✨-57-✨
☀️▫️LUDMILLA ▫️☀️
Eu sentia como se o mundo todo estivesse contra mim.
Não, não estou sendo exagerada, digo, talvez eu estivesse sendo um pouco, mas o fato era que eu me sentia oprimida por todas aquelas garotas que me acusavam injustamente de várias coisas das quais eu não tinha culpa nenhuma. As coisas começaram a ficar ruins quando Brunna não me deixou ingerir uma gota sequer de álcool, afirmando que eu havia sido operada recentemente, mas o engraçado era que quando ela usou o meu corpo na salinha de limpeza, não pareceu muito preocupada com a minha saúde. Segundo, Lauren, que com a ajuda das outras me acusava de haver escondido o fato de que estava morrendo, sendo que eu fiz aquilo com a melhor das intenções.
- E nós só soubemos de tudo depois que o transplante já havia sido feito. – Lauren olhou de cara feia pra mim.
Ela nunca faltou um horário de visitas enquanto estive no hospital, mas eu tinha minhas dúvidas de seus motivos porque durante todo o tempo ela só resmungava sobre o fato de quase ter me perdido sem ao menos saber.
- Você é muito egoísta, Oliveira. – Camila franziu os olhos para mim.
Eu quase precisei ficar internada durante mais tempo no hospital por causa de Camila, que não classifica tapas ou empurrões como agressão, e se aproveitou do fato que eu estava indefesa e frágil para me bater e meu único paliativo para a dor era o fato de que ela fez aquilo enquanto reclamava com a voz embargada e deixou lágrimas caírem entre os tapas.
- Eu só queria poupar vocês. – Eu expliquei pela milésima vez desde a cirurgia, vendo Daiane se levantar e sair do quarto com uma expressão zangada.
De todas as minhas amigas, Daiane foi a que mais ficou abalada e irritada. Ela não havia me perdoado completamente por haver escondido aquilo dela. Disse que irmãs de alma não faziam aquele tipo de coisa e chorou durante horas junto ao leito do hospital.
- Gente, o importante é que ela está aqui com a gente... – Clara interveio. Ela reagiu mal por uns dois minutos, mas depois se acalmou. Desde a cirurgia, sempre que nos encontrávamos ela fazia questão de ficar abraçada comigo por pelo menos cinco minutos e eu particularmente adorava aquilo.
Depois de vários minutos tentando me defender enquanto minha namorada só se preocupava em bebericar o champanhe, elas finalmente decidiram mudar de assunto.
- E então Aline, você está namorando alguém? - Brunna perguntou evidente interesse na voz enquanto minha preocupação estava dividida entre minha namorada e o fato de Daiane ainda não ter voltado para o quarto.
- Eu estive ocupada demais para pensar nisso. – Minha amiga explicou segurando o filho adormecido no colo. – Além disso, eu não sei se estou preparada para confiar em outra pessoa.
- Você não teve ninguém durante todos esses anos? – Lauren perguntou e Aline negou, meneando a cabeça.
- Amor, eu vou atrás da Daiane. – Eu sussurrei no ouvido de Brunna e deixei um beijo em seus cabelos.
- Está tudo bem? – Ela perguntou virando-se para mim.
- Eu não sei. – Confidenciei, me levantando e saindo do modo mais imperceptível possível.
Apesar da casa de Vanessa ser enorme, eu não demorei a encontrar Daiane. Ela estava sentada em um banco próximo à piscina e meu coração se apertou ao ouvir o seu choro. Os únicos momentos em que Daiane era silenciosa, era durante o choro e eu odiava aqueles momentos.
- Desculpe... – Eu murmurei me sentando ao lado dela e ela levantou a cabeça para mim. Não havia o mínimo de aborrecimento em sua expressão, apenas dor.
- Eu te entendo, Ludmilla...
- Eu não queria ver ninguém sofrendo, Daiane. – Eu murmurei com cuidado.
- É que eu não consigo imaginar um futuro sem você. – Ela fungou. – Na minha cabeça, nós iríamos para a faculdade juntas, depois morarmos em lugares próximos... – Ela fungou novamente. – Se você não tivesse conseguido um doador, eu iria para a faculdade sozinha e você iria morrer enquanto eu estivesse longe, alheia a tudo, sem poder estar com você. Por isso eu fico tão puta contigo. Você mentiu para mim e teria me privado de estar com você se você estivesse morrendo, sem me dar a chance de me despedir. Amigos não servem apenas para estar com você nos momentos bons, Ludmilla....
- Eu não queria que vocês parassem a vida de vocês... – Eu tentei explicar, mas fui interrompida.
