|| QUATRO - AMIGOS? - MILEY
Ainda de pé, enfio ambas as minhas mãos em meus bolsos frontais. Assim impeço minhas mãos de tremerem devido o nervoso ou de criarem vida própria e tocarem cada centímetro de seu corpo macio. Ele na certa não mudou nada. Sua postura não é nada relaxada, se comparada com a que exibia ao lado do tal amigo. O sorriso fácil que enfeitava seu bonito rosto e que morreu assim que me viu parado feito uma estátua na sua porta tão cedo. Como sempre a dor com a qual tentei me acostumar no decorrer dos anos, me acertou com força total, quase me arrancando o ar dos meus pulmões. Pois um dia esse mesmo sorriso que me foi negado com tamanha rapidez e facilidade, foi meu. Eu era o responsável por coloca - lo lá. E também fui o responsável por apaga - lo.
Ele mantém o contato visual, o desafio firme em seus olhos escuros e que tem o poder de me desarmar por inteiro. Ele parece tão seguro de si, na verdade essa é uma das qualidades que ele tem que me atraíram nele desde o início. Mesmo eu estando ainda um pouco confuso na época da faculdade, James sempre foi essa torre forte que é hoje. Se ele queria algo, ele ia lá e pegava. Quando chegou para se juntar ao nosso trio de amigos, consegui esconder com muita dificuldade o efeito ele tinha sobre mim. Mas sempre o estava observando. Em casa minha mãe tagarelava sobre o fato de Julieta ser uma boa menina e que nós deveríamos ter um compromisso. Por dois motivos: a família dela assim como a minha era abastada e de muita influencia e por seremos amigos desde sempre. Na época eu achei que dona Lilian estava brincando, mas eu deveria imaginar que a mulher que me deu a vida não brinca em nada.
Ela levou uma rede de restaurantes bem conceituados a punhos de ferro depois da morte do meu pai com maestria. De uma hora para outra ela foi de uma simples dona de casa para uma empresária.
James me suportou sendo uma massa de confusão e indecisão por um longo tempo. Uma torre forte, repleta de confiança e pensar nisso leva - me a abrir um sorriso involuntário, que quase rasga meu rosto, tamanho o orgulho que sinto dele. O que coloca uma carranca no dele.
- O que é tão engraçado? - dou de ombros.
- Você!
- Está rindo de mim? - aperta os olhos em minha direção. O gesto o deixando com um rosto quase infantil.
- Não...
- Esse maldito sorriso de lado diz o contrário.
- Sorriso de lado? - agora sorrio de verdade e ele me acompanha e por alguns segundos não há mais nada entre nós.
Não há mais mágoa, ressentimento, tristeza ou raiva marcando nossas vidas. Somos apenas dois homens no auge de sua idade, ocupando um mesmo espaço e sorrindo de algo bobo mas que foi capaz de acabar com a distancia entre nós por sólidos e maravilhosos segundos. Mas nada nessa vida é para sempre e então o clima tenso toma seu lugar e o silencio desconfortável se instala.
- O que veio fazer aqui Miley? - nada de tom caloroso de segundos atrás. Agora acredito que iremos falar sério.
Eu tinha toda a intenção de dizer tudo que está entalado em minha garganta por tanto tempo. Mas minha intenção foi para o maldito inferno quando ao chegar aqui, vejo Daren, a pedra no meu sapato e o cara mais corajoso que eu, bem ao seu lado.
- Eu já te disse. Pedir uma chance. - digo calmamente. Ele me fita por um segundo para logo rir tanto que quase cai do sofá. Bem agora, é ele quem claramente está rindo de mim. Seguro um grunhido. Acho que estou fazendo alguma coisa errada.
- Eu vou te perguntar novamente, você por acaso está vendo algum palhaço aqui?
- Não. Mas pelo visto quem está fazendo o papel de bobo da corte sou eu não é? - digo amargamente.
- Miley, me responde uma coisa. Tudo isso aqui. - indica com as mãos com movimentos frenéticos o espaço entre nós.- É por causa do que aconteceu ontem no restaurante? Por que se for, eu te coloco para fora da minha casa a base do soco. Pois não vou ser projeto de redenção de ninguém. - diz ferozmente. Pisco duas vezes.
Me viro de costas, passando as mãos por meus cabelos.
- Ela não foi a causa em tudo. - digo sinceramente.
Os olhos castanhos claros antes iluminados pela vida de Julieta me vem a mente. Em um piscar de olhos vejo - a sentada em sua banheira, olhar perdido e corpo trêmulo. Enquanto tentava dar banho nela, ouvia ela repetir uma vez ou outra para eu não ser como ela. Passei a noite toda ouvindo seus soluços e me perguntado quando iria tomar uma decisão. Quando eu iria ter coragem de ir atrás do homem que amo e que tanto machuquei. Minha amiga hoje é a sombra da mulher que foi um dia. Hoje ela é apenas o retrato dolorido de uma pessoa que perdeu muito e está se perdendo bem diante dos nossos olhos. Sua família, no entanto, pouco se importa.
- Então? - instiga me tirando dos meus pensamentos.
- Você é tudo para mim James, menos meu projeto redenção como você mesmo intitulou minha vinda aqui. - me viro para que veja a veracidade das minhas palavras. Eu não achei que fosse fácil chegar aqui e praticamente implorar para que volte para mim. - Você é o homem que amo e sempre vou amar. - ele ofega desviando seus olhos dos meus. Suas mãos se torcem em seu colo.
- Acho que é um pouco tarde para seu surto de coragem e suas palavras. - se põe de pé. Mas mantém distância. Uma distância que é maior que o pequeno espaço entre nós.
- Eu sei. - seguro a vontade de chorar como um bebe chorão. No tempo que estivemos juntos eu nunca pronunciei as três preciosas e poderosas palavras para ele. Na verdade eu não as digo para qualquer um. - E não sabe como me arrependo disso. Por isso eu preciso de uma chance para fazer a coisa certa.
Ambos nos permitimos nos perder na quietude que se seguiu após minhas palavras.
- Eu te amo Miley. - me sinto ser inundado por um ânimo que percorre as veias como um combustível que meu corpo precisava. Mas ele vai embora assim que abre novamente sua boca. - Mas não confio em você. Você quebrou cada pedaço de confiança que tinha a cada vez que era mais fácil se esconder ou nos esconder do que lutar por nós. Sei que não estou sendo totalmente justo. - ri em tom amargo. - Eu sempre tive o apoio dos meus pais em tudo. E você não. Mas eu tinha a tola esperança de ver você lutar por nós. Como eu tinha feito por um tempo. Mas não foi possível. E sabe o que me conforta? - engulo em seco sem palavras. - Nós vivemos o que tínhamos que viver e é isso que importa.
- Não! Eu quero mais de nós. - digo engasgado com meu próprio medo. E auto ódio por ter feito isso conosco.
- Eu não quero. - recebo sua afirmação como em chicote bem no centro do meu peito. Dilacerado pele, músculo e osso, deixando exposto meu fracassado coração. - Estou cansado de me machucar Miley e sei que se eu te der essa chance você vai me destruir.
- Eu mudei James. - exponho sinceramente e com tudo de mim. Totalmente aberto para que veja que não estou mentindo.
É uma verdade sólida em minha vida. Eu mudei, hoje tenho uma noção de como reduzi a nada nossa relação. Do dano que fiz em meu amigo. Se eu pudesse voltar no tempo, eu faria tudo diferente. Quando decidi vir aqui, tinha noção de que eu iria entrar em um abriga tremenda com minha mãe. Que a sociedade me veria de maneira diferente. Mas eu finalmente estava pronto para isso. Pronto para finalmente ser eu.
- Eu sei.
- Podemos começar de novo. Voltando a ser amigos novamente e depois a gente pode ver onde isso nos leva. - lanço as palavras no ar. Eu faria tudo para ficar perto dele novamente.
- Nós já somos amigos! - revira os olhos.
- Você sabe que não mais. - o lembro suavemente.
Por todo esse tempo após ele voltar da Califórnia, e nós nos evitamos mutuamente. O pior acontecia nos aniversários das crianças que amamos tanto. Um de nós nunca aparecia e rasgava meu coração ter de explicar para Hope ou Luke por que não estava lá.
Com a pouca paciência que tenho, espero que ele tenha seu tempo para pensar. Ou ele pode simplesmente me mandar embora da casa dele, como não fingir ouvir desde que cheguei.
- Eu vou me arrepender disso mas tudo bem. - diz lentamente e sem pensar muito, o envolvo em meus braços. Ambos congelamos.
Fecho meus olhos aproveitando que o tenho onde sempre desejei desde que acordei daquele coma. Ele ainda duro como um pedaço de pau, é quem impõe espaço entre nós. Um pouco relutante, dou um passo para trás. Penso em implorar por mais um abraço mas sei que James já me deu muito. Muito mais do que eu merecia.
- Está livre amanhã? - digo a tira roupa. Dando outro passo para trás, ele me olha desconfiado.
- Por que?
- Recentemente abriu um pub no centro, meu colega é o dono. Quer ir lá comigo? - espero ansiosamente por sua resposta. Deus, eu sou horrível nesse negócio de tempo.
- Você já está abusando Miley Sunders!
- Iremos como amigos.
Ele acena meio a contragosto mas aceita, solto o ar que nem percebi estar prendendo. Deixo sua casa quase dando pulinhos e assim que estou perto do meu carro, jogo meu punho no ar. Do outro lado da rua, uma senhora regando seu pequeno jardim, acena para mim muito animada. Acredito que minha alegria seja contagiosa. Retribui o aceno e por muito pouco não atravesso a rua para que pega - lo no colo e girar como um maluco no meio da rua. Esse é o efeito que James tem sobre mim, ele sopra vida em mim cada vez que sorri e não vou estragar as coisas entre nós dessa vez.
Eu não sabia de onde tirei essa história de sermos amigos novamente. Mas diante da possibilidade de nunca mais vê - lo, acabei sugerindo isso. Mas no meu interior eu sabia que essa conversa sobre sermos amigos não riria durar muito. Sufoquei por muito meu desejo de estar em seus braços como antes. De sentir seus lábios nos meus como antigamente e encontrar o prazer juntos, nos permitindo ser felizes nos braços do único homem que amei e ainda amo.
Chego em casa cantarolando como um maldito pássaro, a melodia em si não me lembro a quem pertence. A ansiedade é grande só de pensar que vou poder estar com ele amanhã.
O Pub para o qual vou leva - lo pertence a um colega de universidade, que o abriu tem pouco tempo mas já tem um público bom. E acredito que seja um bom começo para nós. Um lugar neutro e novo para essa nova fase de nossas vidas.
O sorriso em meu rosto não pode ser apagado por nada nesse mundo. E meu cão parece sentir minha animação. Uma que não saboreio tem tanto tempo mas que as vezes me aparece estranha. Mas aceito com prazer. Deixo um afago atrás de suas orelhas, ganhando um abanar frenético de sua calda seguido de pulinhos animados. Do jeito que ele se comporta, parece que estou fora de casa há meses e não algumas horas. Renovo sua água e lhe sirvo um pouco mais de ração. Me jogo no sofá, com os olhos fechados e um estúpido sorriso em meu rosto, ligo para ela. Demora um pouco para que atenda mas logo sua voz baixa soa através do receptor.
- Então?
- Bem, acho que somos amigos agora! - ela bufa e dá uma risadinha. O som tocando meu coração profundamente. Há tanto tempo não escuto um som alegre vindo dela. É reconfortante ser o autor disso.
- Amigos? O que aconteceu com o "Vou reconquista - lo, custe o que custar!" - engrossa sua voz tentando me imitar. Reviro meus olhos.
- Bem, ele tinha visitas. - grunho, me lembrando da proximidade dos dois e do maldito apelido carinhoso.
- E você ficou com ciúmes.
- Sim. - resmungo como uma criança que teve seu doce tirado. Ela ri de novo.
- Não pode culpa - lo Miley! Ele tem uma vida e não ficaria esperando por você toda a vida dele. - evito rosnar, pois foi isso que o mandei fazer naquela cama de hospital. - Ele e Daren estão em um relacionamento?
Fico quieto por um instante.
Toda minha alegria indo para a puta que pariu!
- Bem, eu vou descobrir. - digo apenas. Ela fica em silencio. - Você está bem?
- Estou. - a mesma resposta de sempre.
- O que acha de um almoço hoje?
- Acho que não. - murmura. Bem foi um milagre conseguir tira - la de casa ontem.
- Eu vou estar aqui se precisar, você sabe sim?
- Sei que posso contar com você. - desliga.
Bob me observa atentamente. Bato no lugar vago ao meu lado. Indo contra o que combinamos, o bichano pula sobre mim com patadas brutas, língua para fora e orelhas balançando. Os olhinhos castanhos, quase pretos tem uma alegria genuína e me pergunto se ele sente realmente como estou no momento. Feliz mas com tanto medo, que meu coração parecer bater fora do peito.
Não me movo do sofá por muito tempo. Somente eu e meu cão encarando o nada. Mas minha mente é um turbilhão de atividade.
14/06/20
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