Capítulo 12.
Sábado, 16 de Novembro de 2019
08 dias para a Final da Libertadores da América.
–Como está indo no trabalho? – Meu pai perguntou enquanto fazia seu prato no fogão.
–Por enquanto tudo bem. – Respondi pra ele.
–Sua irmã chegou outro dia falando que o Thiago conheceu aquela jogadora que ele gosta. – Minha mãe entrou no assunto.
–Ele foi trabalhar comigo um dia desses. – Contei sentando a mesa, onde Selena e Thiago já estavam. – Foi legal, né Thi? – Perguntei para o menino.
–Sim! A Ludmilla escreveu o nome dela na minha blusa e depois todos os outros caras e as meninas que jogam tiraram foto comigo. – O moleque disse feliz. – E no jogo de quarta o tio Fabinho me deu uma bola da Ludmilla, ele levou lá pra mim, sabia? – Olhou pra mãe dele, que olhou pra mim desconfiada, apertei meus lábios tentando não dar risada da careta que ela fez.
–O tio Fabinho é legal demais. – Comentei com um sorriso, piscando para Selena. – Já arrumou a bolsinha dele pra levar pra Porto Alegre?
–Sim, mas acho que estou voltando atrás sobre deixar ele ir com você. – Minha irmã disse me fuzilando com o olhar, eu ri.
–Não, mamãe. Deixa eu ir, por favooor! O tio Fabinho disse que ia me levar pra entrar no campo com a Ludmilla, eu quero muito ir!!! – Thiago jogou o charme que eu já conhecia muito bem.
–Quem é esse Fabinho? Jogador também? – Minha mãe perguntou, ela e meu pai sentaram na mesa e então começamos a almoçar.
–Na verdade ele é amigo da Lud. – Respondi.
–Porque você está chamando ela de Ludmilla? Pensei que todo mundo chamasse de Ludmilla ou Ludmilla Oliveira, minha irmã perguntou erguendo uma sobrancelha.
–Sei lá, é estranho chamar Ludmilla Oliveira. – Dei de ombros. – E você chamou o Fabinho de Fábio então não pode falar nada de mim. – Alfinetei.
–Quem é essa Ludmilla que vocês tanto falam? Sua nova namorada? – Minha mãe perguntou, completamente alheia ao futebol. Minha irmã soltou uma risada.
–Bem que a titia Brunna queria. – Thiago falou, me fazendo ficar vermelha.
–Thiago! – O repreendi.
–Nem inventa dona moça, namorar jogadora de futebol é pedir pra ser corna. – Meu pai disse.
–Não generaliza também, amor. – Minha mãe disse. – Essa é aquela que tem o corpo tatuado? – Ela perguntou olhando pra mim, eu assenti. – Será que ela se sente numa história em quadrinhos? – Divagou, eu ri.
–Vocês estão se conhecendo melhor? – Minha irmã perguntou num tom safadinho.
–Sai maluca, ela é minha cliente. – Resmunguei.
–Mas você não foi contratada pelo clube? – Perguntou meu pai coçando o queixo.
–Isso é um complô? – Perguntei levantando pra deixar meu prato na pia.
–Porque você tá indo pra esse jogo mesmo? Nunca te vi saindo do Rio para acompanhar um time de futebol, nem do flamengo, que é seu time. – Meu pai disse.
–Pai, quantas vezes você já viu o Flamengo jogar tão bem desse jeito? – Perguntei, ele ficou em silêncio. – Pois é!
–Júlia e Emily também vão? – Minha mãe perguntou.
–Sim, vamos nos encontrar no aeroporto. – Falei. – Come rapidinho Thiago, você ainda precisa tomar banho. – Tô subindo.
Mandei mensagem no grupo "Caminhão de boi", confirmando o horário do vôo e comecei a arrumar a bolsa para a viagem. A essa altura os jogadores e jogadoras já estavam lá, em preparação para o jogo que aconteceria amanhã. Era o último jogo antes da Final da Libertadores e entramos de vez em contagem regressiva. Oito dias para a final em Lima, seis dias para a segunda instância do julgamento. SEIS DIAS. Toda vez que me pegava pensando ou trabalhando nisso precisava parar, respirar fundo e tentar não ter um surto de ansiedade.
Quando desci a escada encontrei o Thiago sentadinho no sofá, vestido como se fosse pra escolinha de futebol, Selena tentava de todas as formas convencê-lo a deixar a bola autografada da Ludmilla que o Fabinho tinha lhe dado.
–Fala pra ele Bru. – Minha irmã se levantou suspirando.
–Se eu fosse você deixava em casa, se a gente levar a bola pro estádio algum moleque mal encarado pode querer roubar. – Falei baixinho pra ele. – É mais seguro deixar a bola em casa que ninguém vai mexer.
