7: AZAR NO AMOR 🥀
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Gatilhos: agressão e homofobia
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Palmas e risadas, balões e alguém tirando fotos. Jimin estava fazendo dezessete anos de idade naquele dia, e o clube de fotografia comemorava o aniversário do líder. Jimin, um pouco envergonhado, aceitou a muito custo pôr o chapéu em formato de cone na cabeça. Batendo palmas e cantando junto com os outros, mesmo sendo o aniversariante, ele assoprou a vela do bolo e então pulou no braço dos amigos, tentando dissipar o constrangimento.
— O que você desejou, Jimin? — alguém perguntou.
Jimin não contou, porque então todos na pequena roda saberiam, mas eu posso te dizer o que ele desejou: um namorado.
Porque aquele Park Jimin havia começado a ficar com meninos quando ainda tinha quatorze anos de idade, mas nunca havia sido pedido em namoro.
Na maior parte do tempo, ele saía com meninos que já estavam na faculdade.
Até o dia em que sua mãe descobriu e surtou. Ela estava no ápice de sua depressão naquela época, não prestava muita atenção no que o filho estava fazendo, e sim, ele só fazia merda. No entanto, sempre foi muito bom aluno, o número um em várias matérias, então, quem desconfiaria?
Aos dezessete, ele estava melhor, havia colocado a cabeça no lugar. Na medida do possível.
Jimin gostava de atenção masculina, e não poder se relacionar com caras mais velhos cortou sua lista de contatos pela metade. Os meninos de sua idade ainda estavam se descobrindo, tinham muito medo, e a maioria nunca havia nem beijado ninguém. Naquela altura, Park já sabia exatamente o que fazer durante um beijo e já havia feito coisas que não devia. Passou muito tempo na mão de caras de vinte, vinte e três anos.
Foi no dia do seu aniversário, que ele viu Jeon Jungkook pela primeira vez.
Jungkook tirava a gravata do uniforme na hora do intervalo, jogava bola com os garotos de sua turma, e lavava o rosto na pia do banheiro, voltando para a aula de cabelo molhado. Jimin o quis assim que o viu.
Ele era mais alto que a maioria dos meninos do primeiro ano, o que o destacava, e ainda jogava vôlei no time da escola. As meninas quase iam à loucura. Quantas e quantas vezes ele recebeu cartinhas de amor, chocolates, balas.
Jimin descobriu que ele era um ano mais novo, que havia dado um fora em uma menina do segundo ano, e que não falava muito na maior parte do tempo. Nada sobre meninos.
Ele não agiu, porque tinha medo de ser rejeitado. Nunca havia sido o primeiro a se manifestar, sempre fora procurado. Os caras chegavam nele primeiro.
Park nunca guardou seus sentimentos daquela forma, nunca espiou ninguém no intervalo, nunca vasculhou o facebook de alguém, nunca mostrou a foto de ninguém para as amigas. Ele fez tudo aquilo com Jeon Jungkook.
Em dezembro, Jimin subiu no terraço da escola para gravar a primeira neve do inverno. Embrulhado em uma japona, usando um cachecol que a mãe lhe fez, ele tirou fotos de flocos de neve e girou sozinho enquanto sentia a garoa no rosto. Tonto, ele parou de repente e caiu de bunda, sentindo dor de cabeça.
Sentado no chão, ele fechou os olhos, tentando se recuperar da tontura, e quando tornou a abrir os olhos, havia uma mão esticada em sua direção. Levantando devagar, ele o viu. Jeon Jungkook.
Sentindo o coração disparar, Jimin sentiu as pernas bambas pela primeira vez na vida. Ele, hesitante, segurou a mão de Jeon e este o ajudou a se levantar. Sentindo o rosto quente, desviou o olhar. — Obrigada…
— De nada, hyung — e foi a primeira vez que Park ouviu a voz dele.
Em silêncio, eles assistiram à primeira neve do inverno. Juntos.
Jungkook passou a encontrar Jimin no parquinho para crianças que só era frequentado por adolescentes que se reuniam para fumar, eles esperavam as turminhas irem embora e então se sentavam nos balanços, conversando baixinho sobre as fofoquinhas da escola, e sobre si. Jimin sempre falou bem mais, quase imparável, ele se começava a contar uma história e ao parar no meio da narrativa, para explicar o contexto de tal coisa, se esquecia se voltar para o assunto principal, Jungkook percebia mas não o corrigia, ele encostava a cabeça na corrente do balanço e o ouvia falar, às vezes até por uma hora inteira.
Jimin nunca havia tido aquele tipo de relação com algum menino, nunca ficou apenas conversando no fim de tarde, nunca comprou um pacote de pipoca para ficar em um parquinho falando de coisas do dia a dia. Estava acostumado a entrar às pressas nos carros dos caras e logo se atracar a eles, beijando sem parar.
Quando Jungkook o acompanhou pela primeira vez até aquele parquinho, sentiu o coração acelerado por todo o tempo, esperando pelo momento em que eles se beijariam. Mas Jungkook falava baixo, e sobre as coisas que gostava. Eles não se beijaram em momento algum. Pela primeira vez, Jimin foi para casa se sentindo calmo, sem estar com a consciência pesada. Não mentiu para a mãe quanto a onde estava. Ele disse a ela: eu estava na pracinha com um menino da minha escola, nós ficamos conversando. E era tudo verdade.
Jimin não se importou de ficar apenas conversando todas as vezes que se viram, porque não se sentia estranho, não se sentia bobo e infantil, via Jungkook de igual para igual. Não havia nada de errado no que estavam fazendo.
Jungkook gostava de vôlei, assistia aos campeonatos de diversos países. Gostava de música russa, música vietnamita, e em espanhol. Tocava bateria. Estava juntando dinheiro para viajar para o Japão com os primos. Gostava de gravar os sons dos lugares quando saía e os ouvia quando estava sem sono.
Jimin não fez uma lista para guardar essas informações, apenas as guardou na mente.
Em fevereiro, ambos foram convidados para a festa de dezoito anos de uma menina da turma de Jimin, e naquele dia, pela primeira vez, Jimin o viu pessoalmente sem o uniforme da escola. Jungkook usava jaqueta jeans, blusa de gola alta, e havia passado perfume. Mas Jeon não ficou perto dele, apenas o cumprimentou e se juntou ao próprio grupo de meninos. Na cozinha, ele ouviu algumas garotas conversando, uma delas ia tomar coragem e falar com Jungkook, e em seguida, lá estava ela, sentada ao lado do garoto, sorrindo e ajeitando o cabelo dele.
Naquela noite, Jimin bebeu umas cervejas que uns meninos trouxeram, e desacostumado com álcool, acabou sentado no jardim da casa, arrancando as folhas de uma erva daninha. Sob a chuva fina, ele levou um susto quando alguém o cobriu com uma jaqueta. Virando a cabeça, ele viu Jungkook.
— O que está fazendo aqui, hyung? — Jungkook perguntou, se sentando ao lado dele.
Jimin sentiu que poderia chorar, igual um idiota. Mas se segurou, porque você não pode se envergonhar de algo se só você sabe, correto?
— Está chato — disse. — Nenhum dos meus amigos veio…
— Mas está frio — o mais novo lhe disse. — Vamos entrar…
— Não quero — foi um pouco rude, e puxou a jaqueta dos ombros, entregando a ele. — Pode ir, vai.
Jungkook apanhou a roupa e o olhou. — Você bebeu?
— Hm — foi só o que respondeu, evitando olhá-lo.
— Você não pode — disse. — É menor de idade…
— Ai, Jungkook — disse, se estressando. — Grande coisa! Por que não sai daqui? Seus amigos estão lá dentro, não aqui.
Eles ficaram em silêncio. Jimin sabia, que se estivesse falando isso para algum menino da faculdade, por exemplo, ele já estaria rindo, o chamando de infantil. Mas não conseguiu se conter.
Vendo que o mais novo não pretendia se mover, Jimin começou a se levantar, mas Jeon o puxou de volta, e então o beijou.
Jungkook não sabia beijar, e ficou vermelho como um pimentão, mas assim que descolou os lábios dele, Jimin o tomou em mais um beijo. Foi tão desengonçado que Jimin só voltou a respirar quando finalmente entraram no ritmo.
Eles foram embora mais cedo que os outros, e caminhando com os ombros colados um no outro, Jungkook contou que nunca havia estado com um menino. Nem com meninas, mas disse que gostava dos dois. Disse que se seu pai descobrisse, estava ferrado.
Eles pararam de se encontrar no parquinho, e começaram a se encontrar na sala da casa de Jimin, no horário em que sua mãe e irmã estavam fora. Como os dois adolescentes que eram, não conseguiram mais manter as bocas longe um do outro, se beijando durante os filmes, nos intervalos que faziam quando estavam estudando, e antes de comer alguma coisa, ao se encontrar, ao se despedir.
Um dia, não lembro qual, eles estavam na sala de casa, tentando aprender poses complicadas de yoga, quando a porta abriu de repente, eles caíram um por cima do outro, levantaram-se em um pulo, e Jungkook derrubou um porta-retrato na estante, enquanto a mãe de Jimin analisava a situação.
Jungkook, vermelho, apanhou o casaco do uniforme, se curvando várias vezes em um pedido de desculpas desesperado, tentou ir embora, mas a mãe de Jimin pediu que ele ficasse. Naquela noite, Jungkook jantou com eles, conheceu o quarto de Jimin pela primeira vez, e antes de ir embora, perguntou a mulher se poderia namorar com o filho dela. Jimin quase caiu mortinho no chão da sala.
Alguns dias depois, Jungkook comprou um par de pulseiras de casal para eles. Jimin não a tirava nem para tomar banho. Jeon jantava na casa do namorado dia sim e dia não, e jogava Mario Party com ele e irmãzinha nos sábados, ficando para dormir algumas vezes, a sogra lhe dava um colchão para dormir, mesmo sabendo que ele provavelmente pulava pra cama de Jimin no meio da noite.
No aniversário de Jeon, ele prometeu que ia até a casa dos Park assim que terminasse de comemorar com a própria família. Jimin não foi chamado para a festinha, mas sabia que Jungkook não podia levá-lo na casa onde morava, então mesmo ansioso para entregar seu presente logo, o esperou em casa, enquanto via as fotos postadas pelos amigos dele no facebook. Gostaria de postar uma foto com ele também, o chamando de bebê. Não podia.
Naquela noite, no entanto, o que parou na frente da casa de Jimin, foi uma caminhonete. Saindo para atender, Jimin soube que aquele homem vindo em sua direção, era o pai de Jungkook.
Ele começou dizendo: — É você o viadinho que está se metendo com meu filho?!
Jimin, que era cerca de trinta centímetros menor que aquele homem, ficou menor ainda.
Sua mãe logo apareceu na porta, confusa. Ele disse a ela: — Você sabe que seu filho é uma aberração?! Sabe que ele está confundindo o meu filho?!
Ela puxou Jimin para perto. — Meu filho não é uma aberração! E o seu filho não está confuso coisa nenhuma!
— Ah, você sabe também?! Ele veio aqui?! E você apoia isso?! — ele fez um escândalo. — Uma adulta como você ajudando a aliciar um garoto!
— Ele veio aqui sim e sempre foi muito bem tratado! — ela o respondeu. — Aliciar? O que ele te disse?!
— Ele me disse que está confuso, que esse garoto começou a se aproximar dele, e que tem o incentivado a fazer essas coisas de bicha! Ele claramente está sendo influenciado! — disse. — Eu vi as mensagens dele no computador do Jungkook, eu o vi dizendo que não há nada de errado nessa relação, mandando o nome de filmes com homens gays! Jungkook me disse que esse menino o incentivou a pensar nessas coisas!
Jimin sentiu nitidamente uma faca atravessar seu peito.
A mãe de Jimin, apertou o filho com mais força contra si. — Pois ele que não venha mais aqui, então! Não há nada de errado com meu filho, e se tem algo errado com o seu, lide você com ele! Sai daqui! Vai embora da minha propriedade!
— Não se aproxime mais do meu filho! — ele disse, lhes dando as costas.
— Com todo prazer, seu ignorante! — a mãe de Jimin gritou de volta. — Vamos, vem pra dentro, meu bem…
Não lembro de ver Jimin chorar tanto.
Uma semana depois, saiu da escola após se despedir dos amigos, cabisbaixo e desanimado, ele não percebeu que estava sendo seguido. E só notou que havia algo errado, quando dois meninos pararam na outra ponta da calçada, ao se virar, ele viu que havia mais três vindo na outra direção. Ao ser agarrado por dois deles, e arrastado até o ginásio da escola, eles só o soltaram quando já estavam na piscina, e antes que pudesse tentar fazer qualquer coisa, Jimin levou um soco no rosto.
— O pai do Jungkook nos contou o que você tem feito! — um deles disse. — É por isso que o Jungkook estava estranho! Você estava o forçando a fazer essas coisas!
— Forçando? — Jimin tentou dizer, mas levou outro soco, que o fez cair no chão
E uma vez que totalmente vulnerável, os garotos o chutaram, até que o arrastaram e o jogaram na água, o impedindo de sair, empurrando sua cabeça para baixo. Park só conseguiu sair quando um segurança espantou os meninos, o ajudando a sair, praticamente afogado, ele cuspiu muita água e precisou ir para o hospital. Sua mãe implorou que ele denunciasse os garotos, mas Jimin preferiu mudar de turno.
A última vez que ele viu Jungkook, foi na formatura do terceiro ano. Jeon estava na platéia, e bateu palmas quando Jimin subiu no palco, com um olhar triste no rosto. Foi a última vez que seus olhares se cruzaram.
E partiu-se em vários pedaços o que era um coração só.
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oi! o que acharam, hm? tentei não deixar pesado
atualização curtinha, mas é só pra contextualizar as coisas
Até mais!
votem e comentem 💜
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