|| VINTE E OITO - VOCÊ ACREDITA NELA? - JAMES
Discretamente enxugo uma lágrima teimosa que insiste em cair. A mulher ao meu lado faz o mesmo, mas ambos não estamos tendo êxito em nossa missão de não chorar. Lilian com seu preconceito não é a melhor pessoa do mundo. Mas só o fato dela ter procurado ajuda e estar tentando mudar vale alguma coisa. Meu coração quase duplica de tamanho ao ver meu amor ser consolado pela mãe. É lindo sem dúvida.
Quando recebi o telefonema de Julie dizendo que tinham levado as crianças e que meu namorado estava segurando as pontas, eu sabia que tinha que vir. E para ele, segurar as pontas era o mesmo que estar sofrendo por dentro mas disfarçando com humor. E tinha o fato dele ficar com mais raiva e ir atrás do pai das crianças. Crianças que em tão pouco tempo ocuparam um lugar permanente no coração do meu amor. Que com seus sorrisos tinham de alguma forma conquistaram Julieta e os olhares muitas vezes sérios faziam com que meu coração batesse mais rápido.
Quando Miley me informou que ele iria ficar com os meninos, não me surpreendi em nada. Eu já sabia. Eu via na maneira que ele olhava ou na forma que ele falava deles. Não fui contra só pedi que tivesse certeza do que iria fazer. Eles vêem de um lar abusivo, com seus traumas e terão, principalmente Mathias, um caminho árduo pela frente em se recuperar. Eu adotaria os meninos juntamente com ele se me pedisse mas eu o conheço e já estava preparado para a resposta negativa a minha oferta. Mas confio nele para fazer o certo. Não há nada do jovem imaturo de antes nele. Muito menos a confusão que ele se via enredado.
Miley é mais e eu confio nele. Hoje eu confio. E também amo o loiro abusado de sorriso fácil e de coração grande.
- Você acredita nela? - saio dos meus pensamentos com a voz baixa ao meu lado. Seguro seu cotovelo levemente lhe dando um aperto.
- Eu não sei amor! Sabíamos que ele precisava dela mesmo sem saber. Vai ser escolha dele mante - la na vida dele.
- Eu não confio nela.
- É complicado eu sei. Mas ela disse estar buscando ajuda. Vamos ter que dar um voto de confiança para ela.
- Ainda não engulo o fato dela ter te oferecido dinheiro. - bufa e vejo suas bochechas ficarem escarlate. É tão fofa ela que nem acredito que anos anos eu cultivava um ódio mortal dela. Dá mulher que passou pelo mesmo que meu amigo. Por simplesmente só saber parte da história.
- Nem eu, confesso! As pessoas tem direito a segundas chances. Ela está se arrependendo sabe? Mas não vai ser um mas de rosas de uma hora para outra. Só o tempo mostrará os resultados desse passo tão importante que ela está tomando.
- Hum...
- Você fica fofa tão nervosa! - aperto suas bochechas, o movimento faz com que um biquinho se forme em seus lábios.
- Argh!
- É sério! - olho bem para seu rosto e noto seus olhos menos enevoados. - Está tomando seus remédios? - ela prende a respiração. Meu coração falha uma batida. - Julie...
- Estou bem James! Eu estava muito feliz para me entupir de remédios.
- Amor, depressão não é brincadeira. - digo o mais suavemente possível. Ela aperta os olhos castanhos claros em minha direção.
- Eu sei que não!
- Então sabe que é imprescindível seguir com o tratamento. Com remédios e tudo.
- Mas eu estava feliz com as crianças aqui. Matteo me fazia sorrir.
- Eu também sorria com aquela delícia! - me lembro do bebê de olhos claros e pequenos. - Está indo as consultas?
- Talvez!
- Se quiser, vou com você. - ofereço simplesmente. Nunca forçando a questão.
- Me sinto sozinha quando vou lá. Miley quer ir comigo mas não deixo. Ele já tem muito com o que lidar.
- Sabe que estou aqui para o que for.
- Agora eu sei. - me oferece um sorriso pequeno.
Observamos por um pouco mais de tempo a interação dos dois. Lilian em nada parece aquela pessoa altiva e muito segura dos seus pensamentos que teve a ousadia de chegar ao ponto de me oferecer dinheiro para me ver longe do filho. Como se alguns milhares de dólares fosse me afastar da única pessoa que é capaz de me desestabilizar por completo. Que me faz inteiro. Foram anos negando - me a assumir que era ele minha metade. Mas antes havia tanta coisa entre nós.
Sentados na mesa, troco mensagens com Rose perguntando como foi o dia dela. Meu período de licença se extinguiu e voltei para o trabalho. O qual amo com toda a minha alma. Sempre quis ser engenheiro civil. Ver obras tomarem forma desde a fundação é meu maior prazer e faço meu trabalho com tanta dedicação e amor que já ganhei muitos prêmios por isso. Foi um longo caminho para eu chegar onde estou e não me arrependo de nada que passei até hoje. O preconceito latente, as olhadas de esguelha, a pouca valorização do meu trabalho no início da carreira, como se o fato de eu ser negro influenciasse de alguma forma o resultado final. Mas nunca deixei de sorrir para a vida. De dar o dedo do meio para os hipócritas.
"Ben sorriu para mim! 😎😎😎" Rose
"Sério? Ahhhhh eu também quero um sorriso para mim!💞💞💞" Eu
"Ben está esperando com mais duas pessoinhas aqui. 😏😏😏" Rose
- Aqui está! Quer açúcar ou adoçante? - sorri para mim e toma seu lugar na minha frente.
- Açúcar amor! - bloqueio meu celular e dou minha total atenção para ela. Que põe adoçante no seu chá. Pego o recipiente que contém o açúcar e adoço meu chá quente na medida que quero. - Minhas crianças estão lá em casa Julie. - seu rosto se ilumina.
- Hope e Luke? Eles são fofos e tão educados.
- Não se engane com Luke. O pequeno furacão ruivo gosta de ficar pelado!
- Sério?
- Muito sério! Teve uma vez que....- recebo um beijo na bochecha e me assusto pois depois de nos ocuparmos em fazer um chá, esquecemos de que mãe e filho se acertavam na sala. Miley está ao meu lado com sua mãe a reboque. Ele tem uma expressão impassível.
- Amor, minha mãe quer falar com você! Mas só vá se for o que quer. - emenda simplesmente.
- Tudo bem! - acaricio sua mandíbula. Ele olha entre sua mãe e eu por um segundo ou dois.
- Tem certeza?
- Absoluta. - me ergo e o faço se sentar no meu lugar. - Aproveita e toma um pouquinho de chá.
- Não estou nervoso! - faz drama. Reviro meus olhos.
- Chá não serve só para isso.
Sigo a mulher que me ofereceu dinheiro no nosso último encontro. Nada nela mudou a não ser um pouco do seu preconceito do qual ela viu que passou dos limites e está tentando se livrar dele. Ficamos frente a frente um com o outro e vejo - a engolir em seco. Suas características são muito parecidas com as da filha, que chega ser assustador.
- Você pode não acreditar em mim, mas sinto vergonha pelo que disse a você na última vez que nos vimos.
- Não posso julgar seus sentimentos Lilian. Não sou eu a senti - los. - disse simplesmente.
- Eu não vou dizer que mudei da noite para o dia. - aperta com força a alça da bolsa em seu ombro delgado. Aceno firmemente mostrando que sou todo a ouvidos. As palavras dela não me machucaram tanto quanto sua intransigência com o filho. - Estou passando por todo um processo. Não aceito completamente essa forma...essa forma como vocês dizem amar. Eu fui criada sob outra ótica. E foi meu preconceito que me afastou de ambos os meus filhos. Não é de agora admito. - passa a mão pelos cabelos loiro lisos e comportados. - Enfim, eu só quero te pedir perdão por te oferecer dinheiro para ficar longe do meu filho.
Fico um tempo assimilando suas palavras. Vejo pelo seu olhar meio perdido que ainda é difícil para ela externar essas palavras, mas o que importa é que está tentando.
- Tudo bem Lilian! Passou. - digo com um pequeno sorriso. - Temos o mesmo desejo que é amar Miley.
Acena rigidamente.
- Posso te dar um abraço? - ela arregala os olhos na certa me achando um louco. Mas só quero que ela veja que não disse nada da boca para fora.
- Cla - claro. - a envolvo em meus braços. No início o abraço é meio sem jeito e rígido mas aos poucos ela suspira e devolve o gesto de forma calorosa. - Obrigada.
- Nada. - nos separamos. Ainda sem jeito pigarreia.
- Filho, mamãe pode ficar um pouco mais? - o loiro abusado pensa em negar mas dou apenas uma olhada atravessada para ele. Ela está tentando.
- Tudo bem. - ela coloca a bolsa sobre o sofá.
- Aceita um chá Lilian?
- Claro Julieta. - se senta ao lado dela
- Está tão bonita.
- Obrigada.
- Vou em casa buscar uma mochila com tudo o que vou precisar para ficar aqui.
- Não vai! Fica aqui com a gente.- me puxa para seu colo fazendo beicinho. - Você pode usar minhas roupas.
- Não vou demorar e tenho que usar uma roupa diferente amanhã no trabalho não acha?
- Você tem razão.
- Eu sempre tenho. Não vou demorar, preciso ficar de olho em você. - digo olhando em seus olhos. Na última vez que algo aconteceu com as crianças, ele foi atrás do pai delas.
- Não vou atrás do filho da puta!
- Linguagem Miley! - ele dá de ombros sem parecer culpado.
- É a verdade mãe. O que ele fez com os próprios filhos...- suspira pesadamente.
- Como eles são? - indaga animadamente.
O filho se ilumina todo assim como eu e sua amiga. Nós três pegamos nossos celulares prontos para mostrar as dezenas de fotos que temos deles. Eles ficaram por uma semana apenas. Não foi legalmente mas vi o quão felizes estavam aqui. Não quero nem imaginar como estão naquele abrigo.
- Vai estar aqui quando eu voltar? - digo para Lilian que toca a tela do celular de Julie com veneração. Ela sorri minimamente.
- Não sei.
- Se estiver, espere para ver minhas fotos. São as melhores.
- As minhas são! - meu namorado protesta.
- Está na cara que são as minhas. - rindo beijo meu amor e me despeço deles.
O caminho para casa foi rápido, quase não peguei trânsito. Aceno para meus poucos vizinhos que estão em suas varandas ou quintais. Mal entro e quase sou derrubado pelas minhas crianças. Enquanto tenta me escalar juntamente com seu primo, Hope arruma os óculos no rosto redondo. As roupas coloridas sendo sua marca. Luke já está sem camisa, o que me faz rir de escorrer lágrimas de meus olhos.
Consigo pegar ambos em meus braços e beijar o rostinho dos dois. Há algo parecido com calda de morango no nariz de Luke e também na bochecha de Hope. Rose olha para nós sorridente, com um Ben muito esperto em seus braços. O garoto parece ter meses aos invés de alguns dias.
- Deixa eu ver se acerto! - finjo pensar. - Sorvete?
- Com muita calda tio. Tia Rose deixou.
- Não pude resistir. Fizeram até beicinho.
- Se revolva com as feras que tenho como amigas.
- Elas me amam!
- Até o momento que você enche seus filhos de açúcar. - digo me sentando no outro sofá.
- Eu? Alguém tomou sorvete aqui? - faz teatro. Aperto meus olhos em sua direção.
- Fiquem aqui bebês, vou lavar minhas mãos.
Uso o banheiro do andar de baixo mesmo e seco minhas mãos na toalha que há pendurada no suporte ao lado da pia. Quando chego a sala, Hope está concentrada em mais um de seus desenhos e Luke está pendurado em minha amiga.
Pego Ben, tomando cuidado com sua cabeça e coluna. Ando para frente e para trás com ele e me atualizo com a mãe como foi o dia deles. Diz também que tem pouco mais de duas horas que as crianças estão aqui. Que de início minhas amigas passaram aqui para ve - los mas as crianças insistiram em ficar um pouco mais. Marcel estaria vindo pega - los mais tarde.
- Disse a elas o que aconteceu. Fiz errado?
- Não! - Ben faz beicinho mas não chora. Seus grandes olhos estão fixos em mim. - Eu mesmo esqueci. Julie me ligou tão apavorada que nem me lembrei de avisa - las.
- Como o loiro lindo está?
- Segurou firme as emoções até a mãe chegar. - faz careta. Dou uma risadinha de sua reação.
- Foi uma surpresa confesso.
- Ela te disse alguma besteira?
- Não. Ela queria apenas consolar o filho e foi nos braços dela que ele chorou. - a imagem ainda me aperta o peito. - Ela disse que está tentando entender o filho, está fazendo até tratamento.
- Não te machucando ou o loiro lindo, tudo bem.
- Olha ela, toda leoa!
- Eu protejo aqueles que amo!
Passo um tempinho a mais com eles. Depois vou até meu quarto arrumar uma mochila para mim. Aviso para minha amiga que estarei com meu celular ligado e que qualquer coisa era para ela me ligar. Estaciono em frente a casa do meu namorado quase oito da noite. A luz da varanda está acesa. Bato na porta e quem me atende é Julie. Vejo que está um pouco pálida, fico preocupado.
- Oi amor! Que cara é essa? - abraço - a rapidamente.
- Ligaram do abrigo.
- Aconteceu alguma coisa?
- As crianças sumiram! - sinto meu coração parar. Olho ao redor e não há sinal de mãe ou do filho.
- Onde ele está?
- Acabou de entrar no banho. A assistente acabou de ligar.
- Ainda bem que cheguei a tempo. Vou com ele.
- Ele não quer que ninguém vá com ele.
- Vamos ver então.
Meus bebês não tem um minuto de sossego!
Kkkkkk
15/07/20
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