|| TRINTA - FICA LONGE DE MIM - MILEY
Suspiro me sentindo satisfeito comigo mesmo, enquanto guardo minhas coisas em minha bolsa. A sensação de estar no lugar correto e fazendo a coisa certa é o que ajudou a seguir em frente sempre que deixava as crianças felizes e sonhando com as histórias que conto. Queria fazer mais por elas, tirar por exemplo de alguma forma o sofrimento delas. Ter palavras o suficiente para confortar os pais que precisam mostrar estar fortes p tempo todo. Mas se é contando histórias das mais diversas, que faço a diferença na vida desses pequenos seres, é o que vou continuar fazendo.
Me despeço de cada uma delas com um beijo e um abraço muito apertado. As mães estão presentes hoje e algumas derramam lágrimas de agradecimento, o que me deixa um pouco constrangido. Só estou fazendo minha parte e amo tudo isso. Jhonny acena animadamente para mim com a mãe ao lado. A mulher que é sua cópia fiel também tem lágrimas nos olhos, o motivo vai além de se emocionar com uma história infantil. Mas sim, o fato do tratamento do filho está ocorrendo tudo como detalhado pelo médico e que em breve o filho iria para casa. O pai ainda segue viajando a trabalho, pelo tempo que passo com ele, sei que é algo que o deixa triste. Mas ele tem a mãe e vejo que ela faz de tudo para ele.
- Tio, onde está o seu James? - Emma agarra minhas pernas e me olha ansiosamente. Seguro uma risadinha ao ver que não fui só eu quem cativou essas crianças curiosas. Quando James vem ele faz questão de se vestir a caráter. Hoje ele era a Rapunzel.
- O meu James? - a pego em meus braços. Ela enrola os finos bracinhos ao redor do meu pescoço, se apertando contra mim. - Ele foi se trocar, sabe? Ele só pode ser a Rapunzel para vocês.
- Por que? - os olhinhos castanhos estão fixos em meu rosto. Curiosidade é nítida neles.
- Vocês são muito especiais. A transformação dele só acontece para as crianças lindas que há aqui.
- Oh! - sua cabeça cai para o lado. Sua boca aberta em um "o" perfeito. Ela pensa por um instante e me presenteia com seu melhor sorriso, aquele que é tão forte e quente que me toca profundamente. - Eu sou especial? E linda?
- Muito especial mesmo! E linda assim como eu! - ela ri alto, batendo palmas animada.
- Você também é especial então tio! Mas não acho bonito não! - ofego dramaticamente. Fingindo tropeçar atingido por suas palavras.
- Assim você me machuca. - a danadinha esconde o rostinho em meu ombro. Seu cabelo escuro como a noite está crescendo aos poucos.
- Já chega malandrinha, tio Miley tem que ir.
A mãe sorri em agradecimento para mim ao pegar a filha nos braços. Elas acenam para mim e logo deixo a sala de leitura que pertence a ala pediátrica. Antes mesmo de fechar a porta branca e pesada completamente, um corpo pequeno se choca contra o meu. Nem dá tempo de segurar quem quer que se chocou comigo, pois logo tenho lábios que não são do meu namorado contra os meus.
Respirando pesadamente, consigo afasta - la tão logo sua língua tenta aprofundar o beijo. Diante de mim, a mulher que cuidou de mim após o coma e quem eu considerava minha amiga aqui nesse hospital, me olha com expectativa. Como se o beijo que me deu tivesse algum consentimento da minha parte. Limpo minha boca rudemente e recuo um passo, minhas costas pressionadas contra a porta.
- Está maluca? - digo alarmado, olhando ao redor em busca de James. Metade de mim está aliviado por não vê - lo. A outra metade está com raiva do atrevimento de Mary.
- Estou louca por você sim e não é de hoje Miley! - diz alegremente. Como se o fato de ter conversado com ela dias atrás, talvez fosse apenas um sonho. Uma ilusão.
- Mulher, me diz uma coisa. Está afim de me foder? - recua como se eu tivesse batido nela, mas é como parece toda a situação. Quem em sã consciência beija uma pessoa que tem compromisso com outra? Eu tenho um namorado.
- Eu sempre estive aqui para você. Ele não!
- Por minha causa! Eu o mandei embora, estou cansado de te dizer isso. - sinto minha cabeça latejar. Ela sempre volta nesse mesmo assunto.
- Eu só quero uma chance. Eu posso te fazer feliz! - diz atropelando as palavras. A euforia dela me causa medo. Ela parece não estar me ouvindo. - Posso também lhe dar crianças que tentam o seu sangue!
- Eu tenho alguém que me ama Mary! - digo levemente. As bochechas dela estão vermelhas, os olhos meio frenéticos. - Ele também pode me dar filhos!
