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️▫️LUDMILLA ▫️☀️

Assim que o ataque de tosse acabou, eu fui embora da casa de Brunna com a desculpa de que iria conversar com Daiane e Lauren, justificando o ataque de tosse dizendo que foi apenas um engasgo com a saliva, mas eu estava preocupada.

Pensando melhor sobre tudo o que meu corpo estava passando, eu percebi que aquilo já acontecia há algum tempo e eu nunca liguei porque nunca foi grave, mas as tosses eram frequentes demais para que eu não me preocupasse, sem levar em conta outras coisas que eu não sabia se estavam relacionadas a ela ou não.

Com tudo isso em mente, eu decidi que no dia seguinte agendaria uma consulta médica sem o conhecimento de ninguém (benefícios de ser maior de idade) para saber se eu estava realmente bem.

- Lauren desculpa ter desligado na sua cara, pode falar. - Eu falei rapidamente antes que ela tivesse a oportunidade de me xingar.

- Por que demorou tanto? - Sua voz já parecia estar bem mais calma. - Eu já resolvi as coisas com a Camila, disse para ela que tudo não passou de uma brincadeira da Daiane e ela acreditou. Cara, eu quase morri do coração! E se ela descobrisse que gosto dela?

- Seria tão ruim assim se ela soubesse?

- Claro que seria! Já faz quase dois meses desde que nos beijamos e eu ainda sinto um clima estranho entre nós. - Ela suspirou. - Ela ainda está com o Matthew e eu gosto da amizade dela, mesmo ela tendo suas dúvidas sobre também gostar de beijar meninas, eu não quero arriscar nossa amizade com os meus sentimentos idiotas.

- Seus sentimentos não são idiotas Laur, mas se você quer manter apenas a amizade com ela, por que não tenta dar uma chance para outra pessoa? A Samantha por exemplo.

- Eu não gosto da Samathan, por que eu faria isso?

- Você nem sabe se gosta dela ou não. Desde que ela te chamou para sair você foge da garota como o Diabo foge da cruz só porque gosta de uma garota que você acabou de confessar desejar manter uma amizade eterna. - Retirei a blusa que vestia e joguei em qualquer canto. - Não estou falando para você usá-la para esquecer a Camila, estou falando para você aumentar seu círculo de amigos e se permitir conhecer novas pessoas. Eu só usei a Samantha como exemplo.

- Ai... - Eu podia imaginar sua expressão indecisa do outro lado da linha. - Eu vou pensar nisso, eu prometo.

- Tudo bem Laur, siga o seu coração... - Eu sorri. - Eu sei que isso foi muito frase feita, mas deixa pra lá. Já falou com a Daiane?

- Já sim, por causa dela eu vou ter que consultar meu otorrino de tanto que ela gritou pedindo desculpas. - Eu sorri. Aquilo acontecia com qualquer pessoa que conversava com da Daiane sobre qualquer assunto.

- Eu também desliguei na cara dela, tenho que ligar para ela.

- Ela falou para mim que iria dormir, fala com ela amanhã.

- Mas não são nem dez da noite.

- Ela disse que ficou conversando com Vanessa durante a madrugada todinha e quase não dormiu. Mudando de assunto, já pensou no que vai dar de presente para Brunna em comemoração aos dois meses de namoro de vocês?

Nem parecia que já fazia quase dois meses desde que Brunna havia dito que éramos namoradas, ali, deitadas naquela mesma cama onde quase fizemos amor na semana anterior e fomos atrapalhadas por Camila. Eu sentia minha pele se arrepiar e meu ventre tencionar só de lembrar da sensação de nossos corpos seminus se tocando e dos murmúrios apaixonados que saiam dos lábios de Brunna em consequência dos meus carinhos. Um sorriso surgiu em meus lábios ao lembrar que eu ainda tinha as marcas semi-cicatrizadas de suas unhas na pele das minhas costas quando seus dedos pressionaram minha carne com força no momento em que eu toquei sua intimidade com a ponta dos meus dedos pela primeira vez. Não tivemos a oportunidade de continuarmos de onde paramos desde aquele dia, mas eu sabia que não tardaria a acontecer.

- Está me ouvindo, Ludmilla!? - A voz de minha melhor amiga interrompeu meus pensamentos.

- Oi Lauren. Desculpa, eu me distraí!

- Até imagino em quem você estava pensando. -Ela riu. - Eu perguntei sobre o presente de comemoração de dois meses de namoro.

- Ah... eu estou meio sem dinheiro porque gastei toda a minha mesada com o presente de aniversário dela, porque você sabe que esse ano eu não podia dar um cocô falso para ela de novo, enfim... seria muito cedo dar o anel da Vovó para ela?

Minha avó sabia do que eu sentia por Brunna e no ano anterior havia me dado de presente o anel do seu primeiro amor.

"Eu olho para você hoje lembro da moça que eu fui há trezentos anos. As gerações mudam e o tempo passa, mas o brilho do amor ainda resplandece da mesma forma. George foi o meu primeiro amor e o mais forte e puro, mas eu o perdi naquela guerra maldita e precisei substituir esse anel por outro em meu dedo quando me casei com o seu avô. Agora é hora dele ocupar outros dedos e representar outros amores. Não sei se será Brunna a felizarda, mas dê esse anel à mulher cujo amor a faça se sentir resplandecer como o sol."

Ela disse muitas coisas mais para mim, mas aquelas palavras eram as que permeavam em minha mente naquele momento. Brunna já me fazia sentir como o sol e em meu coração aquele anel com uma única perola solitária passou a pertencer a ela a partir do momento que foi dado a mim.

- Lu, eu sei que você está pronta para dar o anel para ela, mas você acha que ela já está pronta para receber? - Lauren interrompeu minhas divagações.

- Eu não sei Laur, por isso eu estou te perguntando.

- Meu conselho para você é o mesmo que você me deu há poucos segundos, siga o seu coração. - Ela riu. - Viu como não adiantou nada dizer isso? O coração às vezes pode ser tão confuso quanto a mente. - Ela suspirou. - Eu vou desligar porque preciso treinar antes de tomar banho e ir dormir.

- Tudo bem Laur, boa noite!

- Boa noite! - Ela desligou e eu notei que havia uma notificação de mensagem recebida na tela.

[10:13 PM - AMOR💞]: Amor, não se esqueça que amanhã será a sua vez de regar a Cherry II. Conversou com as meninas?

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Fazia pouco mais de um mês que Brunna e eu havíamos decidido juntas replantar a Cherry II. Eu havia contado a ela a sugestão de Yris (Brunna ainda morria de ciúmes dela) sobre replantar a Cherry como algo a ser representado por nós duas e Brunna adorou a idéia resmungando bastante antes de admitir aquilo.

Aquela nova planta então estava crescendo assim como o meu relacionamento e de Brunna, sendo cuidada com amor por nós duas e eu esperava de todo o coração que ela crescesse forte, aguentasse todas as tempestades e que por fim, desse frutos magníficos. Fazer o quê? Eu sempre adorei analogias.

Conversei com Brunna e expliquei tudo o que eu havia conversado com Lauren inclusive sobre meu conselho para que ela se permitisse novas oportunidades. Brunna concordou que aquilo talvez pudesse ser bom para fazer Camila abrir os olhos e ver que Lauren não estaria para sempre disponível para as indecisões dela. Só esperávamos não estarmos erradas sobre o conselho.

Naquela mesma semana eu havia conseguido agendar uma consulta com o médico que me acompanhava há anos. Depois de explicar os sintomas, responder várias perguntas e realizar o raio-x do meu pulmão, o doutor Andrews me solicitou uma tomografia computadorizada do tórax. Perguntei-lhe se o que eu tinha era muito grave e ele me respondeu que não diria nada até ter a certeza de algo.

Não demorou muito para eu realizar a tomografia e o mais difícil em todo aquele processo era ter que esconder tudo da minha família, amigos e principalmente de Brunna. Eu tentei não me apavorar durante aqueles exames e realmente consegui ser forte até receber uma ligação do doutor Andrews informando que já estava com o resultado da minha tomografia e pedindo para que eu comparecesse ao consultório acompanhada dos meus pais.

Eles não gostaram nada de eu haver escondido o fato de possivelmente estar doente, mas eu expliquei que não queria preocupá-los com aquilo e enfatizei o fato de eu já ser adulta e precisar começar a me cuidar sozinha.

- Bom dia! - O doutor nos cumprimentou e eu já não gostei nada da expressão em seu rosto. - Esse é o doutor Mitchell pneumologista responsável pelo diagnóstico da Ludmilla. - Ele nos apresentou o homem com um sorriso simpático ao lado dele.

- Bom dia! - Nós os cumprimentamos e minha mãe imediatamente sentou-se na cadeira que o doutor Andrews ofereceu.

- O que minha filha tem? - Eu podia sentir todo o pânico contido na pergunta da minha mãe e me xinguei por tê-la que fazer passar por aquilo. O olhar do doutor Mitchell vagou por nossos rostos antes dele suspirar.

- Vou tentar ser o mais breve e claro possível. - Ele entrelaçou os dedos em cima da mesa. - A tomografia da Ludmilla revelou cicatrizes nos tecidos de seus pulmões que fazem com que ele se torne mais rígido. - Ele olhou para mim. - Por isso essas crises de tosse seca, falta de ar e perda de peso. - O olhar dele alternou entre nós três. - Ludmilla tem fibrose pulmonar idiopática e isso quer dizer que as causas da doença são desconhecidas. A fibrose é uma doença rara em que ocorre cicatrização do tecido pulmonar, com espessamento e rigidez. Estão conseguindo me acompanhar?

- Sim. – Eu respondi sentindo meu corpo começar a suar frio e o médico olhou para mim e assentiu antes de continuar.

- O pulmão é o órgão vital responsável pelas trocas gasosas e a destruição da unidade alveolar, constituída pelo alvéolo pulmonar (uma espécie de "saco" onde o ar entra com o oxigénio) e pelos vasos sanguíneos, e a sua substituição por fibrose (cicatriz), dificulta a função de transporte. Como consequência, o cérebro, o coração e os restantes tecidos e órgãos corporais não recebem o oxigénio necessário para o seu correto funcionamento.

- Isso é muito ruim? – Minha mãe perguntou a voz embargada eu segurei sua mão.

- Claro que é ruim Silvana, se o corpo dela não está recebendo oxigênio o suficiente nada vai funcionar direito. – Meu pai respondeu com a voz grossa antes de voltar-se para o doutor. – Como funciona o tratamento e em quanto tempo minha filha vai estar boa?

- Infelizmente não há um tratamento eficaz para a doença e... – Eu não me contive interrompê-lo.

- Isso quer dizer que eu só vou piorar?

- Sim. – Ele respondeu assentindo e não teve a oportunidade de continuar porque meu pai o interrompeu.

- No que isso vai impactar a vida da minha filha? – Eu senti os dedos do meu pai apertarem os meus ombros com força inconsciente e contive um gemido de dor.

- Eu queria encontrar outra forma dizer isso, mas como já expliquei que é uma doença progressiva, que afeta funcionamento dos pulmões e consequentemente do corpo, não dá ao paciente chances de sobrevivência e...

- Quanto tempo de vida eu tenho? – Eu não consegui evitar que as lágrimas caíssem. Eu não queria morrer.

- Descobrimos a doença logo no início, você é uma jovem sem vícios e... – Eu o interrompi.

- Seja direto doutor!

- A expectativa de vida de um portador de fibrose pulmonar é de dois a cinco anos.

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