Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 4

Assim que consegui levantar da cama e me arrastei até o boxe, tomei um banho demorado e aproveitei para lavar meus cabelos, a sensação da água na minha cabeça quase fez a ressaca ser esquecida, no entanto, ela permaneceu ali. Apenas a ignorei e segui em busca de me arrumar para ir à empresa. Sentia-me ainda enjoada com a sensação da bebida que continuava queimando minha garganta, talvez eu só precisasse de algo quente no estômago. Isso me fez pensar rapidamente na parte ruim de morar sozinha, já que eu mesma teria que esquentar algo, por sorte, a diarista sempre deixava tudo no ponto. Arrastei-me até a cozinha e peguei alguns itens para preparar meu café da manhã. Por fim, sentei-me à mesa, levando meu tempo para comer minha omelete de aveia com banana.

Depois disso, sentia-me um pouco melhor, peguei as chaves do carro e segui para a Novatore. Seria um dia daqueles, com milhares de coisas para resolver, processos que precisava dar entrada e outros para encerrar.

Como se não bastasse, ainda tinha que conversar com o meu pai, ele não podia continuar com essa ideia de demissão em massa e manteria minha postura em relação a isso, até o fim. Nem que fizesse uso do meu poder, se fosse o caso. Afinal de contas, ser sócia majoritária deveria significar algo nessa merda.

Herdei todas as ações da minha mãe e a metade das ações do meu padrinho que foi dividida entre mim e Alexsander. 

Aliás, lembrava-me perfeitamente da reação do meu pai na época, talvez achasse que eu fosse interferir em algo ou não soubesse o que fazer, mas depois acabou relevando e compreendeu que eu não tinha interesse em tirar sua autoridade dentro da empresa. De qualquer forma, nada mudou, pelo menos até esse momento. Eu nunca o questionei sobre nada, mas sentia que isso estava prestes a mudar porque talvez ele tivesse esquecido desse detalhe, já que não costumava me envolver nas decisões de forma tão direta.

Eram exatamente 9h quando caminhei pela recepção, uma puta dor de cabeça me assolando ainda, devido à ressaca.

— Bom dia, Ruth! —  cumprimentei uma das recepcionistas que já estava em sua mesa.

— Bom dia, senhorita Abigail! — Sorriu de forma simpática.

—  Meu pai já chegou?

—  Ainda não. Na verdade, ele virá mais tarde, tem reunião agora às 09h30.

—  Certo! Me informe quando ele chegar, por favor!

—  Claro, senhorita Abigail.

—  Obrigada, Ruth! —  Entrei na minha sala e fechei a porta atrás de mim.

Em minha sala procurei por algum remédio que fizesse essa banda de heavy metal suspender seu show em minha cabeça, era como se tivesse ao menos umas cinquenta matracas troando em minha mente. Vasculhei minhas gavetas, finalmente encontrei uma cartela contendo dois comprimidos. Isso, com certeza, aliviaria minha dor de cabeça.

Tomei os dois – o que não era recomendado –, e me sentei em minha poltrona com a cabeça apoiada no encosto e fechei os olhos, quando alguém disparou em minha sala. Permaneci com um olho fechado abrindo apenas o esquerdo.

— Meu Deus, Aby, eu sinto que irei morrer! — Victória entrou se arrastando até se jogar na poltrona ao meu lado. — Eu nunca mais bebo na minha vida...

—  Você diz isso desde a faculdade, Vic, sempre que acorda com uma ressaca do cão — resmunguei antes de rir de sua ladainha de sempre.

—  Eu sei, amiga, mas, dessa vez, é a mais pura verdade — dramatizou, jogando a cabeça para trás e se encostou na poltrona.

Sei.

Nós ultrapassamos todos os limites alcoólicos na noite passada, agindo como se fosse nosso último dia de vida na terra, agora sofremos as consequências de um dia pós-apocalíptico que não aconteceu. Eu apenas assumi meu erro e decidi seguir meu dia, já Vic continuava num morre não morre. Ela era muito engraçada, quando estávamos na balada tudo o que queria era encher a cara, extrapolando todas as barreiras como se não houvesse amanhã.

Só que havia.

Enquanto me mantinha quietinha, minha amiga passou longos minutos choramingando, fazendo o maior drama sobre sua dor de cabeça. A cretina me encheu tanto o saco que tive que pedir à Ruth para trazer algum remédio. Foi assim que a convenci a ir para a sua sala e me deixar em paz.

Assim que Ruth me entregou os comprimidos entreguei um a ela.

— Prontinho, agora vá para sua sala que eu preciso resolver algumas coisas, antes que meu pai chegue.

— Tá bom, não precisa me expulsar, já estou indo... e boa sorte, espero que consiga reverter os fatos — disse, andando até a porta ainda choramingando.

