✨-21-✨
🌟▫️BRUNNA ▫️🌟
Fazia cerca de um ano que a Oliveira e eu enfrentávamos a detenção em salas separadas. Esse foi o último recurso que o coordenador da detenção, encontrou para não ficar louco. Uma vez ele chegou a mencionar que preferia a morte a ter que aturar Ludmilla e eu numa mesma sala durante duas horas. Eu particularmente achei aquilo muito exagerado, mas eu não iria reclamar porque eu também preferiria a Oliveira longe de mim.
Aproveitei meu tempo na sala de detenção para pintar as unhas. Era proibido, mas eles não tinham como me enviar para a detenção da detenção. De acordo com a embalagem do esmalte a cor foi nomeada como "ousadia intensa", mas para mim não passava de vermelho, contudo eu iria precisar de uma ousadia intensa para o meu encontro daquela noite, por isso, resolvi acreditar na ousadia intensa da cor do esmalte.
Depois da detenção, resolvi não contar para a minha mãe sobre o que aconteceu porque da última vez ela me fez limpar o banheiro durante um mês. Por isso, peguei o aviso de ciência que o diretor me entregou pra meus pais assinarem e falsifiquei a assinatura da minha mãe. Daquela vez eu estava safa.
[...]
[06:54 PM - FUTURO MARIDO]
Loirinha eu estou ti esperando aqui fora.
Beijos!
Aquele "ti" estava me deixando louca, mas eu tentei relevar porque ninguém era perfeito. Peguei minha bolsinha, coloquei uma balinha de menta dentro, dinheiro (o resto da minha mesada), meu celular e uma maçã para o caso de eu sentir muita fome durante o filme. Estaria escuro, o Pedro não iria ver se eu comesse uma maçã.
- Estou indo ao cinema com a Camila! - Eu gritei para os meus pais e sai correndo pelo quintal antes que eles me chamassem. Eu havia percebido o desconforto da última conversa que Pedro teve com eles e eu não queria que aquilo se repetisse, então talvez eu tenha contado uma pequena mentirinha para os meus pais e dito que iria ao cinema com Camila.
- Oi, loirinha! - Pedro me cumprimentou com um beijo no rosto assim que eu entrei no carro. Homão cheiroso da porra!
- Oi! - Eu fiquei rindo igual uma idiota enquanto ele arrancava com o carro.
- O filme é muito irado, você vai gostar. - Ele comentou depois de ter comentado sobre o time do colégio.
- Qual é o nome do filme? - Bem, pelo menos eu não teria que escolher filme nenhum.
- Eu não vou dizer.
- Ah! Conta... - Eu insisti com um sorriso no rosto, mas no fundo eu torcia para não ser aquelas merdas de terror.
- Não, quando chegar lá você vê. - Ele respondeu e eu resolvi não insistir porque não queria passar por chata.
Ao chegarmos ao cinema, eu me lembrei da última vez que estive ali com Ludmilla, naquela mesma fila e ela segurou a minha mão enquanto aguardávamos a nossa vez. Olhei para o Pedro e o vi concentrado no celular enquanto sua outra mão estava escondida no bolso da jaqueta, bem, talvez ainda fosse muito cedo para darmos as mãos. Corri meus olhos para pelos cartazes até o caixa e... que porra era aquela?
Eu só podia estar ficando louca ou alguém estava fazendo uma brincadeira muito sem graça comigo. O que a Oliveira e a demônia dois estavam fazendo no mesmo lugar que eu? Dos três cinemas que haviam na cidade, ela havia ido parar justo no mesmo que eu, no mesmo horário, só podia ser castigo divino!
As idiotas estavam no guichê do caixa, rindo como se aquela não fosse a quarta do terror... espera! Era a quarta do terror! Puta que pariu! Quer saber, foda-se isso também, a presença das babaconas já havia estragado o meu humor maravilhoso e eu estava tão puta que seria capaz se chutar a cara de uma assombração se ela aparecesse para mim.
Continuei observando as duas baterem papo com a atendente do caixa e atrasando a fila. Eu tinha certeza que elas compravam roupas em algum brechó pós-guerra. Para que tantos buracos nas roupas? Ridículas! A tal da Yris, que estava abraçando a Oliveira pelos ombros enquanto ainda falava com a moça do caixa. Ela era a mais ridícula das duas. Eu queria ver o filme ainda naquela noite e elas estavam me atrapalhando. Pensei seriamente em ir até lá e atrapalhar aqueles milhares de sorrisos, mas eu não queria que a Oliveira me visse e atrapalhasse meu encontro.
Finalmente as idiotas saíram do caixa e a lentidão da fila diminuiu um pouco. Eu ainda conseguia ver a silhueta das duas comprando coisas na bomboniere. Só faltava terem escolhido o mesmo filme que Pedro!
- Brunna... - A voz de Pedro interrompeu minhas observações e eu percebi que já estávamos em frente ao caixa.
- O quê? - Perguntei com um sorriso.
- Você precisa comprar o seu ingresso. - Meu sorriso congelou no rosto. Ok, eu odiava que pagassem as coisas para mim, mas talvez eu gostaria que ele se oferecesse para pagar meu ingresso só para eu recusar por educação e mostrar que sou independente.
- Claro, qual é o nome do filme? - Eu perguntei já retirando o dinheiro da bolsa.
- Supernatural. - Ele respondeu antes de voltar a atenção para o celular. Mas que porra ele tanto via no celular?
- Um ingresso para Supernatural, meia entrada, por favor. - Eu sorri para a mulher que não parecia tão comunicativa depois de haver atendido as demônias um e dois. Ela me entregou o ingresso e eu olhei para a bomboniere vendo que as duas idiotas já haviam saído de lá. Dirigi-me até lá e fui seguida por Pedro, que ainda mexia naquela merda de celular. Fiz meu pedido e me virei para ele com o intuito de puxar assunto. - Não vai querer nada, Pedro? - Ele levantou a cabeça e sorriu para mim.
- Uma pipoca grande, uma soda e duas barras de chocolate meio amargo. - Ele sorriu de novo antes de voltar a atenção para o celular. Por que ele não disse aquilo para a atendente que estava esperando o pedido dele? Esperei por alguns segundos e nada. Olhei para trás e vi a fila quilométrica e mordi o lábio inferior com força dando adeus ao resto da minha mesada.
- Pedro, pode me ajudar, por favor? - Eu não iria carregar aquele monte de comida sozinha.
- Claro! - Ele finalmente guardou a porra do celular e veio me ajudar.
Ao entrarmos na sala de exibição, Pedro me levou até a última fileira e sentou-se na poltrona do canto que estava consideravelmente mais escura que as outras e eu o segui, sentando-me ao seu lado. Daquela vez eu iria esperar o filme começar antes de começar a comer.
Cinco filmes em exibição e pelo menos sete salas de cinema e adivinhem em qual sala a Oliveira foi parar? Isso mesmo, na mesma sala que eu, mais especificamente duas fileiras a frente. Inspirei fundo, buscando no fundo da minha alma algum resquício da minha paciência já esgotada e tentei me concentrar nos trailers que já haviam começado, mas a todo instante meu olhar ia parar em cima das duas.
Quando o filme começou, decidi me dedicar exclusivamente a ele e o homem ao meu lado, mas eu só deveria ter me concentrado em Pedro porque aquela merda de filme era terrível e eu estava me borrando de medo, doida para chorar. Em dada cena, involuntariamente me agarrei a Pedro, que desviou a atenção do filme para mim.
- O que foi? - Ele perguntou com o cenho franzido.
- Eu estou com medo. - Eu nunca mais iria ao cinema na quarta, era uma promessa.
- Para de ser covarde Brunna, nada disso é real, vamos prestar atenção ao filme. - Ele murmurou aquilo como se o que eu estivesse sentindo não passasse de coisa boba e voltou a prestar atenção ao filme. Eu pensei seriamente em me levantar dali e ir embora, assumindo para mim mesma que talvez Pedro não era aquilo que sempre pensei, mas eu resolvi dar uma segunda chance a ele.
Voltei meus olhos para a Oliveira e vi o exato momento em que Yris deitou a cabeça em seu ombro e Ludmilla passou os braços pelos ombros dela. Por um segundo eu tive inveja da Yris porque Ludmilla não era uma ridícula quando se tratava de filmes de terror.
Durante o resto do filme eu dividi minha atenção entre Ludmilla e não chorar de medo e quando saímos da sala, eu a perdi de vista e tive que ouvir Pedro repetir a todo momento "Viu loirinha, nada daquilo era de verdade". Diga isso para o meu sistema nervoso!
Eu só queria ir embora.
☀️▫️LUDMILLA ▫️☀️
Depois de sair correndo da sala de cinema para o banheiro, eu me encontrei com uma Yris sonolenta do lado de fora. Ela dormiu praticamente o filme todo.
- O banheiro estava imundo como sempre, mas pelo menos eles haviam reposto o papel higiênico. - Eu resmunguei vendo seu rosto mais inexpressivo ainda pelo sono.
- Tínhamos companhia e não percebemos. - Ela murmurou apontando o polegar para a direita. Meu olhar seguiu seu dedo meu coração quase parou ao visualizar Pedro e Brunna parados em frente a sala de cinema de onde Yris e eu havíamos acabado de sair.
- Tanto faz. - Eu dei de ombros, mas ainda estava com olhar grudado nos dois que naquele momento estavam indo em direção à saída do cinema com o filho da puta abraçando Brunna pela cintura. - Yris, eu tenho que chegar cedo em casa, você se importa de eu ir embora agora? - Eu perguntei, tentando não perder aqueles dois de vista.
- Se por chegar cedo em casa você quer dizer que quer seguir os dois, eu não me importo. Estou morrendo de sono e quero chegar em casa e me enfiar na cama antes que minha colega de apartamento chegue.
- Tudo bem, mande mensagem assim que chegar. - Eu a abracei brevemente antes de seguir para o estacionamento.
🌟▫️BRUNNA ▫️🌟
Eu queria chegar em casa logo.
Eu precisava reconhecer que aquele encontro não havia sido nada do que eu esperei, mas eu ainda tinha esperanças que o beijo de boa noite pudesse salvar alguma coisa.
Faltava uns dez minutos para eu chegar em casa e a cada segundo que se passava, eu sentia meu coração se acelerar mais com a expectativa em beijar Pedro.
- Há alguma coisa errada? - Eu perguntei ao vê-lo entrar em uma rua completamente deserta e parcialmente iluminada.
- Aqui nós teremos mais privacidade. Você não achou que eu iria beijá-la em frente à sua casa, não é? - Bem para falar a verdade, eu achei sim, mas talvez um pouco de privacidade não fosse tão ruim.
- Não achei. - Eu murmurei com um sorriso sem graça enquanto o via se aproximar de mim. Fechei os olhos e senti seus lábios tocarem os meus de maneira brusca e descontrolada, logo enfiando a língua na minha boca. Tentei acompanhar seu ritmo, mas tive a certeza de que aquilo estava indo rápido demais quando eu o senti pegar minha mão e levá-la ao seu pênis já ereto. Eu desgrudei nossos lábios na hora. - Pedro, não!
- Eu sei que você quer. - Ele avançou pra cima de mim mais uma vez, fincou as mãos na minha cintura e me beijou mesmo eu relutando. Eu não conseguia escapar e logo senti sua mão vagar por baixo da minha camisa e agarrar um seio.
- Pedro, me leva pra casa! - Eu pedi assim que consegui desgrudar nossos lábios, sentindo o desespero envolver minha voz.
- Vai se fazer de santa agora? Você se esfregou em mim o tempo todo na festa da Vanessa e agora está fugindo? Não fode, Brunna! - Ele avançou para cima de mim mais uma vez e eu não tive como me defender porque ele era muito maior e mais forte que eu. Seus dedos me apertavam com força, machucando minha pele enquanto eu tentava gritar por socorro, mas minha voz parecia ter sumido por causa do bolor bloqueou toda a minha laringe.
Num segundo Pedro estava em cima de mim e no outro eu senti ausência. Abri meus olhos e me deparei com Ludmilla em cima dele, do lado de fora do carro, socando seu rosto.
- Eu te falei para ficar longe dela, seu filho da puta! - Ela desferiu mais um soco em seu maxilar, mas ele trocou as posições de seus corpos e começou a desferir socos no rosto da Ludmilla.
- Você vai aprender a nunca mais encostar em mim sua sapatão nojenta! - Eu não conseguia mover um músculo do meu corpo. Eu só conseguia observar o rosto da Ludmilla ficar cada vez mais vermelho de sangue a medida em que ela cruzava os braços na frente do rosto tentando impedir que os socos atingissem o seu rosto machucado.
Num surto de adrenalina, eu fui até ele e chutei seu tronco, fazendo-o tombar para o lado e cair no chão. Seu olhar desnorteado vagou entre Ludmilla e eu e ele se levantou.
- Vocês duas se merecem! - Ele murmurou antes de voltar correndo para o carro e ir embora a toda velocidade.
Fui correndo até onde Ludmilla ainda estava deitada, tentando se levantar e me agachei colocando sua cabeça sobre meus joelhos. Eu segurei sua cabeça em meu colo, permitindo as lágrimas deslizassem pelo meu rosto.
- Como você está, Bru? - Ela perguntou com a voz um pouco esganada, acariciando minhas mãos que estavam em seus ombros e eu olhei para seu rosto ensanguentado sentindo um choro convulsivo tomar conta de mim.
- Você está toda ferrada e pergunta como eu estou? - Eu respondi entre soluços enquanto ela dava de ombros.
- Isso daqui é só sangue, basta eu limpar para ficar linda de novo. - Ela riu de maneira fraca.
Nós duas sabíamos que não era apenas sangue.
- Cala a boca, Oliveira! - Eu murmurei num falso tom indignado enquanto pegava meu celular dentro da bolsa, cuja alça ainda estava atravessada em meu torso. - Mila, por favor, venha me buscar! - Eu gritei para ela assim que o celular foi atendido.
- Bru, o que aconteceu? - Ela perguntou num tom de voz preocupado e de maneira rápida eu expliquei a ela o que aconteceu e minha localização enquanto Ludmilla murmurava sobre o quanto havia deixado o rosto de Pedro deformado.
Quinze minutos depois, Camila ofegante desceu do carro e me ajudou a colocar Ludmilla no banco de trás enquanto a mesma parecia mais preocupada com a moto do que com o rosto arrebentado. Depois de ligar para uma empresa buscar a moto, ela finalmente permitiu que Camila nos tirasse dali e pediu para que nós a levássemos para casa da Lauren, que quase desmaiou ao ver o estado da melhor amiga.
Pelo que Lauren explicou, os pais dela trabalhavam em um hospital e passariam a noite por lá. Nós subimos com Ludmilla para o quarto e eu pedi a Lauren um kit de primeiros socorros para que eu pudesse cuidar de Ludmilla. Nos sentamos em cima da cama enquanto Camila e Lauren saiam do quarto para fazer não sei o quê.
Eu me sentia envergonhada. Eu estava sentada na cama, em frente a Ludmilla enquanto limpava seu rosto em silêncio, sentindo seu olhar sobre meu rosto a todo instante, mas eu não tinha coragem de olhar para ela, eu só queria tentar consertar um pouco daquele estrago feito no rosto dela por minha causa. Quando seu rosto estava completamente limpo e com as ataduras nos lugares certos eu pousei as mãos em seus ombros e finalmente olhei em seus olhos.
- Você tinha razão, era só sangue. - Eu sorri debilmente e ela me acompanhou.
- Eu sempre tenho razão. - Nós sabíamos que ela não estava falando dos machucados. - Onde aprendeu a fazer curativos assim?
- Minha mãe foi enfermeira antes de eu nascer e me ensinou um pouco de tudo. - Eu dei de ombros. - Obrigada por ter me salvado.
- Eu não podia deixar nada de ruim acontecer com você porque eu preciso de você bem para que eu possa continuar te perturbando. -Ela sorriu de maneira fraca. Como ela conseguia ser tão linda mesmo com o rosto machucado?
- Nós já resolvemos as coisas com os seus pais! - Camila anunciou com um grito entrando no quarto e me fazendo pular de susto.
- Ludmilla, nós temos que ir à polícia. - Lauren anunciou logo atrás de Camila.
- A polícia não vai resolver nada, Laur. Você sabe que o pai dele é delegado e sempre o livra das merdas, além disso, eu não quero preocupar meus pais com esse tipo de coisa.
- E como você vai explicar esse rosto machucado para eles? - Lauren inquiriu sentando-se ao lado da amiga.
- Eu vou falar que levei uma bolada jogando basquete com você, eles sabem que você é horrível, não vão me questionar. - Ela deu de ombros e se levantou. - Vou tomar um banho porque arrebentar a cara do Mello me deixou toda suada. - Ela olhou para mim. - Você vai ficar bem, Bru? - Eu assenti enquanto a via se dirigir ao banheiro.
Talvez a Ludmilla não fosse uma idiota.
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