água para capturar a bandeira sem mais esforço. O avaliador riu, ele não podia crer no quanto foi manipulado.

– Obrigada! – Disse Erna. – Hoje aprendi algo novo. – A garota falava da oração simplificada de convergência.

– Sua avaliação acabou. – Falou o homem. – Pode deixar a arena.

Erna o fez sem dizer mais nada, queria ter aproveitado mais do tempo do teste para descobrir mais sobre o que um cavaleiro de grau Vertraut tinha a oferecer, contudo sentia que precisava chegar até Leon para curá-lo logo o que a levou a encerrar o experimento mais cedo. Ela caminhou elegantemente até seus irmãos, mas antes de dizer o que veio a seguir é necessário voltar no tempo e ver o que Ralf esteve fazendo em sua própria avaliação, enquanto Erna "experimentava".

Ralf levou muito a sério as palavras de Frieda quando ela disse "Eu não vou me conter", isso ficou bem claro desde as primeiras palavras ditas ao examinador depois que a ampulheta foi virada.

– Escute bem, não é nada pessoal, mas eu tenho que pegar aquela bandeira e para isso eu tenho que passar. – Disse ele. – Mas fica a seu critério escolher se será por você ou por cima de você. – Não havia prepotência no tom de Ralf e por isso o examinador levou um pouco mais de tempo para processar o que tinha acabado de ouvir e se ofender. Do ponto de vista de Ralf ele apenas tinha sido direto.

– Ou podemos ficar com a terceira opção, onde eu te uso para limpar o chão e no fim te coloco sob a minha bota. – O examinador respondeu.

– An!? – Ralf estava surpreso com a resposta, ele nem percebeu que tinha começado uma briga. – Depois não vá chorar. – Murmurou ele para si. – Eu bem que tentei ser amigável e resolver na conversa como o Leon geralmente faz.

– Está com tanto medo que começou a rezar em voz baixa para algum deus? – O examinador esquentadinho perguntou.

Silêncio. Ralf o encarava com uma expressão neutra, de repente ele fez menção de dar um passo, mas em um piscar de olhos já se encontrava na frente do examinador, bem perto do homem.

– Repete. – Ele pediu em tom calmo.

– Espero que o esquentadinho não tenha esquecido que não pode matar o examinador. – Hansel comentou.

– Ele não faria isso. – Félix comentou como se fosse óbvio.

– Não faria? – Johann olhava para o lugar onde Ralf estava, então olhou para Felix.

O garoto sorridente desviou o olhar para fugir da pergunta.

– Eu acho... – Falou por fim.

– Relaxem, ele é sangue quente, mas não faria isso. – Falou Leona.

– Você parece ter muita certeza disso, já viu o jeito que ele encarou o examinador? – Perguntou Hans.

– Ele não vai fazer isso por dois motivos. – Argumentou ela. – O primeiro é que ele não mataria alguém gratuitamente e vocês sabem bem disso.

– E o segundo? – Indagou Felix.

– Não é óbvio, ele não fará isso porque não é o que Frieda quer. – Respondeu Leona, ela já tinha percebido a verdade a muito tempo, antes mesmo dele criar coragem para falar com Frieda, talvez antes dele sequer ter certeza sobre o que sentia, afinal Leona sempre foi assim, sensível aos sentimentos alheios. Ela não comentou com ninguém por sentir que não tinha esse direito.

Frieda dividia sua atenção entre os três na arena, estava admirada com a perspicácia de Leon e satisfeita com a situação de Erna, fazia tempo que não a via tão entusiasmada com algo, é claro que ela também manteve seu olhar sobre Ralf, estava preocupada pois o conhecia muito bem, sabia como sua tenacidade o tornava poderoso, mas também podia prejudicá-lo, tal qual o remédio que cura na dose certa e mata na dosagem incorreta. A garota sentiu culpa quando Leon retornou para ela com a mão ensanguentada, as vozes em sua cabeça não lhe davam descanso, sempre a mantendo senciente quanto ao fato de que cada arranham que seus irmãos sofressem nessa sua busca por vingança, a busca pelo comprimento do próposito que abraçou após a morte de seu pai, seria sempre culpa dela, quer isso seja verdade ou não. Enquanto Ralf ainda lutava com seu examinador, Erna terminou sua avaliação e veio para curar Leon.