— Aiii... agora é sério... nunca mais vou beber, Deus, juro que ontem foi a última vez!

—  Deveria ter vergonha por usar o nome de Deus em vão. Cara de pau mentirosa! —  Peguei uma pequena almofada e atirei em sua cabeça, minha amiga murmurou palavras desconexas segurando a têmpora.

—  Sua...peste — xingou-me e eu gargalhei.

—  Tchau, Vic!

—  Certo, já estou indo. Ah, e caso vá até a minha sala e me encontre morta, diga ao Felipe que eu o amo e se ele se casar com outra, eu passarei o resto da vida miserável dele o infernizando depois de matá-la asfixiada. — Gargalhei alto antes de gritar por cima do ombro:

—  Espero que ele saiba que você é um projeto de psicopata... — Vic sorriu. Sabíamos que ela nunca faria isso, minha melhor amiga era tão apaixonada por Lipe que facilmente seria o contrário, ela poderia se transformar num cupido e encontrar alguém para ele, só para não o deixar sofrer sozinho por sua ausência.

Passei os próximos quinze minutos de olhos fechados, até finalmente ser deixada pelo incômodo no alto da minha cabeça. Ajustei a postura e peguei os primeiros processos que necessitavam de minha atenção naquele dia, já revisava o terceiro quando minha melhor amiga surgiu outra vez em minha sala, nesse momento trazendo dois copos com chá e me entregou um deles.

—  Minha eterna gratidão pelo comprimido, amiga, me sinto novinha em folha!

—  Fico feliz em ter ajudado, somente se lembre de sua promessa. — A biscate olhou para mim com os olhos arregalados.

—  Que promessa?

—  Nunca mais vou beber na minha vida...  —  Segurei minha têmpora, imitando-a. Quando a maluca pensou retrucar meu interfone tocou.

—  Senhorita Abigail, o senhor Novatore acabou de chegar!

—  Ótimo! Obrigada, Ruth, estou indo falar com ele.

—  Espero que consiga convencê-lo, amiga. —  Vic cruzou os dedos para mim.

É, eu também.

Não tinha o costume de ir até a sala do meu pai para falar sobre qualquer coisa, principalmente sobre negócios, mas me sentia na obrigação de confrontá-lo. Refleti por bastante tempo e estava com muito receio, precisava confessar, pois tinha certeza de que minhas palavras não lhe agradariam nenhum pouco.

Bati levemente à porta de sua sala, encontrando-o sentado em sua cadeira preta bizarra que mais parecia um trono de ferro moderno, no sentido metafórico, ou não, afinal, para ele não importava quantas cabeças rolariam para que tivesse seu maldito trono.

Como já esperava, meu pai não deu muita atenção a minha visita, sequer levantou os olhos quando me aproximei.

— Bom dia! O senhor tem um minuto? Tem algo que gostaria de discutir...

—  Do que se trata, é algo urgente? Eu preciso sair daqui a pouco para encontrar alguns acionistas...

—  Sim, é urgente, mas creio que não tomará muito do seu tempo. É sobre as demissões. — Assim que as palavras deixaram minha boca, meu pai imediatamente me encarou sério e um tanto surpreso. Como imaginei que aconteceria.

—  E o que tem a dizer sobre esse assunto? Está tudo resolvido, inclusive recebi e já aprovei a lista dos funcionários que serão desligados até o final da próxima semana. — Meu coração disparou com a notícia despejada com tranquilidade.

— Pai... compreendo que o interesse aqui é estritamente financeiro, porém, o senhor não pode fazer isso. Eu não quero que haja essas demissões, essa atitude é desum... — Ele ficou de pé me encarando com a sobrancelha arqueada.

—  Como assim eu não posso e você não quer? — Estreitou os olhos. Meu pai tinha olhos bem pequenos e castanhos que combinam perfeitamente com seu rosto fino, mas quando ele os afiava desse modo, tinha vontade de me enfiar embaixo do meu edredom e permanecer lá escondida. Respirei fundo, buscando coragem.

Não seja covarde, Aby!

—  Pai, e-eu... — pigarreei, tentando encontrar minha voz.

Você é uma advogada, porra, aja como tal!

—  Bem, peço que reconsidere. Há uma situação um tanto... delicada envolvendo essa decisão e não me parece correto pensarmos apenas pelo ponto de vista financeiro. O senhor deve saber que essas pessoas não têm perspectiva alguma em relação a outros trabalhos, aquela região não lhes dá muitas oportunidades e, sinceramente, isso me preocupa muito, me preocupa o fato de que essas famílias não consigam nada e acabem numa situação absurdamente desigual, nós não podemos... — Sua voz gélida me interceptou no meio do discurso.

—  Ora, Abigail, não seja tola, essas coisas acontecem e não podemos nos responsabilizar pela vida de todos. Cada um é dono de si e deve ter total responsabilidade sobre a sua própria vida, não somos centro de caridade. — A frieza em suas palavras fez meu estômago se revirar, sem acreditar no que acabei de ouvir.

—  Eu não posso acreditar que o senhor pense mesmo dessa forma, isso é absurdo. É claro que existe responsabilidade. Nossa empresa abrange centenas de milhares de pessoas e nós precisamos nos preocupar com o bem-estar delas, precisamos considerá-los não só como funcionários, mas também como indivíduos.

—  Muito comovente seu discurso, filha, mas creio que seus dotes como assistente social não terão muita serventia por aqui... — debochou, fazendo-me ranger os dentes. Ele também não parecia acreditar no que eu dizia, ficou ali me observando como se eu fosse de outro planeta.

Sempre achei meu pai um tanto mercenário, mas não esperava que fosse tanto assim, muito menos que agisse como se não fosse um ser humano.

Como alguém podia, simplesmente, ligar o foda-se dessa maneira?

Meu pai voltou a sentar tranquilamente, movendo as peças de seu precioso tabuleiro, puxei o ar com tanta força que senti meu peito pesar, minha vontade foi gritar a plenos pulmões e jogar a porra da mesa pela janela. Ele agia como se isso tudo fosse menos que porra nenhuma, não se importando com nada, além de proteger sua maldita rainha em seu jogo idiota. Continuou olhando para a mesa estudando algo sem fazer menção alguma de me dar uma resposta quando rosnei já sem conseguir disfarçar minha irritação.

— Você realmente está falando sério?

—  Não fui claro o bastante, Abigail? Está decidido, não há nenhuma possibilidade de eu mudar de ideia. Se era só isso? — Meu sangue fervilhou nas veias, aproximei-me de sua mesa de forma mais firme. Minhas palmas ficaram estendidas sobre o vidro quando meio que me debrucei sobre ele, evitando que movesse outra peça da peste do jogo.

—  Não, não está nada decidido. Eu vim até aqui conversar com você e tentar fazê-lo mudar de ideia, mas parece que não chegaremos a um acordo então...

—  Então... você está aqui como advogada dos maltrapilhos, é isso? —  Riu cheio de ironia, o que me deixou mais enojada.

—  Eu vim até aqui como advogada dessas pessoas e tentei dessa forma resolver tudo da melhor maneira possível, mas nem sempre a justiça acontece como precisamos. Então, a partir de agora eu estou me reportando a você como acionista majoritária, sei que sozinha não poderei decidir qualquer coisa, mas nem que eu acione a porra do conselho agora mesmo, não deixarei isso barato, sendo assim, eu quero expor o meu desagrado e deixar claro que não aprovo nenhuma demissão.

Lorenzo arregalou os olhos incrédulo depois abriu e fechou a boca como se não estivesse acreditando em minhas palavras e eu me vangloriei, achando que tinha feito um ótimo trabalho. No entanto, sua gargalhada ecoou pela sala. Ele permaneceu assim por longos segundos, debruçando-se sobre a mesa. Permaneci paralisada, sem mover um músculo sequer, a não ser meus lábios ao indagar rispidamente.

—  Posso saber qual é a graça? —  Meu pai se levantou ainda com um semblante divertido me encarando sem dizer uma palavra, como se estivesse tentando segurar o riso, aquilo me irritou tanto, principalmente quando respondeu:

—  Você, minha filha, é claro... tinha esquecido desse seu senso de humor. — Tornou a rir.

—  Não estou aqui para diverti-lo, eu falei muito sério, se você não... — Lorenzo segurou meu braço, fechando a cara de repente.

—  Você não sabe o que está dizendo, não pode vetar uma decisão minha dessa forma, até porque sou o presidente dessa empresa e eu decid... — Dessa vez, fui eu a interrompê-lo, puxando meu braço de seu agarre, olhei bem nos seus olhos quando disse as palavras. Meu coração a ponto de sair por entre meus dentes.

— Você é sim o presidente desta empresa, mas eu sou a sócia majoritária e embora nunca tenha dado qualquer opinião sobre suas decisões, porque até então não julgava necessário, isso não significa que não farei isso daqui por diante quando julgar que devo me envolver. Então, não haverá demissão. Tragam as suas máquinas, que seja, eu não me importo, mas todos os funcionários ficam, ou levaremos isso ao conselho e acredite em mim, papai, não queira ser réu no tribunal em que atuarei porque você irá se arrepender.

— Está me ameaçando? — Franziu as sobrancelhas. Abri a melhor cara de paisagem e segurei sua gravata, arrumando o nó.

