Épilogo.
ALGUNS ANOS DEPOIS
Point Of View LIZ
"CLAP!"
—Bunda gostosa, Oliveira— Escutei alguém fazer a volta ao meu redor. Era o Enzo, um dos "valentões"da escola. Eu não o conhecia, mas o que minhas amigas falavam sobre ele não era nada bom. E dá pra perceber que ele faz jus aos boatos considerando que meteu um tapa na minha bunda. NA MINHA BUNDA.
—Quem você acha que é pra me tocar desse jeito? — Olhei bem pra ele, pra mostrar que não tenho medo nenhum de marmanjo.
—Ui, olha a madame, se acha melhor que eu só porque é filha da Ludmilla, é? — Ele riu na minha cara, os outros três que estavam ao lado dele riram também.
—Que cena toda é essa? — Uma quinta pessoa entrou na conversa, eu fechei os olhos com força.
Agora pronto, a situação que já não era muito boa, tinha acabado de piorar, Enzo e seus capangas ergueram o queixo, Enzo deu um passo pra frente.
—Olha se não é o outro engomadinho, filhinho de papai — Ele disse encarando o cara que parou ao meu lado, ele ignorou e se virou para mim.
—Te machucaram? — Perguntou analisando meu corpo de cima a baixo em busca de machucados.
—Ah não — Um dos capangas respondeu — Mas meu mano apalpou ela legal — Completou rindo.
Merda.
—Como é que é? — Perguntou numa calma mortal, até eu ficava receosa quando ele falava daquele jeito.
—Augusto — Falei baixinho, segurando seu braço.
—Calma aí — Falou tirando minha mão e dando um passo em direção ao Enzo — Tá achando que é quem, maluco?
—Qual foi, mané? Quer brigar, porra? — Enzo perguntou, parecendo louco para que isso acontecesse.
—Eu? — Augusto soltou uma risada — Parece que você quer, ninguém chega tocando nos outros sem permissão, otário — Disse dando um empurrão no grandalhão.
Foi a coisa errada a se fazer e a confusão estava completa, Enzo foi o primeiro a avançar e o Augusto desviou então os outros três avançaram também, pra ficar melhor (ou pior, depende do ponto de vista) Antônio apareceu e se envolveu na briga também e os dois estavam apanhando feio.
De repente uma plateia tinha se formado no pátio da escola, a maioria curiosos e fofoqueiros, com celulares ligados filmando a situação e gritando "BRIGA, BRIGA, BRIGA!" Não importava o tanto que eu gritasse, eles não paravam e ninguém ajudava a separar, até que... Guto levou um murro na boca.
Foi a gota d'água pra mim.
Algumas semanas antes, minha mãe tinha me matriculado numa aula de defesa pessoal, segundo ela, além de acabar com meu sedentarismo, ainda ia me ajudar com algum engraçadinho.
Não ajudou.
Ao invés de colocar em prática um dos movimentos que repassei quinhentas mil vezes na aula, cheguei no Enzo e desci um murrão na cara dele.
Ouvi um estalo.
Algo quebrou.
Não sei se foi minha mão ou o nariz dele.
Um silêncio surpreso ecoou por todo o pátio.
—O que está acontecendo aqui? — O diretor apareceu perguntando e eu olhei ao redor, o nariz do Enzo estava sangrando e minha mão doía pra caralho. O Augusto tinha um corte na boca e o cabelo grande do Antônio estava parecendo um ninho de pássaro — Todos na minha sala. AGORA — O diretor completou, dando meia volta e já seguindo para sua sala.
—Tá tudo bem contigo? — O Augusto perguntou, tentando pegar minha mão, eu não deixei.
—Tá porra Liz, onde aprendeu a dar um murro desses? — Tonton perguntou piscando várias vezes os olhos.
—Você tá sangrando — Avisei ao Augusto, apontando com o queixo para sua boca — E você vê se passa a mão nesse cabelo, tá horroroso.
Fui a primeira a seguir até a sala do diretor, quando chegamos lá, tivemos que ficar esperando do lado de fora enquanto ele conversava com o Enzo e os outros idiotas.
Droga, minha mãe ia me matar. Ela odiava ser notificada por conta de algum dever que eu esquecia de fazer, imagina quando soubesse que eu quebrei o nariz de alguém.
—Agora me explica: que merda você tem na cabeça, Augusto? — Me virei pro Guto assim que nos sentamos no banco de espera.
—Você queria que eu fizesse o que? Batesse palmas pra atitude dele? — Me encarou cruzando os braços.
—Não, mas eu teria resolvido sem precisar disso tudo — Respondi irritada.
—E então ele vai fazer de novo amanhã e depois de amanhã... — Soltou um suspiro.
—Nisso ele tem razão — Antônio concordou com o irmão.
—Você sempre faz isso, não sei quantas vezes vou ter que repetir que consigo me cuidar sozinha — Bufei, cruzando os braços e deslizando no banco.
—Eu sei, mas me preocupo mesmo assim — Augusto respondeu.
—Você está no Terceiro Ano, Guto. Eu ainda tenho dois anos pela frente e você vai fazer o que? Virar meu guarda costas particular? — O encarei.
—É pra isso que nós temos o Tonton — Augusto me mostrou um sorriso de lado, Antônio lhe mostrou o dedo do meio carinhosamente — Sua mamy pode me contratar como segurança — Brincou.
—Até parece que nem conhece minha mamy — Soltei uma risada irônica.
—Sua mamy é um caso sério, será que ela nunca vai afrouxar as rédeas? — Ele disse, ainda com o sorriso de lado nos lábios. Quando sorria desse jeito, ficava parecido com o Everton, embora parecesse mais com a Marília — Hora ou outra ela vai ter que se dar conta de que você não é mais um bebê.
—Aham, tá bom — Eu concordei, só pra não levar o papo adiante, sabia que não ia dar bom.
Minha mamy era ciumenta ao extremo desde quando eu ainda estava na barriga da minha outra mãe. As brincadeirinhas sobre o Guto ser meu namorado começaram de lá e duram até hoje. Quando juntava a antiga equipe do Flamengo, então... Minha mamy faltava ter um infarto.
O assunto graças a Deus foi encerrado e algum tempo depois nossos pais chegaram e fomos chamados para entrar na sala do diretor. Eu, Augusto e Antônio sentamos enquanto nossos pais permaneceram de pé.
—Porque não nos conta o que aconteceu, Liz? — O diretor pediu, sentado em sua enorme cadeira.
—Enzo deu um tapa na minha bunda — Resumi lhe encarando.
—Bom, não foi isso que ele acabou de me contar — Ele se remexeu, olhando para todos os lados, menos pra mim.
—O que ele disse? — Guto perguntou soltando uma risada.
—Que você, Augusto, ficou... Digamos que irritado porque, bom... A Liz e ele estavam... Flertando — Disse o diretor olhando de lado para nossos pais.
—Ficou irritado, hein Augusto? — Minha mamy perguntou, cruzando os braços em frente ao corpo. Porcaria, a conversa estava tomando um rumo que eu não gostaria que tomasse.
—Posso saber porque o senhor acredita nele e não em mim? — Perguntei levantando a mão como se estivesse pedindo permissão — Será que é porque eu sou mulher? — Todos na sala permaneceram em silêncio — Ele desceu um tapa na minha bunda, eu ia descer um murro no nariz dele se estivesse flertando?! — Mostrei pra ele a situação da minha mão.
—Mas e você Augusto? — O diretor desviou o olhar de mim para ele.
—Eu? E eu preciso explicar? Ele bateu nela e ainda ficou falando merda! — Gusto respondeu, apontando pra mim.
—Daí você achou que seria super interessante começar uma briga? — Marília cruzou os braços e encarou o filho — Foi lá e bateu neles? — Complementou.
—Eu tentei, né? Mas eram três idiotas e o Antônio só chegou depois — Respondeu ele.
