Meio do Caminho
O silêncio era de alguma forma incômodo, infelizmente eu não tinha muitas escolhas visto ser o capitão do navio.
— Conte a ele professor, não tem muito o que fazer agora.
Ace passou os olhos entre nós — Me contar o quê?
Com cuidado e de uma maneira muito educacional, como um verdadeiro professor, Mihal explicou para o capitão. Que assim como outros integrantes do navio dele, eu era de uma raça diferente, extinta antiga, e principalmente caçada por conta dos meus olhos. Ele não parecia saber do meu poder, foi uma coisa boa evitar o usar em qualquer encontro com caçadores de recompensas e também com a marinha. Com um capitão forte como Ace, eu não precisava me preocupar com o resto, só tinha que fazer minimamente meu papel.
— Entendi, é por isso que é cautelosa — Ace disse —, não se preocupe [Nome] enquanto estiver conosco vamos a proteger como alguém do bando.
— E quem me protege de vocês mesmos? — respondi um pouco ácida — Masked está se segurando há algum tempo, se não fosse você ele teria colocado uma bala na minha cabeça.
Talvez fosse um pouco de exagero, mas precisava virar a situação para o meu lado.
— Confio nos meus tripulantes — o capitão rebateu com a voz séria —, ninguém fará nada se não tiver a minha permissão. Te deixei entrar neste navio, se alguém tiver algo para resolver que seja comigo.
Mesmo piratas têm seus códigos de conduta, de alguma forma esse lado protetor dele me lembra Shanks.
— Mesmo se eu disser que tenho mais coisas escondidas de você? — mirei seu rosto, focando em seus olhos, diferentes do meu, era como encarar floresta dentro numa noite sem luar.
Um sorriso se abriu, de orelha a orelha — Se está escondendo, deve ter um motivo.
Mihal comentou que todos eles tinham segredos, talvez ele também estivesse escondendo um e por esse motivo, não me pressionou a falar mais.
— Agradeço o voto de confiança Ace — respondi —, mas tome cuidado. O mar não é tão gentil assim, nem as pessoas que navegam nele. Independente da bandeira que leva no mastro.
— Vou manter isso em mente — ele riu e em seguida ajustou o chapéu —, sabe que tomei um susto quando te vi aqui. Mihal geralmente não fala com ninguém e também...
Fiquei esperando ele continuar.
— Não sabia que tinha alguém tão bonita no meu navio.
Essa frase me pegou de surpresa, a ponto de eu não saber se meu rosto estava quente pela minha habilidade se manifestando involuntariamente ou de vergonha. Sem esperar para descobrir, voltei a cobrir o rosto e então me despedi rapidamente
Não olhos de ouro, mas como o sol. As palavras dele ficaram rondando a minha cabeça por algum tempo, foi a primeira vez que ouvi algo parecido. Andei para o lado de fora, sendo recebida pelo mesma coisa a quem fui comparada.
Podia ter parte dele correndo nas veias da minha raça ancestral, mas enquanto ele ficava no alto do céu brilhando para todos, eu me escondia o máximo possível em suas sombras.
Os dias continuaram passando, e com eles o caminho da Grand Line também. Sabia estarmos chegando a sua metade e isso só podia significar uma coisa, logo teríamos que atracar em Sabaody.
— Eu odeio aquele lugar — comentei com Gallie numa noite em que estava de vigia na proa do Piece of Spadille, acariciei suas penas ganhando uma bicada de leve nos dedos.
— Que lugar?
Virei rapidamente, Ace estava se aproximando, se apoiando na lateral assim como eu. Depois da conversa com Mihal, ele estava estranhamente atencioso aos meus arredores, e também falante. Não que fosse simpático antes, mas parecia querer ganhar a minha confiança.
— Arquipélago Sabaody — respondi.
Ace resmungou — Hum, Skull me disse que é um ponto turístico ou algo do tipo, já que é na entrada do Novo Mundo. E que deve ter muitos restaurantes bons lá.
— Por cima, sim — um riso sarcástico deixou minha boca —, mas também tem o pior que se pode oferecer. Tem muitas áreas sem lei no arquipélago, lugares onde o Governo não consegue controlar, não é apenas a Marinha, tem caçadores de recompensas, escravagistas e o meu terror pessoal, dragões celestiais.
— Mas são apenas três dias para fazer o tal revestimento.
Ray conseguia fazer em dois, mas guardei essa informação para mim. Dependendo da área que eles parassem poderia visitar Shakky, mas caso estivéssemos muito longe. Não queria usar a minha sorte andando num lugar como aquele.
No dia em que chegamos, Skull repetiu as mesmas palavras, enfatizando para o capitão que ele não deviam se meter em encrenca até que o revestimento terminasse. Mas claro que Ace estava mais interessado nas comidas que poderia experimentar assim que saísse do navio.
— Vou ficar de olho nele. Se ninguém cuidar de Ace, é provável que ele saia por aí e coloque fogo em algum nobre do governo mundial ou algo do tipo.
— Mask, não diga isso — Skull levantou as mãos — Posso ser o cara das informações, mas nem eu previ algo do tipo. Não faça isso capitão! Não ouse, e isso não é um desafio!
O informante chegou a se virar para os lados em pânico fazendo com que a tripulação risse, nisso o navio parou, deixando todos mais tranquilos por não precisar mais manobrar dentre as raízes da árvore. Nesse mesmo instante, antes que qualquer um pudesse colocar os pés para fora, um grito ecoou.
— Punhos de Fogo! Saia pacificamente, dessa vez você está preso.
Dessa vez até Gallie reclamou, Isuka estava de prontidão na margem de braços cruzados e olhando para o navio esperando que o capitão atendesse ao seu pedido.
— Lá está ela de novo — resmunguei — tenho que dar pontos pela insistência.
Desde que nos encontramos pela primeira vez, a "Pregadora" pareceu se tornar obcecada em capturar Ace. Sempre que a tripulação dava um jeito de fugir dela, a marinheira voltava a nos encontrar no próximo destino, mas no fim o Punhos de Fogo sempre ficava livre.
Ace ficou no deck do navio — E aí Isuka? O que você está fazendo aqui? Está de férias?
— Claro que não, eu vim aqui para te prender idiota!
O que claramente era uma mentira, visto que ela não vestia seu usual uniforme da Marinha, tinha roupas causais no corpo, como aquelas dos turistas. A garota tinha um forte senso de justiça e diversas vezes provou ser honesta até demais, mesmo quando não devia. Isuka sempre exitava em dar o golpe final e era assim que Ace conseguia fugir.
— Pelo menos ela não trouxe seus homens dessa vez — Skull comentou, aliviado. — Tenho certeza que conseguimos nos livrar dela como sempre.
— Sim. Podemos esconder o navio de novo depois — Masked Deuce concordou.
— Se conseguirmos — me coloquei na conversa —, pelo jeito que aqueles dois estão discutindo, não vamos sair daqui por um tempo.
— Ela é uma cabeça dura — Skull se apoiou na lateral no navio — fico com inveja de certa forma. Queria uma mulher cabeça dura correndo atrás de mim dessa maneira.
Claro que entre os diversos tripulantes, ter alguém como ela aparecendo de tempos em tempos causava todo tipo de história fantasiosa.
— Ela é da marinha — Masked disse o óbvio.
— Eu sei, eu sei.
Todos eles estavam tão entretidos que não viram que Ace acabou escapando pelo outro lado do navio, também fugindo da visão limitada de Isuka que estava encarando para a lateral como se só existisse aquilo. Eu estava me preparando para fazer o mesmo quando a porta que dava para o interior no navio se abriu.
— Onde está Ace?
Era Mihal que aparecia numa pequena fresta.
— Que surpresa! — Masked disse ao ver os óculos e bigodes aparecendo pela fresta.
— A carteira de Ace caiu no chão, na frente do meu aposento.
Os tripulantes ficaram brancos e novamente o pânico de Skull voltou a aparecer.
— Isso é péssimo Mestre Deuce! O que faremos agora? Nesse ritmo ele vai fritar um nobre mundial!
Era fácil imaginar alguns cenários para a situação, muito podia acontecer em três dias para revestir o navio, e até lá não poderíamos deixar a Sabaody. Qualquer problema deveria ser evitado, qualquer problema além de Isuka, é claro. Fazendo um julgamento rápido, ter Ace metido com qualquer coisa próxima a um dragão celestial fez um calafrio correr pela minha espinha.
— Vi por onde ele foi, podemos contornar o navio e ir atrás dele — me ofereci.
— Por que faria isso?
— É ruim para todos nós se acontecer algo — respondi ao imediato. Masked era inteligente, então apesar de não gostar de mim, ele aceitou minha sugestão. Gallie nos levou para o outro lado e depois retornou para o navio.
Estávamos na área industrial e mesmo correndo, o imediato estava interessado em como Sabadoy. Especialmente vendo as bolhas que nasciam do chão de raízes e os veículos e prédios que faziam uso delas.
— É sua primeira vez aqui? — tentei puxar uma conversa.
— Não é a sua? — respondeu com outra pergunta.
— Não, já estive uma vez. Quando mais nova, já faz alguns anos.
Ele ficou em silêncio por alguns instantes antes de escolher me responder educadamente — Nunca vi nada como isso, é fascinante. As raízes não são apenas o chão sólido, são o motor econômico para as pessoas que moram aqui.
Aposto que para alguém que só vê o lado de fora, deve ser isso mesmo.
— Comeu e fugiu!
— Ele foi por ali.
Gritos furiosos de comerciantes enchiam o distrito comercial logo na entrada. Os corredores cheios de pessoas e com todos os tipos de comida tinham um rastro de donos de lojas procurando Ace. Masked respirou fundo e com a carteira do capitão em mãos foi até o fim da fila negociando com cada um dos comerciantes se desculpando.
Enquanto isso, eu ajustei o capuz na minha cabeça e procurei a fonte do problema, o encontrando na área do Parque Sabaody. Próximo a roda gigante.
Assim que o imediato terminou de pagar o último homem da fila o avisei, apontando na direção de Ace. Ele estava sentado num banco, dormindo. Cochilando com as bochechas ainda cheias de comida e espetos de carne pela metade em ambas as mãos.
— Se você quer comer algo, deve pagar por ela! — Masked Deuce bateu na testa do capitão.
Lentamente ele acordou, e olhou para os lados ainda com cara de sono. Engolindo o que tinha na boca num movimento único e em seguida mastigando o que restava de comida em suas mãos.
— Wah, isso estava bom. Realmente corri demais. Corri tanto que já estou com fome de novo.
— Como diabos seu corpo funciona? — Masked pareceu falar mais para si do que fazendo um questionamento real. — Aqui, não cause mais nenhum problema.
— Minha carteira! Espera — Ace a balançou —, está mais leve do que eu me lembro.
— Claro que está.
Apesar de ter visitado o lugar com a tripulação do ruivo anos atrás, nunca vim ao parque. De perto a roda gigante até que era bonita, crianças corriam de um lado para o outro gritando animadas, namorados trocavam juras e presentes pelos cantos. Todas as bolhas brilhavam furta-cor quando iluminadas pelos raios que atravessavam o topo da árvore.
Mesmo assim, não era uma paisagem que eu podia me pegar apreciando, pelo contrário. Agora que resolvemos o problema com Ace, me peguei pensando em como sair dali o mais rápido possível. Porém, antes de conseguir, me senti sendo puxada.
— Já estamos aqui de qualquer forma, vamos andar nela!
Sem saber exatamente o porquê fui empurrada por Ace na direção da atração, Masked também não fugiu disso. O atendente da roda gigante sorriu e então apontou para o degrau onde uma das gôndolas feitas de bolha se aproximava.
— Aproveite as incríveis paisagens do Arquipélago Sabaody — disse abrindo a porta.
— Vamos, vamos. — o capitão me empurrou sendo seguido de Deuce a porta estava para fechar quando uma nova voz apareceu.
— Finalmente te encontrei, Punhos de Fogo! Já tive o bastante de você se esgueirando e fugindo!
— Não seja doida!
Enquanto ela gritava acusações e Ace protestava, Masked Deuce estava praticamente amassado em mim no canto da gôndola. Foi bem nessa hora que um clique soou, indicando que a porta da gôndola havia se fechado.
Três piratas e uma segunda-tenente da Marinha, simplesmente fantástico. O que pode dar errado?
N/A: Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!
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