—  Claro que não, paizinho, apenas estou esclarecendo algumas coisas...

—  E se eu não aceitar? —  perguntou, visivelmente irritado, mas não me intimidei.

— Sinto muito mesmo, pai, mas não me importarei. O senhor aceitando ou não será feito dessa maneira e ponto-final. Ou então, terei de me envolver mais nas decisões da Novatore, de agora em diante e, quem sabe, até mesmo pensar em uma mudança, esta empresa está mesmo precisando de uma alma jov...

—  Não há necessidade disso, minha joia, você tem toda razão. Eu me precipitei, não agi com a cabeça no lugar, mas agora pensando melhor você tem razão. — Pegou algumas folhas numa pasta sobre sua mesa e as rasgou. — Eles ficam. — Acenei educadamente com a cabeça, mas por dentro eu vibrava.

Havia nocauteado o doutor Lorenzo Novatore e me sentia ótima por isso. Eu realmente amava o fato de não fazer parte daquele grupo de piscianos que só pensavam em argumentos incríveis após uma discussão, eu não, pensava e usava todos os argumentos possíveis. Não negava, no entanto, que utilizei de artifícios duvidosos para conseguir minha vitória. Mas cada um usava as armas que tinha, não é?

—  Isso é, ótimo paizinho. Fico tão feliz que tenha recobrado seu juízo. Bom, agora voltarei ao trabalho, tenho ainda vários processos para analisar e não quero que se atrase para o seu compromisso. Obrigada pelo seu tempo! 

Ser advogada significava entre outras coisas sempre ter uma carta na manga, porque você poderia precisar de uma a qualquer momento. No caso, eu tinha a porra do baralho inteiro a meu favor.

Depois de sair de sua sala, voltei para a minha e resolvi mais algumas pendências daquele dia. Não pretendia sair muito tarde, pois queria comemorar minha vitória com meus amigos, por isso, enviei uma mensagem convidando-os para sair à noite. Por volta das 16h, fui para casa a fim de descansar um pouco.

Lá pelas 2oh, já arrumada, chamei um Uber, pois pretendia beber até esquecer meu nome. O carro não demorou a chegar ao meu endereço e poucos minutos depois, eu estava a caminho da Codec. Peguei minha bolsa assim que meu telefone vibrou com uma mensagem de Victória.

Vic:

Chegamos, amiga, nos encontramos na

entrada, acabamos de estacionar.

Respondi a mensagem avisando que já estava próximo e guardei o celular.

Assim que o veículo estacionou em frente à boate, saltei direcionando-me à entrada, onde encontrei os dois, deslumbrantes. Era quase surreal que tivéssemos mantido nossa amizade viva por todos esses anos. Geralmente, era bem difícil manter contatos depois da faculdade, mas meu trio era inseparável.

Observei minha amiga admirando a sua beleza. Era incrível que a cada vez que eu a via, ela parecia ainda mais linda. Vitória era loira, mais alta que eu, com olhos castanhos incrivelmente expressivos. Ela usava um vestido preto trançado na frente, mostrando um pouco de sua barriga, e uma bolsa minúscula prateada completando seu look. Felipe não era diferente, outro que não decepcionava aos olhos, a cada dia estava mais gato. Na época da faculdade, ele já era perfeito, agora beirava ao absurdo, essa sua carinha de bonzinho era a perdição da minha melhor amiga.

Dei uma risadinha me lembrando que eu, assim como inúmeras outras, arrastei um bonde por ele no início do primeiro período da faculdade, mas eu era muito nova e ele só tinha olhos para a Vic, mesmo sem saber naquela época. Além disso, minha amiga já era apaixonada por ele, apesar de a cretina fingir o contrário. Engraçado como eles pareciam aquele casal clichê de fanfic, tipo a virgem e o cafajeste. Sim, porque se bem me lembrava Felipe passou o rodo geral antes da Vic, depois ele só se tornou cadelinha dela mesmo, a questão era que eles eram perfeitos juntos, perfeitos um para o outro.

—  Eu não canso de babar vocês dois, sabia? São a porra do casal mais sexy que eu já vi! — disse, abraçando os dois ao mesmo tempo.

—  Modéstia à parte, devo admitir, eu tenho a namorada mais gata e gostosa... — Meu amigo beijou o pescoço de Vic que ficou sem graça.

— Ok, me poupe dos detalhes sórdidos.

—  Por favor, parem os dois de me constrangerem. — Minha amiga enfiou a cara no peito do namorado, fingindo se esconder. Eu amava essa mistura de romance com safadeza dos dois.

