
04 | UM BARCO NOVO
SOB O PÔR DO SOL, o barco
" pirata " aparece no horizonte. Suas velas pequenas se destacam contra o céu azul e as águas brilhantes do oceano. Annika costurava o chapéu de Luffy, sentada no telhado do único cômodo que tinha no barco, Nami analisava o mapa e Zoro dormia. Luffy se jogou em pulo animado ao lado de Annika que a fez o olhar confusa.
— Já terminou? — perguntou indicando pro chapéu com a cabeça.
— Não. — murmurou prestando atenção no que estava fazendo. Passou no máximo um minuto até que retornava a perguntar.
— Tá, e agora?
— Falta pouco! — ralhou e mais dois minutos depois.
— Acab…
— Acabei! — decretou colocando com força na cabeça do garoto, quase o empurrando para baixo. Ele riu pegando de sua cabeça.
— Olha só, ficou novinho! — exclamou animado.
— De nada. — brincou pegando suas adagas para afiar.
— Ei, por que te chamam de filha de meretriz? — perguntou realmente curioso.
— Não é óbvio? Eles pesquisam sobre mim e jogam na minha cara de onde eu vim. — respondeu dando os ombros.
— Mas você sabe lutar, pensei que fosse uma menina rica ou filha de piratas.
— Não, eu aprendi sim a lutar, roubar com alguns piratas, e a falar, fingir com as pessoas, como as meretrizes, mas a fruta me ajudou a ser mais forte, mas sabe… tenho problema com a raiva. — Surto homicida era a palavra certa.
— E de quem você é filha? — ela o olhou séria, ele não cansava de fazer perguntas?, ele retribuiu com um olhar alheio.
— De uma meretriz chamada Colette, e ela se foi. — disse encerrando o papo, mas então o viu pensando em milhões de perguntas para fazer a ela. — E você? Qual é do chapéu e a vontade louca de ser o rei dos piratas?
— Ah isso, eu prometi pra um homem que me mostrou tudo isso. E não é loucura, eu vou ser o rei dos piratas! — gritou animado fazendo-a rir.
— Tinha uma música que minha mãe cantava às vezes pra mim, se chama " My Jolly Sailor Bold ", é mais ou menos sobre essa coisa de mar.
— Canta aí. — pediu se deitando e colocando as mãos atrás da cabeça.
— O que?
— É, canta ai, ai tiro um ronco.
Annika riu e guardou suas adagas antes de olhar em direção ao mar.
— My heart is pierced by Cupid.
I disdain all glittering gold. There is nothing can console me. But my jolly sailor bold. His hair, it hangs in ringlets. His eyes as black as coal. My happiness attend him. Wherever he may go. — dando um suspiro por não saber o resto da música porque sua mãe nunca teve tempo pra finalizar, ela olhou para Luffy que roncava. — Boa noite, garoto borracha.
(...)
Era outro dia, Nami lia o mapa, concentrada em qual direção seguir e Annika acordou no telhado, sentindo suas bochechas vermelhas por causa do sol. Luffy já estava acordado e pintava um pano preto. Descendo do lugar, esfregou as bochechas doloridas.
— Virou churrasquinho, foi? — riu Nami a olhando.
— Não ria. — pediu entrando no cômodo para ver se tirava um cochilo na rede, mas Zoro já estava lá.
— Ache outro lugar. — seus olhos estavam fechados e sua voz rouca, como se tivesse acordado assim que ela entrou.
— Não, não, você já ficou muito tempo aí.
— E daí?
— E daí?! Sai logo! — ele não moveu um músculo, o que a irritou. — Hum, se é assim… acho que vou ter uma espada nova. — provocou indo até as espadas dele, mas foi impedida por ele apontando a branca para ela.
— Nem pense nisso!
— Você provocou, seu bastardo.
— Ah claro… — riu sem humor e abaixando a espada. — Fui eu quem entrou aqui querendo expulsar os outros.
— Aé, porque baixou a espada, então? Tá com medinho? — debochou usando uma voz infantil só pra irritar mais.
— Você perderia uma luta comigo, garota, então nem sonhe. — ela o atacou com a espada e ele se levantou e defendeu rapidamente. — Viu, só?
Ela bufou então foi pra cima com mais determinação, e cada movimento de espada era realizado com destreza e precisão. O espaço apertado do barco tornou a luta ainda mais intensa, com os dois espadachins se esquivando e contra-atacando em uma dança. A madeira do barco rangia e estalava sob a pressão de seus movimentos, enquanto eles buscavam provar quem era o melhor. Por vezes, eles se encontravam em posições desconfortáveis, como espremidos entre as tábuas do barco, mas isso não os impediu de continuar a luta.
Annika fez um movimento ousado, tentando desarmar Zoro. Ela avançou rapidamente, sua espada cortando o ar, mas Zoro bloqueou com sua outra espada em uma exibição impressionante de habilidade.
— Acha mesmo que pode me vencer?
Irritada, a luta continuou e o barco balançava sob o impacto de seus golpes. Em um momento de intensidade, Annika e Zoro ficaram momentaneamente presos, suas espadas travadas uma contra a outra, seus rostos a poucos centímetros de distância e a respiração começou a ficar ofegante.
Aproveitando a oportunidade, ela foi para trás e a espada de Zoro foi ao encontro do chão, fazendo um buraco no casco velho.
— Ferrou… — murmurou a de roxo colocando a mão na boca pra não rir da cara de Zoro.
— Só… não conte isso pra ninguém! — exigiu guardando suas duas espadas e pegando a outra de Annika.
— Feito. — concordou não querendo que descobrissem que ela foi infantil e causou uma luta que furou o barco. Os dois saíram do cômodo com o rosto avermelhado e suado. Nami abaixou o mapa que lia e levantou uma sobrancelha em questionamento.
— O que estavam fazendo?
— Gente, gente, se liga. — Luffy mostrou a bandeira pirata que estava fazendo. — Ei, por que estão tão vermelhos? Viraram pimentões, foi?
— Ah, hum… — Porque ela não conseguia pensar em nada?
— Exclusiva. — comentou Zoro olhando pra bandeira. — Nami, acho que o banheiro tá entupido.
— É, isso! Estávamos tentando arrumar… — inventou Annika pegando a bandeira de Luffy e fingindo analisar.
— A gente não tem um banheiro. — respondeu Nami fazendo Annika fechar os olhos pela sua gafe.
— Bom, então tem alguma coisa vazando. — retrucou o de verde desviando o olhar da Oakland.
— O que? — Nami largou seu mapa e correu para dentro. Em minutos ela voltou enquanto Annika negava a bandeira de Jolly Roger de Luffy. — Tá entrando água, o que fizeram?
— Nada! — respondeu Zoro e Annika em uníssono.
— Cês ficam brigando um com o outro o tempo todo, devem ter quebrado algo. — ralhou Nami fazendo os olhos de Annika brilharem e Luffy franzir o cenho por isso.
Qualquer coisa poderia ser um gatilho, até mesmo uma voz alterada.
— Se é uma ladra tão boa, deveria ter roubado um barco melhor. — Nami resolveu ignorar Zoro.
— Gente, gente, beleza, reunião de bando. — comunicou Luffy, fazendo a garota à sua frente voltar ao normal e receber um "não somos um bando" de Zoro e Nami. — A gente precisa de um navio melhor se quiser chegar na Grand Line. Um verdadeiro navio pirata. Digno do bando do Chapéu de Palha.
— Pera… "Bando do Chapéu de Palha", sério? — indagou Nami estranhando aquilo tudo.
— É, eu achei que soa bem.
— O "demônio" soava bem, mas isso? Nem dá medo. — concordou Zoro.
— Mas é melhor assim, todo mundo pensa que somos fracos, o que tecnicamente, não somos. — opinou Annika apoiando as mãos no ombro do de chapéu.
— É do bando dele? — perguntou Nami surpresa.
— Eu não tive escolha. — sussurrou fazendo uma careta engraçada.
— E por isso, ela é meu braço direito. O ponto é: precisamos de um navio novo. Então, onde conseguimos um? — perguntou Luffy e Nami suspirou pegando seu mapa.
— Nossa aposta mais próxima são as ilhas Gecko. Nós devemos chegar lá antes que o nosso barco afunde. Abandonamos esse e pegamos um melhor.
— Ótimo, um que tenha um banheiro que funcione. — comentou Zoro.
— Isso que eu chamo de navegadora — brincou Annika dando uma piscadela charmosa para a de laranja que estranhamente ficou vermelha.
— M-Mas… — Nami gaguejou, o que até ela mesma estranhou e Zoro franziu o cenho. — Mas vocês não vão colocar isso no meu navio!
— Não prometemos nada. — Annika riu puxando Luffy para tentarem arrumar aquela bandeira melhor.
(...)
Chegando no pitoresco vilarejo com casas modestas, ruas estreitas e uma população pequena, eles estavam na frente de uma parede com cartazes de procurados depois de terem afundado o antigo barco.
— Tá tirando com a minha cara. — resmungou Zoro. — Aquele palhaço valia quinze milhões de berries?
— Pelo visto… — murmurou Annika vendo um cartaz rasgado e já velho da "dama sangrenta", que custava quatro bilhões, trezentos e oitenta e oito milhões.
— Pena que essa aí é só uma lenda. — comentou olhando para o mesmo cartaz que ela.
— Sim… você tentaria matá-la?
— Uhm, pelo preço acho que qualquer um. — Annika assentiu voltando seu olhar para Luffy enquanto Nami procurava por um barco.
— Acham que a Marinha ia pagar a recompensa? — questionou Luffy deitado de costa pro chão e com as pernas levantadas na parede. — Viraram procurados da justiça agora.
— Acha que eles gostavam de mim antes, Luffy? — Annika riu pelo nariz achando aquilo idiotice.
— Verdade, pelo que você me contou, você sempre foi… meio pirata. — ela sorriu com aquilo.
— Uhm, nem pensei nisso. — comentou Zoro ainda olhando pros cartazes. Luffy levantou dando uma cambalhota.
— Mais um motivo pra gente ir pra Grand Line. — incentivou o garoto bronzeado. — É um novo começo!
— Tem razão. — concordou Zoro sem expressão de emoção. Nami se aproximou confiante.
— Eai, conseguiu o navio?
— Tô trabalhando nisso. — respondeu. — Empurrou o saveiro pro mar como pedi?
— Aham. A Marinha não vai seguir a gente aqui. — disse Luffy certo daquilo.
— A gente não vai ficar aqui por muito tempo. — lembrou Nami. — Acontece que a Vila Syrup é conhecida por construir navios. Temos muitas opções.
— Tá e o que a gente tá esperando, então? — Luffy puxou Annika pela mão como uma criança e indo pra direção errada.
Em minutos, após acharem o caminho certo, eles caminhavam pelo estaleiro, onde eram construídos vários barcos.
— Olha só pra eles. — comentou Luffy animado.
— Quanto vai custar? — murmurou Zoro atrás de Annika.
— Se pergunta, é porque não pode pagar. — respondeu Nami.
— Concordo, e eu só digo isso: sou pobre. — explanou Annika.
— Todos somos. — debochou Nami.
— Beleza, então, a gente precisa de um com uma estátua de proa muito, muito da hora. Pelo menos dois… não, não, três mastros. E um ninho de corvo bem alto.
— Fofo, a gente somos quatro. — avisou Annika sorrindo de como ele parecia uma criança na feira.
— A gente tá em quatro por enquanto! — retrucou o garoto.
— A menos que encontre mais uma pobre alma desesperada pra ajudar. — riu Nami e Annika concordou.
Ela estava desesperada.
— Fale por vocês mesmo. — esclareceu Zoro que como sempre era o mais quieto.
— A gente vai precisar de uma coisa um pouco menos chamativa, se quiser escapar daqui. — explicou Nami vendo Annika se mover para seu lado para ouvi-la melhor.
— Você quer roubar um navio? — perguntou Luffy parando de andar e fazendo os outros o imitarem.
— E como cê espera que a gente consiga um? — indagou Nami cruzando os braços.
— Eu não sei, mas não podemos roubar um.
— Que tipo de pirata é você? — Nami estava com uma dificuldade em entendê-lo, o que até agora só Annika parecia ter feito.
— Um navio, não é apenas um navio. É uma parte do nosso bando. A gente tem que encontrar um perfeito. E vamo conseguir de boa.
— Tá bom, conta isso pro vendedor. Sei que isso vai conquistar ele. — provocou Nami.
— É isso aí! — concordou Luffy voltando a andar.
— Isso é sério?
— Bem, pense um pouco, ele convenceu você e ele a virem. — lembrou Annika que fez Nami a olhá-la em questionamento.
— E você?
— Vim pelo barco. — sussurrou fingindo ser um segredo e logo seguindo o caminho do outro.
Ela caminhou até encontrar o garoto de chapéu de palha, em cima de umas escadas, parado e olhando para um navio que tinha uma ovelha na frente.
Ela subiu até lá e teve que admitir:
— É a sua cara…
— Não, é! — seu sorriso era maior que o rosto poderia suportar.
— É bem bonito, né? — De repente surgiu uma voz que fez Annika olhar pros lados.
Eram vozes na sua cabeça
de novo?
— Deus? — perguntou olhando pro céu enquanto Luffy achava que era o barco.
— Não! — um garoto de pele morena, e um lenço na cabeça apareceu. — Eu tô aqui.
Annika e Luffy se moveram para enxergá-lo.
— E aí?
— Esse navio é incrível! — elogiou Luffy.
— É. — assentiu passando um pano no navio para deixá-lo brilhando.
— Ei, sou Annika, o que pode nos falar sobre ele? — indagou a de roxo.
— Oie… — acenou dando um sorriso meio abobalhado. Ela era linda demais aos olhos das pessoas, e vinha de família. — Classe caravela, top de linha, 96 pés de puro luxo. Leme whipstaff, cozinha completa. Convés de canhão na proa e na popa. — completou juntando os dedos indicador e polegar de uma mão, formando um gesto de "beliscar" com os dedos e em seguida, ele aproximou esses dedos dos lábios e faz um beijo no ar, como se estivessem enviando um beijo simbólico para o que acabara de contar.
— E ele é rápido? — perguntou Luffy.
— Ô, se é. — Luffy e Annika sorriram com aquele fato. — Nenhum navio do East Blue compete com essa belezinha.
— Ele é perfeito. — exclamou admirado demais.
— Pois é, eu sei. — concordou o garoto. — Sou Usopp, aliás. — se apresentou para Annika que sorriu em comprimento.
— Ah, vocês estão aí. — chamou Nami com Zoro ao alcance.
— Gente! Encontramos ele! Encontramos nosso navio. E esse cara vai vender pra gente. — disse descendo das escadas com Annika.
— Ah… Espera aí, isso…quê? — chamou o outro, que desceu também.
— É! O navio é nosso! — Annika riu com o tom de certeza que Luffy usava.
— Tecnicamente… ele não tá à venda. — explicou torcendo o pano em sua mão.
— Hã?
— Ele não é seu, né? — indagou Annika se apoiando em Nami.
— É…eu trabalho aqui. Sou técnico-chefe. Eu removo incrustação e erradicação de resíduos aviários. — contou como se fosse uma grande profissão e tudo olhando diretamente para Annika que tinha os lábios formando um sorriso fechado.
— " Incru…" o quê?
— Ele esfrega cracas e limpa bosta de passarinho. — respondeu Zoro se aproximando um pouco e empurrando Annika, que se desvencilhou de Nami.
— Ai seu brutamontes! — ralhou mas ele a ignorou.
— Ele não pode nos ajudar. — disse Nami ainda de braços cruzados.
— Pera, pera, pera aí! Ajudo vocês, confiem.
— Muitas pessoas falaram isso pra mim e acredite, o final não foi bom. — avisou Annika gesticulando com as mãos como se fosse difícil de explicar.
— Acontece que a dona do navio é a minha melhor amiga do mundo todo.
— E sua amiga é dona desse navio. — acusou Nami achando que era brincadeira.
— Não só desse. Ela é a dona de todo o estaleiro. Ela é… rica pra caramba.
— Oh! — murmurou Luffy.
— Dá pra desenrolar um acordo. — sugeriu Usopp fazendo o mesmo movimento animado de Luffy.
— Viu?
— Ah… acho que não custa nada dar um "Oi". — concordou retribuindo a piscadela de Annika de mais cedo.
Annika sorriu por ela concordar, já que era só falar com uma moça rica, o que poderia dar errado?
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