Alerta para tortura.
*** - Mudança de Narrador

Minha visão estava turva e cabeça latejava pendendo para os lados, não conseguindo manter a posição por muito tempo. Tentei mexer as mãos, mas elas estavam amarradas firmemente, limitando a movimentação.

— Oh a princesa acordou? — alguém pegou meu rosto e me forçou a olhar para cima, as vestes eram da marinha, mas não de um soldado comum, a capa jogada nos ombros indicavam que era alguém superior.

Estava uma cabine luxuosa, móveis brilhantes, estantes veludo e sentado numa poltrona de maneira desleixada estava o pirata que Shanks resgatou na tempestade. Um olhar cruel e afiado sendo direcionado a mim, já era estranho o suficiente um pirata trabalhando com a marinha.

— Como uma coisinha como você acabou no Red Force? E por que o capitão se importa tanto? — o marinheiro se virou para o pirata, o homem deu dois tapas leves na minha bochecha — Tem certeza que o ruivo vai vir atrás dela?

— Sim — respondeu o pirata um sorriso maldoso — Não tem como ele não vir, nesse momento a cabeça de Shanks será sua.

O marinheiro gargalhou e fechou as mãos em punho — Duvido que o Sr. Who's Who duvide das minhas habilidades depois disso.

Andando até a mesa que tinha no canto, o homem abriu uma gaveta tirando um pequeno saco de moedas e jogando na direção do pirata em seguida. — Está finalizado nosso acordo, saia daqui antes que eu resolva o prender também.

— Como quiser.

— Agora vamos ao que interessa — o marinheiro pegou a corrente que juntava as minhas mãos prendendo num gancho acima da minha cabeça, me forçando a ficar numa posição totalmente vulnerável onde não conseguia sequer tocar com os pés no chão. — Quais os planos do ruivo?

Fiquei quieta, tranquei o maxilar deixando claro que não tinha intenção nenhuma de abrir a boca. Aquilo enfureceu o homem de maneira extrema, então tomando impulso ele me deu um soco no estômago, a madeira da viga que me sustentava rangeu tamanha força.

— Insolente — tomando um punho cheio do meu cabelo puxou a minha cabeça para o lado. — Tem sorte de eu já ter um destino para você em Sabaody, agradar um dragão celestial é um jeito bem rápido de subir algumas posições.

— Até melhor do que presentear o governo com a cabeça de um pirata inútil como Shanks, um desperdício de carne e osso.

— Shanks é uma pessoa muito melhor que vocês — disse entredentes —, egoístas de merda, só estão preocupados com sua própria fortuna e títulos. Podem estar vestindo ouro e seda por fora, mas por dentro estão podres.

— Com quem você pensa que está falando? — ele pegou uma ripa de madeira batendo nas minhas pernas. — Maldita imunda, diga de uma vez onde está o ruivo.

— Nunca vão pegar ele.

Um chute foi dado, e nesse momento eu ouvi alguns estalos, além de sentir uma dor insuportável nas costelas.

— Sorte sua que se batermos no rosto vai diminuir o seu valor como escrava. — ele disse enquanto eu grunhia de dor. — Vocês piratas não valem mais que as larvas que se alimentam dos corpos mortos.

Cuspi na cara dele. Desembainhando a espada mirou com a lâmina em minha perna, abrindo em seguida um talho na minha coxa esquerda. 

A partir desse momento as coisas só pioraram, sangue fresco escorria de cortes diversos que enfeitavam minha pele, me sentia fraca, mas não dei ao homem nenhuma resposta. Minha respiração estava curta, pois até mesmo suspirar me fazia sentir dores profundas.

Passos apressados se aproximaram seguido de batidas na porta de madeira.

— Capitão! Tiveram explosões nos navios do Senhor Who's Who e do almirante, estamos sob ataque de piratas!

— Finalmente — o pedaço de ferro quente foi afastado da minha pele apenas para deixar o cheiro de carne queimada. Um gosto metálico encheu a minha boca, havia mordido a própria língua para evitar dar ao marinheiro o prazer de me ver gritando e implorando pela minha vida.

Na distância ouvi tiros sendo disparados seguidos de detonações, parece que chegaram ao terceiro navio e até mesmo de onde eu estava senti as vibrações. Em pouco tempo me vi sozinha na cabine, vulnerável e patética.

Alguém como eu não deveria estar na tripulação do ruivo, era apenas um atraso. Nada além de um peso morto para servir de isca, colocando em risco a mesma pessoa que jurou cuidar de mim.

Um amontoado de carne imprestável.

Estava com raiva de mim mesma por me deixar ser capturada, por ser fraca. O que eu faria sem uma pistola, foi isso que Shanks me perguntou e agora sabia a resposta. Morrer, era só isso que restava.

O sangue escorria quente a ponto de queimar minha pele, mesmo longe do fogo até mesmo minhas lágrimas pareciam ferver enquanto cortavam o rosto até cair no chão. Apertei meus punhos, o calor se estendendo ainda mais pelas minhas veias e de repente nem mesmo o metal que o capitão do navio estava usando para me ferir se comparava com a ardência que parecia me rasgar de dentro para fora.

As algemas ficaram frouxas e num rápido olhar para cima percebi que o metal estava derretendo uma concentração de pontos luminosos em cada mão, como uma luva feita de raios de sol.

O metal incandescente caiu no chão queimando a madeira e de igual forma eu também caí de joelhos por não aguentar meu próprio peso sobre as pernas cobertas de feridas. Fumaça e fogo se erguiam da onde minhas mãos encostaram e cortes fundos ainda sangravam com vigor, se continuasse assim morreria por outros motivos.

A dor foi imensa, mas me deixou desperta o suficiente para conseguir me arrastar para fora, deixando uma trilha de chamas brilhantes consumindo o navio que ficava às minhas costas.

Quando finalmente cheguei na proa vi o caos que tinha se instalado, alguns tripulantes do ruivo estavam em confronto com os marinheiros, apertei a madeira do batente da porta e o fogo se espalhou rapidamente por todo navio. Dei mais alguns passos e sem ter mais apoio e voltei a bater com os joelhos no chão.

O Red Force estava por perto e quem estava atacando teria tempo o suficiente para voltar se eu causasse uma distração. Se fosse para minha vida valer alguma coisa mesmo no fim dela, que fosse para retribuir àqueles que cuidaram de mim por tanto tempo.

— Pessoal — a luminosidade que me tomou apenas as mãos se estendeu por todo o meu braço tomando meu corpo por inteiro. — Obrigada.

***

Quando Shanks retornou ao navio, encontrou um cenário bem diferente do que esperava. Havia corpos no deck e nenhuma pista a mostra de quem teria feito aquilo, e pior de tudo [Nome] não estava em nenhum lugar.

— Veja se tem algum sobrevivente, vamos separar em grupos e procurar pela ilha. Quem quer que tenha feito isso não deve estar longe.

— Shanks o que vamos fazer sobre os navios da marinha? Se o que eles falaram é verdade, vão aportar em pouco tempo.

— Oi, capitão tem um sobrevivente — um marujo chamou erguendo a mão.

— Homem, aguente firme, chamem o médico! — o capitão se ajoelhou ao lado do tripulante ferido — O que aconteceu?

Ele tossiu um pouco quase se engasgando com o próprio sangue.

— Se infiltraram no navio esperando um momento — o homem arfou —, atiraram nos vigias e levaram [Nome].

— Quem levou?

O capitão sacudiu o tripulante — Quem levou [Nome]!

— Aquele pirata que resgatamos semanas atrás.

Dois dias foi o suficiente para que ele conhecesse o navio e soubesse por onde entrar depois que tivesse aportado. A tripulação reduzida, um contrato com a marinha e seu destino estava feito. De quebra ainda conseguiria roubar a Akuma no Mi que o navio principal fazia a escolta.

Ao menos foi isso que achou, não esperava dar de cara com um pirata ruivo antes disso. A simples presença do capitão do Red Force fazia seus dentes rangerem.

— Temos algumas coisas para acertar.

N/a: Obrigada por ler até aqui!

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