–Mas eu queria levar! – Fez bico.
–Então leva, agora se roubarem eu não vou pedir pro Tio Fabinho te dar outra e você vai ficar sem nada, sem contar que o fofão adora sequestrar crianças desobedientes – Falei com voz assustadora, o menino começou a chorar. Todas as vezes que ele desobedecia, usávamos essa. Era tiro e queda.
–Tá bom! Tá bom! Eu vou guardar! – Saiu correndo agarrado com a bola, Selena e eu rimos.
–Bru, que papo é esse com o Fábio? – Ela quis saber.
–Uai, ele levou um presente pro seu filho, não tive nada a ver com isso. – Apertei os lábios, sou uma péssima mentirosa, percebendo a mentira, ela franziu o cenho.
–Me engana que eu gosto, Brunna.
–Ele gostou de você. – Comentei arrumando a bolsa no ombro.
–E quem te disse? Ele? – Perguntou claramente curiosa, eu sabia que ela também tinha curtido ele, conhecia minha irmã.
–Foi a Ludmilla que dedurou. – Contei.
–Hum... Tenho escutado muito esse nome ultimamente, você diz que ela é sua cliente, mas sei não, tá estranho.
–Se continuar falando sobre isso, vou te importunar pra sempre sobre o Fabinho. – Avisei lhe apontando o dedo.
–Nossa, nenhuma profissão combinaria melhor com você do que advogada. Gosta de colocar as pessoas contra a parede, hein? – Ela disse desistindo e pegando a bolsa do Thiago sobre o sofá. – Toma, vê se cuida do menino.
–E quando foi que eu não cuidei, Selena Gonçalves? – Alfinetei, num gesto de pura rebeldia, ela me mostrou o dedo do meio, soltei uma risada retribuindo o favor.
Esperei o Thiago descer e então entramos no carro da Sel. Tivemos que sair de casa mais cedo que o normal porque o Waze indicava muito congestionamento a caminho do aeroporto, e realmente. Depois de quase três horas no trânsito finalmente chegamos ao aeroporto. Júlia e Emily já estavam lá quando chegamos, ela cumprimentaram Selena e minha irmã se despediu de mim e do filho. Sentamos para esperar nosso vôo.
–Falou com ela do Fabinho? – A curiosa da Júlia perguntou.
–Não exatamente, mas ela já está desconfiada, o Thiago não para de falar dele.
–Bem que você podia dar uma de cupido pra mim e dar uma acordada no Giorgian, né? – Emily bateu as pestanas.
–Eu poderia fazer isso, mas não tenho a mínima intimidade com o Arrascaeta. – Falei.
Ficamos conversando até o vôo ser chamado e então embarcamos, o voo durou exatamente duas horas e quando desembarcamos Juliana estava nos esperando com uma Doblô de sete lugares alugada.
–Quem tem dinheiro é outra coisa, né? – Emily disse abraçando Juliana. – Se fosse eu aqui vocês iriam de Uber porque não tenho um tostão furado.
–Dramática. – Juliana disse. – Você decidiu se vai pra Lima? – Perguntou pra mim quando entramos no carro, eu fui na frente com ela.
–Acho que vou, vocês vão de vôo fretado? – Perguntei, ela assentiu, dando partida e saindo do estacionamento.
–Não se preocupa com o voo, tem vários lugares disponíveis e já chamei as meninas também, tá tudo certo. – Ela sorriu.
–Tá bom. – Respondi.
Tivemos aquela bela noite de pijamas no quarto do hotel, pedimos várias besteiras e conversamos várias besteiras também, sussurrando pra não acordar o Thiago, que dormia como o anjinho que ele certamente não era quando estava acordado. No outro dia, como o jogo começava às quatro, nos arrumamos antes do almoço, comemos no hotel e nos dirigimos no Doblô até o estádio Olímpico Monumental.
–Pra onde você vai? – Júlia perguntou quando viu que estava seguindo por outro caminho.
–Vou encontrar o Fabinho na entrada dos jogadores, ele vai levar o Thiago pra entrar com eles.
–Cuidado pra não se perder. – Ela disse se afastando e indo atrás da Juliana e da Emily.
A entrada não era tão longe e o Fabinho já estava nos esperando.
–Tio Fabinho!!! – Thiago me largou assim que viu o cara, pulando direto no colo dele.
–E aí, cara? E essa camisa maneira toda autografada? Tá show em? – Fabinho riu fazendo Thiago dar uma voltinha. – E aí Bru, beleza?
–Beleza, tem certeza que não faz medo nenhum, né? Se acontecer alguma coisa com esse menino a Selena me mata. – Disse pra ele.
–Não, a Ludmilla vai cuidar direitinho dele e eu vou ficar esperando ele sair pra te devolver. – Disse levantando e pegando a mão do Thiago. – Você não quer entrar só por via das dúvidas? Pode ficar esperando comigo, acho que vai ser melhor.