- Não do modo natural! - fala ferozmente. - E muito menos aquelas crianças traumatizadas podem te dar uma noção de família.
- Isso não vem ao caso e...- aos poucos assimilo suas palavras e a olho mais atentamente. - O que disse?
O corredor está praticamente vazio, do outro lado da porta posso ouvir as crianças animadas com o lanche que é oferecido após o momento de leitura, pelo hospital. E também cantam suas músicas favoritas acompanhadas dos pais.
Olho a enfermeira diante de mim de cima a baixo. As roupas que eram perfeitas, estão amassadas e nos joelhos há uma sombra de amarelo. Os cabelos que eram penteados com perfeição, estão presos em um coque solto e um pouco torto. E tem os seus olhos, há uma ponta de insanidade neles que nunca vi.
- Aquelas crianças vão dar trabalho sabe? Eu pesquisei. O mais velho não tem mais jeito e o bebê tem síndrome de Down, você não está preparado para isso. - tenta me tocar. Mas me afasto o quanto posso dela.
- Como soube delas?
- Eu te segui. - pisca algumas vezes.
- Me seguiu? Está louca mulher?
- Eu só quero o seu bem.
- O meu bem está agora no banheiro se trocando e vai estar aqui em poucos minutos para que possamos ir ver nossas crianças! - digo entre dentes.
- Miley...
- E vou te dizer isso uma única vez e espero que entenda: fica longe de mim!
- Não posso!
- Pode e vai! Se não vou levantar uma ordem protetiva contra você por perseguição!
Por alguns segundos não há palavras entre nós.
- Nós somos amigos! - seus olhos se enchem de lágrimas. E parecem ser tão reais. De repente não há nada de frenético nela. Ela volta a ser a Mary que conheço desde que me acidentei. Mas não compro seu teatro. Estou desconfiado demais para isso.
- Não mais Mary! Não quando insiste em ultrapassar os limites desse jeito. Você me seguiu mulher! - passo a mão por meus cabelos.
Meu namorado chega a uma parada brusca ao nos ver, seu olhar vai de mim para a mulher a minha frente. Sobre o ombro esquerdo leva a sua bolsa onde está sua fantasia e celular. Em uma de suas mãos, uma garrafa d'água está entre seus dedos. Curiosidade toma suas feições.
- Tenho que ir! - dou a volta por seu corpo e caminho a passos rápidos em direção ao meu namorado.
No percurso quase tropeço mas me recupero rapidamente. Pego em sua mão e juntos vamos para meu carro. Olho para o céu e vejo o Sol escondido entre as poucas nuvens espalhadas por ele.
Abro a porta do carro para ele. Dou a volta e me sento no banco do motorista. Que veio dirigindo foi ele, mas agora eu preciso disso. Preciso fazer algo com minhas mãos. Passo a mão por meu peito, sentindo meu coração acelerado. Quase posso senti - lo em minha cabeça. Engulo em seco deixando minha cabeça cair contra o volante.
Sinto sua mão em minhas costas, a carícia suave me acalmando aos poucos. Não consigo nem olhar para ele. Mas sei que terei de dizer o que aconteceu há alguns minutos atrás. Quando me aceitou de volta, foi como voltar a respirar novamente. E sei que nossa relação não resistiria a mais mentiras ou omissões.
Não dessa vez.
Puxo o ar com força para meus pulmões.
- Preciso te contar uma coisa!
- Sou todo ouvidos amor. - ainda sem olhar para ele. Solto de uma vez.
- Mary me beijou. - o movimento lento e calmamente de sua mão para abruptamente. Me fazendo sentir carente de repente. Me viro em sua direção e corro para me explicar. - Mas não retribui. Fui pego de surpresa! Eu nem a vi sabe? Ela trombou comigo e de repente sua boca estava na minha e...- meu queixo é erguido. Estava tão envolvido em minha explicação que nem ao menos notei estar olhando para meus dedos em meu colo.
- Ei, calma. Respira amor. - diz muito calmo. E isso me deixa com medo. Ninguém fica calmo assim ao saber que seu namorado foi beijado por outra. Aperto meus olhos em sua direção.
- Você está muito calmo!
- Devo ficar nervoso?
- Não necessariamente.
- Me explica isso.
- Eu...
- Me diz o que aconteceu depois do beijo.
- Fiquei muito nervoso sabe? Eu tenho muito amor ao meu pau e você quando está bravo acerta qualquer lugar no meu corpo.
- Seu pau é maravilhoso amor. - beija meu rosto.
- Estou tentando me explicar aqui.
- Eu sei. Sei quando está mentindo Miley. - isso me cala. - O pouco que lidei com sua amiga, vi o quanto pode ser abusada. Se você diz que não teve culpa, você não teve.
- Hum...- olho bem para ele. Ele abre a tampa da garrafa e sorve um gole do líquido transparente. - Ainda não entendo.
- Miley...- pega minha mão nas suas. O calor delas me faz sorrir como um bobo. - Quando me procurou meses atrás, eu disse que te amava mas não confiava em você. Se lembra? - aceno levemente. - Você conquistou minha confiança aos poucos amor. Você poderia me esconder o que aconteceu, mas escolheu me contar. E sou grato por isso. Não temos idade para jogos ou coisa do tipo. Estou aqui para você e sei que se precisar, estará aqui para mim. E é isso que importa.
Como amo esse homem. Enquanto as vezes fico com raiva e quero resolver as coisas com meus punhos, ele vem com suas palavras sábias e me mostra que as vezes somos nós que complicamos as situações.
- Eu te amo sabia?
- Eu também. - dá uma risadinha. - O que vai fazer em relação a ela?
- Mandei ficar longe de mim! - digo com firmeza. Aquela lá dentro não lembra em nada a mulher que conheci. - Acredita que ela me seguiu? E se você ouvisse as porcarias que disse sobre minhas crianças...- bufo com raiva. Meu namorado fica muito sério de repente.
- Ela fez o que?
- Disse merdas...
- Antes disso!
- Me seguiu.
- Isso é sério amor. Vamos ficar atentos tudo bem? Se as coisas piorarem, vamos a polícia.
- Acha que vai ficar pior? - digo sentindo um arrepio que percorre minha coluna.
- Do ser humano, eu espero tudo. Agora vamos, nossas crianças estão nos esperando. - seguro sua nuca roubando um beijo rápido dele.
- Nossas? - dou partida no carro. Ele me olha como se eu fosse um estúpido. Deixamos o estacionamento do hospital.
- Deixa de ser tão possessivo! São minhas também! - diz com os olhos sérios.
Não questiono, apenas nos levo para as crianças que ocupam uma boa parte do meu coração e nem fizeram um esforço para isso. Apenas chegaram e com pouco tempo dominaram tudo em mim. É algo inexplicável. Muitos não entendem. E não precisa. Eles são meus e é isso que importa.
Nosso caminho será árduo. Mas recompensador no final.
[...]
Como disse que faria, assim que estaciono vejo - o na porta. Ele veste os moletons que lhe foram emprestados e tinha um olhar ansioso no rosto magro. Há sombra sob seus olhos escuros e os lábios estão pálidos. Seu irmão se retorce em seus braços. Mas ele não tira os olhos de veículo.
Salto do carro, pego na mão de James e após apertar um pouco, recebi um sorriso completo.
Subimos as escadas e não me contive, o puxo contra mim, seu rosto ficando contra meu peito. Matteo usa esse momento para agarrar o cordão em meu pescoço.
- Sentiu saudades de mim?
- Hum...- sua única resposta é um grunhido. James me repreende sutilmente.
- Confessa que sentiu! - ele se afasta e lhe dou meu melhor sorriso. Ele revira os olhos. - Você revirou os olhos para mim. Estamos nos entendendo.
- Só queria comprovar que cumpriria sua promessa. - diz seriamente. Mas não me abalo. Por dentro estou comemorando mas por fora alivio o ar.
- Eu fiz olha só! Não sou maravilhoso?
- Deixa de ser convencido amor! - meu namorado me soca o ombro. - Posso pega - lo Mathias?
O garoto olha do irmão para ele. É semlre assim, essa indecisão. Como se pesasse suas opções, decidindo ceder ou não. Deve ser cansativo ter de pensar muito para fazer muitas coisas.
- Acho que sim! - o entrega para James, que beija seus cabelos e aspira seu cheiro. Matteo agarra seu rosto com suas mãozinhas gordinhas e tenta lhe dar um beijo que mais parece uma tentativa de afogamento por baba de bebê.
- Vamos nos sentar ali naquele banco? - digo enquanto observamos ele se mover em meio ao gramado pouco cuidado da frentedo local. Meu namorado move os lábios bonitos em uma conversa baixa com o bebê. O garotinho olha ao redor de forma intensa. É como se ele soubesse o que está acontecendo.
- Tanto faz!
- Vou traduzir isso como um sim! Já fui um adolescente sabe?
- Parece que ainda é. - murmura baixinho cheio de humor. Levo a mão ao peito de forma teatral.
- Isso foi uma piada vinda da sua boca?
- Não!
- Sim! - comemoro alegremente.
- Não!
Dou uma risadinha e quase o ajudo a se sentar no banco de cor verde de madeira. A pintura em sua maioria está descascada. Evidenciando que não é um móvel novo.
- Como foi seu dia?
- Hum...
- Sabe que pode confiar em mim não é? - me recosto na madeira. Ela range e ficamos imóveis. - Se eu cair, pelo amor de Deus. Me ajuda, não faz bem para meu ego cair na frente do namorado. - digo alto. James ri alto de onde está, uma flor em sua mão. A qual o bebê observa sem nem ao menos piscar.
- Seu ego é forte demais para se abalar com uma simples queda. - diz me observando de esguelha.
- É, tem razão!
Por um tempo apenas olhamos para o jadriam onde caminhava lentamente o amor da minha vida, segurando seu bem mais precioso. Ele vez ou outra me observava de canto de olho.
- Jordan esteve aqui hoje.
- Conversaram?
- Não muito. - engole em seco. - Na verdade senti um pouco de vergonha.
- Como?
- Ele veio com o pai que tem umas tatuagens bem legais. Mas me senti menos que ele. - dá de ombros. Apertando os punhos no colo como se revelar aquilo, me permitisse enxergar sua alma.
- Você não é menos que ele! - digo seriamente. Eu sou o cara que brinca até com a curva que o vento dá. Mas quando tenho que falar sério, eu falo. - Ele é seu amigo, estava ansioso para te ver e tem um coração de ouro. Não diminua a amizade de vocês a nada.
- É estranho. Ninguém nunca quis ser meu amigo. Aí ele surge do nada e anuncia que quer ter uma amizade comigo? Não acredito. - diz ferozmente. E fico feliz. Pelo pouco que vi, ele não tinha a chance de se defender ou ter suas próprias opiniões. E vendo - o se posicionar sobre algo, é bonito de se ver.
- Tem todo o direito de não confiar sabe? Quem deveria te amar e ser seu abrigo, só te decepcionou. - aponto para James, decidindo dar um pouco de mim para ele. - Está vendo aquele cara maravilhoso ali? Ele é bem lindo, tipo muito gostoso! - brinco arrancando uma risadinha dele. Parecendo sentir que está sendo o centro da conversa recebo um olhar desconfiado. - Eu fiz muita besteira sabe? Tinha tanto medo de nos assumir para o mundo que quebrei aos poucos a confiança dele em mim, em nós. Quase me casei com Julie. - o garoto me observa agora muito atento. Os olhos arregalados. - Sim, ela é linda não é? - confidencio. Suas bochechas ficam vermelhas de repente. - Mas também tinha medo. Dois medrosos e pode imaginar a merda que deu.- Subo um pouco minha calça, mostrando minha prótese. - Anos depois, ainda era apaixonado por James. Impossível esquecer aquele homem. Tomei coragem e fui atrás dele.
- O que aconteceu? Eu te daria um soco! - diz bravo. James iria enche - lo de beijos.
- Eu também me socaria, acredite. Ele disse que me amava. Mas que não confiava em mim. - engulo em seco. Me lembrando nitidamente daquele dia. Das roupas que usávamos, as expressões que moldavam nossos rostos. Tudo.
- Vocês estão namorando...
- Sim, mas tive que trabalhar por isso. Confiança não é algo dado livremente Mathias. Não quero me dê ela assim também. Quero merecer. Sei que prometi que faria o possível para ficarem comigo. Mas deu errado. Mas vou cumprir o que prometi. Vir aqui todos os dias, não vou deixa - los. Vou ganhar sua confiança nem se for aos poucos. Sou paciente.
- Não é nada! - James se junta a nós. - Hoje eu sou namorado dele mas nem um pedido foi feito.
- Não vejo você reclamando quando...- o chute que recebo no joelho me cala.
- Miley, temos crianças entre nós.
- Desculpa. - digo com um sorriso insolente no rosto. Mathias tem os olhos atentos em mim. - Dê um voto de confiança para Jordan. O garoto realmente quer ser seu amigo.
- Ele pode ter outros amigos.
- Pode não parecer, mas ele também não confia tão facilmente.
Fica em silêncio por um tempo.
- Eu não quero voltar para casa. - confessa por fim.
- Eu não quero que volte também. E você não vai.
- Miley...- me avisa. Mas no fundo do meu coração eu sinto que eles não vão voltar para a casa do pai que tem.
- Animado para voltar a estudar? - pergunto na intenção de mudar de assunto.
Mathias se ilumina todo. Ele realmente gosta da escola. Ele diz que vai voltar na semana que vem, já que não sente tanta dor a não ser algumas fisgadas quando faz um movimento muito brusco. Por tanto quanto podemos, ouvimos o garoto calado falar de uma parte de sua vida que não foi contaminada pela a agressão do homem que deveria protege - lo.
Quando estamos voltando para casa, com minha mão presa a de James, prometo mais uma vez a mim mesmo que Mathias terá uma boa vida. A vida que ele merece e da qual foi privada por tanto tempo.
15/07/20
Último do dia. E na segunda - feita vou postar os capítulos finais.
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