—Augusto — Chutei o pé dele sutilmente, que me encarou com as sobrancelhas franzidas. Ele estava fervendo de ódio, conhecia ele bem demais para perceber logo de cara.
—Ah tá, quer dizer que se alguém batesse na sua filha ou na sua namorada você ia ficar assistindo? Sem fazer nada? — Ele continuou, desviando o olhar do meu para encarar o diretor.
—Vocês não são namorados — Minha mamy achou importante salientar.
—E daí? — Guto respondeu na lata, agora encarando minha mamy — Podia ser qualquer outra mulher, eu tenho princípios, minha mãe me ensinou que não se toca em mulher sem que haja permissão pra isso.
—Muito bem, filho — Marília pareceu mudar de opinião e pousou a mão no ombro de Augusto.
—E você, Antônio? — O diretor olhou para o meu outro lado, onde o Tonton tentava desembaraçar os nós que tinham ficado no cabelo.
—Eu? — Ele despertou do transe — Ah, Eu! Eu só entrei no meio de gaiato mesmo, diretor. Quis tentar ajudar de alguma forma.
—E já que estou na sua sala, senhor diretor... — Chamei a atenção dele para mim — Vou aproveitar e dizer que eu não fui a primeira e com certeza não fui a última — Ergui uma sobrancelha e cruzei os braços, gestos que aprendi vendo minha mãe no trabalho, ela dizia que não havia nada melhor do que manter a postura para intimidar homens machistas — Já aconteceu com algumas das minhas amigas, mas elas tem medo de falar pelo simples fato dele ser seu sobrinho — Lhe mostrei um sorriso falso para completar.
—Olha só — Minha mãe resolveu falar, soltando um suspiro — São três horas da tarde, tá fazendo um calor dos infernos e me fizeram sair do trabalho pra descobrir que tem um moleque assediador que é sobrinho do excelentíssimo senhor diretor, passando a mão em garotas? Isso só pode ser sacanagem com minha cara — Bufou, completamente irritada jogando o cabelo na altura do ombro, para trás.
—Calma, senhora... — O diretor tentou remediar a situação.
—Quem pede calma sou eu — Disse ela, usando seu melhor tom de advogada — Não sei se sabe diretor, mas assediar ou constranger em ambiente escolar dá uma pena de um a três anos. Além da multa salgada e quem acoberta qualquer tipo de ato criminoso pode pegar, no mínimo, seis meses de prisão — Concluiu.
—Achei que fosse advogada de esportes, Senhora Gonçalves— O diretor disse, erguendo uma sobrancelha.
—Oliveira — Corrigiu minha mamy, já parecendo alterada também — Você me parece muito por fora pra ser um diretor, porque para se tornar advogada em qualquer área, primeiro se cursa direito, depois se especializa na área que deseja atuar — Fez uma pausa — Espero que tome as devidas providências ou vou precisar entrar com um processo contra a instituição.
—Claro — Disse o diretor, engolindo em seco — Enzo vai ser notificado, multado e suspenso por pelo menos uma semana — Ele falou, olhando para minha mamy.
—Ótimo — Ela respondeu.
—Mesmo assim, não posso deixar de suspender os três, já que agrediram fisicamente e foram contra as regras da Instituição — O diretor completou, limpando a garganta e olhando para a papelada na mesa.
—Se eu souber que seu sobrinho não foi advertido da maneira correta, eu volto — Minha mãe avisou, jogando a bolsa no ombro — Eu não pago caríssimo em escola pra aturar certas coisas — Estalou a língua no céu da boca — E pode liberar os três já agora, vamos embora.
Eu sou a maior cadelinha da minha mãe.
Ela podia ter parado de trabalhar quando me teve, ou quando teve o Mateo (meu irmão mais novo), minha mamy tinha dinheiro o suficiente para nos sustentar, mas ela sempre dizia que gostava de lutar pelo seu e completava dizendo que trabalhar no Flamengo nunca foi um trabalho e sim uma paixão.
Eu também me orgulhava da mamy, ela tinha feito o que podia e o que não podia por mim (e ainda faz). Ela acha que não, mas sei quantas propostas estrangeiras ela recusou para que eu pudesse crescer perto de amigos e familiares, e eu sabia muito bem que mesmo com a carreira de atacante finalizada, ela ainda recebia propostas de fora para a área que tinha escolhido seguir depois da aposentadoria.
—Vocês querem me matar? — A Marília perguntou assim que deixamos a sala do diretor — Não tenho mais idade pra tá resolvendo perrengue de filho na escola!
—E essa mão aí, garota? — Minha mãe perguntou puxando meu braço — Não usou o golpe certo, né? O que eu faço com você? — Me encarou, lhe mostrei um sorriso amarelo.
—Eu não vou nem falar nada, não quero me estressar mais — Minha mamy balançou a cabeça negativamente.
—Nem tomou o remédio da pressão hoje né Ludmilla? — Minha mãe lhe deu um tapa na nuca.
—Tá maluca, amor? Essas crianças aí me conhecem, vão achar que eu apanho em casa pô — Ela disse olhando ao redor, soltei uma risada, o que fez minha mãe e a Marília gargalharem.
—Vocês vão ficar sem celular por uma semana — Marília avisou para seus filhos, Antônio, que era viciado em jogos online, gemeu.
—O mesmo serve pra você — Minha mamy me avisou — E vem cá moleque, você não cansa de me perturbar não? — Disse ela olhando pro Guto.
—Eu não te perturbei, eu ajudei sua filha, deveria me agradecer — O Augusto respondeu, com a cara fechada.
Ih merda. Minha mamy parou de caminhar, levou uma mão até a cintura e encarou o Guto. Boa coisa não estava vindo por aí.
—Augusto! — Marília arregalou os olhos na direção do filho.
—Como é que é, moleque? — Minha mamy perguntou, o rosto ficando mais vermelho do que um tomate maduro.
—E pelo amor de Deus, ela tem 16 anos, eu tenho 18 — Apontou para o próprio tempo.
—E quem diabos tá falando de idade aqui? — Minha mamy resmungou.
—Eu tô falando — Augusto ergueu o queixo — Quero saber até quando vai ficar pegando no meu pé desse jeito, eu nunca fiz nada! Sempre respeitei a Liz — Respirou fundo.
AH NÃO. NÃO. NÃO. NÃO. NÃO.
—Guto... — Tentei impedir.
—E nós estamos namorando, porra! — Augusto soltou de uma vez só.
A cena a seguir se passa em câmera lenta. O queixo da minha mãe cai, os olhos da Marília quase saem pra fora, o Antônio começa a pular, gritando "FINALMENTE, ALELUIA, SE ASSUMIRAM!", eu fiquei sem reação e a minha mamy.... Minha mamy... Bem...
Ela desmaiou.
E foi assim que paramos no hospital numa terça-feira, três horas da tarde, num calor de quarenta graus.
Se não fosse assim, não seria a minha família, mas vocês já sabiam disso... São quase parte da Família Oliveira.
E ah...
Se você ficou até aqui e não desistiu dessa loucura que é a vida dos meus pais... Parabéns, você precisa urgentemente de uma consulta com a Tia Júlia.
Se não der certo, você pode procurar a tia Emily e processar a autora original dessa obra, já que ela quem fez todo mundo enlouquecer.
Agora se por acaso você se divertiu acompanhando as peripécias do meu primo Thiago, da minha tia Luane e todos os outros personagens contidos em Vossa Excelência, só posso dizer que é uma pessoa de muito bom gosto... Assim como eu.
Até a próxima!
➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖
E esse foi o último capítulo da fanfic, queria agradecer a todos que leram, comentaram e votaram nos capítulos. Agradeço de verdade a todos vocês! E a @autoramaynard por te me permitido adaptar a mesma em uma versão Brumilla para vocês! ❤️
✨ 𝗖𝗿é𝗱𝗶𝘁𝗼𝘀/𝗳𝗮𝗻𝗳𝗶𝗰 𝗼𝗿𝗶𝗴𝗶𝗻𝗮𝗹: @autoramaynard ✨
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro