Capítulo 19.
Maratona - (2/5)
•Sábado, 23 de Novembro de 2019
•Após a Final da Copa Libertadores da América
Probabilidade.
Aquela matéria chatinha de matemática que estudamos ao decorrer de toda a vida escolar e nunca aprendemos, a matéria que nos traz a seguinte pergunta: No lançamento de um dado qual é a probabilidade de sair um número par?
Para esta pergunta se você utilizar a fórmula e calcular, com certeza terá a resposta.
Agora... Qual a probabilidade de reencontrar a mina que te deu o primeiro beijo sete anos depois, com o visual — e o beijo — com 100% de melhora?
Qual a chance de você falar mal de uma mina para outra mina e na verdade ela ser a mina que você estava falando mal?
A resposta dessa pergunta é simples e não precisa de cálculo: Eu joguei pedra na cruz.
Acordei com um cheiro muito forte de álcool no nariz, tinha pelo menos umas 20 cabeças olhando pra mim, mas o mundo ainda parecia girar.
–Tá viva. – Escutei alguém falar e suspirar.
Meu Deus, automaticamente me senti vermelha. É um daqueles momentos que se eu tivesse três pedidos para fazer o primeiro seria virar um avestruz e enfiar minha cabeça num buraco do chão.
–Tá tudo bem? – Júlia sussurrou perto de mim.
–Claro que não, com que cara eu vou olhar pra ela agora?! Puta que pariu. - Aceitei a mão dela pra levantar, a galera veio toda em cima de mim pra saber o porquê do desmaio, imagina minha cara enquanto dizia que minha pressão tinha caído?
Puta merda, isso não podia estar realmente acontecendo, eu não tava falando mal do beijo da mina pra mina não né? Não é possível uma coisas dessas. Segurei a vontade de chorar a andei até a Luane.
–Oi. – Falei abrindo a bolsa e tirando a chave do carro, até parece que eu ia dirigir o carro da mina com a família da mina dentro, nunca precisou. – Acho melhor eu não dirigir.
–Tudo bem, já ia falar com você também. – Pegou a chave. – Descansa um pouco antes de descer pra festa, vou avisar a Ludmilla.
–Obrigada. – Lhe mostrei um sorriso e me afastei, Júlia veio na minha direção assim que me viu chegar perto do ônibus.
–O que você vai fazer? Desculpa amiga, mas tô com um pouquinho de vergonha alheia. – Ela disse me olhando sem rir, na verdade o que seu semblante mostrava era dó.
–Muito obrigada pela parte que me toca. – Falei com um sorriso falso. – Vou quebrar a cara do Fabinho.
–Uai, porque? – Ela arqueou a sobrancelha.
–Ele sabia, tenho certeza, nem pra me contar pra mim não passar essa vergonha toda. – Choraminguei já subindo onibus.
Chegando lá encontro nada mais nada menos do que Selena e Fabinho se separando de um beijo. Aposto que não tinha sido um beijo qualquer levando em consideração a proximidade dos dois. Ao me verem, chegam a pular, assustados e claramente constrangidos.
–Desculpa, não queria atrapalhar. – Falei desistindo do sermão que iria dar no Fabinho.
–Não, tudo bem, estou indo buscar o Thiago. – Minha irmã falou levantando toda sem jeito, eu dei um risinho vendo ela se aproximar pra passar de mim.
–Gol da Selena, hein? – Brinquei com ela baixinho. Como resposta ela me mostrou o dedo do meio, passando com o ombro batendo no meu. – Quero bater um papo sério com você. – Olhei pro Fabinho.
–Eu só beijei sua irmã, não fiz nada de mais e ela deixou. – Se apressou para explicar, eu ri me aproximando e sentando no lugar que Selena estava sentada segundos atrás.
–Minha irmã é maior de idade, vacinada, mãe... Enfim, ela pode fazer o que quiser. – Dei de ombros. – Meu problema com você é outro. – O encarei de maneira séria.
–Desembucha, tá me deixando assustado. – Ele falou arregalando um pouco os olhos.
–Você sabia esse tempo todo. – Falei já começando a descontar minha vergonha e minha raiva em tapas contra ele.
–Ai ai ai. – Disse ele se esquivando. – Será que eu posso saber porque estou apanhando?!
–Porque você sabia que a mina do caminhão de boi era a Ludmilla. – Falei quase chorando, já ele achou engraçado e chorou de tanto rir. Desci um tapa em seu ombro, fazendo-o me encarar.
–Como você descobriu? – Perguntou em meio às risadas.
–Como eu descobri? – Soltei uma risada. – Como eu descobri? – Repeti passando a mão no rosto. – Ela colocou uma foto dela quando era mais nova, não tinha como não descobrir.
–Nossa, mas a Ludmilla também é burra. – Fabinho continuou rindo. – Você não sabe o quanto ela falou sobre isso. – Fiquei vermelha, ele riu mais. – Tem noção de quantas vezes falou mal dela pra ela mesma? Ela ficava se sentindo um merda.
–E como eu ia saber caralho? – Meu Deus, eu ia chorar de desespero a qualquer momento. – Ela tá completamente diferente.
–Aham, a coitada era judiada mesmo. – Riu.
–Fábio Santos... – Suspirei. – Como eu vou olhar pra cara dela? Porque você não me contou? Estou esse tempo todo tentando juntar você com minha irmã e você nem pra me contar uma coisa importante dessas?
–Tá de brincadeira? Eu te dei centenas de dicas, não tenho culpa se você é lerda. – Segurou uma risada. – Ela disse que ia falar com você sobre isso hoje, achei até que já tinha falado, vi vocês duas no maior love em campo.
–Ai Fábio, dá uma sugada aqui vai. – Revirei os olhos, ele riu mais ainda. – Tá achando divertido né? Vou queimar teu filme com minha irmã tu vai ver. – Falei me levantando.
–Não! – Ele gritou me segurando. – Calma aí, cunhadinha. Senta aqui, vamos conversar melhor. – Debochou e eu o fuzilei com o olhar. – É sério.
Eu me sentei mais uma vez sentindo meu pescoço queimar, toda vez que ficava nervosa, meu pescoço começava a pipocar. Olhei pra cara do Fabinho esperando terminar aquela conversa logo. Aos poucos as pessoas começavam a entrar no ônibus.
–Conversa com ela, sério mesmo. – Fabinho disse.
–Tá. – Falei pra me livrar, hoje eu não ia conseguir nem olhar pra cara da Ludmilla de tanta vergonha. Saí de lá e procurei o lugar mais isolado do ônibus.
Não foi possível Júlia já tinha espalhado pra Emily, Juliana e Hanna sobre a descoberta e elas me rodearam querendo saber o que diabos eu ia fazer agora que eu já sabia que tinha falado mal dela pra ela. Mas... O que mais eu poderia fazer se não me trancar no quarto e enfiar minha cabeça embaixo do travesseiro?
Foi exatamente isso que fiz, me livrei das meninas e subi de fininho pro meu quarto depois de pegar a fazer reserva, já que eu tinha feito o favor de perder a chave principal. Quando chegamos já estava rolando a tal festa, uma roda de samba com cantores ao vivo e tudo mais, parecia que a maioria dos jogadores também já estavam por lá — inclusive a Ludmilla.
Primeira coisa que fiz quando entrei foi ir tomar um banho demorado, precisava muito pensar e não tem momento melhor pra fazer isso do que na hora do banho, com a água batendo nos seus ombros... Quando estava saindo enrolada no roupão, escutei alguém bater na minha porta.
–Bru? – A voz da Ludmilla perguntou, eu congelei perto da porta. – Tá tudo bem? A Júlia disse que você passou mal. – Silêncio.
Ai meu Deus e agora o que eu vou fazer? Responder ou fingir que estou morta? Escolhi a segunda opção.
–Brunna? – Ela perguntou de novo.
–O que foi? – Uma segunda voz perguntou, provavelmente a da Luane, já que era feminina e um pouco grossa.
–A Júlia disse que a Brunna desmaiou no estádio. – Ludmilla falou pra ela.
–Ah é, a pressão dela caiu e porque você tá aqui? Ela já deve estar lá embaixo. – A provável Luane falou.
–Ela falou que ia descer? Não vi ela por lá. – Ludmilla falou, parecendo preocupada.
–Uai, acha que ela tá morta aí dentro? – Luane falou, dados algumas batidas na porta em seguida. – Bru? – Mordi o lábio pra não responder. – Ela acabou entregando a chave do quarto junto com a do carro, vou abrir pra ver se tá tudo bem.
Comecei a suar frio. Deus, por favor o Senhor pode ter um pouco de misericórdia dessa sua filha e não deixar com que a Ludmilla me veja por enquanto? Eu só quero um pouquinho de tempo pra pensar no que vou dizer pra ele e pra me preparar pra não ter um ataque cardíaco quando olhar pra cara dela e perceber a merda que eu fiz.
Escutei o barulho da chave girando na maçaneta e a porta se abriu ao poucos. Luane olhou pra minha cara, pronta pra falar pro Ludmilla que eu estava aqui, mas fiz sinal de silêncio, ela arqueou a sobrancelha sem entender e eu falei um "por favor" sem som e ela colocou a cabeça pra fora.
–Não tem ninguém aqui. – Falou pra irmã. – Tá uma bagunça. – Mentiu.
–Ué? – Ludmilla perguntou tentando forçar a porta.
–Não, não. – Luane falou rápido demais. – Tô vendo umas duas calcinhas jogadas. – Ela falou. – Vê se ela tá lá embaixo, vou fechar a porta e já desço.
–Tá. – Ludmilla falou, mas pelo tom de voz pareceu desconfiado.
–O que tá rolando? – Luane perguntou fechando a porta, colocando a mão na cintura e me encarando.
–Longa história. – Suspirei me sentando na beirada da cama.
–Temos tempo. – Ela puxou a cadeira da penteadeira e se sentou na minha frente.
–Descobri que já conhecia sua irmã de antes, tipo, muito tempo atrás. – Mordi o lábio.
–E o que que tem? Isso é bom, né?
–Seria ótimo. – Falei. – Só que eu não reconheci ela.
–Como assim não reconheceu? Eram crianças? – Ela arqueou a sobrancelha.
–Não, adolescentes. – Falei desviando o olhar. – Sem querer ofender, mas sua irmã era feia. – Fiz uma careta e ela gargalhou.
–Cara, eu deveria ter gravado isso pra mostrar pra ela, sério mesmo. – Soltou mais uma risada.
–Não precisa, porque eu mesma já fiz isso. Inclusive falei pra ela que o beijo dela era péssimo.
–Que? – Ela teve uma crise de risos. – Eu daria tudo pra ter sido uma mosca e ter visto a cara da Ludmilla, juro.
–Você não sabe nem da metade. – Ela ficou esperando que eu contasse a história, então contei. – Uns sete anos atrás eu viajei pra Santos no meu aniversário, a gente foi comemorar numa pizzaria. Inclusive a pizzaria que vocês foram comer antes do embarque para cá. – Falei lembrando das indiretas que o Fabinho tinha jogado pra mim e eu não tinha pegado.
–Então é por isso que o Fabinho ficou jogando umas piadinhas. – Luane riu. – Mas e aí?
–E aí que foi meu primeiro beijo e foi péssimo. – Eu falei fazendo ela rir mais. – E essa não é a pior parte ainda, o pior é que não reconheci sua irmã e falei mal do meu primeiro beijo pra ela, ou seja... – Gemi de frustração, Luane gargalhou.
–E como você descobriu essa confusão?
–Sua irmã fez uma postagem no instagram, você viu? – Perguntei, ela assentiu. – Pois é, tinha uma foto dela na adolescência lá, acabei reconhecendo e agora não sei se vou conseguir olhar tão cedo pra cara dela.
–Olha, conheço a Ludmilla e posso te garantir que ela não fica chateado com essas coisas bestas.
–Tá brincando? Eu falei que ela era feia e tinha monocelha. – Bati a mão na cara, Luane voltou a rir.
–Mas ela realmente era! – Tirou sarro da própria irmã. – O tempo ajudou demais e ela sabe disso, então se quer um conselho... Conversa com ela, deixem isso no passado. – ela tentou falar sério, mas dava pra perceber que estava morrendo de vontade de rir. – Você vai descer? Ela vai acabar aparecendo por aqui.
Parei pra pensar por um minuto, talvez fosse melhor descer. Falei pra ela me esperar e coloquei uma roupa pra descer junto com ela.
Lá embaixo estava lotado, todas as meninas estavam numa roda, só que uma roda de casais, Patty e Julia estavam abraçadinhas e a Emily e o Arrasca estavam rindo feito dois idiotas de alguma coisa que a Juliana e o Andressa tinham falado. Ludmilla estava no palco com o boné mais torto que tudo, um microfone na mão e um copo de uísque na outra.
–Posso puxar uma aqui? – Ela perguntou para os caras mais novos do flamengo, que estavam logo abaixo dela. – Lalaia lalaia Lalaia... O Palmeiras não tem mundial... – A galera começou a cantar junto com ela, do meu lado Luane riu.
–Essa garota é impossível. – Ela disse, eu ri.
Depois da música, acho que ela percebeu que eu já aparecido e desceu do palco, vindo na nossa direção.
–Vou deixar vocês dois conversarem sozinhas. – Luane falou já se afastando e mandando um beijo.
–Oi, você tá bem? – Ela perguntou assim que se aproximou o suficiente e me abraçando.
–Sim. – Respondi, abraçando-o de volta.
–A Júlia disse que você passou mal, não conseguiu nem vir dirigindo, o que aconteceu? – Se afastou e me encarou.
–Minha pressão deve ter caído. – Mordi o lábio.
–Fui lá no seu quarto agora a pouco pra termos aquela conversa. – Ela disse.
–Ah... Queria falar com você sobre isso também, porque não deixamos pra conversar no Rio? – O encarei. – Esses dias são de festa, né? – Sorri.
–Não mesmo, não posso ficar enrolando pra essa conversa. – Falou de um jeito sério. – Na volta então, no avião, provavelmente vamos sentar juntos de novo.
–Pode ser, Agora... – Peguei o uísque da mão dela. – Vamos comemorar porque não foi fácil chegar até aqui.
–É isso. – Ela riu me dando um selinho. – Já dizia meu pai: Muitos falam, poucos sabem.
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