- O mundo não iria acabar se eu esperasse um pouco para ir para a faculdade, aquela porra não iria compensar o tempo que eu teria perdido longe de você. Que caralho! Não tente justificar essa merda, Ludmilla. Eu entendo, mas não acho que foi certo... – Ela levantou o queixo. – Jura pra mim que jamais vai esconder coisas importantes de mim. – Ela juntou os lábios.
- Eu juro! – Eu selei meus lábios aos dela e limpei suas lágrimas. – Agora vai me contar o que foi aquilo com a Vanessa lá no baile? – Daiane deu um meio sorriso e desviou o olhar.
- Foi apenas um beijo, Oliveira. – Ela resmungou. – E eu nem espero que aconteça mais alguma coisa.
- Por quê?
- Porque o tempo que tinha para acontecer alguma coisa acabou.
- Ela havia comentado comigo que o pai dela vai fazer uma turnê na America Latina e Europa e Vanessa estava pensando na possibilidade de acompanhá-lo antes de ir para a faculdade.
- E quando começa a turnê?
- Daqui a quatro meses. – Minha amiga suspirou e eu amaldiçoei aquela situação fodida. Eu segurei o rosto da minha amiga entre as mãos.
- Quando eu descobri que estava doente, tentei enxotar Brunna da minha vida, mas ela foi teimosa como uma anta e me fez enxergar que poderíamos aproveitar o tempo que tínhamos e que valia a pena, mesmo que ele não fosse muito. Não importa por quanto tempo você vive o momento Daiane, e sim a intensidade com que se vive. – Eu sorri para ela. – Tem pessoas que existem até os cem anos, mas não chegam a viver esse tempo porque não souberam aproveitar, me entende?
- Engraçado que você não pensou isso quando resolveu esconder sua doença da gente, não é? – Ela aumentou o tom de voz.
- Eu já falei que ela é uma imbecil! – Eu pulei no banco ao ouvir a voz de Camila enquanto Daiane limpava o rosto, e me virei, me deparando com as garotas próximas a casa, olhando para nós.
- Há quanto tempo estão aí? – Daiane gritou, fazendo com que eu me afastasse um pouco.
- Chegamos a tempo de ouvir o discurso filosófico da Oliveira. – Camila anunciou se aproximando de nós. – Chega pra lá! – Ela me empurrou e sentou-se no banco, trazendo Lauren para junto de si.
- Eu juro que tentei distraí-las. – Brunna se explicou enquanto sentava-se em cima de minhas pernas.
- Onde estão Aline e Clara? – Eu perguntei ao ver Fernanda, Vanessa e Alexa se aproximarem.
- Elas ficaram com Natan. – Brunna explicou.
- Você está bem, Daiane? – Fernanda perguntou e Daiane imediatamente assentiu.
- Eu só estou com saudades dos meus óculos... – Daiane mentia muito mal.
- E onde está aquela armação sem lente que você usa quando está sentindo falta deles? – Vanessa perguntou.
- Minha mãe jogou fora sem minha permissão. – Daiane fungou e eu sabia que aquele fungar era por causa da armação.
- Eu tenho uma sobrando lá em casa, Daiane, se quiser eu te dou. – Alexa disse solicita e Daiane assentiu freneticamente com um sorriso.
- Obrigada! Eu nem vou contar que você gosta da...
- Daiane! – Alexa gritou antes de tapar a boca de Daiane com a mão. Daiane sacudiu a cabeça várias vezes, tentado se soltar.
- Eu já disse que não vou dizer. – Ela resmungou assim que Alexa a soltou.
- Assim vocês estão me deixando curiosa... – Brunna anunciou e todas, inclusive eu concordei com ela.
- Não fiquem porque não vale à pena. – Alexa sentenciou – O que vamos fazer agora?
- A senhora Lurdes deixou algumas coisas pronta para nós comermos e eu tenho jogos de tabuleiro e vídeo game. – Vanessa anunciou. – Também poderíamos assistir um filme...
- Vamos comer primeiro porque eu já devo ter perdido uns dois quilos desde o baile. – Minha namorada foi a primeira a se pronunciar enquanto levantava do meu colo e me arrastava em direção à cozinha sem ouvir o que as outras garotas tinham a dizer. – Depois eu quero dançar com você o que eu não dancei no baile ou naquela festa que Vanessa deu aqui.
- Você acha que a Vanessa vai ligar o som dela apenas para nós dançarmos? – Eu perguntei enquanto era puxada e Brunna virou-se para mim com um sorriso nos lábios.
- Lembra da nossa primeira dança? – Ela piscou. – Nós não precisamos de música.
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