Após entrarmos na boate, seguimos para o caixa onde colocamos as pulseiras de consumação e depois fomos até o bar. Respeitávamos nossa tradição de sempre começarmos com uma dose de tequila em comemorações, depois voltávamos para nossas bebidas favoritas. Vic adorava drinques doces e Lipe sempre pedia uísque, já eu era fã de carteirinha de uma boa cerveja. Não dispensava.

—  Ainda não acredito que enfrentou seu pai. — Vic deu um gritinho batendo palmas. — E, principalmente, que dobrou o velho. Você é minha heroína!

Nós três rimos e brindamos minha faceta. Realmente, era inacreditável eu ter enfrentado meu pai daquela forma. — A essa maravilhosa conquista e a coragem que eu nem sabia que tinha! — Levantei meu copo para um brinde.

— E... as cartas na manga! — Felipe completou, levantando o copo para o alto.

— Isso aí!

— Agora vamos beber e enlouquecer! — Victoria gritou.

—  Nada disso, mocinha, hoje você vai se comportar, aliás, não era você que nunca mais ia beber? —  Lipe a repreendeu num tom sério. Vic fez beicinho virou para mim, mas apenas sorri com a interação dos dois.

—  Não olha pra mim...

Depois de algumas doses de vodca e drinques, nós três seguimos para pista, ao som de Unholy, de Sam Smith & Kim Petras. Fiquei dançando ao lado dos meus amigos, aproveitando aquele momento, mas logo Victória me puxou, deixando-me entre eles. Uma das coisas que eu mais gostava neles era que quando saímos juntos não me deixavam sozinha ou constrangida com agarramentos exagerados, apenas nos divertimos como três bons amigos. Ficamos naquele movimento gostosinho por mais algumas boas músicas, até começar a putaria. A música Dançarina do Pedro Sampaio começou a tocar e logo tratei de me soltar dos meus amigos para rebolar.

Eu gostava bastante de funk desde que minha prima Juliana me ensinou na última vez que estive no Rio de Janeiro, visitando minha tia e meus primos que me levaram a um baile funk. Quando tive o primeiro contato, achei estranho e até me assustei algumas vezes com a devassidão das coreografias, mas depois que aprendi, entendi que não era visto como vulgar por eles, aquilo era sensualidade. Vale lembrar que eu também não tinha idade suficiente para aquilo, mesmo assim não hesitei quando minhas primas me ensinaram a dançar rebolando a bunda, exatamente como estava fazendo nesse momento, formando um quadrado com meus quadris.

Eu também havia ensinado a Vic, nesse momento ela estava com a bunda empinada rebolando e Felipe se mantinha vidrado em sua traseira, seus olhos chegavam a ficar nublados, mas foi só perceber a reação dele, que minha amiga ficou tímida e se aproximou dele, contendo um pouco os movimentos. Lipe firmou as mãos em seu quadril e os dois ficaram dançando agarrados. Eu que não ficaria aqui de vela.

Dei uma olhada em volta vendo um cara bem gato me observando. Animei-me, dançando e fazendo charme, nós trocamos olhares e sorrisos e aguardei que viesse até mim, mas nada aconteceu. Talvez fosse tímido.

Pensando nisso, decidi ir até ele, mas quando virei para o lado minhas pernas bambearam com a visão da criatura parada no bar, cabelos soltos, camiseta escura, esse homem não parecia ser real, que perdição do inferno! Embora tivesse ficado irritada com o nosso primeiro encontro e com o quanto ele pareceu um idiota, não consegui parar de pensar no quanto sua imagem era atraente aos olhos. Uma faísca acendeu e eu mudei o foco. Um sorriso travesso me acompanhou junto com os pensamentos mais indecentes que passavam pela minha cabeça. Andei devagar, observando-o no bar desfrutando de uma bebida.

— Mas olha só o que temos aqui? — Debrucei-me no balcão do bar e joguei o cabelo sobre os ombros.

— Olá, Abigail! — resmungou sem grandes surpresas de um jeito rabugento antes de tomar um gole de sua bebida. Ao contrário dele, fiz questão de mostrar o quanto tinha ficado feliz em revê-lo e abri meu melhor sorriso na esperança de exterminar seu mau humor.

— E aí, estranho. Vai me dizer o seu nome hoje? — Ele não respondeu, apenas encarou-me levantando a sobrancelha.

Por que ele tinha essa cara amarrada como se estivesse com raiva de todo mundo?!

Bom, de qualquer maneira não deixava de ser meio divertido, além, é claro, de que chegava a ser um desafio essa carinha de bravo, só aumentava a minha vontade de fazê-lo de cadeira para eu me sentar.

— Nossa, como você é falante, melhor ir devagar...— debochei, ganhando um... sorriso? Pequenas contrações involuntárias alfinetaram todo o meu corpo, mas não disse mais nada, apenas o observei quieta.

