Capítulo 10.
Quinta-feira, 07 de novembro de 2019
Rio de Janeiro/ RJ
–E depois? – Emily perguntou dando mais uma golada em sua cerveja.
–Ele recorreu e o juiz aceitou. – Dei de ombros. – Na hora que vi ele lá, já sabia que isso ia acontecer. Até parece que ele ia querer perder pra mim de primeira.
–Até hoje tento entender como você conseguiu conviver com aquele seboso por mais de um ano. – Júlia fez uma careta, eu soltei uma risada.
–Eu me faço a mesma pergunta sempre. – Falei. – Hum, e isso nem é a melhor parte. – Soltei uma risada. – No final da sessão quando a gente tava saindo, ele veio me gritando querendo falar comigo e simplesmente começamos a correr.
–Como assim correr? – Júlia levantou uma sobrancelha.
–Uai, correr, metemos o pé e ele ficou lá gritando.
–E a jogadora correu também? – Emily perguntou desconfiada.
–Correu e dirigiu na volta porque eu estava tremendo de raiva, nada confiável. – As duas ficaram em silêncio, me encarando. – Ué?
–Isso tá com cara de romance. – Emily falou.
–Por falar em romance, eu vi tá? – Júlia trocou o olhar de mim para Emily. – Desistiu da Patty no meio da festa e foi dar em cima do Uruguaio lá, como é o nome dele mesmo? – Perguntou pra mim.
–Arrascaeta. – Falei segurando o sorriso e bebericando minha cervejinha.
–Isso. – Júlia assentiu.
–Ah sei lá... – Emily fez cara de sonsa. – Gente porque esses jogadores e jogadoras, jogam tão bem em campo e são tão lerdos e lerdas fora de campo? Eu passei a festa inteira batendo papo com ele, saí de lá morta de bêbada e o cara nada. – Suspirou virando a cerveja toda de uma vez.
–Esses jogadores... – Júlia balançou a cabeça. – Eles tomam iniciativa demais em campo e correm demais atrás da bola, os caras tão cansados, na vida pessoal eles só querem alguém pra correr atrás deles.
–Ah meu amor, pois ele se deu bem. Não tem ninguém mais idiota e mais trouxa que eu NO MUNDO! – Ela falou daquele jeitinho todo doido, eu comecei a rir antes mesmo dela terminar. – Comigo não tem esse negócio não, se eu quero eu corro atrás mesmo.
–Tá certa. – Júlia riu.
–E você Ju? Quase não te vi a noite toda. – Olhei pra ela.
–Bom... Eu encontrei uma exceção. – Balançou as sobrancelhas. Emily gritou. – Não vou contar quem é, segredo.
–Fala sério. – Falei pra ela.
–Você tá dizendo o que? – Emily me encarou. – Você pensa que eu não sei que o Thuller tava lá na cozinha dando em cima de você e você nem pra contar pra gente também sua safada? – Me acusou.
–Porque não foi nada importante. – Revirei os olhos. – Agora essa garota passou a noite inteira com alguém, espera vou relembrar os nomes de todos os caras solteiros...
–E se ele for casado? AHHHH VOCÊ PEGOU UM HOMI CASADO? – Emily supôs.
–Tá maluca, querida? Já dizia Marília Mendonça "Amante nunca vai casar" e vocês sabem que sempre sonhei em casar. – Júlia disse fazendo bico. – Ele é solteiro e outra: vocês só vão saber caso eu volte a me encontrar com ele e role algo mais sério.
–Mas porque diabos esse mistério todo? – Perguntei.
–Por nada, só quero deixar vocês loucas mesmo. – Sorriu.
–E eu aqui pensando que a Júlia era a mais santinha do grupo. – Emily falou balançando a cabeça negativamente.
–Conversa, todo mundo sabe que a mais quieta sempre foi eu. – Falei assentindo, Júlia quase cuspiu a cerveja da boca.
–Você? Santa? Mas nem aqui e nem no Espírito Santo. – Emily falou. – Você acha mesmo que eu esqueci aquela vez que a gente foi pra balada e você beijou 6 bocas? SEIS. BOCAS. Não sei como você não pegou sapinho.
–Aquele dia eu tava muito louca, por isso parei de beber, eu bebo e fico achando que sou sei lá a Angelina Jolie carioca. – Elas riram. A campainha tocou. – Deve ser a Juliana. – Levantei pra ir atender a porta.
Todas nós tínhamos conseguido a sexta de folga, logo decidimos fazer uma noite das amigas, amanhã acordaremos cedo e iríamos pra praia, curtir um mar, pegar uma marquinha.