O tempo estava acabando, o examinador tomou golpes severos e em algum momento deixou de lado todo aquele seu orgulho e dirigiu seu foco a defender o mastro com a bandeira. Ralf atacava e tentava passar sem usar as opções que potencialmente matariam o adversário, havia orações que só deveriam ser usadas contra os Haidu, e isso não era apenas porque a lei exigia isso e sim porque não era ético.

– Me deixa passar, para de ser chato. – Disse ele ao reduzir a distância mais uma vez e golpear o orientador com o joelho e os punhos sucessivamente. Estava impaciente.

– Você é algum monstro por acaso? – O examinador perguntou e então cuspiu sangue. – Quando é que sua energia vai acabar? A quanto tempo estamos nisso?

– Isso é porque você não simplesmente sai da minha frente, além disso, fique sabendo que eu nem sou aquele mais energético entre meus irmãos. – Falou o lobo.

– Você mal entoou orações, apenas usou as defensivas. – Falou o Homem. Ele não era mais do que cinco anos mais velho que Ralf. – Por acaso está me menosprezando?

– Antes fosse isso, o problema é que não tenho tanto controle de heilig como os outros, então posso acabar exagerando sem querer, não posso te matar por acidente. – Explicou ele e mais uma vez não havia uma única gota de arrogância ou prepotência em seu tom.

– Você é um cara estranho. – Concluiu o Homem. – Eu sou mais resistente do que pareço. – Disse ele após pensar um pouco. – Venha para cima com tudo se quiser a bandeira, não vai consegui-la de outra forma.

Ralf lançou uma olhadela na direção onde seus irmãos estavam e percebeu que Erna e Leon já haviam terminado, por um microssegundo seu olhar cruzou com o de Frieda, mas ele logo voltou sua atenção para seu examinador.

– Não tem jeito. – Ralf suspirou. – Eu preciso dessa bandeira. – Disse ele. – É melhor você cerrar os dentes. – Aconselhou.

O homem levantou a guarda para se defender, Ralf colocou toda sua energia em velocidade, ele partiu para cima do homem e instintivamente o examinador ergueu mais ainda sua guarda, o que comprometeu sua visão, ele esperou pelo golpe, mas o impacto não veio, então o examinador baixou um pouco a guarda e procurou pelo lugar de onde o lobo viria, mas tudo que encontrou foi um rapaz terminando de apanhar a bandeira.

– Mas o quê...? – Ele questionou ao vento.

Ralf já estava com a bandeira na mão, agora percebia que tinha sido notado.

– Ah!? Isso? Isso eu aprendi com Leon, ele é um trapaceiro duas caras. – Disse ele ao examinador. – Aquele cara roubaria até da mãe no carteado. – Comentou.

– Leon? – Inquirir o homem, estava confuso, do que raios seu examinado estava falando?

– É o meu irmão, você ainda não conhece e pelo bem das suas economias é melhor não conhecer.

Nesse momento Leon espirrou e comentou sobre possivelmente está ficando resfriado. Quanto ao examinador, esse gargalhou tão alto que sua risada pôde ser escutada em toda a base dos Cavaleiros Sagrados.

– Parece que nos preocupamos a toa. – Disse Hansel.

– Pelo que vejo ele fez um novo amigo. – Comentou Felix.

– Sua avaliação acabou, pode se retirar da arena. – Informou o examinador. – E Ralf, foi um prazer trocar golpes com você, espero ouvir o seu nome.

– Certamente ouvirá. – Ralf respondeu e então se retirou da arena.

Quando chegou para junto de seu grupo, o rapaz foi recebido com parabenizações e provocações, contudo eles não tiveram muito tempo para celebração, pois a próxima rodada estava preste a começar e o nome de Frieda foi chamado,  porém, esse não foi o motivo por trás do clima que começava a pesar, o motivo para tal estava na figura parada entre Frieda e o mastro na arena.

– Vai ficar tudo bem, Erna. – Foi o que Frieda disse para sua irmã de expressão preocupada diante da situação.



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Espero que tenham curtido o capitulo, esse foi para quem sentil falta matar a saudade na porrada, nos veremos no próximo <3 

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