—  Benjamin!

—  Benjamin — repeti mais para mim mesma. — O filho mais amado. Então, você é o mais novo dos seus irmãos? —  Ele me olhou sem expressão alguma.

—  Sou filho único — respondeu.

— Ah, agora deu pra entender por que te deram esse nome, não tinha ninguém pra disputar com você, do jeito que é carismático... — Dei uma risadinha divertida, mas quase me arrependi quando seu olhar frio atravessou minha cabeça.

—  Era para ser uma piada? —  rosnou antes de tomar um gole de sua bebida.

—  Nossa, você é sempre mal-humorado assim? —  Sem resposta virou seu uísque e depositou o copo vazio sobre o balcão antes de me encarar.

—  Foi mal, eu...

—  Tá tudo bem! —  tranquilizei-o — E aí, você dança?

—  Como é? —  perguntou, abruptamente, como se eu tivesse pedido um de seus rins.

—  Dança. Sabe o que é? —  Gesticulei um movimento, mas ele só continuou me olhando como se eu falasse grego ou sei lá, fui o mais clara possível. — Estou perguntando se quer dançar?

—  Não.

— Não. E por que não? — Nunca fui o tipo de mulher insistente, mas realmente estava intrigada com esse cara. Qual era a dele, afinal?

—  Porque eu não tô a fim! Escuta, você não tem nada melhor pra fazer? Aposto que tem vários moleques da sua idade por aí.

Moleques da minha idade? Ah, seu...

—  Sei, mas não me interesso por moleques, ao menos não aparentemente...

—  O que foi? —  Voltou a me encarar e dei de ombros.

—  Nada.

—  Tá me chamando de moleque?

—  Eu não. Mas se a carapuça serviu... — Ergui bem o queixo sem me deixar abalar.

Silêncio.

— Deixa eu ser bem claro: Não estou interessado em nada que envolva você, Abigail.

Ai.

—  Você é tão babaca! E não me chame de Abigail! — rosnei, também irritada por sua imbecilidade.

— Não é esse o seu nome? —  Virou-se para mim desinteressado.

—  Aby.

— Aby — pronunciou como se testasse a pronúncia e o gosto das letras na sua boca.

Novamente silêncio.

— Você parece gostar daqui. Vem com bastante frequência... — quebrou o silêncio, fazendo-me franzir o cenho, sem entender porra alguma. Esse cara é bipolar?

Ele pegou o copo cheio e balançou o gelo, fazendo-o tilintar no vidro antes de beber o líquido âmbar. Mesmo com raiva respondi seu comentário ainda na tentativa de entender o que acontecia aqui. Tentei suavizar o clima.

— Quer dizer, então que ficou me observando esse tempo todo na surdina, hein? Meu cotovelo bateu de leve em seu braço.

— Você é bem singular, difícil não ver. Além do mais, sempre fica no mesmo ponto — apontou para o alto —, meu escritório fica ali.

Olhei, mas só havia uma parede escura.

— Eu nunca tinha visto você antes da outra noite.

— Andei ocupado. — Sua voz saiu mais suave.

— Então, me conta mais sobre como você fica prestando atenção em mim lá do seu escritório, quando não estou vendo, isso parece meio pervertido — debochei, jogando meu ombro contra o dele, Benjamin segurou meu braço delicadamente, como se me puxasse. Ficamos tão próximos que nossos narizes quase se tocavam.

— Não diga bobagens, você é uma fedelha. — Odiei a forma como disse aquelas palavras com uma voz mansa. Além disso, não parecia tão mais velho assim do que eu.

Babaca.

—  E quem ouve você falando assim até parece que tem uns cem anos... qual é a porra do seu problema, afinal? —  Meus dentes rangeram de raiva, desvencilhei-me de seu agarre e dei as costas, afastando-me, quando fui segurada novamente.

— Merda! Espera, e-eu... não quis... — soltou o ar com força.

— Está tudo bem, Benjamin, eu já entendi... e não curto sadomasoquismo, adeus! — Afastei-me, mas o idiota veio atrás de mim.

—  Espera, é sério, sinto muito pelo meu humor ou a falta dele, eu só tive uma semana ruim — tentou se justificar como se aquilo tivesse alguma coisa a ver comigo.

Bom, eu tinha dias ruins, inclusive hoje foi um deles, mas nem por isso saía por aí dando patada nos outros.

—  Não é justificativa.

— Eu sei, sinto muito pelo outro dia e por agora! Por favor? —  O maldito suavizou a carranca estrategicamente de modo que até mesmo conseguia ver as sombras das benditas covinhas ameaçando aparecer.

—  Que filho da mãe... — acusei, fazendo-o sorrir de canto —, sei o que está   fazendo...

