Capítulo 01.
21 de novembro de 2012
Santos/SP
O combinado foi que ninguém cantaria parabéns, afinal, estavam num local completamente estranho, com pessoas estranhas, mas por um motivo misterioso meus pais acharam que eu adoraria que um garçom saísse do balcão segurando uma pizza de palmito com uma vela enorme e rosa estralando para todos os lados enquanto cantava parabéns.
Todas as pessoas ao redor se viraram para encarar a tal aniversariante, que bem... Era eu.
–Com quem será... Com quem será... – Júlia, minha melhor amiga começou a cantar.
–Ju, pelo amor de Deus. Para!!! – Tentei calar a boca dela.
–Vai depender... Vai depender se... QUEM QUER CASAR COM MINHA AMIGA? – Gritou pra pizzaria inteira ouvir, fechei os olhos com força imaginando que tinha poderes de teletransporte, se tivesse estaria bem longe daqui, talvez na via láctea!
Infelizmente eu não tinha o poder de me teletransportar e quando abri os olhos o que encontrei foi o grupinho de garotos e algumas garotas provavelmente da minha idade rindo do vexame que eu tinha acabado de pagar e Júlia já com um pedaço enorme da pizza de palmito no prato.
–Eu não pedi pra vocês não fazerem isso? – Perguntei indignada quando colocaram a pizza na minha frente, não é possível que eles achavam mesmo que eu iria soprar aquela porcaria. Empurrei a pizza e fiz um bico.
–A gente não podia deixar passar em branco, não é? – Meu pai disse todo sorridente, eu revirei os olhos.
–Ai, tenho que ir no banheiro. – Disse Júlia do meu lado. – Vamo comigo? – Perguntou.
–Não levanto daqui nem morta. – Murmurei. Sem reclamar ela deu de ombros e levantou toda saltitante, indo até o banheiro sozinha. No mesmo instante, algumas das pessoas da mesa da frente levantaram também, mas não consegui ver se estavam indo atrás da Júlia no banheiro porque minha irmã me cutucou.
–Eles só estavam tentando ser legais. – Ela disse pra mim. – Tenta não ficar chateada.
Selena era sete anos mais velha que eu, como agora eu tinha 15 ela tinha 22. Quando tinha 20 engravidou, o namorado vazou assim que descobriu, meus pais surtaram, mas acabaram ajudando ela e agora ela segurava nos braços um pacote gordinho de um ano chamado Thiago.
–Eu pedi pra eles não fazerem isso. – Resmunguei. – Ei. – Tirei a mão do Thiaguinho da pizza quente.
–A Júlia demorou. – Minha mãe falou procurando a Ju no espaço pequeno da pizzaria. – Vai lá ver se tá tudo bem Brunna. – Olhou pra mim.
Respirei fundo, contei até dez mentalmente e me levantei, pronta pra sair dali e passar por quase todas as mesas sendo zoada por terem cantado parabéns numa pizza pra mim.
Perto da porta do banheiro Júlia conversava com um cara e uma menina que tinham levantado da mesa da frente, o cara usava uma camisa cinza, muito apertada, fiquei pensando se não tava apertando os braços dele.
–Aconteceu alguma coisa? – Cheguei perguntando.
–É com você mesmo que queremos falar. – O de blusa cinza diz. A menina do lado, que usava uma camisa vermelho mostrou um sorriso assustador pra mim, quase morri apavorada. – Minha amiga quer ficar com você.
–Essa aqui? – Apontei pro de blusa vermelha.
–Não, a outro é mais bonitinha. – O de blusa cinza diz, levando um empurrão do de blusa vermelha. – Eu sou o Fabinho.
–Tá, seu amigo quer ficar com ela, beleza. – Júlia se intrometeu, cruzando os braços na frente dos peitos, que diga-se de passagem: ela não tinha. – Porque ela não veio falar com ela?
–A Oliveira é tímida demais. – A de blusa vermelha falou.
–Ela é gente boa, joga futsal na base do Santos. – O de blusa cinza começou a vender o peixe.
–Qual delas? – Júlia questionou se virando pra mesa dos caras.
–A de camisa preta listrada. – O de camisa vermelha apontou.
Mas nem morta, a mina era acabada,o que era aquilo na testa dele? Uma taturana? Ela tinha monocelha!
–Impossível. – Soltei uma risada.
–Tá maluca? – Júlia desceu um tapa na minha nuca. – Tu acha que é quem? A Beyoncé de férias em Santos? – O menino de vermelho soltou uma risada.
–Ela beija bem, te garanto. – O de cinza falou.
–E como você sabe? Já experimentou? – Ergui uma das sobrancelhas em sua direção, dessa vez a menina de vermelho gargalhou.
–Ela é minha amiga mano, que isso. – O de cinza disse. – E aí, vai rolar ou não?
–Não.
–Sim. – Julia disse ao mesmo tempo que eu. – Esperem a gente lá na praça do lado de fora, fechou? – Disse pra eles, a de vermelho piscou na direção dela, não era possível que Ju tivesse achado o cara bonito, pelo amor.
Os dois se afastaram e a Júlia segurou meu braço quando dei sinal que ia voltar pra nossa mesa.
–É a sua chance de perder o BV. – Me encarou.
–O mina é horrorosa! – Falei querendo chorar.
–E daí? Boniteza não se põe na mesa, vai ver a mina tem o melhor beijo da face da terra e você tá aí,com frescurite aguda. – Ela disse me arrastando. – A gente vai dar uma volta na praça, tá tia? – Falou pra minha mãe quando passamos pela mesa.
–Me solta. – Tirei a mão dela do meu braço, mas já estávamos do lado de fora quando aconteceu.
O grupinho de adolescentes estava rindo perto de um caminhão carregado de bois mugindo a toda altura e minha cabeça começou a doer.
–Qual seu problema? Você tem medo de beijar, é isso? – Júlia perguntou parecendo irritada.
–Não, claro que não! – Fique brava. – Eu fico com ela se você ficar com a de vermelho. – Joguei na roda.
–Tá de tiração? Ela deve ter uns 500 dentes da boca. – Ela piscou, perplexa.
–É pegar ou largar. – Dei de ombros.
Seguiu silêncio por um minuto inteiro até ela bater um dos pés no chão.
–Eu te odeio pra sempre. – Virou as costas e começou a caminhar até lá, eu fui atrás com a maior vontade do mundo de desaparecer e virar pó.
–E aí? Vai rolar? – O de cinza perguntou pra mim.
–Ué, cadê ela? – Perguntei olhando ao redor.
–Tá te esperando atrás do caminhão, vai lá. – Ele me deu um empurrão, cheio das intimidades. Eu quase me estatelei no chão, mas consegui me equilibrar.
A menina queria me beijar atrás de um caminhão de boi? Esse tipo de coisa só podia acontecer comigo. No lugar que o cara de cinza falou, encontrei ela.
Ela era um pouco mais alta que eu e realmente só tinha uma monocelha, isso porque tinha muito pelo mesmo entre elas. Ela tinha o cabelo cacheado até o ombro mais ou menos e usava um relógio enorme de prata que brilhava toda vez que balançava o braço.
–Oi? – Perguntei quando ela olhou pra mim.
Sabe o que é pior? Nem ouvi a voz dela, ela simplesmente chegou perto de mim e me beijou.
Se parar pra pensar beijar é uma coisa estranha, como colocar a língua na boca de outra pessoa pode ser legal?
Foi babado e apressado, meu dente bateu no dela, ela mordeu forte demais o meu lábio inferior e eu só queria que acabasse. Quando finalmente ela saiu de perto de mim, sai correndo.
–Que foi? – Júlia perguntou pra mim, com os olhos arregalados.
–É bom você correr porque se eu te pegar você tá morta.
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