✨-13-✨
🌷▫️DAIANE ▫️🌷
- Daiane! – Se fosse em qualquer outro dia antes de hoje, ouvir aquela voz me chamando faria com que eu sorrisse igual uma boba por horas, mas depois do ocorrido mais cedo, ouvir Vanessa me chamando só fez com que eu empurrasse a bicicleta mais rápido em direção à saída do colégio.
- Daiane, Vanessa Vieira está te chamando. – Avisou a garota já montada em cima da bicicleta, com o olhar assustado enquanto olhava para trás. Vanessa a havia atropelado uma vez sem querer, por isso ela tinha um pequeno trauma da minha crush que estava em processo de se tornar ex-crush.
- Obrigada, Carmen! – Eu agradeci com um sorriso que mais parecia um rosnado enquanto via Carmen Farias ir embora apressadamente com sua inseparável bicicleta, pronta para fugir da Vanessa.
- Daiane! – Vanessa chamou mais uma vez e parei onde estava. Ela parou ao meu lado com um meio sorriso e um pouco ofegante, mas nem suar ela suava. – Preciso falar com você, posso te pagar outro sorvete?
Sabe qual é a grande merda de ser curiosa? A curiosidade tem o incrível poder de te deixar descontrolada, como se fosse um vício no qual você só consegue sossegar depois de descobrir o algo sobre o fato pelo qual estava ansiando. Eu poderia inventar qualquer desculpa para não sair com Vanessa, mas eu queria saber o que ela tinha a conversar comigo.
- Tudo bem. – Respondi com um dar de ombros.
- Ótimo! – Ela sorriu – Hoje eu não vim de carro, você se importaria em me dar uma carona na sua bicicleta?
Ela tinha que ser tão agradável? O sorriso dela tinha que ser tão lindo? Eu tinha que ser tão babaca? Assenti enquanto subia em cima da bicicleta e fazia sinal para que ela subisse nas pedaleiras de apoio na parte de trás. Eu era uma idiota burra de carga.
Meu coração foi à boca quando seus braços abraçaram meu pescoço e sua bochecha colou-se à lateral da minha cabeça.
- Eu adorei seu shampoo, depois eu vou querer o nome. – Eu podia sentir seu nariz se movendo em meus cabelos. Aquela garota ainda iria me matar do coração.
Fiz o caminho mais longo para a sorveteria alegando que por lá não haviam tantos carros e pedalei de modo mais lento que de costume só para tê-la mais perto junto de mim, mas também porque percebi seu braço apertando meu pescoço cada vez que eu aumentava um pouco a velocidade. Eu não estava com a mínima vontade de morrer enforcada. Assim que chegamos à sorveteria, ela imediatamente desceu da bicicleta e eu percebi suas pernas bambas expostas pela saia.
- Olá Dai! – A atendente apareceu do nada com um sorriso gigante no rosto e um bloquinho nas mãos. Eu adorava a simpatia daquela garota, mas ela nem olhou para Vanessa.
- Josefina, como você está? Eu vim aqui antes de ontem e não a vi, esteve doente? – Perguntei e notei que uma criancinha sentada na mesa ao lado levou um susto e começou a chorar, mas eu não sabia o motivo.
- Precisei resolver algumas questões pessoais, mas minha saúde está ótima! – Ela respondeu com um sorriso gigante, acentuando as covinhas em suas bochechas.
- Isso é ótimo! Se precisar de alguma coisa, é só falar comigo. – Apontei para Vanessa, que estava sentada à minha frente. – Essa é Vanessa, e Vanessa, essa é Josefina, a melhor atendente deste lugar. – Eu a vi abaixar o olhar e sorrir, antes de olhar para Vanessa e seu sorriso se desmanchar.
- Oi.
- Prazer em conhece-la! – Vanessa sorriu sem mostrar os dentes. – Vou querer três bolas de pistache no copinho, por favor! – Ela sequer olhou o cardápio e Josefina assentiu antes de anotar o pedido.
- Para você será o mesmo de sempre, Day? – O sorriso dela estava de volta e eu assenti. – Ótimo! Já volto com os seus sorvetes. – Eu a observei ir até o balcão preparar os pedidos. Eu já falei que adorava a simpatia daquela garota?
- Ela gosta de você. – A voz de Vanessa interrompeu meus pensamentos.
- Quê?
- Essa menina que nos atendeu, ela gosta de você.
- Eu também gosto dela, ela é muito simpática. – Eu respondi antes de pegar um guardanapo e começar a picotá-lo em cima da mesa, sem coragem de olhar em seus olhos por muito tempo.
- Você não entendeu, ela gosta de você de um modo romântico. – Eu parei o que estava fazendo e olhei para ela.
- Claro que não!
- Claro que sim, não viu o modo que ela me tratou só por eu estar com você? – Eu havia reparado sim, mas não quis pensar muito sobre aquilo porque me traria um problema enorme se ela realmente gostasse de mim daquela maneira.
- Vai ver o humor dela não está tão bom quanto parece.
- Então o humor dela é seletivo? –Vanessa me perguntou com um levantar de sobrancelha.
- Ela não gosta de mim desse jeito. Bem, eu estou curiosa, o que você quer falar comigo? – Vanessa suspirou antes de se recostar na cadeira, até o suspiro dela era lindo.
- Eu vim pedir desculpas.
- Desculpas? – Ela assentiu.
- Sim, digo, por ter beijado a Ludmilla. Eu não sabia que vocês estavam juntas e eu não sou uma vadia que agarra pessoas comprometidas. – No mesmo momento meu rosto se transformou numa careta feia. Ludmilla e eu juntas? Que nojo!
- Eu não estou com a Ludmilla, de onde você tirou isso? – Ela franziu as sobrancelhas.
- Vocês não estão juntas? – Eu meneei a cabeça. – Então por que a Ludmilla te pediu desculpas pelo beijo e por que ela te beijou?
Fodeu! Claro que eu não podia dizer para Vanessa que havia discutido com a Ludmilla por causa dela.
- Hum... Nós tínhamos um juramento de que encontraríamos namoradas ou namorados, na mesma época. Por isso eu reagi tão pessimamente ao beijo. Eu achei que a Ludmilla havia quebrado o juramento e arrumado alguém antes de mim. O beijo que você viu é o nosso modo de selar juramentos desde sempre. – Tomei fôlego depois daquela mentira super criativa.
- Isso é sério?
- SIM! – Eu assenti freneticamente para confirmar a mentira.
- Você não gosta da Ludmilla? –Quase vomitei só de ouvir aquilo.
- Isso seria quase um incesto.
- Então está resolvido!
- Quê?
- A situação. Podemos encontrar uma namorada ou namorado para você e então eu fico com a Ludmilla. Que tal começarmos fazendo ciúmes em uma certa pessoa? – Ela olhou na direção da Josefina antes de voltar-se para mim com um sorriso largo e segurar minhas mãos trêmulas por cima da mesa.
Eu estava fodida.
🌟▫️BRUNNA ▫️🌟
- Gente, com que roupa eu vou? – Eu perguntei para Clara e Camila que estavam jogadas em cima da minha cama igual roupa suja. Clara foleava uma revista e Camila estava concentrada no celular.
- Vai com qualquer coisa. – Camila resmungou sem tirar os olhos do celular.
- Nem é um encontro de verdade. –Clara respondeu concentrada na revista que estava lendo. Eu grunhi enquanto voltava minha atenção para o closet. Quem havia bagunçado aquela merda?
- Vocês são duas inúteis. – Eu resmunguei desmanchando o coque que havia feito para não molhar o cabelo durante o banho.
- Acho que você está muito preocupada com esse encontro falso. Nem parece que faz quatro dias que você estava pesquisando a duração da pena para homicídios causados por adolescentes de dezessete anos...
- Eu vou mudar a minha senha! Você tem que parar de ficar fuxicando o histórico dos outros. – Respondi me virando para elas.
- Eu concordo com a Brunna, Camila. – Clara respondeu levantando os olhos em uma carranca para Camila. – Você também fez isso no meu celular.
- Seu celular é a coisa mais chata do mundo, Clara. – Camila abanou as mãos com pouco caso. – Para que você pesquisa tanto sobre igrejas? - Clara arregalou os olhos e largou a revista em cima da cama antes de ir correndo até a mochila.
- Eu já havia me esquecido, tenho um presente para vocês. – Ela respondeu com um sorriso entregando uma vela para mim e uma para Camila.
- Para que vou querer uma vela? – Camila respondeu, olhando o objeto entre os dedos com uma careta. Eu olhei para a vela que Clara havia me entregado. Ela tinha uma etiqueta com o nome de uma igreja e um endereço.
- Para de ser mal agradecida, Camila! Eu sempre trago uma vela como lembrança de todas as igrejas que eu visito, mas eu gostei tanto dessa última igreja que trouxe uma vela para vocês também. – Camila olhou para mim e levantou as sobrancelhas rapidamente. Eu captei seu gesto e assenti sem que Clara pudesse ver.
- Eu não quero essa vela! – Camila entregou o objeto para Clara.
- Eu também não quero! – Eu entreguei o presente para ela também.
- Por que vocês não querem?
- Clara, você roubou isso de Deus, eu não quero uma coisa que foi roubada do Todo Poderoso. – Camila respondeu contendo o riso e eu mordi meus lábios para não rir também.
- Eu não roubei. – Eu estava com pena do olhar angustiado dela e até pensei em parar com aquilo, mas só pensei mesmo, porque talvez aquilo fosse mesmo um roubo a Deus.
- Roubou sim! A ira de Deus cairá sobre você e não quero compactuar com isso. – Clara abraçou as velas.
- Eu preciso devolver isso, mas eu tenho mais trinta e duas velas em casa.
- Acho que se você voltar a todas as igrejas que você visitou, Deus irá perdoá-la. – Camila era tão convincente...
- Sim, eu vou pedir meus pais para me levarem no domingo e aos poucos eu vou devolvendo. Obrigada por me iluminar! – Ela abraçou Camila, que retribuiu.
- Ótimo! Agora que Clara não será castigada, podemos voltar ao meu problema? Com que roupa eu vou? –Eu perguntei me virando novamente para o closet.
- Vai pelada, a Oliveira vai adorar!
- Camila! – Clara repreendeu.
- Estou apenas dizendo a verdade. – Camila se levantou. – Me dê licença! – Ela me empurrou com a força da vaca que era, enquanto tomava meu lugar em frente ao closet. Eu me sentei na cama enquanto esperava minha amiga resolver tudo. – Pronto! – Ela anunciou cerca de um minuto depois e arremessou duas peças de roupa na minha cabeça. Eu as peguei entre meus dedos e analisei a calça jeans com cintura alta e o crop top azul marinho de manga comprida com faixas brancas e vermelhas na barra, gola e ponta das mangas.
- Não está muito simples? – Resmunguei quando ela jogou o par de All Star junto.
- Você vai à droga de um cinema com a Ludmilla, e não para a um casamento. – Ela tomou o lugar na cama de novo. – Você tem dez minutos para se vestir antes da Ludmilla vir de buscar. Não se esqueça que ela é sua vizinha e chegará aqui super rápido. – Eu imediatamente olhei para a minha janela, que estava coberta com a cortina que meu pai havia consertado, certificando-me que não havia meios dela me espiar enquanto eu me arrumava.
[...]
- Brunna, a Ludmilla está aqui! –Minha mãe gritou dez minutos depois, enquanto eu terminava de amarrar o tênis. A desgraçada não poderia ter apenas enviado uma mensagem para eu encontrá-la? Meus pais não precisavam saber que eu iria sair com ela.
- Se fodeu! – Camila começou a rir e Clara a acompanhou. Peguei a bolsinha com o celular e a carteira e mandei dedo para elas enquanto descia as escadas bufando.
- Eu prometo que vou trazê-la antes das dez e meia. – Ouvi a idiota dizer antes de eu aparecer na sala e ela imediatamente levantar do sofá, colocando as mãos atrás dos bolsos da calça jeans preta. – Bru, você está linda! – Ela sorriu e eu não soube onde me esconder. Não era para o encontro de mentira acontecer enquanto ainda estávamos dentro de casa, COM MEUS PAIS DENTRO.
- Vamos? Mãe, a Clara e a Mila ficarão para jantar com vocês. – Eu respondi ignorando o elogio enquanto a observava. Ela estava bem... hum... acho que posso dizer sexy. Não que eu achasse mulheres sexys, mas pensando com uma mente masculina, ela parecia sexy sim.
- Você não havia dito que iria ao cinema com a Ludmilla, filha. – O tom de voz do meu pai parecia... alegre? Não, deveria ser impressão minha.
- Estamos tentando nos acertar, papai. – Fingi um sorriso para meus pais e olhei para Ludmilla. – Vamos? – Fiz uma careta para que ela entendesse que eu queria sair dali o mais rápido possível.
- Que ótimo! – Minha mãe bateu palminhas e só faltou dar pulinhos no meio da sala. Eu não entendia aquele exagero todo, era SÓ uma ida ao cinema!
- Então nós já vamos. – Ela deu alguns passos para perto de mim, sorrindo e se virou para acenar para meus pais. – Tchau, senhores Gonçalves!
- Cuida da minha filha porque ela não tem nada na cabeça! – Meu pai gritou antes eu fechar a porta atrás de mim e fechei os olhos buscando paciência.
Eu deveria ter ficado com a vela roubada que a Clara queria me dar, eu pediria a Deus que meus pais não fossem tão inconvenientes.
- Por que você não ficou esperando aqui fora? – Eu resmunguei entre os dentes assim que tive certeza que ninguém poderia nos ouvir.
- A gente não combinou nada e se o babaca tiver alguma noção, também vai querer falar com seus pais. – Ela resmungou de volta. – Eu peguei o carro do meu pai emprestado porque não sabia se você iria usar saia ou não.
- Ok, vamos logo! – Resmunguei de novo e quando ela fez menção em abrir a porta para mim, fui mais rápida e agarrei a maçaneta. Eu tinha mão e podia fazer aquilo sozinha.
- O Pedro vai adorar que você se comporte como um chihuahua raivoso. – Ela disse baixinho enquanto saia com o carro. Observei seu perfil sério e concentrado na estrada. Mesmo com a expressão mau humorada, ela ficava bastante bonita dirigindo.
Talvez eu houvesse sido grosseira à toa, mas eu estava tão acostumada...
- Desculpe, tudo bem? Vamos começar de novo? – Ela assentiu sem tirar os olhos do trafego.
- Você está linda! – Ela repetiu o elogio e eu senti meu rosto pegar fogo, agradecendo o fato do carro estar escuro.
- Obrigada, você também está bonita. – Eu disse com cuidado, achando aquilo muito estranho. Achar ela bonita era uma coisa, dizer isso para ela era completamente diferente.
O caminho até o cinema foi repleto de perguntas idiotas sobre o meu dia que eu respondi a muito contragosto porque ela sabia como ele havia sido, já que esteve comigo praticamente o tempo inteiro no parque e depois no colégio.
- Então, que filme quer assistir? – Ela perguntou enquanto estávamos na fila do caixa. Eu olhei para a programação de filmes e fiz uma careta.
- Só tem filme de terror.
- Sim, porque hoje é a quarta do terror.
- Eu não gosto. – Respondi observando um cartaz mais feio e assombroso que o outro.
- Você já assistiu algum? – Ela ergueu as sobrancelhas para mim.
- Eu não preciso assistir para saber que eu não gosto. – Ela me abraçou pelos ombros e me colou a lateral dos nossos corpos sorrindo.
- Então hoje você vai assistir seu primeiro filme de terror comigo. – Eu teria que ter uma primeira vez, não é? Então dei de ombros, aproveitando o gesto para tirar o braço dela de cima de mim.
- Que seja! – Continuei prestando atenção na fila a nossa frente. Instantes depois, senti sua mão esquerda tomar a minha direita e olhei para baixo, observando seus dedos se entrelaçarem aos meus fazendo meu estômago se retrair. Levantei os olhos para o seu rosto e Ludmilla estava olhando para a direção contrária ao meu rosto.
Era um encontro falso, não era? Adquirindo uma ousadia que eu não sabia que tinha, usei meu polegar direito para acariciar sua mão e virei minha cabeça para o lado oposto a Ludmilla no exato momento em que a vi virar a cabeça na minha direção.
Ficamos em silêncio até chegar a nossa vez de sermos atendidas.
- Boa noite, dois ingressos para The Conjuring, por favor! – Ludmilla pediu separando nossas mãos e tirando a carteira da bolsa de couro, mas eu dei um tapa em sua mão antes que ela pudesse entregar o dinheiro dos dois ingressos para a mulher.
- Eu vou pagar a minha entrada.
- Isso é um encontro Brunna, eu vou pagar a sua entrada. – Ela respondeu com um revirar de olhos.
- Não interessa se é um encontro, eu não gosto que paguem as coisas para mim. – Ela fechou os olhos e inspirou fundo antes de se virar para mim com um sorriso.
- Vamos fazer um acordo, você deixa eu pagar dessa vez e quando sairmos de novo você paga. – Eu assenti e a vi entregar o dinheiro para a mulher com cara de múmia mal comida que estava no caixa. Ela também pagou a pipoca, refrigerantes e chocolates enquanto eu repassava todos os acontecimentos até o momento em minha cabeça.
"...Você deixa eu pagar dessa vez e quando sairmos de nov..."
- Quem disse que eu vou sair com você de novo? – Ela pulou de susto e quase derrubou a pipoca.
- Você está louca? – Ela resmungou para mim antes de entrarmos na sala do cinema.
- Quem disse que eu vou sair com você de novo, Oliveira? – Ela deu de ombros.
- Do jeito que você está se comportando, teremos que ter mais uns novecentos encontros até que você esteja pronta. – Eu bufei e tomei a pipoca de suas mãos antes de entrar na sala. Eu iria comer tudo sozinha! Como os lugares não eram previamente marcados, eu escolhi uma poltrona bem no meio de todas, mas antes que eu pudesse me esgueirar entre as poltronas, Ludmilla segurou o meu braço.
- Que foi? – Eu perguntei em meio a penumbra.
- Casais não sentam ai. – Ela falou baixinho.
- Para de ser idiota! Casais sentam onde eles quiserem. – Eu tentei me ir para o lugar que eu havia escolhido, mas Ludmilla continuou segurando o meu braço.
- Você está fazendo tudo errado, vem comigo! – Eu revirei os olhos e a acompanhei até a última fileira, onde a palhaça escolheu as poltronas do canto.
- Estamos muito longe do telão, se eu assistisse o filme com o meu celular eu teria uma tela maior. – Resmunguei só porque eu não sentei na poltrona que queria.
Ludmilla ignorou minha reclamação e comecei a comer a pipoca. Os trailers nem haviam se iniciado ainda. Depois de trinta mil minutos de trailers chatos, o filme finalmente começou e eu senti meus dedos tocarem o fundo do saco de pipocas. Só tinha sal ali.
- Ninguém mandou comer igual uma desesperada. – Ela resmungou baixinho, mas a ignorei, pegando o refrigerante.
Por que ela havia comprado a pipoca para dividirmos? Que idiota!
Mal havia se passado vinte minutos de filme quando eu senti a movimentação na cadeira ao lado e pelo canto dos olhos eu vi Ludmilla se aproximar e passar o braço por cima dos meus ombros e o abraçar, puxando meu corpo de encontro ao dela. Eu fui sem reclamar porque a sala de cinema estava fria pra cacete e meu casaco não estava dando conta. Eu só queria me esquentar.
Passados mais quinze minutos de filme e eu já estava me tremendo de medo, doida para gritar. Meu corpo estava quase completamente colado ao de Ludmilla e meu rosto estava escondido em seu pescoço. Eu não tinha coragem de olhar para a tela, mesmo com Ludmilla sussurrando que estava tudo bem.
- Calma, Bru. – Ela me abraçava forte, sussurrando com os olhos ainda vidrados na tela.
- Eu estou com medo dessa merda. – Eu sussurrei de volta, fechando os olhos fortemente. Seus dedos levantaram meu queixo e eu abri meus olhos aos poucos, vendo seu rosto muito próximo do meu, iluminado apenas pelo telão.
- Isso não é de verdade. – Ela sussurrou com um sorriso. – Você confia em mim? – Eu não sei o que aconteceu, mas algo na voz dela me fez assentir e seu sorriso aumentar antes de se aproximar e deixar um beijo demorado muito próximo a minha boca. Aquele gesto fez com que meu coração batesse loucamente e eu levei a mão ao peito, na tentativa de acalmá-lo enquanto Ludmilla me apertava mais ainda contra si e voltava a prestar atenção ao filme. Eu me virei para a tela, sem prestar atenção a nada especificamente, com uma única pergunta em mente:
Eu queria que ela tivesse me beijado na boca?
[...]
- E então, o que achou do filme? – Ela perguntou depois de havermos saído do cinema. Eu não havia prestado atenção em merda nenhuma. Durante todo o filme meu olhar involuntariamente ia parar em Ludmilla, em seu perfil, seus dedos entrelaçados aos meus, seu maxilar enquanto ela comia chocolate... tudo, absolutamente tudo nela me chamou atenção dentro daquela sala. Era como se a presença de Ludmilla estivesse absorvendo toda a energia daquele lugar. Eu pude observar cada traço de seu corpo, por mais ínfimo que fosse e ela me pareceu... hum... perfeita! Acho que essa era a palavra.
- O filme é até legalzinho. – Eu menti, ainda odiava filmes de terror e com certeza teria pesadelos com o pouco que assisti.
- Eu deveria ter trazido você outro dia para assistir a um filme que não fosse de terror, desculpe.
- Está tudo bem, Ludmilla. – Ela pegou o celular e o olhou por alguns instantes antes de guardá-lo no bolso.
- Eu disse para os seus pais que iria deixa-la em casa às dez e meia e já está quase na hora, vamos? – Ela estendeu a mão para mim e eu a peguei, entrelaçando nossos dedos, enquanto a seguia em silêncio.
Eu não sei o que aconteceu, mas o silêncio dentro do carro era sepulcral. Ela acariciava meus dedos, atenta ao trafego quase inexistente e só quebrava o contato para mudar a marcha. Eu me sentia incomodada com um sentimento que eu não conseguia definir e não tinha coragem de olhar para ela.
Assim que ela parou o carro em frente minha casa, saí e esperei ela dar a volta no mesmo para me acompanhar. Seguimos a estradinha de cimento e a escadinha de madeira até a minha varanda ainda em silêncio e eu parei em frente a porta fechada, me virando para me despedir.
- Obrigada pela lição de hoje! – Sorri vacilante para seu semblante sério e analítico.
- A lição ainda não acabou. – Ela respondeu dando um passo à frente e não me movi.
- Não? – Ela meneou a cabeça.
- Ainda falta uma coisa. – Ela respondeu dando mais um passo longo a minha frente, colocando suas mãos na minha cintura para colar nossos corpos. Eu seria bem burra se não soubesse do que ela estava falando, mas me deixei levar. Enlacei seu pescoço com meus braços e a deixei acabar com o espaço entre nossas bocas. Diferentemente dos outros dois beijos, esse foi mais quente e ao mesmo tempo delicado, como uma mescla dos dois anteriores. Seus lábios eram macios e a princípio apenas se encostaram aos meus, fazendo-a apertar de leve a minha cintura ao mesmo tempo em que eu estreitava o contato entre nossos corpos mais ainda. Aos poucos seus lábios sugaram meu lábio inferior e suas mãos desceram para o meu quadril. Uma ânsia de sentir seu gosto me consumiu e eu pedi passagem para dentro de sua boca com a língua e uma bomba atômica pareceu ter explodido dentro do meu estômago quando ela começou a me sugar de volta, fazendo com que um gemido baixo escapasse por minha garganta. Os dedos de sua mão direita percorreram o meu corpo até eu senti-los acariciarem meu queixo enquanto ela se inclinava sobre mim, rodeando seu braço esquerdo em meu corpo, me dando apoio para que eu não caísse e inspirava profundamente, explorando cada canto de minha boca com a língua. A medida em que o beijo ficava mais urgente, meus dedos ficavam mais afoitos nas mechas macias de seus cabelos. A pressão de seus seios pressionando os meus, o atrito de nossos quadris, a ponta de nossos narizes roçando a cada movimento de nossas cabeças, sua mão que desceu da minha cintura para o meu traseiro e o apertou... tudo isso contribuiu para a aura fervente que nos rodeava e pareceu explodir dentro de mim quando eu senti sua coxa se embrenhar entre as minhas e tocar sutilmente o meu sexo por cima do jeans. Ludmilla deve ter sentido meu corpo se retrair porque interrompeu o nosso beijo com a respiração ofegante com o olhar invadindo o fundo da minha alma e bem que ela poderia ter invadido outra coisa também.
- Ludmilla... – Foi a única coisa que eu consegui pronunciar enquanto ainda sentia minha cabeça zumbir e a respiração me faltar.
- Jamais... deixe que... outra pessoa, inclusive Pedro a beije no... no primeiro encontro... estamos entendidas? – Sua fala era rápida e sua respiração ofegante demais. Eu assenti porque o pensamento de qualquer outra pessoa que não fosse ela me beijando, sequer passava pela minha cabeça. Encostei minhas costas na porta e com a mão esquerda, tateei a mesma até encontrar a maçaneta.
- Obrigada por tudo. – Agradeci bobamente enquanto abria a porta, esperando que ela fosse embora e percebeu meu gesto.
- Eu vou esperar você entrar, Bru. – Eu assenti mais uma vez antes de fechar a porta e me escorar na mesma.
Que noite havia sido essa?
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