Que cretino.

—  Não faço a menor ideia do que está falando. — Moveu o cantinho da boca novamente de forma que a covinha na bochecha esquerda ficasse totalmente em evidência, balancei a cabeça como se não acreditasse naquilo de verdade, ele voltou a dizer. — Me desculpa por ter sido um babaca com você?

—  Não acredito que está usando-as pra se dar bem, isso é golpe baixo demais, não pense que será assim tão fácil, afinal, você foi um babaca.

—  Juro que não sou, bom, talvez um pouco... e eu não achei que seria fácil, de qualquer forma. — Umedeceu os lábios e tombou a cabeça meio de lado, antes de estender a mão pra mim. — Me deixa te pagar uma bebida?

—  Você é inacreditável! —  Soltei uma risada incrédula.

—  Não sou.

—  Sim, você é... não acredito que fui tapeada por um par de covinhas. — Sem conseguir controlar o riso cobri o rosto com as mãos.

—  Isso quer dizer que estou perdoado?

—  Não tão fácil, isso só quer dizer que você trapaceou e esta é sua última chance comigo. — Ele riu outra vez e fez um gesto para que eu o seguisse novamente até o balcão do bar onde nos sentamos. Observei o homem sentado ao meu lado por alguns instantes, pensando no quanto parecia instável. Então, deixei a irritação de lado e resolvi ver o que pretendia com sua mudança repentina de humor.

— Você bebe o quê?

— Quero uma cerveja — disse.

—  John, uma cerveja e um uísque, por favor! — pediu ao barman.

—  Mas olha... ele sabe pedir por favor!

—  Sei muitas outras coisas... — Deu uma piscadinha.

Ok!

Quando recebemos nossas bebidas o clima era mais leve, não sabia o que tinha dado na cabeça dele, mas parecia até outra pessoa. Trocamos algumas palavras sobre coisas aleatórias, até que senti minha garganta secar devido ao esforço que fazíamos para ouvir um ao outro, foi quando pedi uma água e olhei para a pista de dança. Nós conversamos o quanto foi possível por cima da música alta e eu fiquei surpresa pelo fato de que realmente não era tão idiota assim, ao menos não quando pretendia ser. Eu já nem sabia onde tinha deixado minha irritação, porque só pensava no quanto eu queria uma desculpa para colocar minhas mãos nele, e seu olhar me dizia que também queria grudar em mim. Gostei da forma como me olhava quando eu fingia não ver.

Encarei-o também, Benjamin retribuiu me observando por algum tempo como se me desafiasse com os olhos, levantei o canto da minha boca, ficando de pé, e estendi a mão, na mesma hora o filho da mãe negou com a cabeça tomando mais um gole de sua bebida.

—  Vamos, você estava tão divertido, não banque o rabugento de novo, é só uma dança. — Apertou os olhos por um instante, pensativo, ao passo que me analisava tão intensamente que senti algo revirar meu estômago. Engoli em seco.

—  Se eu dançar com você, vai me deixar em paz? —  Fingiu negociar e eu sorri com todos os meus dentes.

—  Mas, é claro... —  Que não. Cruzei os dedos atrás das minhas costas da mesma forma como fazia quando minha mãe me fazia prometer algo que eu claramente não cumpriria.

—  Tudo bem!

Segui para a pista toda marota acompanhada por ele. Paramos próximos de Vic e Felipe, senti como se estivesse prestes a ganhar na porra da loteria, não via a hora de colocar minhas mãos em todos aqueles músculos. E como se as energias safadas estivessem ao meu favor começou a tocar Vai Malandra da Anitta, eu amava essa música, sorri vitoriosa.

Essa noite era a minha noite de sorte. Benjamin, no entanto, pareceu ler minha mente, pois ficou tenso quando aproximei nossos corpos e comecei a rebolar suavemente com a mão em seu ombro, o que não fazia o menor sentido ou sincronia com a música. Foda-se.

Ele continuou com os braços jogados ao lado do corpo, como se não soubesse onde colocá-las, peguei uma de suas mãos depositando-a em minha cintura. A sensação de seu toque me arrepiou.

— Pode colocar sua mão aqui, eu não mordo, a não ser que você queira — insinuei, lambendo os lábios, deixando-o mais tenso ao esticar meus braços para trás e depositar minhas mãos por cima das dele, rebolando meu quadril.

—  O que você tá fazendo? —  Por mais que tentasse fingir, adorei a forma como encarou fixamente minha boca e apertou um pouco minha cintura. Aquele simples gesto transmitiu pequenas vibrações por todos os nervos do meu corpo, como se eu tivesse acabado de tomar um choque.

—  Relaxa, rabugento, foi só uma brincadeirinha. — Subi o contato pelos seus braços e arrastei meu toque até seu ombro, permitindo-me ser um pouco mais ousada.

Virei-me deixando minhas costas encostarem em seu peitoral e me movimentei devagar rente ao seu quadril. Conforme a música foi ganhando intensidade, meus movimentos se tornaram mais sincronizados. Benjamin me puxou mais para perto e eu sorri vitoriosa voltando a ficar de frente para fixar meus olhos nos dele, sua expressão era séria, mas, ainda assim, impossível não deixar transparecer o calor que emanava de nossos corpos, o dele então impossível não perceber. Estiquei-me na ponta dos pés alcançando seu ouvido.

—  Mas, olha só, eu achei que você me achasse uma... como é mesmo? —  Fiz uma pausa dramática. — Ah, sim, uma fedelha — falei, descendo o indicador pelo seu peitoral até o abdômen durinho, antes de me colocar nas pontas dos pés outra vez. — Mas pelo visto não sou tão fedelha assim, não é? —  pontuei antes de descer a vista em direção à frente de sua calça, mordendo o lábio inferior, enquanto um sorriso safado brincava na curva da minha boca. Contudo, o maldito também sorriu mais abertamente e aproximou a boca da minha orelha, arrepiando cada pelinho do meu corpo.

Porra. Como ele fazia isso?

—  Isso não quer dizer nada, eu sou homem, até quando acordo estou de pau duro. — Seu timbre mais rouco soprando na minha pele fez minha boceta pulsar.

Fingido.

Eu também sabia jogar esse jogo.

—  Se você diz... — Disposta a provar meu ponto, enrosquei-me ainda mais nele, esticando-me um pouco e passei o nariz pelo contorno do seu pescoço, desfrutando de sua pele quente, do seu cheiro gostoso. Levei uma mão em suas costas, arrastando as unhas até sua nuca, enquanto a outra passeou pelo seu braço direito, seu corpo enrijeceu ao meu toque, porém, antes de qualquer outro movimento meu, Benjamin se afastou abruptamente.

—  Já teve sua dança, agora se me dá licença tenho coisas a fazer. — Afastou-se dos meus braços sumindo do meu campo de visão em segundos.

Estraga-prazer.

Não me restava outra opção, se não apenas dançar e beber, já que depois de ter colocado minhas mãos em Benjamin nenhum outro cara parecia tão interessante e olha que não foi por falta de tentativa, mas eu sempre fui assim, do tipo que quando queria algo tinha que ser exatamente aquilo, outra coisa não serviria. Puro fogo no rabo. Sabia que o que estava sentindo por Benjamin era exatamente isso, vontade de dar, em especial por ele se fazer de difícil, isso só aumentava drasticamente a minha vontade.

Um pouco mais de 3h da madrugada, eu já me sentia exausta, Vic e Lipe tinham desaparecido por longos minutos antes de voltarem decididos a irem embora. Na certa, se pegavam em algum beco escuro, o que era ótimo. Por isso, quando me ofereceram carona, achei melhor não atrapalhar o clima deles. Optei por chamar um Uber. Ambos ficaram relutantes, mas garanti que ficaria bem.

Quando fiquei sozinha, quase me arrependi de não ter pegado a carona, não havia um motorista disponível próximo e dos veículos mais distantes, nenhum aceitava a viagem. Um pouco mais de vinte minutos, eu continuava na tentativa de ir para casa, aliás, péssima ideia ter deixado meu carro. Estava fodida e, pelo visto, dormiria na calçada. Era só o que me faltava.

Pensei em ligar para Vic, mas me senti mal, pois se aquela fosse a noite deles, nunca me perdoaria por atrapalhá-los. Pensei em ligar para o meu pai, mas certamente ele apareceria aqui com aquele projeto de coelhinha da Playboy. Quando as luzes da frente da boate se apagaram eu quase tive um derrame.

—  Puta que pariu! — Encolhi os ombros e engoli em seco, olhando para um lado e outro da rua deserta.

O que eu faria agora?

—  O que faz aqui sozinha? —  A voz soou atrás de mim, acelerando meu coração que quase saiu pela garganta.

—  Puta merda! Você quase me matou de susto! — Meus olhos se arregalaram ao mesmo tempo em que dei um pulo, minha bolsa saltou da minha mão. Respirei com dificuldade, mas me tranquilizei ao perceber que era Benjamin.

—  Não quis assustá-la... — Pegou minha bolsa do chão — O que faz aqui sozinha a essa hora?

—  Estou com problemas para chamar um Uber, não vim de carro! — Benjamin cruzou os braços e me observou por alguns instantes, depois soltou o ar com força.

—  Vem comigo, eu te levo pra casa!

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro