|| OITO - SINTO MUITO ORGULHO - MILEY
Tentei não bufar ou revirar os olhos diante da pergunta cortante de Dimitri. Que o homem não gostava de mim não era novidade, só não sabia que usaria de seu tempo livre para fazer da minha vida um inferno. As crianças ainda estavam na mesa e graças a porra não pareceram notar a súbita mas muito sútil mudança no clima entre nós adultos que somos tão complicados.
Com uma leveza sem igual, Rose que tinha uma carranca no rosto direcionado ao recém chegado, guiou as crianças para o jardim. Elas pareciam muito felizes em sair para brincar e como o Sol hoje não esteve tão forte então eles poderiam curtir um pouco do dia lá fora sem se preocupar. James na certa desistindo de juntar a louça que sujamos, bufa cruzando os braços rente ao peito. Me ergo vagarosamente, me virando para o homem que é irmão do cara por que sou louco e vejo que está perto demais. Ao contrário daquele dia, hoje não há farda ou carro de polícia mas sei que o maldito ainda tem uma arma. Não que esteja com medo. Ele não atiraria em mim na frente do irmão. Quero acreditar nisso.
Munido dessa certeza, que é firme como uma rocha em meu ser, lhe presenteio com um dos meus melhores sorrisos. Com direito a uma piscadela marota. Ele parece ferver de raiva, o que me diverte a um nível sem igual. Grunhindo como um bicho enjaulado, aponta o dedo em minha direção.
- Está rindo de que seu merdinha? - ergo uma sobrancelha.
- Acho que agora sim vamos conversar direito não é? - o olho de cima a baixo, fazendo questão de me demorar. - Sem carro de polícia, sem farda.
- Mas eu ainda tenho uma arma seu filho da mãe!
- Joga ela fora. E me enfrente como um homem! - ergo ambas as minhas mãos e o chamo para a briga.
- O que você acabou de dizer? - se lança na minha direção. Fico sem ar ao levar uma cotovelada tão forte que quase caio.
- Merda! Isso doeu James! - Dimitri ri de mim. Mas logo recebe o dele. Com o irmão entre nós, ele não tem tempo de desviar do pé pesado e certeiro do irmão.
- Foda - se! Por que fez isso?
- Vocês dois são ridículos! Não quero ninguém brigando aqui! Temos crianças no recinto.
- Mas ele foi quem começou! - o olhudo diz dramaticamente.
- Não seja um bobo. Foi você quem chegou já exigindo respostas na minha casa.
- Venho as sextas - feiras tomar minha cerveja. - se defende inutilmente. Não que seu argumento tenha alguma base.
- E o que é que tem? Ainda é minha casa! E nela eu recebo quem eu quiser.
- Até o homem que te machucou tanto? - todo meu ato de mocinho mal humorado vai para o ralo.
- Não esqueci o que ele me fez Dimi, se é o que pensa. - diz amargamente.
As palavras não são para me atingir eu percebo. Mas são a mais pura verdade. Ele não esqueceu e duvido que o faça em algum dia mas ainda assim aceitou manter contato comigo. Abrindo um pouquinho de sua vida para mim. Antes eu tinha uma porta que me ligava a ele. Ao mentir, ser dominado pelo medo e a vergonha, essa porta foi destruída. No lugar dela foi construída uma parede que o preservava de mim. Mas quando foi comigo naquele Pub, uma fresta mínima se abriu diante de mim e vou me agarrar a ela por enquanto. Até que eu tenha permissão de entrar novamente e não pretendo sair.
Ficando de costas para mim, ele pareceu ficar mais alto que eu. Como sempre exalando segurança por seus poros. Tomando o controle da situação. E por isso, eu sei que mais me atraiu nele. Essa certeza de que pode enfrentar o mundo com sua fé inabalável na vida. Tendo em mãos o amor deles que fazem parte da sua vida e sou grato por minha burrada, não ter feito ele desistir disso. Da garra de viver.
- Vou te dar apenas um aviso. Não o intimide mais. - diz tão firme quanto consegue. - Eu sei que se não para - lo agora, vai passar dos limites. Meu irmão, você nunca chegou a esse extremo.
- Não vou deixar de te proteger.
- Não estou pedindo isso. Só que é errado você usar a profissão que diz amar tanto como uma arma contra um civil!
- Eu sei me defender muito bem! - aponto habilmente.
- Não disse que não podia e não se meta! - diz me olhando por sobre o ombro. Ele fica tão quente com raiva. Os olhos castanhos faiscando. Finjo engolir em seco e passo um zíper imaginário por meus lábios. Voltando a fitar o irmão, diz o mais calmo possível.
- Eu te amo meu irmão. Mas não vou ficar feliz se o agredir de alguma forma!
- Não encostei nele!
- O ameaçou e fez hoje novamente! Peça desculpas! - uma careta desmancha seu rosto. Quase, eu digo quase não consigo me segurar.
- Não!
- Então, já pode ir embora! Não vou colocar duas crianças no meio de suas birras. E estamos tendo um dia maravilhoso.
- Está me mandando embora?
- Da minha vida? Não. Mas da minha casa, no momento sim. - sua voz falha mas ele não recua. O policial parece ter levado um soco no rosto arrogante mas não se desculpa.
Assim como veio, se vai. James o ama tanto. É difícil vê - los brigando. E se ele continuar a me ameaçar, não vou ter outra alternativa a não ser me reportar ao chefe dele. Eu levei na esportiva uma vez e seria a única. Quando a porta se fecha, é como se ele perdesse a firmeza das pernas. Ele se permite ser abraçado e eu degusto desse momento como um alimento que não comia tem muito tempo. Não há tensão entre esse abraço somente a oferta sem malícia de conforto.
Vagarosamente se distancia de mim, meu corpo ficando frio quase que imediatamente. Mas não deixo que veja isso em minha expressão facial. Forço um sorriso passando a mão por meu cabelo. Ele olha para os pés por um instante e toca meu ombro levemente engolindo em seco.
- Me desculpe por isso!
- Isso o que? - minha cabeça tomba para o lado. - Por ter minha simplória vida sendo ameaçada por seu irmão ou pelo abraço? Pelo primeiro não há nada com que se desculpar. - dou de ombros. - Não foi você que quase me atropelou e motivos tem para isso. - aperto seu nariz. Recebo um tapa fraco em minha mão.
- Não seja bobo e deixe meu nariz em paz!
- Ele é fofo! - grunhe. Dou uma risada baixa.
- Hum...
- E pelo segundo. - respiro fundo. - Nunca peça desculpas por um abraço. Estarei aqui para te abraçar quando e onde quiser.
Nossos olhos não desviam um do outro quando só há silêncio entre nós.
- Tio James! Tio Miley! Vamos brincar! - Hope se enfia entre nós. Ele pisca parecendo sair de um transe. Acaricia os cabelos loiros da garotinha que nos tem nas palmas de suas pequenas mãos desde que a vimos pela primeira vez.
- Vocês vão ficar para trás então! - dá uma gargalhada alta. Que ressoa por todos os ossos do meu maldito corpo. E é o que faz. Sai correndo nos deixando comendo poeira.
Ela ri de jogar a cabeça para trás, pronta para ir atrás dele. Eu a impeço agarrando seus ombros sem fazer muita força para não machuca - la e a giro no lugar por um minuto ou dois. No fim, dou um passo para trás. Ela tenta se firmar mas fica difícil quando seu cérebro está todo misturado dentro de seu crânio. Com uma risadinha saio correndo pela porta que nos leva diretamente para o jardim, de onde posso ouvir as gargalhadas. A menina guincha quando cai de bunda e dou um assobio alto.
- Ah estou tonta tio! - grita no topo dos seus pulmões.
- Essa é a intenção! - recebo uma bolada no rosto.
- O que é isso?
- Se a minha menina vomitar, é o que terá! - Rose ameaça segurando um sorriso e quase caio de alívio ao ver que ao menos ela está me dando uma chance.
- Não levei uma bolada só por isso não é?
- Quem sabe? - um pequeno corpo se choca contra o meu.
- Te peguei tio! - tenta subir em mim. Nossas risadas se misturam como uma só música, embalando nosso momento.
- Nem me deu tempo de correr pequeno furacão loiro!
A tarde passou com a gente ainda brincando com as crianças. E constatei que minha sobrinha perto delas, é uma santa. Eu fiquei tão cansado que tive que me sentar, sendo alvo de deboche da barriguda que tinha mais fôlego que eu. Mas elas ainda estavam com energia para gastar. Perto das quatro, Rose os ajudou a tomar banho. James fez o lanche com minha ajuda e após selecionar um filme, acomodamos elas na sala em meio a colchões, almofadas e bacias com pipoca doce e salgada. Tudo de acordo com a vontade delas.
Sua amiga preferiu se deitar na cama, pois de acordo com ela suas costas a estavam matando. Depois de um abraço rápido e até surpresa de sua parte, se despediu de nós. As crianças estavam entre nós mas ainda sentia que a distância entre nós não se resumia a poucos centímetros. Mas sim quase um oceano inteiro. Meu celular vibra em meu bolso. O pego erguendo - o na altura do meu rosto e vejo o nome de minha mãe piscar na tela. Faço uma careta e vejo as horas.
Me levanto devagar e balanço o celular perto do rosto dele para que saiba que preciso atender ao telefone. Ele pisca algumas vezes e acena levemente. Um sinal de que entendeu. Abro a porta da cozinha e me recosto na parede quando sua voz chega aos meus ouvidos.
- Pelo amor de Deus meu filho! Por onde você andou o dia todo? Seu celular estava desligado. - não digo nada, pois realmente o desliguei para ter um pouco de tempo com ele sem minha mãe me verificando o dia todo. E isso acontece sempre que eu saio.
- Oi mãe! Descarregou.
- O dia todo? - grita e tenho que afastar o aparelho do meu ouvido.
- Deus mãe! Por que o grito? - passo o dedão por meus lábios.
- Você ainda me pergunta? Eu fiquei preocupada. Onde você está? - ela está nervosa e não há motivo para isso. Estou bem.
- Mãe eu preciso sair, você sabe sim?
- Eu sei. - murmura parecendo um pouco mais calma e até envergonhada. Mais risadas preenchem o ambiente lá dentro e respondo sem medo onde estou.
No passado eu inventaria qualquer lugar para estar mas hoje é diferente. Tudo é diferente. Eu estou diferente e só tenho continuar assim. Preparando o terreno para cultivar minha felicidade. Felicidade essa que atrasei por cinco anos.
- E estou na casa de James. - jogo levemente. Ela fica calada por cinco segundos. E consegui contar suas inspirações bruscas de ar.
Um passo para longe da minha zona de conforto. Não haverá mais mentiras para confortar sua mente ultrapassada. Não haverá mais desculpas para algo que eu sou. Independentemente do que ela acha. Eu só quero ser feliz.
- Como? Você está na casa daquele homem que te desviou anos atrás? E ainda te deixou quando você estava no hospital?
- Ele não me desviou porra! - digo entre dentes.
- Eu sou sua mãe!
- Nunca disse que não era. Mas ele nunca fez nada contra mim. Muito pelo contrário. Eu só fiz machuca - lo. E fui eu quem o mandou embora. Não precisava da pena dele e nem de ninguém.
- Venha para casa agora! Estou te esperando. - tomo um fôlego muito necessário. Para não dizer palavras pelas quais vou me arrepender mais tarde.
Ando em direção ao jardim. Pelo qual mais cedo estavam espalhados todo e qualquer tipo de brinquedos. Tudo para satisfazer as crianças. Agora está organizado graças ao James que tem uma paciência ilimitada para isso.
- Não vou! Eu sou um homem adulto mãe! Posso sair para onde e quando quiser. E principalmente com quem eu quiser!
- Mas filho, sua perna...- estremeço com seu tom de voz conciliador. Bufando alto.
- Eu perdi. Eu perdi mas não vou parar de viver por isso.
- Eu não quis dizer isso! - murmura baixinho.
- Quis e odeio quando faz isso. Me diminui a isso. Um inválido que nada pode fazer.
- Miley Sunders! Modere seu tom comigo.
- Não tenho hora para voltar para casa. Então te aconselho a ir embora ou sentar para me esperar. - desligo pouco me fodendo para tudo.
Esfrego meu peito, onde meu coração bate descontrolado e impulsionado pela raiva. Toda a alegria de passar um dia com eles e com as crianças indo pelo ralo como água. Fazia tempo que não me divertia assim. Que não ria do jeito solto que fiz hoje. Apenas quando estou com minha sobrinha.
Meu caminho após amputação de minha perna do joelho para baixo foi tortuoso. Mas depois de aceitar ajuda, eu vi que minha vida ainda continuava. Que havia pessoas torcendo por mim. Que eu teria dias cinzentos mas eles não seriam o comum em minha vida.
Agradeço a Deus que mesmo depois de tudo o que aconteceu, Jenah e Mad nunca mudaram comigo. Estavam ali por mim. Claro que a ruiva cheia de energia sempre me chutava quando tinha a oportunidade. Me sento em um banco pintado com flores azuis que fica sob uma árvore de tronco largo e parece estar nesse jardim há muito tempo. Fecho meus olhos e respiro dentro e fora. Buscando ter o controle que minha mãe faz questão de tirar quando tem a oportunidade de se intitular a dona da verdade.
Não o vejo mas sinto seu perfume misturado a suor de um dia todo de atividades. Eu não estou muito diferente dele. Sujo até o talo por correr tanto. Ergo o rosto e o vejo de braços cruzados diante de mim. Vagarosamente, como se tivesse testando se não vou recuar ou nada do tipo, sua mão se enterra entre meus cabelos. E massageia o couro cabeludo com a precisão que só ele sabe. Mas não dura muito. Ele é quem recua e se coloca ao meu lado.
- Elas enfim dormiram. - diz levemente. Sorrio de lado fitando meus dedos.
- Pensei que teria de usar meu charme para faze - las dormir!
- Iria funcionar acredite! - mantendo uma distância física entre nós de dez centímetros.
- Está mais calmo?
- Você ouviu.
- Não foi por querer. Estava na cozinha bebendo água quando o ouvi grunhir. - eu acredito. Uma coisa que ele nunca fez foi se esgueirar para ouvir as conversas alheias. Se queria saber de algo. Perguntava.
- Eu sei.
Pigarreia e diz suavemente.
- Nunca te disse isso mas não sabe o quanto estou orgulhoso por você. - minha cabeça se vira em sua direção rapidamente. E sinceridade toma suas feições. - Você passou por tanto mas ainda assim nunca deixou de sorrir. Você tem vencido todos os dias mas nunca se deixou ficar amargo com a vida e as pessoas ao seu redor. E não sabe como isso me alegra. Que aquele acidente que marcou não somente você mas as pessoas que fazem parte de sua vida, não o destruiu. - toma uma respiração profunda mas eu não estou respirando. Ávido por suas palavras. - Posso te pedir uma coisa?
- Qualquer coisa.
- Nunca mude.
- Não vou. - digo com a voz rouca. Ele não espera por mais nada. Somente entra em sua casa me deixando com suas palavras.
E não sabia que queria as ouvir de sua boca até aquele momento. Meu peito de enche de ar e sorrio mesmo com uma lágrima feita inteiramente de gratidão deslizando por meu rosto. E sei que vai valer a pena tudo o que virá pela frente.
15/06/20
Esse é o último gente.
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