|| VINTE E TRÊS - HÁ ALGO ERRADO - MILEY
Mesmo após deixarmos a ala das crianças, as palavras de James ressoam entre meus pensamentos nebulosos. Seria eu tão cego que não vi minha amiga, a mulher que cuidou de mim após o coma, desenvolver uma paixão por mim? Ou eu dei esperanças inconscientemente? São tantos cenários. Mas nunca escondi dela minha vontade de reatar com meu agora namorado.
Olho para nossas mãos juntas e sorrio, pois é isso que tanto desejei desde o primeiro momento que o vi. Eu tive medo. Muito medo. Fodi as coisas entre nós mas agora estou tendo a chance de acertar as coisas entre nós e vejo que terei de conversar com Mary.
- Acho que vou conversar com Mary. - digo quando chegamos a recepção.
- É o certo a se fazer. - encosta o rosto em meu braço. Deixo um beijo demorado na lateral de sua cabeça, aspirando no processo seu perfume. Me dando conta do quão sortudo sou.
A nossa frente, avistamos Mary que se demora nos observando. Há algo em seus olhos que não consigo decifrar.
- Eu vou esperar aqui tudo bem?
- Tem certeza?
- Tenho, eu estando com você não vai ajudar em nada. A mulher claramente não gosta de mim e não quero constranger ninguém. - uma careta estraga seu bonito rosto.
Caminho até onde ela está, a recepção está com pouco movimento hoje. O que me ajuda a me aproximar dela, pegar em seu cotovelo levemente e ela se deixa levar para um canto com menos barulho. Estamos frente a frente, e é como se eu véu fosse tirado de meus olhos. Ou realmente, a mulher que considerei minha amiga, está verdadeiramente mostrando seus reais sentimentos por mim. Passo a mão por meus cabelos engolindo em seco. De repente as palavras me faltam e tento organizar meus pensamentos.
- Mary...por que não me disse nada? - ela cruza os braços rente ao corpo magro.
- Faria diferença? - rosna baixinho. Seus olhos queimam com raiva.
- Faria. Acredite, se eu soubesse essa conversa iria acontecer muito mais cedo. - digo o mais levemente possível.
- Conversa? Isso é um ultimato! Aposto que foi ideia daquele cara!
- Não, não foi. Fui eu quem quis conversar com você. - suspiro profundamente. - Eu quero pedir desculpas se eu lhe dei algum tipo de esperança. - toco seu ombro. Ela tem lágrimas nos olhos. - Desculpa, eu não queria fazer você chorar!
- Não é culpa sua! - sua atenção se volta para os pés calçados em sapatos brancos. - É muito fácil se apaixonar por você Miley.
Quero me aproximar para lhe abraçar, mas não faço. Ela precisa do espaço dela e comigo nele, só vai deixa - la ainda mais confusa.
- Eu nem sei o que dizer.
- Não diga nada! - sussurra. - Eu cheguei primeiro, aquele homem não tem o direito de me roubar você. - sinto meus olhos se arregalarem. Dou um passo para trás.
- Mary...eu sempre amei James. Até quando estávamos nos evitando deliberadamente, meu coração sempre foi dele e sempre vai ser. - sinto meu coração se apertar por ver que as palavras a atingem em cheio. Mas preciso ser sincero. Não quero mais mentiras na minha vida. - Eu sou muito grato por você ter estado lá para mim quando precisei. Tive sorte por ter uma enfermeira particular tão simpática. Mas foi só isso. Eu não posso dar algo meu que já pertence a outra pessoa.
- Ele não te merece! - suas palavras me enchem de raiva. Mas então sorrio.
- Eu não o mereço Mary! Mas ele me aceitou de volta, não vou perder isso. Eu peço...-uma agitação perto de nós chama a minha atenção e nem termino minha frase. Pois eu conheço muito bem aquelas costas largas.
Em uma maca há um rapaz, ao lado dela estão meu sobrinho Jordan e Paul. O loiro parece que está a três segundos de matar alguém. Olhando bem atentamente para o rapaz na maca, quase tropeço em meus próprios pés. Pois o conheço. É Mathias, o garoto que carrega uma grande tristeza no olhar mas não se deixa ser ajudado. E olhando para seu tronco, entendo a raiva de Paul. Mordo meu punho ao ver tantos hematomas de cores variadas espalhados por ele.
Os enfermeiros, seguido de um médico o levam para uma sala. Nos deixando ali. Jordan a beira das lágrimas, seu irmão o abraça fortemente e eu tento dar ordem a minha mente que está tumultuada agora.
- Amor, o que aconteceu? Quem é o rapaz naquela maca? - demoro a responder pois meus olhos ainda estão fixos no caminho feito pelo rapaz inconsciente. Quem fez aquilo com ele? E por que não pedir ajuda? - Miley, você está me ouvindo?
- Ele vai ficar bem não vai? Diz que vai Paul! Eu acho que machuquei ele. - Paul apenas beija seus cabelos. James vai para o lado do sobrinho desesperado.
- Ei amor! Vai ficar tudo bem sim. - segura seu rosto, beijando sua testa. - Quer um pouco de água para se acalmar? Ou posso chamar sua mãe, ela tem ótimos abraços. - pisca - lhe um olho.
- Eu quero a água.
O irmão tira a carteira do seu bolso, mas uma olhada atravessada de James faz ele dar um passo atrás e sorrir forçadamente. Erguendo as mãos em rendição, confessa simplesmente.
- Força do hábito.
- Vem amor, estava com saudades de você sabia? Não vai mas me ver!
- Eu sou um adolescente agora tio! - diz como se explicasse tudo.
- Oh, e isso lhe dá o direito de deixar de me ver? - diz em tom dramático enquanto desparecem ao irem pelo caminho que leva até a lanchonete do hospital e nesse momento quero beija - lo até perder o fôlego por ter saído. Me viro para o homem ao meu lado.
- Então?
- Não sei de nada ainda. Jordan diz que são amigos mas o garoto corre dele como o diabo foge da cruz. - arruma os cabelos longos em coque. - Nosso gato ficou doente e resolvemos leva - lo até a clínica para que Erick pudesse dar uma olhada nele. Jordan viu o garoto e o abraçou. - puxa o ar com força, as mãos na cintura. - Eu juro que nunca vou esquecer o grito que ele deu. Tinha dor, desespero e uma desesperança nele que me tocou profundamente. Ele simplesmente caiu no chão e chorava de dor.
- Meu Deus!
- Quando eu disse que chamaria a ambulância, o menino pareceu ficar lúcido o suficiente para negar.
- Ele fez o que? - digo abismado.
- Isso que ouviu. Perdi a paciência e gritei com ele. A ambulância chegou quinze minutos depois, ele já tinha desmaiado de dor. - ele fica em silêncio, me observando com seus olhos azuis gelo afiados.
O homem foi um porra com minha amiga, por isso fiz questão da marcar a cara dele anos antes. Mas vi o quanto mudou no decorrer dos anos. Conviver com a filha ajudou. Mas o homem é um monstro nós negócios e esses olhos que me fitam como se fosse me destrinchar e olhar para dentro de mim, lhe deram uma ótima fama.
- O que? - digo entre os dentes.
- Você age como se o conhecesse e ele fosse muito importante.
- Hum...- me afasto dele e fico no canto oposto da recepção.
Mas não deixo de ser observado por ele. Tento calar meus pensamentos agitados que giram em torno de duas coisas. Caçar o infeliz que bateu naquele menino e ser um porto seguro para ele em todo o momento. Dar um lar para ele. Oh Deus! Estou ficando louco ao pensar nessa segunda opção.
Meu namorado retorna com nosso sobrinho muito mais calmo. Paul o pega e enfia debaixo do seu braço. Abraço James de lado também, recebo um beijo em meu pescoço. O que me acalma um pouco. Ele pergunta se podemos ir embora mas peço para que fique um pouco mais. O que ele aceita prontamente. Se eu já não o amasse, eu faria agora. Quase duas horas se passam quando um homem alto, corpo grande em massa, usando roupas gastas e barba desordenada no rosto chega pedindo informações sobre Mathias Smith. Esse é sobrenome dele.
O médico que atendeu o menino mais cedo vem em sua direção e conversam. Quase me aproximo deles para ouvir o que está sendo dito mas quando dou um passo a frente, uma mão que conheço bem, me freia bem naquele instante.
- Nem pense Miley!
- Eu não iria fazer nada! - ergue uma sobrancelha em descrença. - Tudo bem, seria só uma espiadinha.
- Miley! Você nem conhece o menino. - diz baixinho. Olho para meus pés. - Oh Deus! É aquele menino de semanas atrás? - aceno levemente.
Ficamos em silêncio. Não havia nada a ser dito. Para os de fora eu poderia parecer um perseguidor maldito mas eu só quero ajudar. O homem que chegou procurando por informações entra no quarto, ficando lá por tanto tempo que quase entro atrás dele. Logo ele surge e fica olhando para os pés calçados em botas de trabalho sujas com terra. Meu sobrinho se desvencilha dos braços do irmão e vai até o homem.
O cara parece ficar surpreso. Mas logo dá um sorriso completo para ele. Eles conversam durante algum tempo.
- Aquele é o pai de Mathias. Ele disse que está tudo bem com ele. Mas que ele tem uma costela quebrada. - diz quando se aproxima de nós. Fecho minhas mãos em punhos. Como nessa terra de Deus, ele conseguiu uma costela quebrada. Olho para o homem que nos observa e forço um sorriso. Mas por dentro estou louco para tirar informações dele na base do soco.
- Nem pense Miley Sunders!
- Não estou pensando em nada. - lhe dou meu melhor sorriso.
- Eu pedi para vê - lo mas Sandro me disse que terei que esperar um pouco mais. Uma assistente social entrará para conversar com Mathias.
Mordo meu punho para não dizer o que estou pensando. Alguns minutos depois o pai desaparece e uma mulher usando um terninho cinza que se molda perfeitamente ao seu corpo passa por nós. Quase vinte minutos depois ela surge mas não parece muito feliz. O pai do menino vem nos informar que ele sentiu dor, por isso vai dormir por um tempo. E que se quiséssemos ir embora não seria problema. Plantei meu pé no chão daquela recepção e afirmei simplesmente que iria esperar. Paul novamente me observava como se quisesse desvendar minha alma. Mostro meus dentes para ele que bufa.
Algumas horas depois, somos autorizados a entrar. Quase vacilo em meus pés, sentindo o ar ficar preso em meus pulmões ao vê - lo tão minúsculo e frágil nessa cama de hospital que parece ser muito grande para ele. Seu rosto está sereno como nunca vi antes. James preferiu ficar lá fora. Jordan está preocupado perguntando se ele vai demorar muito a acordar e o irmão pede silêncio, pois de acordo com o médico que o atendeu, ele precisa descansar.
- Viram como aquele cara é estranho? - finalmente dou voz aos meus pensamentos. O homem realmente não me passa um sentimento bom.
- O que você está fazendo aqui mesmo Miley?
- Estava por aí e o vi chegar com vocês. - dou de ombros. - Eu o conheço.
- Conhece como?
- Eu o vi por aí. - tenta brincar. - Você sabe, memória fotográfica.
- Agora não é hora de brincar Miley. - quero socar seu rosto.
- Não tem ninguém brincando aqui. Eu realmente o conheço e...- me apresso em explicar, um gemido dolorido corta minhas palavras. Nós nos viramos para o garoto, que nos olha desconfiado e constrangido. - E aqui estamos nós de novo ein? - sorri largamente para mim.
- O que estão fazendo aqui?
- Estou bem também, obrigado. - jogo meus cabelos loiros e curtos para trás.
- Tio! - Jordan grunhe e se volta sorrindo para ele. - E aí Mathias, você está bem mesmo?
- Sim. Que horas são? - se volta para janela.
- Dez. Você estava com dor e te deram um alívio. Que susto você nos deu ein cara. - Paul murmura seriamente. O menino parece receber as palavras de maneira errada, pois logo uma expressão de raiva toma seu rosto.
- Não te pedi por ajuda! - ergue as grandes mãos no ar. O olho seriamente.
- Vamos para casa garoto! - o pai entra no quarto com um sorriso estranho no rosto barbado e para em seu caminho ao nos ver ali. - Quem são vocês? - olho sem entender. Pois esse cara conversou com Jordan. E agora de repente ele não sabe quem somos.
- Eu sou amigo do Mathias. E ele é meu irmão Paul. - aponta para o lado. - O outro é meu tio. - Ele aperta a mão dos dois e não consigo esconder minha careta. - Nós trouxemos ele para o hospital.
- Eu quero agradecer por salvar meu filho. Ele é muito importante para mim. - bufo, pois por algum motivo não acredito.
- Não foi nada. - olho para a bolsa em seu ombro. Não me seguro e pergunto. - Vocês já vão?
- Ele foi liberado.
- Eu posso ir visita - lo?
- Não precisa! - diz entre dentes.
- Claro! É só dizer o dia! - o pai responde por ele. Mathias parece prestes a passar mal.
- Vou nesse sábado. - meu sobrinho se ilumina todo. - Tenho muitos jogos e podemos jogar enquanto comemos. - mas agora ouvindo os planos de Jordan, ele parece esperançoso. - Vou levar tudo fica tranquilo.
- Eu tenho que cuidar do meu irmão. - murmura olhando para seus dedos.
- Eu fico com ele enquanto se diverte com seu amiguinho. - ergo a cabeça rapidamente. Fecho minhas mãos em punhos, pois é medo que vejo em seus olhos. Aquela assistente social não viu isso?
- Não! - grunhe.
Silêncio. Muito silêncio após sua declaração.
- Cara seu pai vai cuidar bem do seu irmão, vai ver. - ele parece não acreditar. Por fim acena levemente.
- Hum...- se vira de costas claramente nos dispensando. - Estou cansado.
Nos despedimos rapidamente, Paul oferecendo seu contato para que o pai o procure se ele ou o menino precisar de algo. Deixamos o quarto em silêncio. Paul retira um molho de chaves do bolso frontal de sua calça jeans. O balançando na frente do rosto do irmão que quase pula em seu lugar, tamanha sua animação.
- O que acha de ir na frente? A música fica por sua conta. - ele recua desconfiado.
- Você me quer longe irmão mais velho?
- Não.
- Hum...- nos deixa andando muito devagar. Quando não o vemos mais, Paul se vira em minha direção e toda a raiva guardada vem a tona em seu rosto.
- Viu o mesmo que eu?
- Sim. Mas vou resolver isso! - digo com firmeza.
- Não vá fazer besteiras! - nos afastamos do quarto. James tem uma garrafa d'água em uma mão e a outra agarra a minha. Seu toque me acalmando um pouco.
- Quem vai fazer besteiras?
- Seu namorado! - ganho um olhar interrogativo.
- Eu não vou fazer nada! Está louco homem.
No estacionamento nos dirigimos para nossos carros. Ofereço minhas chaves para James, que me olha mais de perto mas me recuso a falar. Não sem me virar, entrar na porra daquele hospital e socar a cara de um certo babaca.
- Como Mathias está? - pergunta dando partida e logo deixamos o estacionamento do hospital.
- Com medo. - digo a verdade. Meu sangue correndo furiosamente por minhas veias.
- Como? Me explica isso direito meu amor!
Sugo o ar com força para meus pulmões. Um rosto surge na minha mente. Não somos amigos de longa data. Mas ele foi uma ótima pessoa para James quando eu não estava lá. Ele tem contatos e mesmo se não puder fazer o que vou pedir, ele terá alguém para tomar seu lugar.
- Eu preciso do seu celular.
- Por que? - indaga desconfiado.
- Vai me emprestar? - replico com outra pergunta.
- No meu bolso. - responde por fim.
Enfio meus dedos no bolso da frente, como ele está sentado, demoro um pouco para ter o aparelho em mãos. Desbloqueio e procuro o número que preciso na sua agenda. Faço careta quando encontro.
- Carinho? É sério isso?
- Algum problema com isso? Somos amigos. - diz suavemente. Reviro meus olhos.
Não respondo. Apenas aperto e logo está chamado.
- Hey carinho! Se cansou do loiro metido? - sua voz alegre preenche meus ouvidos.
- O loiro lindo ainda está aqui! - ele ri alto do outro lado.
- E aí cara! Onde está meu carinho?
- Ao meu lado! - tento deixar o ciúmes de lado. - Vamos cortar o papo furado tudo bem? - digo de forma firme. Ele deixa o humor de lado.
- O que está acontecendo?
- Preciso que siga um cara!
13/07/20
Boa segunda gente!!!
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