–Também acho melhor. – Falei pra ele, que sorriu. Eu nunca ia contar aquilo pra ninguém, mas só de saber que eu iria ver a Ludmilla, meu coração começou a bater mais rápido. Tentei me controlar, mas quando viramos o corredor que dava para o campo e vi ela no último lugar da fila, gelei.
–Ei. – Fabinho chegou nele.
–E aí cara, cadê o menino? – Perguntou olhando para o primo.
–Tá aí. – Fabinho disse apontando pra nossa direção, Ludmilla virou o rosto e seu olhar esbarrou no meu, ela soltou a mão do menino que estava com ela e andou até mim.
–Oi Thiago, tá ansioso? – Agachou pra falar com meu sobrinho.
–Porque só tem gente vestindo azul? – Thiago perguntou pra ele.
–É que esse estádio aqui é do Grêmio. –Ludmilla explicou. – Então quase todo mundo que tá lá fora, torce pra eles.
–Eca! – Thiago fez careta, o que fez com que ele soltasse uma risada.
–Eca mesmo. – Falou ela se levantando. – Você veio de brinde?
–Pois é, tipo compre um leve dois. – Brinquei.
–Pô, tive sorte de pegar em promoção então. – Sorriu. – Você disse que não passaria no vestiário. – Comentou.
–Fiquei com medo de deixar o Thiago nas mãos do Fabinho, ainda não confio 100% nele. – Falei rindo.
–Tô ouvindo, hein? – Fabinho falou, não percebi mas ele estava agachado conversando com o Thiago e colocando a blusa de entrada de jogo nele.
–Só isso mesmo? – Ludmilla questionou levantando uma sobrancelha.
–Vim te desejar boa sorte também, não que eu ache que vocês precisem de sorte. – Dei de ombros.
–Bom te ver. – Sorriu. – Aliás, você tá linda. – Completou me fazendo corar.
–Obrigada. – Agradeci.
–Tá pronto? – Perguntou ao Thiago, que assentiu. – Então vamos.
Fabinho e eu ficamos esperando de ladinho do campo enquanto eles cantavam o hino brasileiro, no fim, Thiago saiu correndo na nossa direção e nós três subimos pra área hoje a galera do flamengo estava. Então, o jogo começou.
Devo admitir que estava com um pouquinho de medo desse jogo, depois da semifinal da libertadores naquele jogo épico que ganhamos de 5 a 0 do Grêmio, imaginei que eles viessem pra esse jogo mordidos, querendo vingança a todo custo, mas não foi o que aconteceu. Durante a primeira metade do primeiro tempo, até levamos uns sustos, mas logo o Flamengo abriu o placar com gol de pênalti da Ludmilla. O placar ficou assim até o fim do jogo, mas o que realmente me irritou foi que aos 28 minutos do segundo tempo, Ludmilla que já tinha levado um cartão amarelo na primeira etapa, inventou de reclamar com o árbitro, levando o segundo amarelo e o vermelho em seguida.
No fim do jogo, ficamos esperando os caras perto da entrada, pra combinar o que faríamos naquela noite, talvez sair pra jantar e comemorar a vitória e depois irmos para o aeroporto todos juntos.
–Curtiu? – Ludmilla perguntou se aproximando.
–Não acredito que tá me perguntando isso. – Respondi pra ela.
–Ué, porque? Ganhamos o jogo e fiz gol, quer mais o que? – Me mostrou um sorrisinho de lado.
–Tá me tirando? Você não consegue passar mais de dois jogos sem levar um cartão vermelho? Sabe o que isso significa? Mais um processo pro clube e claro, mais trabalho pra mim. – Falei irritada.
–Relaxa, sua estagiária gostosona te ajuda. – Piscou rindo. – Ela tá dando o que falar no CT, tem uma comissão de frente ... – Continuou.
–Se eu quisesse saber disso, eu teria perguntado. – O fuzilei com o olhar.
–Calma, só estava brincando. – Falou sorrindo, passando o braço pelos meus ombros. – Que tal deixar eles irem jantar juntas e sair só comigo? – Perguntou, sai do abraço dele.
–Chama a Layla pra ir contigo, aposto que ela aceita. – Comentei. – Thiago! Não corre, moleque. – Tentei sair do assunto, Ludmilla soltou uma risadinha.
–Eu chamaria. – Disse, ainda me atentando.
–Então chama. – Falei o desafiando.
–Eu realmente chamaria, mas não é ela que eu quero. – Me encarou.
–Porque você faz isso? – Murmurei.
–Já falei, você fica uma gracinha vermelha. – Me lançou um olhar debochado e passou por mim, deixando só o rastro do perfume pra trás.
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