31° Taça
SALVEEEEEEEEE
Bora tomar a última taça? 🍷 Gente, eu nem acredito que tá acabando...
Eu comentei sobre esse cap ser um prato cheio e não as migalhas que dei nos outros 30. Confiem em mim E BEBAM DEVAGAR
❌Contém cenas de sexo. Não é TÃO detalhado assim, mas achei melhor alertar❌
Espero mesmo que gostem do capítulo de hoje, COMENTEM MUITOOO (pra eu ficar feliz) e apreciem os últimos goles. Boa leitura 💕
🍷ི꙰͝꧖๋໋༉◈
Quando nossa mente está a todo vapor, os dias duram menos. Ou parecem durar, ao menos.
Não é o meu caso, mas é o de Park. Para ele, o tempo tem passado rápido demais. Para mim, mesmo com toda a correria de sempre, os dias têm sido longos. Não necessariamente uma tortura, só que às vezes é. Assim como há dias felizes e calmos, há dias tristes e ansiosos.
Mas ainda sim, longos.
Tenho consciência de que os meses estão passando, contudo, quando paro para prestar atenção, vejo que passou muito mais do que parece.
Quando pisco, o fim do ano se aproxima.
— Tenho boas novas. Na verdade, queria que estivesse aqui. Pra poder ver. — Seguro a mão fria e relaxada ao lado do corpo esguio, acariciando o dorso ossudo dela. — Mês passado eu te falei que o barulho que têm feito estava tendo efeitos... Gostaria de ter a coragem que você teve, desculpa. — Sorrio de lado, meio triste. — Eu só quero dizer que vocês conseguiram chamar atenção de todo mundo, tanto naquela noite quanto nas outras que vieram. E isso não é ruim. As coisas não estão ruins. Você só precisa acordar para ver com os próprios olhos.
Não obtenho uma resposta. Gostaria de ver seus olhos verdes, ou então ouvir seu tom grave e eufórico de voz, mas o rapaz continua em silêncio. Os olhos fechados, os lábios ressecados, os dedos frios, o corpo coberto por uma manta.
Imóvel.
Adormecido.
Em coma.
— O natal está chegando, gostaríamos de que estivesse na ceia conosco — digo, soltando a mão para ajeitar a coberta sobre ele. — Jimin me disse uma vez que você adora coisas com cheiro, foi o que me ajudou a escolher um presente de natal. Eu vou cuidar dele por enquanto, está bem? E te entregar quando sair daqui.
Olho em volta. O branco me incomoda desde que Park ficou acamado, por isso dei um jeito de decorar os cantos com tudo colorido que acho que Taehyung gostaria se visse. Tem plantas e balões, alguns objetos ao lado da cama. Ou então, a própria manta que o cobre.
Com autorização do hospital, mesmo que limitado a certas coisas por questão de segurança do paciente, tenho deixado o quarto menos desconfortável.
Mesmo sem saber se seu coma poderá durar mais algumas semanas ou meses, tenho procurado manter a força. A empolgação. A esperança de que ele acorde um dia.
Mesmo que leve anos.
E já faz alguns meses desde que Tae deu entrada no hospital. Falta pouco menos de um para o natal, o que é engraçado de se pensar. Porque não faz nem uma semana que completou nove meses que sou secretário do renomado enólogo e fundador da Wine Company.
Meu namorado não-oficial.
Eu estou feliz, é claro que estou, só é estranho pensar e admitir que estou — certamente, deixando a situação de Taehyung um pouco avulsa; isso não me deixa nem um pouco feliz, essa é a verdade.
Não, é claro, que eu não fosse feliz antes da reviravolta, é só que... me sinto eu mesmo agora. Sinto que posso me expressar da maneira que quero, que posso sentir o que meu corpo realmente está sentindo e não o que não existe.
Não que o amor que existia em mim fosse irreal, ele só não era o único que existia.
Eu sinto muitas coisas.
Jimin sente muitas coisas.
Taehyung sente muitas coisas.
Hanna sente muitas coisas.
Mesmo com a revolução causada naquela noite — noite essa que ficou para a história do ser humano na Terra —, somos exceções num mundo que, agora, é bizarro para mim.
Mas isso é real.
Ainda somos a minoria, mas com certeza somos muitos. Muitos e reais.
— Stacy anotou aqui que... Você tem que ir ao vinhedo hoje à tarde? — indago com os olhos presos na agenda virtual do Sr. Park. Chegamos a pouco na Wine, é começo de expediente. Visitamos Taehyung todos os dias antes do trabalho.
— Sim, pedi que anotasse. — Ele, como sempre, com os olhos presos na tela do computador.
— Por que não estou sabendo de nada?
— Não sei, amor, você devia estar ocupado. — Espreme os olhos violetas ao aproximar o rosto da tela.
As lentes somadas à postura rígida enganam bem, Jimin fica mais confortável no meio das pessoas quando usa elas mesmo que todos já saibam sobre ele e eu. Diz que se sente menos observado, mesmo sendo uma figura pública.
Jimin quer ser conhecido pelos vinhos e pelo seu trabalho com enólogo, não pela cor dos olhos.
Já eu, prefiro ficar sem. É uma maneira silenciosa de protestar, quase como um símbolo de resistência, mas cuido para não ficar sozinho em lugares abertos.
Ainda há pessoas que não nos aceitam muito bem. E essas pessoas não são punidas como deveriam quando nos fazem mal.
— Mas vai ser rápido lá — Park diz. — Vem comigo?
— Tenho escolha?
Sorri e me olha. — Não, na verdade.
— Imaginei que não. — Travo o tablet. — Mas você tem uma reunião agora de manhã. Com o financeiro.
Ele fecha os olhos e respira fundo.
— Vem comigo? — chama mesmo sabendo a resposta.
— Lógico que não. — Dou as costas e vou até a porta. Odeio o setor financeiro.
— Está demitido, Sr. Jeon.
— Paciência, Sr. Park. — Abro a porta. — E anota tudo, meu bem, preciso fazer o relatório depois. Grato.
Saio do escritório em direção à minha mesa.
Muitas coisas mudaram nos últimos meses, é claro, ao mesmo tempo que em abundância. Eu não sei explicar, só sei que sinto.
E gosto, mesmo que sentir demais me cause medo às vezes.
Jimin e eu voltamos aos trabalhos depois de almoçarmos juntos, contudo, ao invés do escritório, pegamos a estrada rumo ao interior da Califórnia. Rumo ao vinhedo.
Estou avulso ao motivo, Park explica que só quer ver se tudo está dentro dos conformes. Ele faz sua costumeira vistoria quando chega nos armazéns, visita cada um com cautela e atenção. E quando chega no último, onde as garrafas já lacradas e embaladas estão descansando, ele enfim revela que temos algo a fazer.
Tália o entrega uma garrafa e o saca-rolhas, como sempre faz quando tem uma nova produção, e Jimin recoloca a rolha quando abre. Pede para que eu pegue as taças e o siga.
E assim faço. Ao lado dele, caminho para fora do último armazém.
Ele tirou as lentes pouco antes de sair da Wine e virmos para cá, ficou o tempo todo de óculos escuros. Não que ele precise esconder o tempo todo, mas a grande parte das pessoas ainda pregam o discurso fanático e isso nos acanha. Procuramos sempre evitar confusões. Nesse exato momento, entretanto, o acessório está pendurado na camisa clara de botões que veste. O dourado do sol batendo no dourado do cabelo e no melado dos olhos... Cacete, é tão belo...
Tão meu.
— As vezes penso sobre uma casa no campo — Jimin quebra o silêncio um tempo depois de entrar no corredor de vinhas. A plantação de perder de vista. — Ah, eu viveria feliz o restante da minha vida sentindo esse cheiro...
Respira fundo. Terra molhada e grama verde.
— O que te impede? — Toco e acaricio as costas na altura da escápula. Ele anda um passo à minha frente.
— Excelente pergunta. — Olha brevemente por cima do ombro e sorri para mim. — Nada, na verdade. Estou apenas pensando melhor sobre como colocar essa ideia em prática. — Volta a olhar para frente. — Talvez eu precise de ajuda.
Antes que eu possa dizer algo, Jimin diminui as passadas até parar. Andamos bastante, não dá para ver nada de um lado a outro a não ser o corredor estreito até sumir no horizonte; nem mesmo de onde viemos.
— Esse é novo — Park diz ao se pôr de frente para mim. Puxa a rolha da garrafa com um sorriso pequeno nos lábios.
— Novo? — Pendo a cabeça sobre o ombro. — Como novo? Não passou nada por mim.
— Então... — Seguro as taças entre nós dois e ele as preenche com a bebida vermelho bordô. — Pedi para que Stacy resolvesse tudo. Era uma surpresa, você não poderia saber. Assim como vir aqui hoje.
Arqueio uma das sobrancelhas. Ele sopra uma risada e pega uma da minha mão.
— Aprecie, delírio. — O tinir soa junto do farfalhar das folhas das uvas quando os vidros se tocam, o olhar alaranjado me encara com atenção.
Eu giro a bebida enquanto nego com a cabeça, mas fecho os olhos ao aproximar a taça do rosto. O cheiro é doce. Não é amadeirado como o que tomamos aqui na primeira vez, mas tão potente e presente quanto.
Mantenho os olhos fechados quando levo até a boca, provando. O líquido escorrega pelos meus lábios e desce pela garganta deixando seu marcante gosto por onde passa. Os pelos do meu braço erguem-se ao que me sinto arrepiado.
Quando abro, Jimin ainda me encara. Todavia, logo fecha ao provar também. Como daquela vez, e de todas as outras, me deixou provar primeiro.
— Eu nunca erro mesmo — se gaba, eu gargalho pela audácia.
— Engraçado como você continua humilde. — Ele gargalha junto. — Até que não tá ruim.
Solta um ruído que denuncia sua incredulidade.
— Que petulância... Beira o divino!
— Acho que o senhor está colocando muita expectativa, Sr. Park. — Claro que estou fazendo graça, é satisfatório ver como reage as minhas provocações.
— Ousado o senhor dizer isso, Sr. Jeon. — O tom abaixa, fica rouco. — Acredito que sequer vai querer saber qual é o nome dele.
Esconde a garrafa atrás das costas.
Acho que posso dizer que nos conhecemos o suficiente. Eu sei que implicar com a mão e o paladar sensíveis que possui em relação a vinhos o deixa maluco, da mesma forma que sabe que detesto ter minha curiosidade alfinetada.
— Me deixe ver — mando, chegando mais perto. Jimin não se move.
— Pega. — O tom é sedutor.
Eu colo nossos peitos, em seguida nossos lábios. O beijo é lento e carrega o gosto dos céus que sua nova bebida nos proporciona. Meu braço, o que não segura a taça, envolve o tronco em busca da garrafa que esconde nas costas.
Jimin, empenhado em continuar o beijo, solta sem que eu precise fazer esforço. Os lábios doces deslizando entre os meus junto a língua me desnorteiam, ainda mais quando, ao me dar a garrafa, leva a mão até a minha cintura.
Entretanto, encerro o ósculo com brusquidão. Ele choraminga e me puxa mais, eu sorrio vitorioso por ter conseguido. Jimin beija minha bochecha e eu ergo a garrafa sobre seu ombro para conseguir ver. Então beija perto da orelha no mesmo instante que meus olhos deslizam pelo rótulo de fundo bege e letras marrons. Pela logomarca da empresa, pelo vermelho e pelo violeta que mancham as extremidades do adesivo como se fosse vinho derramado e respingado. E, com uma atenção maior, pelo título que a bebida carrega: "Raison de mon délire¹".
— Eu te amo, mon délire².
É a primeira vez. Jimin nunca tinha dito.
Sua declaração é sussurrada rente à minha orelha, confidenciada apenas a mim e aos quilômetros de vinhas ao nosso redor. Sinto o mesmo arrepio de outrora, desta vez, porém, passa pelo meu corpo inteiro. Minhas pernas perdem um pouco de força, mas o braço ao redor da minha cintura me mantém em pé.
Jimin me arranca o fôlego.
— Ainda acha que estou superestimando meu paladar hipercrítico e refinado, Sr. Jeon? — Afasta o rosto. Percebo que há lágrimas em meus olhos quando não vejo seus traços com a perfeição que eles carregam. — Admite: eu nunca erro.
— Você é inacreditável.
— Gostou? Tive ajuda de Hanna. Ela disse algo sobre eu ser gay demais. — Rio junto dele.
— Não consigo ver uma declaração tão gay quanto dedicar um vinho a mim.
— E quem disse que a dedicação é para você? — Claro que está me provocando. Não consegue, certamente. Eu aproximo meu rosto do dele até nossos narizes se tocarem.
— Eu sou o motivo do seu delírio, meu bem — sussurro, colando meus lábios aos dele. — Eu também amo você.
— Sei disso. E desculpa por ter demorado todos esses meses para dizer que te amo de volta, a estação do ano não colaborava. As uvas estavam tímidas. — Nossas gargalhadas se misturam antes do beijo cessar elas.
Idiota.
Eu gostaria de me livrar do que está me impedindo de tocá-lo agora, nosso beijo se torna intenso e fervoroso a cada segundo, mas Jimin acaba com a minha animaçãozinha ao dizer que não é lugar para isso.
Não é como se eu quisesse transar no meio do vinhedo, eu não seria tão irresponsável.
— Você não me disse se gostou.
— E precisa? Eu amei, querido. — Encaro a bebida mais uma vez, agora a caminho do carro luxuoso. Em breve escurecerá, Jimin quer chegar em casa antes do anoitecer. — É lindo.
— E limitado. — Olho para ele por cima do veículo. Ele sorri e entra do lado do motorista.
— Não vai para o mercado? — pergunto quando entro.
— Vai. Pouca quantidade, mas vai. — Dá partida. — Produzi só algumas unidades. Apenas cem vão para o mercado, o restante será para a minha, e sua, apreciação. Pelo resto da vida, quem sabe numa casa no campo. Quero ter setenta anos e poder bebê-lo num dia frio, na companhia do motivo de sua existência.
Me olha com um sorriso brilhante, meu corpo todo esquenta.
— Aos que queiram experimentar uma taça do meu amor por você, terão que brigar. Porque será apenas uma centena e não vai ser barato. De longe, o mais caro que produzi até hoje.
Deixo um tapa na coxa dele. — Você é um mercenário!
Ele acha graça, me agracia com sua risada espontânea. Em seguida, um beijo para me fazer lembrar que nada disso é irreal. Que está mesmo acontecendo.
— Vamos para casa.
Quando coloca o carro na pista, o silêncio me faz focar a atenção nos detalhes da garrafa. Mais uma vez, derreto de amor.
— Eu estava pensando... — Olho para ele quando quebra o silêncio. — Faz tempo que você está tentando deixar a minha casa confortável para os gatinhos.
— Sim.
Eu tenho levado os brinquedos para que o cheiro deles fique pela casa de Jimin, da mesma forma que tento trazer coisas do Jimin para eles se acostumarem com o cheiro da casa dele. Tivemos essa ideia juntos há um tempo já que queremos passar o final de semana juntos sem ter que deixá-los sozinhos por tanto tempo.
— Acha que estão prontos para conhecer? — Me olha rapidinho. — Gostaria de passar o dia com eles hoje. E com você. Lá.
— A gente pode tentar... — digo meio bobo. — Temo pelo seu sofá, apenas. Eles vão amar enfiar as garrinhas nele.
Jimin ri.
— Não tem problema, eu não ligo.
— Então tudo bem.
Quando chegamos na cidade, Jimin, ao invés de ir direto para a casa luxuosa, para no meu cogumelo. Enquanto pego a casinha no andar de cima, o loiro brinca com eles. Quando desço, a cena dos Yin Yang enroscados no chão disputando pelo carinho do enólogo me aquece o peito.
Coffee e Milk não gostam muito da casinha, porque toda vez que uso é para levar eles ao veterinário e eles odeiam veterinário, mas tento acalmá-los antes e durante a viagem. Quando a gente chega, procuro ser o mais cauteloso possível ao abrir a portinha, e só depois de conferir que não há nada onde possam se machucar caso se assustem.
É um terreno novo, certamente, porém, ter trazido os brinquedos com cheiro deles ao longo das últimas semanas e espalhado pelos cômodos ameniza a estranheza. Os primeiros minutos parecem atentos a tudo, toda a movimentação chama atenção deles, mas se acalmam com o passar das horas e exploram todos os lugares e buracos da casa.
Eu me mantenho por perto a maior parte do tempo, como o pai medroso que sou.
Sentado no tapete da sala e observando Milk em cima da mesa de centro tentando pegar Coffee deitado embaixo dela, Jimin aparece com o mesmo vinho de mais cedo. A gente encosta no sofá e termina de beber enquanto assiste os dois curiosos com o vidro da mesa.
— Acho que eles gostaram daqui — observa, os dedos da mão livre deslizando pela minha coxa num carinho suave. Eu bebo o último gole sem tirar os olhos dos gatinhos.
— Amaram. — É bom ver que se adaptaram rápido, assim posso trazê-los mais vezes. Ultimamente tenho passado mais tempo aqui do que em casa.
— Uma pena ter que levá-los de volta. Acho que vão ficar tristes.
Franzo o cenho e fito o homem ao meu lado. Jimin sorri com os olhos ainda nos felinos.
— Vão?
Ele pisca devagar, bebe sem pressa, e só então me olha.
— Ah, vão. Muito tristes. — Deixa a taça de lado, depois pega a minha vazia e faz o mesmo. — Você vai ter que ficar aqui.
Eu afasto o rosto quando tenta se aproximar para me beijar.
— Tá tentando me chamar pra morar com você?
— Não tem outro jeito, Jungkook, olha isso! — Quando fito a mesa, Milk, com seu rabo travesso e inquieto, se põe em posição de ataque. Acho que ele não calcula muito bem a distância, mas pula da mesa e cai em cima de Coffee. Eles rolam juntos no tapete branco, se chutando e se mordendo. — Eu sinto muito, Sr. Jeon, eles não podem ficar tristes. O que me diz sobre isso?
Quando olho, o entardecer nos olhos do loiro estão atentos a mim.
— More comigo, essa casa é grande demais para um enólogo apaixonado viver sozinho. Ele precisa dos gatos!
Gargalho, estapeando seu braço. Ele resmunga e tenta me beijar outra vez, desta eu não resisto.
— Só dos gatos? — Jogo o corpo contra Jimin, que deita com as costas no tapete. Pairo sobre ele, observando o rosto bonito com admiração.
O loiro faz uma expressão pensativa.
— Do pai deles também — e diz, por fim. Park Jimin me proporciona friozinhos na barriga com uma facilidade que me surpreende.
— Ok. Eu moro contigo. — Sorri grandão. — Com uma condição, é claro.
— Qualquer uma que quiser.
— Um jantar. — Franze o cenho. — Um jantar na casa dos meus pais.
—Tá? Não é uma novidade.
Umedeço os lábios, o peito quase explodindo. — Nem se for para te apresentar como meu namorado?
— Oh! — Algo acontece que me faz soltar uma risada. Eu vejo, do pescoço até a testa, Jimin ficar rosa. E depois vermelho. Eu tento me segurar, mas fica impossível não me inclinar para morder uma das bochechas quentes.
— Você é uma graça!
Fica ainda mais sem jeito.
— É um pedido de namoro?
— É um pedido de namoro, meu bem — confirmo. — Desculpa, não pude preparar um vinho com o seu nome. As uvas estavam tímidas.
Ele gargalha tão gostoso que faz eu me apaixonar mais um pouco. É encantador.
— Tudo bem. Eu aceito o jantar. E aceito ser seu namorado.
— Mesmo?
— Mesmo. Será um momento especial. — Toca meu rosto. — Eu quero momentos especiais com você.
— Quando te conheci, nunca imaginaria que você pudesse ser do tipo hiper romântico. E ainda por cima faz uma das bebidas mais, senão a mais, românticas do planeta. — Faço uma expressão convencida. — Sou muito sortudo.
— É?
Minha resposta é um singelo murmúrio, seguido de um beijo que se prolonga.
Que se intensifica.
A inquietação está me atazanando desde o vinhedo, talvez desde que acordei nesta manhã. Estamos sozinhos em casa, posso enfim tocar o patrão como anseio. Por isso não me sinto envergonhado ou tímido, desço a mão pelas costelas sem medo e aperto a cintura por cima da camisa quando alcanço. Jimin ofega.
— Délire... — resmunga contra os meus lábios, me arrepia. Eu desço mais a mão, tocando-o por cima da calça social, e os dedos entre meus cabelos puxam alguns fios. — Aqui não.
— Por que não? — choramingo, beijando o queixo perfeito. Puxo a camisa de dentro da calça sem muito trabalho, mas a fivela do cinto me tira do sério.
— Os gatinhos estão aqui! — Afasta minha mão quando consigo desafivelar. — Seu safado.
Eu resmungo e o beijo de novo. Dura menos do que quero porque Jimin me empurra quando começa a esquentar.
E aí ele levanta.
— Estava pensando que a gente podia fazer o jantar... — Me largo de barriga para cima no tapete, soltando um suspiro denso. — Eu não sei cozinhar, mas você pode me ensinar. Ou posso ser o seu assistente.
Abro os olhos. O homem está parado ao meu lado. O cinto desafivelado, a camisa amarrotada e para fora da calça, duas taças numa mão e a garrafa na outra. Os fios dourados não seguem a perfeição de sempre, estão desalinhados.
— É o vinho — tento justificar meu assanhamento.
Jimin gargalha.
— Você ainda tem a cara de pau de colocar a culpa da sua safadeza no vinho... — Estala a língua na boca. — Impressionante.
Vai em direção à cozinha. Eu pisco e desvio os olhos para os gatos. Coffee está se lambendo. Milk está lambendo Coffee.
— Vai vir me ajudar ou vou ter que colocar fogo na casa?
Se ele soubesse o calor que estou sentindo, veria que quem corre o risco de pôr fogo na casa sou eu. Não ele.
Eu me levanto do chão, a calça mais apertada que o comum. E não tento esconder. Passo as duas mãos na cabeça e jogo todo o cabelo para trás, contornando o balcão de mármore que divide a sala da cozinha; e que também serve de mesa — mesmo tendo uma mesa.
— O que quer comer? — Abre duas portas no armário de cima, está bem abastecida.
— Não quero comer. Quero dar — resmungo.
Jimin olha por cima do ombro. Desce os olhos, olha bem, e sobe para o meu rosto outra vez. Por fim, passa a língua entre os lábios gordos.
— Massas e queijos maduros harmonizam bem com vinhos redondos. — Volta a atenção para os armários. Ele ter falado como alguém que entende do assunto e eu não ter entendido porra nenhuma do que significa me faz morder o lábios e querer fechar as pernas. — Macarrão à parmegiana acompanhado de... parmesão ou gorgonzola? Parmesão, com certeza. O que acha?
Olha por cima do ombro de novo. Ele ri, talvez notando a fome com que como o corpo dele com os olhos.
— Ou você prefere algo mais bruto? como um vinho seco? — Espremo os olhos, ele desvia a atenção de novo. Vai até a geladeira. — Eu tenho um tinto seco tânico que fica perfeito com comidas apimentadas. Podemos seguir por uma linha mais... picante.
— Dá pra você calar a boca?
Jimin gargalha e abre a geladeira.
— Calma, raison de mon délire, eu vou dar o que você quer. Só tenha paciência. — Fico arrepiado com seu francês sedutor, excitado com o tom provocante, e piora quando se inclina para pegar algo dentro da geladeira. A calça marca a protuberância que ele chama de bunda. — Hmm, tem parmesão. Vamos ficar no suave mesmo. Tudo bem?
Fecha a geladeira, deixa o queijo sobre a pia e se vira para mim. O cinto solto, a camisa pra fora da calça, a boca vermelha. Céus...
— Sabe fazer macarrão à parmegiana? — Puxa o cinto dos anéis de tecido até tirar por completo. Eu balanço a cabeça. — Ótimo. Eu busco o vinho lá embaixo. Um mais antigo, talvez...
Eu o sigo com o olhar. Quando faz menção passar pelo balcão e, consequentemente, por mim, o agarro pela cintura. Acho que já esperava que eu fizesse isso porque sorri.
— Eu tô passando pela puberdade, Sr. Park, não seja tão maldoso.
— Não estou sendo. — Segura a minha mão e a coloca sobre o volume na calça dele. — Viu? Estou tão ansioso quanto você, mas não posso te comer com a barriga roncando.
Estala um beijo na minha boca e se afasta outra vez. Quando vira, passa a mão no cabelo de um jeito que me provoca.
— Relaxa, Jungkook, que quando eu te pegar... — Solta uma risadinha indecente, descendo o primeiro degrau em direção a adega subterrânea. — Só paro quando você dizer chega.
E some.
Eu quase me jogo no chão e faço birra. Quase, mas não me jogo. Contudo, não consigo segurar o chorinho dengoso. Ao mesmo tempo que quero muito, um jantar regado de provocações não me parece ruim; por mais torturante que soe.
A questão é: será que eu aguento?
Resolvo entrar no jogo de Jimin só para ver até onde ele aguenta. É claro, jogarei do meu jeito. Desbotoo e tiro por completo a camisa do corpo, deixando-a sobre o sofá. Volto para a cozinha, lavo as mãos e futuco os armários depois de secá-las no pano de prato.
Park demora. E quando volta, o macarrão já está no fogo e o restante dos ingredientes picados e separados. Ele deixa duas garrafas sobre a ilha e põe a mão na cintura. — Vai ser assim?
Dou de ombros, voltando para a panela no fogo. O tempo de tirar o macarrão do fogo é o tempo que ele leva para decidir como me provocar. Consegue, porque quando viro, tenho um loiro com alguns botões da camisa desfeitos — de forma que exiba parte do peitoral definido — e mangas juntas aos cotovelos puxando a rolha de uma das garrafas para fora.
Ele abre sem muito esforço, porque não é mais tão difícil como era, e até o som oco e alto que faz quando a rolha sai me deixa com tesão.
— Esse é o primeiro que fiz. Já que o que eu te dei você não quis tomar, aprecie ele comigo agora. — Estende uma das taças para mim. Eu seco a mão no pano e aceito, brindando com a que ele segura. Antes de beber, entretanto, roubo um beijo seu.
— É bem diferente dos últimos que tomei, que foram os últimos que você fez.
— É, amadureci meu paladar com o tempo. Esse é bem mais doce que meus outros suaves, se torna até enjoativo se consumido com frequência. — Encara o líquido contra a luz. — Mas é uma ocasião especial.
— Vai deixar eu me concentrar na comida ou vai continuar falando gostoso pra me provocar?
— Não falei nada demais, você que tá impossível hoje. — Se afasta, o tapa que recebo na bunda quando foco a atenção na panela me pega de surpresa.
O som manhoso escapa da minha garganta porque foi forte e... bom até demais.
Enquanto faço o molho, entretanto, Jimin não me deixa quieto. Ele vem vez ou outra completar a minha taça e, como se não bastasse, fica roçando em mim. Falando coisa perto da minha orelha. Soprando e beijando a minha nuca.
Todavia, nada me provoca mais do que quando gruda o quadril na minha bunda. Sentir sua excitação me fez agarrar a colher com mais força, e eu tento dividir a atenção entre ele, o amigo dele e os tomates no fogo.
— Raison de mon délire — sussurra com a boca colada na minha nuca, apertando os dedos na minha cintura.
— Hm?
— Je t'aime. — Ele não precisava me foder por cima da roupa, só o eu te amo já me desmontava. Mas aparentemente não é o suficiente para Jimin, por isso ondula o quadril junto ao meu uma única vez.
Ele quer mesmo acabar comigo essa noite, e tem a audácia de dizer que eu estou impossível hoje.
— Não deixe queimar — provoca, depositando um beijo em meu ombro antes de se afastar. O calor embaixo da minha pele e dentro da minha calça é uma junção do efeito do vinho com o meu desejo pelo loiro.
Estou fervendo como os tomates dentro da panela.
Olho por cima do ombro e o pego apoiado na ilha, a taça entre os dedos, os olhos em mim. Incapaz de dizer uma palavra que não seja algo semelhante a "fica pelado", volto a atenção para a panela. Desligo ela, na verdade.
Despejo sobre o macarrão já dentro da travessa de vidro e cubro tudo com mussarela. Quando coloco no forno, alguns poucos minutos para esquentar e derreter o queijo, aproveito para chegar perto de Jimin. Deixo a taça ao lado da dele sobre a ilha e colo nossos peitos. O beijo afoito é para tirar o fôlego mesmo e não o dar a chance de tentar fugir.
Eu o prenso contra a ilha com o meu corpo, devorando a boca com a mesma sede que que derramei as últimas taças de vinho goela abaixo. A ondulação começa em algum momento entre as mordidas na boca e as arranhadas na pele, o abdômen roçando no meu não ajuda em nada. As mãos de Jimin apertam e puxam meus cabelos, mas ele acaba com toda a minha felicidade quando, ao conseguir alcançar o cós da calça que veste, para o beijo.
— Pelo amor de quem você ama — digo em tom de sofrimento, deslizando o rosto até o pescoço cheiroso. — Acaba logo comigo.
— Qual é a graça?
— E qual é a graça em me vê assim?! — Me afasto bruscamente e abro os braços. Jimin me olha de cima a baixo.
Ter passado anos da minha vida reprimindo meus desejos por achar que não faziam parte de mim, agora, me proporciona explosões de tesão. Não que ocorra todos os dias, ou o tempo inteiro — claro que com uma frequência maior do que acontece com Jimin —, mas quando acontece... É surreal. É intenso e eu fico assim, maluco por qualquer toque vindo do loiro.
Ao contrário de mim, Park tem picos de demonstrações de afetos várias vezes ao longo do dia. Todos os dias.
Diferentemente do começo, onde ele era o mais pervertido e eu o mais romântico, agora eu sou o mais pervertido e ele o mais romântico.
— Toda do mundo. — Toca meu nariz com a ponta do indicador. — O cheiro está ótimo, estou faminto.
Eu também.
Jimin se afasta e me oferece um copo de água, diz que não quer que eu fique zonzo ainda. Eu aceito e tomo, ele faz o mesmo em seguida. Enquanto corta o parmesão em cubos pequenos, eu desligo e tiro a travessa do forno. Está lindo e cheiroso, salpico algumas folhas cortadas de coentro sobre a mussarela derretida para finalizar.
Sobre o balcão de mármore, Park organiza os pratos, as taças, a garrafa e o parmesão, esse último numa porcelana chique. Eu levo a travessa do macarrão, completando o jantar.
— Podemos tentar tinto seco da próxima — diz, me servindo. Ele está sentado de um lado do balcão e eu, do outro.
— Não me acostumei com seco ainda. — De repente é como se tivessem aberto um buraco na no meu estômago. A preocupação com o corpo delicioso do homem à minha frente se torna insignificante quando a fome toma lugar.
— Um meio seco, então. Pode ser um bom começo. — Eu gosto de como se empolga quando começa a falar sobre vinhos. — Quando eu ainda comia, costumava fazer com peixe, mas você não é muito chegado, certo? Lembro de você cuspindo–
— Não precisa — o interrompo. — lembrar.
— Foi engraçado. — Espremo os olhos com a risada que solta. — Podemos tentar demi sec com carne vermelha então. E claro, um prato sem proteína animal para mim.
— Bem melhor.
Nossa atenção vai para a refeição após isso. Eu aprecio a comida junto da bebida e Jimin não poupa palavras difíceis para elogiar meu macarrão à parmegiana. Talvez seja a fome, não costumo fazer esse prato com frequência para ser algo tão divino assim, mas está mesmo delicioso.
Em algum momento a gente dá um tempo na comida, fica apenas na segunda garrafa (terceira se contar com a do vinhedo de mais cedo) e na conversa. Eu acabo conhecendo mais um pouco do loiro, das viagens e experiências que teve ao redor do mundo, e tudo me fascina. Ele é lindo. Inteligente e gracioso.
É como se só existisse ele. Não há mais nada no mundo que importe mais que ele.
Em meio a conversa, entretanto, eu levanto com o objetivo de tirar a mesa e a cozinha dá uma girada. É quando tenho noção do quanto bebi, não estou acostumado com todo esse álcool de uma vez só.
Não que eu esteja bêbado, mas também não estou sóbrio.
Alegre, quente e bastante excitado talvez me resuma melhor.
— Ficou tonto?
— Um pouco. — Sopra um riso. — Será que agora você pode me dar atenção?
— Não estou dando?
— Não está comendo — corrijo. — Eu quero dar.
Ele gargalha.
— Vamos subir. Quero tomar um banho. — Choramingo o nome dele. — Você vai tomar comigo, amor, tenha paciência.
Estou quase mandando ele enfiar toda essa paciência no meio do rabo.
Do meu rabo.
Jimin me ajuda a guardar as louças e a comida. Ele vira o que sobrou da segunda garrafa no bico mesmo e a deixa junto à outra vazia. Os gatos parecem inteiros, ainda conhecendo o espaço. Me despeço e checo outra vez se não há nada que possa machucá-los, Park me tranquiliza dizendo que ficarão bem.
Subo segurando a ponta dos dedos dele, vamos sem pressa até o quarto. Quando fecha a porta, me empurra contra ela. O fogo que eu estava antes, Jimin me ataca com o dobro. Engole minha boca, devora meu pescoço, aperta e prensa meu corpo.
É rápido, não consigo reagir. Mas quando reajo, o agarro com a mesma vontade.
Solto palavrões quando desce o zíper e enfia a mão dentro da minha cueca, algo que estou tentando fazer com ele desde que chegamos em casa. Por isso aproveito, tento a todo custo me esfregar em Jimin. Nunca parece o suficiente.
Mesmo sentindo que posso alcançar o orgasmo logo em breve.
Contudo, Park não permite ao, pela enésima vez, se afastar. — Tira a roupa. Toda.
Eu não perco tempo, é claro. Ele acha graça. Também faz o mesmo, mas ao invés de voltar a se esfregar em mim, vai até o banheiro cuja parede de vidro me permite vê-lo se banhar deitado na cama, se quisesse.
— Toma banho comigo.
A gente faz do banheiro, a nossa própria Êxtase. O vidro grosso e reforçado me sustenta. De costa, Jimin me faz perder a força nas pernas. Ele me arrebenta. Numa versão nada casta, nada gentil e tampouco piedosa, acaba comigo. Goza, mas continua. Me faz gozar, mas continua. Me morde, me arranha, me acerta tapas, me chama de nomes indecentes.
Eu derreto pela segunda vez.
— Na cama. — É uma ordem. Mesmo ofegante, mesmo ainda se recuperando do último orgasmo, ordena.
Sinto minha pele arder, tanto ela propriamente dita quanto por dentro. Meu corpo todo queima. É uma sensação nova, uma versão nova.
Tanto minha quanto de Jimin.
— Quer parar? — indaga quando solto meu corpo úmido sobre a cama, não sei se pelo banho ou pelo suor.
Gargalho, alterado pelo álcool e pelo prazer. Deitado na beirada da cama, apoio os pés no colchão. — Tá ficando velho, Sr. Park. É só isso que sabe fazer?
Eu vejo raiva traçar as feições do rosto bonito. Park claramente se sente atacado com meu comentário audacioso. Talvez eu esteja assinando a minha própria sentença, mas vê-lo se morder daquele jeito faz todo o meu corpo esquentar outra vez.
— Acho que é você que vai pedir arrego, hein? — Ainda provocando e olhando nos olhos de mel, toco a mim mesmo.
Jimin chega mais perto da cama. Mais perto de mim. Não há um aviso prévio, ele só entra. O grito não sai, fica entalado na minha garganta, mas a sequência de investidas brutas me proporciona prazer e outras oportunidades para gritar o quanto quiser.
O bom é que Jimin não tem vizinhos, não preciso me conter.
A nova posição me permite vê-lo por inteiro, diferente de outrora no banheiro onde me pegava de costas. O rosto vermelho, suado e tensionado mostra o esforço, o prazer que sente comigo, os gemidos e palavrões que solta entre uma investida e outra me enlouquece igual.
É claro que uma hora ele cansa, mas não quer dizer que paramos. Jimin senta na cama e me bota pra dançar nele. E eu danço. Como nunca antes, rebolo até perder o ritmo e a força. Até ficar chapado. Até fazê-lo revirar os olhos e alcançar outro orgamo.
E a gente muda de posição. De novo. E de novo. Deitados e em pé. Em pé e deitados outra vez. Até dizer
— Chega.
Confesso, eu digo primeiro. Digo primeiro porque sei que não apenas eu, mas Jimin também não aguenta outra. Vai se vangloriar pelo resto da vida e jamais admitir, isso eu não tenho dúvidas, porém, posso engolir meu orgulho desta vez.
Mas só desta, porquê da próxima eu ganho.
— Eu disse que você iria pedir — se gaba, respirando pesado. O corpo suado ao lado do meu, ambos largados na cama bagunçada.
O quarto todo está uma zona, na verdade.
— Quer um prêmio, meu bem? — provoco. — Tá morrendo aí.
— Não brinca com isso... — repreende, mas ri. — Já me ocorreu.
— Não relembra. — Cubro os olhos com o antebraço, soltando uma lufada de ar. — Lilith...
— Eu preciso lembrar que tenho quase quarenta anos, não mais dezoito — resmunga baixinho.
— Velhinho — zoo.
— O velhinho arrebentou você. — Sinto sua mão na minha coxa. — Abaixou o fogo?
Respiro fundo. — Baixou.
— Ufa! — Sorrio. A movimentação me faz crer que levanta da cama. O som da porta de vidro deslizando e o da água caindo anuncia para onde foi.
— Por enquanto... — sussurro sabendo que não pode me ouvir.
Meu banho vem logo depois que Jimin sai. Sinto moleza nas pernas, por isso não me prolongo. Enxugo meu corpo e não me preocupo em vestir uma roupa, apenas apago as luzes e me jogo na cama. Jimin comenta algo sobre trazer os gatinhos para dormir com a gente e eu resmungo sonolento. Minha última lembrança é de receber um beijo carinhoso na testa.
Acordo no dia seguinte com uma miação descabida.
— Jungkook, eu não sei fazer eles pararem. — Jimin parece um pai aflito que não faz ideia de como fazer o filho parar de chorar. A voz vem de longe da cama, provavelmente está acordado há tempos.
Eu resmungo e viro de bruços. — É só dar ração, meu bem. É fome.
Minha voz sai sonolenta e rouca. Escuto um certo bem baixinho antes de pegar no sono outra vez. Não sei por quanto tempo mais durmo, mas estou sozinho quando acordo. Antes de descer, porém, faço minhas higienes e visto uma roupa.
Jimin está sentado à mesa, a atenção presa no notebook. A televisão ligada, os gatos correndo pela sala. O caos instaurado.
— Bom dia — saudo, passando a mão sobre os ombros dele. Park enfim nota a minha presença, me oferecendo um sorriso bonito. Laça minha cintura com um dos braços e eu me inclino para beijar sua boca.
— Bom dia. Dormiu bem? — Balanço a cabeça. — Você estava mesmo cansado, é quase hora do almoço.
— Acho que durmo mais. — Manho. — O que está fazendo?
— Trabalhando. — É dia de semana, deveríamos estar na empresa.
— Stacy merece um generoso aumento.
— Merece.
Jimin diz que já tomou café. Mesmo se aproximando do meio-dia, reponho a mesa e tomo o meu. Mimo os gatinhos e o loiro, às vezes prestando atenção no noticiário.
— Meu bem — chamo. Quando olha para mim, aponto para a TV.
— Segundo as pesquisas, o quantitativo de pessoas que não se encaixam mais em Cupiditatem e Amare tem crescido de maneira exorbitante nos últimos meses. A justificativa não é que, de um dia para o outro, houveram falhas. O motivo do aumento disparado se dá pelo fato de que muitas pessoas que se esconderam por anos, por décadas, estão se mostrando agora; desde o famoso caso do dono da Wine J'M, o renomado enólogo Park Jimin.
"A nova onda de aparições tem assustado grande parte da população, Drª Garbuf fala sobre e dá orientações: 'Os casos têm ocorrido de maneira natural, essa manifestação é apenas o corpo humano se livrando dos componentes que a espécie carregou por anos. É preciso manter a calma e respeitar os limites do corpo, cada organismo vai reagir a esse fenômeno de uma forma. Busque ajuda médica caso sinta alguns dos sintomas'".
— É louco pensar que há milhões de pessoas como você no mundo, mas ninguém sequer falava sobre.
— Estavam assustados... não queriam ser diferentes. Quem ousava expor de alguma forma magicamente desaparecia semanas depois. — Jimin parece ter feito uma pesquisa que não tive coragem de fazer depois do que escutei de Taehyung. — Só espero que essa perseguição de querer nos separar em grupos acabe.
— A doutora ainda afirma que é preciso esperar mudanças significativas nos anos que virão: "Ao que tudo indica, pela forma como surgem novas pessoas em transição a cada dia, em algumas décadas Amares e Cupiditatens serão a minoria na população em escala mundial. Bastante dos estudos são recentes, por isso meras suposições, contudo, acreditamos que em duas gerações toda a humanidade volte a ser como era antes das mutações".
Ouvir tudo isso me faz engolir em seco, o coração batendo rápido. Antes que o repórter diga algo mais, porém, a imagem fica preta. O som é cortado. Fito Jimin a tempo de vê-lo se ajeitar na cadeira. — Acredito que há algo mais interessante para fazer.
Sopro um riso e viro o último gole de café.
— Tudo bem sentir medo, sabia? — digo, levantando da cadeira.
— Por que eu sentiria medo? — Ele está com medo.
— Porque é desconhecido, meu bem. É normal sentir medo do que a gente não sabe. — Na cozinha, passo uma água e devolvo a xícara. Quando volto para a mesa, paro atrás de Jimin. — Eu tô aqui, tá? Eu fiquei ao teu lado aquela vez e ficarei caso aconteça de novo. Com você e com o Tae. — O abraço pelo ombro, tocando a bochecha com meus lábios. — Continuarei contigo até meu último dia. — Acaricio o peito por cima da camisa de botões. — Se doer, passaremos pela dor juntos outra vez. Je te protègerai³.
Viro o rosto dele para o meu lado. Os olhos alaranjados, tal qual o final de uma tarde, fitam os meus castanhos.
— Eu e os gatinhos — completo. Ele sorri e balança a cabeça, e sela a minha boca ao fitar ela.
— Eu me sinto seguro com vocês.
— É bom saber. Também me sinto ao seu lado. — Beijo sua boca mais uma vez antes de me afastar só para deixar outro em sua testa. — Desde que segurou a minha mão no elevador. — Ele parece surpreso. — Sério, foi fofo. Apesar de me irritar.
—Eu te irritava, Sr. Jeon? — Me afasto dele e ponho a mão na cintura, ele acha graça da cara que faço.
— Você com certeza me irritava, Sr. Park. Quando transou com aquela mulher no seu escritório então... Ah, eu quis te matar por um momento.
— Eleonor? — Concordo. — Eu já expliquei o porquê de ter feito aquilo.
— E eu compreendo. De qualquer forma, já estava acostumado a conviver com um Cupidi, então... não foi absurdo o que fez. — Toco e aperto o ombro dele. — Só... não faça isso outra vez.
— Não há motivo. — Tira ela do ombro e a leva até próximo da boca, beijando-a de leve. — Agora será que você pode vestir uma calça?
— O que há demais? — Quando olho para a minha própria roupa, vejo que a peça íntima é coberta pela bainha da camisa, só as minhas coxas ficam aparentes. — Hm...
— Eu preciso me concentrar no trabalho, amor. — Há um quê de súplica por piedade no tom de voz.
Eu entendo. Mesmo. Mas meu corpo esquenta com a possibilidade de infernizar a vida dele enquanto trabalha. Eu sei que isso parece coisa de adolescente Cupidi viciado em tudo o que tenha a ver com sexo, por isso tento reprimir a excitação inoportuna que surge dentro de mim.
— Tudo bem — digo, acariciando os fios dourados. — Preciso subir, de qualquer forma. Meu notebook ficou em casa, vou trabalhar lá do seu escritório, tá? Pra não te atrapalhar.
— Não precisa, pode ficar aqui comigo se quiser.
— Não vou me concentrar e nem deixar você quieto, Jimin. A gente precisa ficar em cômodos separados. — Ele acha graça, mas concorda.
Com um último beijo, me despeço dele. Entretanto, meu corpo me trai. Dou dois passos para longe de Park e ele já se arrepia todo. Deslizo a mão pelos meus cabelos e mordo o lábio inferior, os arrepios mandando energia impura para o meu cérebro.
— Amor... — chamo, o tom doce e indecente. Olho por cima do ombro, Jimin desvia os olhos da tela do notebook dele.
— Sim? — O olhar curioso não percebe minhas maldosas intenções, sinto dó de sua falta de malícia.
— Olha o que você fez... — Eu reparei durante o banho. A mão de Jimin está tatuada em várias partes do meu corpo, só que a minha bunda teve um tratamento diferenciado. Abaixo o olhar no instante em que abaixo um lado da cueca, puxando a camisa para cima na parte de trás. A pele da nádega esquerda rosa, consigo ver alguns dedos marcados. — Eu vou me vingar da próxima.
Quando ergo o olhar, pego Jimin me encarando com a boca levemente aberta. É engraçado, parece que está anestesiado. Tenho a impressão de que desmonta se eu encostar nele agora.
Me causa satisfação.
Mordo o lábio interior com mais força e ergo a cueca, soltando a camisa.
— Era só isso, não quero te atrapalhar.
Subo as escadas devagar ao me afastar. Não olho para ter certeza, mas sinto os olhos dele em mim. Me secando como se eu fosse sua única fonte de líquido na escassez absoluta.
Só que acabo soltando um suspiro triste ao chegar no quarto. Porque estou sozinho, porque Jimin está trabalhando e porque terei que fazer o mesmo. Entro no closet e puxo a camiseta do corpo. O objetivo é trocar por uma roupa mais comportada, que me faça entrar no modo trabalho, contudo, confesso que acabo fazendo corpo mole por uns minutos.
E eu fico no andar de cima mesmo, me aproprio do escritório particular de Jimin enquanto faço meu trabalho. Não, é claro, de maneira íntegra — já que não estou presente na Wine —, mas agilizo bastante coisa nas horas que passam.
Tiro os olhos da tela do aparelho e fito o rosto belo que aponta na fresta que se abriu da porta. Seu olhar curioso me faz sorrir.
— Chefe... — ele chama em tom sério, mas seu sorriso é brincalhão.
— Sim? — Entro na onda, relaxando na poltrona grande. Park termina de entrar no cômodo.
— Que tal a gente ir visitar o Tae depois do almoço? — Para a minha frente, a mesa longa sendo a única coisa entre nós. Por hora, tenho a visão que Park tem de mim todos os dias.
— Acho maravilhoso — digo. — Uma pena que não pode levar gatinhos, Taehyung iria adorar... — O enólogo quase faz um bico enquanto concorda. — Vou ver se o Nam consegue ficar com eles.
— Acho que tudo bem se eles ficarem sozinhos... — Jimin sempre é meio passivo-agressivo quando se trata do meu amigo.
É até engraçado às vezes.
Para não ter que voltar com os dois para casa, Namjoon vem até a casa de Park — que, pensando bem, não está tão longe de se tornar a minha também.
— Seu amigo amigo me pediu em namoro — estou terminando de descer a escada quando ouço Jimin dizer. Eu olho para Namjoon, que parece bem à vontade no sofá da sala de Park, no exato instante em que ele arqueia uma das sobrancelhas para o enólogo.
— E você aceitou? — Namjoon parece surpreso. Jimin está escorado no balcão da cozinha e nota quando desço o último degrau, os olhos de mel e o sorriso tranquilo quase me faz perder o equilíbrio.
— Aceitei. Né, meu bem? — Sorrio de volta, o rosto esquentando, e vejo Namjoon olhar por cima do encosto do sofá.
Meu rosto fica quente.
— Mesmo? — Nam indaga, os olhos em mim dão a entender que está perguntando única e exclusivamente para mim.
Eu confirmo enquanto caminho para mais perto, diminuindo a distância entre Park e eu. Perto o suficiente, Jimin toca a base das minhas costas num ato cauteloso e de conforto. Meu amigo nos observa do sofá.
— Mesmo — apesar de confirmar com a cabeça, digo em voz alta também. Porque me causa arrepios pensar nisso.
Que Jimin é meu namorado.
Vejo os lábios de Nam comprimirem de leve, ele desvia os olhos mas logo volta a fitar nós dois. Fitar Jimin, para ser mais específico.
— Cuida dele. — O que sai da boca dele, entretanto, me surpreende. — Jungkook precisa de coisas que eu não consigo dar, mas você consegue. Você não confia e não gosta de mim, mas eu sei que Jungkook está em boas mãos agora.
— Ele está mesmo — Jimin garante e sinto um quê de acidez na voz. Mesmo depois de todos esses meses, não se simpatizou com Namjoon. Não que troquem farpas, mas o enólogo evita encontros com meu amigo.
Nam sopra um riso e afunda no sofá branco. Então, balança uma das mãos no ar. — Melhor irem. Mandem beijos para Taehyung.
Jimin apenas abana a cabeça enquanto desencostar do balcão, diz que vai me esperar no carro. Meus olhos permanecem na porta do hall de entrada mesmo depois que o homem de terno e postura perfeita sai de casa.
— Você não pode culpá-lo. — Desvio para o sofá. — Jimin não precisa gostar da minha presença.
— Sei disso. Não o culpo — digo, chegando perto. — Preciso ir. Vai ficar bem?
— Com toda a certeza. — Se esparrama mais no sofá grande. Eu acho graça da folga, e deixo um beijo na testa dele.
— Se cuida. E cuida dos gatos.
Eu saio de casa após ouvir um "deixa comigo". Jimin está dentro do carro dele, ocupando o assento do motorista. Eu abro a porta no exato momento em que leva o celular até a orelha.
— Park — sauda de maneira automática. Após isso, há um silêncio longo. Eu me acomodo no banco do carona e entro em estado alerta. Porque a cada segundo que passa, a expressão dele muda.
Quero questionar o que houve mesmo que não tenha finalizado a ligação, só que nada sai da minha boca. De repente, penso em Taehyung e isso me deixa nervoso.
— C-certo, estou a caminho — Jimin diz, a voz falhando. Quando abaixa o celular, ainda tem algo impedindo minha voz de sair. Contudo, não é preciso perguntar. Park me olha e sorri, e não faz suspense ao anunciar: — Ele acordou. O Tae acordou!
O alívio faz sair de uma vez só o que a ansiedade me impediu de dizer, o carro esportivo é tomado por uma exclamação histérica que não controlo. Jimin ri abobalhado, eu projeto meu corpo contra o dele num abraço desajeitado e urgente.
Ele acordou.
— Ela disse que ele está aéreo e confuso, mas que parece bem. Os exames não mostram nenhuma fratura, mas ele vai precisar ficar em observação por um tempo. Eu não acredito! — Jimin está eufórico, ele me aperta com muita força.
Depois de tantos meses, pulando do quarto para a UTI mais vezes do que posso contar, eu achei que tínhamos perdido Taehyung. Que era apenas questão de tempo, tanto que deram a opção de desligarem os aparelhos. Ele ter acordado muda tudo!
— Ele acordou... — solto, testando na minha boca. Minha voz sai embargada, justifica minha visão turva. — Tae...
Me afasto um pouco, o suficiente para olhar para Jimin. Ele sorri para mim, o rosto vermelho e úmido. Feliz. Eu tiro um punhado do cabelo dourado da testa e levo até atrás da orelha com a ponta do dedo. Contorno o osso da mandíbula e o queixo, desenhando os lábios cheios. Por fim, encaro o entardecer dos olhos de mel e declaro:
— Tout va bien maintenant, délíre⁴.
FIM
🍷ི꙰͝꧖๋໋༉◈
¹ traduzindo do francês para o português fica: motivo/razão do meu delírio.
² idem: meu delírio.
³ idem: Eu vou proteger você
⁴ idem: Está tudo bem agora, delírio.
E aí, anjos! Como vocês estão?
Esse capítulo nem é tão longo assim, mas a diversidade de acontecimentos faz ele parecer enorme
Uma loucura
Vou começar dizendo que EU TÔ GAY
Enquanto alguns se contentam com um eu te amo, o Jimin produz um vinho e o dedica ao amor da vida dele... Coisas da vidan
E esse hot, hein? Só pra compensar as dores que causei a vocês e aos Jikook dessa fic hahaha
E O TAE TÁ VIVOOOOO. Ele vai ficar bem, gente, relaxem. Foi só pra dar um susto em vocês, precisava de um pouco de drama hahaha
A sociedade tá colapsando de um jeito bom agora, é só questão de tempo até tudo voltar ao normal. Os Jikook vão pegar todo o processo, mas duas gerações depois e ninguém vai saber como era viver sendo Amare e Cupiditatem. Loucura pensar isso, né?
Enfim
Como esse é o último capítulo, quero que marquem um amigo AQUI para que ele possa conhecer a história e ler (claro, vai ter que voltar na 1° Taça, porque essa é a últimakk)
Soltarei um capítulo de agradecimento, mas VOCÊ ME ENFRAQUECE acaba por aqui :(
Minha conta no twitter é @DanKyunsoo e no Instagram é @dan_kyunsoo. Me sigam para saber meus próximos projetos.
Se amem. Se cuidem. Se hidratem. Se protejam 💜
Adeus... Mas não por muito tempo. Aguardem por REALEZA 🐺👑.
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