Aproveitamos o resto da noite para colocar o papo em dia e assistir o jogo do flamengo. Como não tinha sido no Maracanã, a gente tinha decidido não ir e talvez por ser fora de casa esse jogo tenha sido uns dos mais difíceis até agora depois que o Jorge Jesus tinha pegado o comando do time. Com gol nos últimos minutos, ganhamos do Botafogo no sufoco.
Cedinho já estávamos acordadas, carregando uma caixa de isopor cheia de cerveja até a praia.
–A Andressa disse que vai passar aqui depois do treino da manhã. – Juliana falou. Eu e ela sempre ficavamos pra trás, Júlia e Emily sempre saiam correndo tirando a roupa e entrando no mar o quanto antes. – Com outros caras, talvez. Ele disse que faz uns dias que querem vir bater um futvôlei.
–Ótimo. – Sorri pra ela. – Vamos manter esse segredinho com a gente, quero só ver a cara das duas quando chegarem por aqui. – Completei, Juliana gargalhou.
–Acho que o cara que a Júlia ficou foi o Mari. – Juliana contou. – Vou avisar pra Andressa trazer ele de qualquer jeito.
–Vamos ficar de olho. – Pisquei pra ela. – Porque você acha que foi o Mari?
–Sei lá. – Juliana deu de ombros. – Por enquanto foi só um chute, eles formariam um casal mara. – Riu, eu assenti. – Você e a Ludmilla também.
–Aham. – Brinquei colocando nossas coisas no lugar que Juliana apontou. – Nossa, não tem ninguém. Como você descobriu esse lugar?
–Muitos anos namorando um cara que não pode aparecer em público sem uma bela de uma aglomeração quando o virem. – Ela riu. – Aqui é lindo, não é? - Respirou fundo. – Geralmente não tem ninguém, nem placa indicando a praia.
–GENTE A ÁGUA TÁ UMA DELÍCIA, VEM! – Emily gritou. Eu não esperei mais, tirei a roupa e fui aproveitar.
Já tínhamos almoçado quando o celular da Juliana começou a tocar e ela se afastou para atender, nossa caixinha tocava alto Amor de que da Pabllo Vittar enquanto a Emily e a Júlia já de pé, dançavam desajeitadamente. Júlia cantava alto usando uma garrafa de cerveja cheia como microfone enquanto a Emily descia na boquinha de outra garrafa e foi quando os caras e Hanna, única mulher entre eles, despontaram da trilha que tínhamos que fazer pra chegar ali. As duas estavam tão entretidas que não viram eles descendo, só foram perceber quando realmente chegaram fazendo barulho.
–A coisa tá animada por aqui. – Hanna falou intrometendo a dança. – Vocês dançam demais. – Riu.
–Cala a boca e vem dançar também. - Emily falou jogando o cabelo exatamente como a Joelma do Chimbinha. – Eu soltei uma risada, a galera olhou pra mim.
–Você não dança? – Thuller perguntou puxando uma cadeira pra perto de mim, antes de respondê-lo dei um oi pra todo mundo.
–Se for pra passar vergonha, não. – Sorri olhando pra Emily que me mostrou o dedo do meio.
–Muito engraçado dona Brunna, você tava aí de segredinho com a Juliana, pensa que eu não sei viu? – Ela me alfinetou. Eu ri.
–Qué lugar genial. – Arrascaeta falou olhando ao redor.
Eles devem ter vindo em dois carros, porque era muita gente. Arrasca, Thuller, Mari, Patty, Ludmilla, Andressa e por fim, Hanna.
–Ué Hanna, cadê o Victor? – Juliana perguntou.
–Ah, nem. – Ela revirou os olhos. – Victor tá de TPM. – Juliana soltou uma risadinha e aos poucos todos se sentaram na mesa que tínhamos alugado.
Era uma praia pequena, se chamava praia de Joatinga. Tinham poucos quiosques por perto e ninguém além da gente, além disso a água era calma e geladinha, uma delícia.
–Mas aí, bora dar um mergulho? – Andressa agitou a galera. – Pô galera, mar, solzão... Bora. – Levantou tirando a blusa. Juliana foi a primeira a acompanhá-lá, as duas saíram correndo uma atrás da outra pela pouca areia que havia até o mar. Aos poucos a galera foi entrando no mar, eu que já tinha me vestido estava sem coragem nenhuma de ir pro mar de novo. A Ludmilla também não se mexeu.
–Você não vai? – Perguntei pra ela.
–E você, não vai? – Perguntou de volta.
–Eu já fui.
–E daí? – Sorriu.
–Já tô sequinha, tô com dó. E você? Algum motivo?
–Não curto muito água salgada, mas se você for eu vou. – Sorriu.
–Isso é chantagem. – Avisei.
–Foi uma proposta. – Piscou um dos olhos pra mim. – E aí, topa ou vamos ficar sentadas aqui só olhando?
–Topo. – Falei, mas fiquei parada observando ela se levantar e tirar a camisa.
Ok. Eu já sabia que ela tinha muitas tatuagens, mas não imaginei que fossem tantas. No ombro tinha uma frase e entre seus seios outra tatuagem... O tanquinho não era completamente trincado, o que eu achava daora, provavelmente passaria horas analisando se pudesse, mas desviei o olhar quando ela começou a tirar o short.
–Uai fia, bora. – Falou cruzando os braços e me encarando.
Nunca pensei que fosse dessas, mas tive que dar uma conferida no pacote. Fiquei feliz com o que encontrei, então levantei, tirando primeiro a regata que tinha colocado por cima do biquíni, depois o short. Tentei não ligar para o fato de que ela estava me analisando assim como fiz com ela e tomei a iniciativa de começar a andar até o mar.
–Uai, bora. – O imitei.
–Já vou. – Riu e correu até parar do meu lado. – É que a vista estava espetacular. – Olhou pra mim de lado.
–Nossa, você não perde uma oportunidade. – Comentei ficando vermelha.
–Quem não arrisca não petisca. – Foi sua resposta antes de mergulharmos.
–É impressão minha ou vocês estão de casalzinho? – Júlia perguntou quando parei perto dela na água.
–Não. – Franzi a testa. – A gente só se aproximou por conta do caso.
–Aham. – Júlia riu e eu joguei água na cara dela e começou uma guerrinha.
Passamos horas a fio dentro da água, quando saí estava pedindo por uma cama, mas não deixaram. Assim que saímos do mar, montaram a rede de vôlei pra rolar o tão do futevôlei.
–Vocês não fiquem achando que vão só ficar nos assistindo. – Andressa falou observando a fileira de cadeira que nós separamos pra ver eles jogando.
–Eu tenho a coordenação motora de um cego sem um guia. – Emily falou, Hanna riu.
–Que maldoso, Emily.
–Hanna, você vai comigo. – Patty falou.
–Ei ei ei, não vale. – Ludmilla se intrometeu. – Você já sabia que ela jogava.
–Foda-se. – Patty riu toda debochada. – Vocês que se virem.
–Vamo gatinha. – Arrascaeta falou estendendo a mão pra Emily.
–Você não tá entendendo, eu sou uma amebaaaa! – Emily disse, mas aceitou a mão do cara. Se ela não aceitasse eu bateria nela depois de todo aquele papo de ontem sobre o cara não ter atitude.
–Eu te ensino. – Arrascaeta falou com seu sotaque meio espanhol. Escondi o sorriso observando o Mari chamar a Júlia pra ser par dele. Será que Juliana estava certa quando supôs que era ele que ela estava pegando? Hum. Olhei pra Ludmilla, só tinha sobrado a gente, mais uma vez. Thuller tinha ido embora de Uber depois de uma ligação da irmã.
–Você se deu mal. – Levantei.
–Não sei não, você tem a maior cara de mulher macho. – Riu. – Eu peguei a primeira rodada.
–Às vezes eu questiono sua sanidade mental. – Debochei, ela parou e me encarou.
–Me respeita. – Disse em tom sério.
–Ludmilla, não sei jogar isso. – Falei.
–Para, aposto que já jogou vôlei na escola. – Disse. – A diferença é que aqui você não pode usar as mãos.
–Ah que ótimo, nós vamos perder. – Avisei.
Ela passou os dez minutos seguintes tentando me dar dicas de como chutar a bola pra ela, mas no final o desastre foi o mesmo e pela primeira vez vi ela ficar irritado, foi engraçado e perturbador ao mesmo tempo. Fomos eliminados pela Patty e a Hanna e sentamos junto com os outros.
–Você me odeia? – Perguntei pra ela.
–Talvez um pouco. – Me olhou. – Mas posso te perdoar ...
–Ah meu Deus, qual é a chantagem dessa vez?
–Já disse que não era chantagem, é proposta. – Me mostrou um sorriso de cafajeste.
–Hum? – O incentivei.
–Eu te perdôo se me passar seu número.
–Ta bom.
–E...
–Ah não, nem vem. – Falei virando o rosto.
–Calma, não terminei, quero que saia comigo. – Falou ela chamando minha atenção.
–Como assim sair com você? Eu sou sua advogada.
–Não. – Negou com a cabeça. – Você é advogada do clube, minha não. – Sorriu. – Sai comigo? Vou te mostrar que as coisas mudam.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro