3° Taça
SALVEEEEEEEEE
Aqui estamos nós, terceiro capítulo!
E espero que gostem do capítulo de hoje, deixem a ⭐ se isso acontecer e boa leitura 💕
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— E então? — Namjoon pergunta com expectativa quando me vê.
Assim que saí da empresa, vim direto para a casa dele. Primeiro que tenho que devolver as roupas e segundo que... Bom, não quero ficar sozinho.
— E então o quê? — Entro quando me dá passagem.
Arqueia uma das sobrancelhas e fecha a porta, o que me faz soprar uma risada.
— Não se faz de sonso. Me conta como foi!
Suspiro de maneira lenta e longa e me sento no sofá vermelho, afundando no estofado macio.
— Bem, eu acho. Não sei como foram as outras pessoas. — Corro os dedos entre os fios castanhos e ondulados do meu cabelo, jogando tudo para trás. Deve estar com quatro dedos de comprimento e essa é primeira vez que deixo crescer tanto. — Disseram que devem me ligar hoje ainda ou, no mais tardar, amanhã.
Não quero criar expectativas demais, mas esse é outro defeito gritante meu.
— E você ficou nervoso?
Nego.
— Ocorreu tudo bem.
— E ele é gato mesmo? — Abro os olhos e encaro o Cupiditatem parado à minha frente.
— Para de ser fofoqueiro!
— Não sou fofoqueiro!
Rio da falsa expressão de ofendido dele.
— Ele é muito bonito sim — confesso, perdendo meu olhar no tapete bege sob os meus pés. — E na primeira oportunidade me deu as costas.
— Cupidi?
— Certamente. — Olho para o meu amigo. — Qual é o problema de vocês? Não conseguem ser menos rudes?
— Vocês que são sensíveis demais! — se defende. — E pode parar que eu sou um amorzinho.
Rolo os olhos com preguiça.
— Já vi que ele não vai ser um chefe fácil. Ele me pareceu ser simpático apenas para causar uma boa impressão. A quantidade de vezes que foi irônico chega a ser cômico. — Tensiono as sobrancelhas. — Por baixo dos panos ele deve ser um tremendo cuzão.
— Jungkook, não diga isso do seu futuro chefe.
— Estou apenas compartilhando a minha primeira impressão — me defendo. — E não é como se eu já tivesse sido aceito.
Ele suspira e coça a nuca.
— De qualquer forma, não vou ficar surpreso se ele for um cuzão — Namjoon enfim confessa. — Admito que Cupiditatens podem ser um belo pedaço de bosta quando querem.
— Ai que lindo, você concorda comigo — digo, emocionado. Ele força uma risada irônica, erguendo o dedo no meio na minha direção. — Coisa feia! Grosso!
— Nem tanto, mas dá pro gasto. Só recebi elogios até hoje. — Faço cara de nojo ao perceber que fala da intimidade dele.
— Eu te odeio, Namjoon, você não faz ideia do quanto!
— São as vozes da sua cabeça, meu gato.
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Não demoro muito na casa do meu melhor amigo, apenas troco de roupa e agradeço pelo apoio – seja com a entrevista, com as roupas emprestadas ou o moral – e vou para casa logo em seguida.
Nesse exato momento estou, bom... perambulando. Faz algumas horas que voltei, na verdade. E nesse meio tempo já chequei se estava todo mundo vivo e bem, cozinhei, almocei e agora me encontro entediado. Entediado é um excelente estado emocional, ele me resume em vários momentos do meu dia.
— Acho que estou carente — confesso para Lilith e olho para Espigão, apaixonado pelas flores e pelos dois filhinhos que estão nascendo no corpinho gordo dele. — Eu queria alguém para me mimar.
Daria tudo por um carinho na cabeça. Namjoon costuma fazer quando está desocupado, mas perde a paciência depois de um tempo. Isso quando ele não dorme com os dedos enfiados em meus cabelos.
Suspiro e me afasto do parapeito, sentando na cadeira bege com um bico nada discreto nos lábios. Preciso ocupar a cabeça, caso contrário a minha carência vai tomar proporções que não vou conseguir controlar e então terei que afogar as mágoas na bebida.
Eu não gosto de beber quando meu humor não está bom, parece que a ressaca é pior no dia seguinte, ainda mais para mim que está acostumado a beber apenas de vez em quando – quase nunca.
Me levanto e saio da varanda apenas para pegar um livro no quarto, e volto a me sentar na sacada. Por alguns minutos, leio as poucas páginas que faltam para concluir "O Diário de Anne Frank". Sou o tipo de leitor que não poupa post-it nem marca texto para observar as passagens dos livros. O que eu acabei de ler, por exemplo, é possível notar pela lateral a quantidade de vezes que destaquei ao longo da leitura. Fazer isso, de alguma forma, me distrai. Eu gosto.
Fecho o livro com uma sensação gostosa de finalizar mais uma obra. Estou fazendo uma lista de exemplares lidos e é uma satisfação enorme vê-la crescendo aos poucos.
— "Flores para Algernon" aqui vamos nós — murmuro para mim mesmo, alisando a capa do diário de Anne.
Continuo sentado na varanda por mais algum tempo. Milk aparece e se junta a mim, e logo depois Coffee também. E se aproxima das quatro da tarde quando entro com o intuito de... Não sei com que intuito. Estou entediado e inquieto.
— Oi, amor — é a primeira coisa que ele diz quando atende a minha ligação. — Sentiu minha falta já?
— Você se acha, não é, Namjoon? — Ele sopra uma risadinha esperta do outro lado.
— Você tá carente, admite. — Suspiro, me jogando no sofá.
— Está tão na cara assim?
— Até sua voz muda, príncipe. — Faço bico, encarando a televisão desligada. — Sai comigo, vai? Vou distrair você.
Deixo um sorriso moldar meus lábios.
— Vai me levar pra sua casa de sexo? — indago.
— Meu sonho. — Abano a cabeça de um lado para o outro, negando. — Mas você sabe que eu não vou te arrastar para lá. A menos que queira.
— Algo me diz que eu nunca vou querer.
— A esperança é a última que morre. — O tom dele chega até ser um pouco melancólico. — Enfim, a gente pode sair para comer alguma coisa. Que tal um rodízio?
— Só nós dois? Você sabe que eu tenho estômago de esquilo. Três pedaços e já estou explodindo. Não compensa. — Ele gargalha, provavelmente se lembrando da última vez em que saímos juntos num rodízio de pizza.
— Amadores — resmunga, fingindo estar decepcionado. — Eu mandei dez pra dentro de boas.
— Você não é humano, Nam.
Sem brincadeira, como alguém consegue comer dez pedaços seguidos de pizza? Eu me senti cheio apenas ao ver Namjoon comendo.
— Você é estranho. Três pedaços não é nada, filhão. — Nego com a cabeça mesmo que não possa ver. — Que tal um dogão na pracinha? Aglomeração não é muito a sua cara, certo?
Namjoon me conhece bem demais. Às vezes fico até assustado com algumas coisas.
— Bem melhor — digo, sorrindo fraco.
— Perfeito, gato. Posso te buscar às seis da noite? — Deslizo as unhas pela bermuda que estou vestindo, desenhando símbolos aleatórios. Meu sorriso aumenta.
— Combinado. — Mordo o canto do lábio inferior. — Ei... Obrigado por ser um anjo comigo.
— Eu sou adorável, eu sei. — Não pode elogiar demais, se não fica assim. — De qualquer forma, não é esforço nenhum. Eu adoro a sua companhia.
Mentiroso.
— Desde quando você é amoroso assim, Cupiditatem? — falo com um leve tom de humor.
— Eu sempre fui, querido. Agora, se me der licença... Tem uma mulher muito bonita me esperando na minha cama. — Arregalo os olhos.
— Você não fez isso...
— O quê? Parei minha preliminar para atender o meu neném? Claro que fiz. — Eu realmente não sei o que pensar sobre isso. — Agora é sério, deixa eu ir lá antes que ela perca a paciência. Adeus, mi amore. Até mais tarde.
E então a chamada é encerrada.
Afasto o celular da orelha e encaro a tela por um tempo, levemente embasbacado por Namjoon ter parado uma foda por mim. Entretanto, não consigo evitar uma risada, que acaba escapando sem querer.
— Só você, Nam...
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Passam das cinco quando meu celular toca. Eu acabei de sair do banho. É um número desconhecido. Tenho um certo receio sobre atender números que não estão salvos no meu celular, entretanto, na maioria das vezes acabo atendendo; principalmente quando é um número da região, como o que está me ligando nesse momento.
Mordo o lábio inferior e aceito a chamada, segurando a toalha ao redor da cintura para não cair enquanto levo o celular até a orelha.
— Alô? — digo, meio hesitante.
— Sr. Jeon? — É uma voz suave e simpática. Me soa familiar.
— Ele mesmo.
— Boa tarde. Aqui é Stacy, supervisora da Wine J'M Company.
Agora lembro de onde a conheço. É a mulher que me orientou pouco antes da entrevista.
— Oh, sim! Me lembro sim. Tudo bem? — Sorrio, mesmo que ela não possa ver.
— Tudo ótimo! Liguei apenas para informar que é de extrema importância que compareça ao setor de RH amanhã de manhã. Às oito em ponto. — Arregalo os olhos.
— O que isso quer dizer? — me apresso em perguntar, quase atropelando as palavras.
— Que dizer que o senhor conseguiu o emprego. — Meu coração, nesse momento, está fazendo mais do que ele fez em toda a minha vida de tão rápido que bate. — Traga todos os seus documentos pessoais. O RH fica no primeiro piso. Todas as instruções serão passadas ao senhor amanhã.
— Mas... Mas não vou precisar passar por mais nenhuma etapa? Quero dizer, achei que fosse um processo.
— E é, porém o Sr. Park não achou necessário mais que isso. Já tinha certeza de quem seria no momento em que você saiu e, bom, ele não costuma errar. — Aperto ainda mais a toalha. Não que ela fosse cair, apenas para ter onde descontar a minha inquietação. — Além do mais, ele precisa de um novo secretário o mais rápido possível.
Aquele homem é completamente insano. Vai confiar em mim baseado em apenas uma entrevista de quinze minutos? Eu praticamente disse que não tinha motivo nenhum para trabalhar para ele!
— Certo... — murmuro.
— Você vai passar por um treinamento até o fim do mês e serei eu a te instruir. O Sr. Park é exigente com algumas coisas, então só vai trabalhar de fato para ele quando souber de como ele gosta que tudo funcione por aqui. Mas amanhã te explico tudo com mais calma e detalhe. — As palavras simplesmente explodem na minha cabeça. É uma mistura de euforia com incredulidade. — Se prepare para vir para ficar o dia inteiro, começaremos amanhã mesmo.
Eles não estão para brincadeira!
— Tudo bem — digo, indo de um lado a outro no meu quarto. — Estarei preparado.
— Gosto assim, Sr. Jeon — diz, simpática. — É apenas isso por enquanto. Te espero aqui amanhã.
— Até...
A ligação é encerrada. Meus olhos perdidos caem da parede para a cama, vendo Milk dormindo de barriga para cima e Coffee com uma das pernas atrás da cabeça, lambendo as próprias vergonhas. Quem vai tomar conta dos meus filhos se eu passar o dia todo fora?!
— Ah não! — Choramingo, me sentando ao lado deles. — Será que o Sr. Park gosta de gatos? Porque eu não me importaria em levar vocês comigo. — Milk nem se move e Coffee continua lambendo as bolas com elegância.
Suspiro de forma longa e fico de pé, resolvendo me vestir antes que Namjoon apareça e me encontre de toalha choramingando para os meus filhos. Ele acha engraçado a maneira como converso com eles como se me entendessem e fossem me responder.
Namjoon é insensível, eu sei.
Enquanto escolho e visto as roupas, há momentos em que sinto vontade de gritar. Porque consegui um emprego. Porque estou eufórico. Porque terei que mudar a minha rotina e já sinto agonia em antecipação por isso.
Gosto muito mesmo da minha rotina calma, sem correria e estresse.
— Ai que merda... — resmungo.
Visto uma bermuda branca logo após a peça íntima. Por fim, cato um suéter liso preto. Eu o visto no instante em que a campainha toca.
Passo as mãos em meus cabelos úmidos e saio de frente do espelho do armário, me apressando em sair do quarto e descer os poucos degraus da escada. Como vingança, Namjoon não perdoa o botão da campainha, apertando-o incessantemente ao ponto de me irritar – e olha que eu sou alguém que não fica irritado com facilidade.
— Oi, meu amor! — ele me sauda alegre, mostrando todos os dentes dianteiros num sorriso largo que exibe as graciosas covinhas nas bochechas, como se não estivesse fazendo isso para me provocar. — Você está muito bonito, olha isso!
Balanço a cabeça de um lado para o outro e sopro uma risada, não conseguindo segurá-la ao tentar encarar meu amigo de maneira séria.
— Você é muito besta — falo, chegando um pouco para o lado para que entre.
— Eu te elogio e é isso que tem pra me dizer? — dramatiza, levando a mão ao peito.
Encosto no batente da porta e cruzo os braços na altura do peito.
— Você também está muito bonito, Namjoon.
E de fato está. Namjoon é um homem bonito, na verdade. Ele tem ombros largos e, apesar de ser sedentário, consegue manter os músculos. Não são notáveis como o meu mais novo chefe, certamente. Namjoon diz que mantem eles apenas na base do sexo. E não duvido que seja, ele transa muito.
Mas enfim, isso é irrelevante. E nojento também.
A cor natural dos olhos de um Cupiditatem combinam maravilhosamente bem com o tom da pele de Nam. O roxo marcante do olhar com o brilho da pele bronzeada. Oh, meu amigo é realmente um homem muito elegante. Pena que é essa besta quadrada. Parece um adolescente às vezes.
— Eu sei, Jungkook, mas obrigado pelo elogio. — Bufo, desencostando da porta e dando as costas para o Cupidi.
— Então tá bom — murmuro, caminhando até a sala a fim de pegar a minha carteira sobre a mesa de centro. — Eu tenho uma coisa para te contar!
Olho para trás e vejo o homem abaixado no chão, futucando atrás da orelha de Coffee num carinho sem jeito.
É fofo.
— Repensou a minha proposta e resolveu aceitar ir comigo na Êxtase? — Me olha com expectativa.
— Desencana, Namjoon!
— Nunca!
Não dá para levar ele a sério, sinceramente.
— Fala logo, vai? — pede, ficando de pé.
Enfio a carteira no bolso traseiro da bermuda e mordo o lábio inferior em pura ansiedade.
— Me ligaram da Wine. — Sorrio, sem me conter. — Eu consegui a vaga.
— Sério? — Assinto. — PORRA! — Eu estou feliz, mas Namjoon está mais. Ele simplesmente não fez esforço para demonstrar a felicidade pela minha conquista. — EU FALEI! Eu falei que ia dar certo!
E então ele me pega no colo. Me ergue do chão e começa a berrar o quanto está orgulhoso, mas não surpreso. Porque ele tinha absoluta certeza de que eu era capaz. De que eu iria conseguir.
— Você vai me deixar cair! — aviso, apertando os ombros largos quando ele começa a pular comigo ainda no colo. — E eu vou te bater!
Entretanto, não estou realmente me importando com isso. Estou, na verdade, feliz com a reação dele. Porque Nam está contente por mim, orgulhoso de mim. E gosto de saber e ver isso. De saber que consigo orgulhar meu melhor amigo.
Ah, como eu sou tonto. Eu me deixo enganar às vezes. Com bastante frequência, na real. Namjoon não está feliz por mim.
Namjoon mente.
Mas a mentira dele faz eu me sentir bem, então meio que está tudo bem.
— Caralho, vamos comemorar!
Termino de fechar toda a casa antes de, de fato, ir. A pracinha que ele me chamou para comer o cachorro-quente não fica tão longe, apenas uns quinze minutos de casa. Namjoon veio me buscar de carro.
Mas saiba que ele só é um cavalheiro assim quando quer. Isso não acontece com tanta frequência.
— Você está tão feliz hoje... — comento quando entro no carro, do lado do carona.
— É que as coisas estão fluindo bem na Êxtase. — Esse é o nome da casa do sexo. Bom, basicamente Namjoon é dono dela. É uma das mais visitadas na cidade. É para esse lugar que ele tenta me arrastar nos últimos dez anos. — E agora porque meu bebê conseguiu um emprego!
Rolo os olhos.
— Você está feliz também? — Namjoon pergunta para mim. O tom dele muda drasticamente de animado para hipercauteloso. — Quero dizer, você nem pensava em trabalhar de carteira assinada dois dias atrás.
Suspiro e puxo o cinto, vendo pela visão periférica – já que estou olhando para frente – que faz o mesmo.
De fato nem passava pela minha cabeça trabalhar, porque estava me virando bem apenas com as vendas das revistas, mas agora que consegui a vaga estou motivado. Acho que era isso que eu precisava: motivação.
Namjoon foi a minha motivação. Meu empurrãozinho.
— Para ser sincero, estou um pouco apreensivo — confesso. Ele liga o carro e começa a dirigir rumo à praça. — Faz tanto tempo que eu não tenho contato com uma rotina de secretário que tenho medo de ter esquecido como faz, sabe?
— Impossível você ter esquecido — ele nega com certeza. — Você é Jeon Jungkook, cara. O cara mais precavido e preparado que eu conheço.
— Paranóico, você quer dizer. — Ele ri.
— Não importa. Algo me diz que vai ocorrer tudo bem. E imagino que você não vai ser simplesmente jogado lá.
— Vou passar por um treinamento, na verdade.
— Viu? Vai dar tudo certo, amor.
— Olha só... Você está sendo otimista, Cupiditatem? Calma aí, deve estar caindo cachos de uva do céu. — Coloco a cabeça para fora do carro, olhando para o céu limpo e estrelado.
Namjoon gargalha.
— Besta! — diz entre risos, me fazendo rir também. — É que eu estou de bom humor. Apenas isso.
— Hm... — murmuro, voltando a sentar corretamente no banco. — As coisas na Êxtase estão tão boas assim?
— Estão maravilhosas.
Sorrio e estico o braço, fazendo um breve carinho na nuca do meu amigo.
— Respondendo à sua pergunta: sim, eu estou contente.
E então ele sorri mais, sem tirar os olhos do trânsito.
Nós chegamos na praça minutos depois. É bem rapidinho na verdade, mesmo sendo um horário em que o movimento de carro é intenso.
Namjoon estaciona alguns metros do local em que de fato iremos e vamos andando até lá. Não está tão agitada quanto uma sexta-feira à noite, certamente, e eu agradeço por isso. Nunca gostei muito de lugares movimentados demais.
— Na moral, o dogão desse lugar é sensacional — Namjoon comenta, encarando os lanches ilustrativos do trailer de cachorro-quente.
É o melhor que eu comi até hoje.
— É uma pena que não consigo comer mais de um. É muito gostoso. — Namjoon me lança um olhar e um sorriso malicioso.
— Eu como por você, querido, não se preocupe.
Eu não duvido.
Abano a cabeça de um lado para o outro e olho para o cara que acaba de aparecer para fazer nossos pedidos, e assim que fizemos fomos sentar em uma das mesas várias de plástico que estão distribuídas perto do trailer.
— O que te disseram quando ligaram? — Nam pergunta, catando um dos palitinhos de dente que estão no centro da mesa junto com o porta-guardanapos e os molhos.
— Que eu começo amanhã mesmo. E que eu deveria me preparar para ficar o dia todo lá. — Faço bico, encarando o Cupidi com um olhar pidão. — Namjoon...
Ele nega antes mesmo de saber o que vou pedir.
— Não gosto de bichos — se apressa em dizer, como se já soubesse que esse é o meu pedido.
E é.
— Por favor, amor. Os gatinhos não podem ficar sozinhos o dia todo. — Ele suspira. — Não precisa levar pra morar com você, só passa o olho neles de tarde e coloca comida. Só isso. Eles vão ter que se acostumar a ficar sozinhos...
Meus olhos se enchem d'água.
— Você é um pai horrível — acusa.
— Namjoon! — E então ri de mim, deixando claro que estava apenas me provocando. — Não me faça sentir pior do que já estou por deixar eles.
— Relaxa, eles sabem se virar. — Segura a minha mão em cima da mesa. — E eu olho eles pra você. Mas à tarde. — Lanço para ele uma expressão amorosa, deixando bem claro todo o meu amor.
— Te amo, Nam — mas faço questão de dizer em voz alta, acariciando o dorso da mão macia dele.
— Eu sei — diz, como se fosse óbvio. — Tá me devendo um monte, hein? E eu vou cobrar tudinho.
— Justo. Eu deixo até você me levar para a sua balada do sexo.
Os olhos violetas de Namjoon brilham para mim.
— Sério? — Há expectativa no tom de voz.
— Não. — Murcha na cadeira.
— Você é um ser humano terrível, Jeon Jungkook.
Nossos lanches não demoram muito mais para chegar. Três cachorros-quente, uma latinha de refrigerante e um copo de suco. Três porque um é meu e os outros dois são de Namjoon, e ele come um atrás do outro. Enquanto eu estou acabando o primeiro, ele está acabando o segundo.
Ele come muito.
Quando terminamos de comer e pagamos (eu paguei, por mais que ele tenha insistido para tal), nós ainda caminhamos por uns minutos por entre as árvores e arbustos. Está uma noite bonita e a praça toda é bastante iluminada, cheia de verdes naturais e tranquila de ficar. Às vezes venho aqui para ler.
— Aí... — chamo a atenção alheia, diminuindo as passadas até parar completamente. Namjoon dá mais alguns passos e para de frente para mim. — Obrigado. Por tudo. Você é tudo para mim, sabia? Eu não sei o que faria sem você.
Eu provavelmente estaria na merda se não tivesse Namjoon comigo. Porque Amares necessitam de carinho, de amor, e necessitam dar carinho, dar amor.
— Sabe porque eu fiz isso? — ele pergunta. — Que eu, praticamente, coloquei um emprego no seu colo?
Dou de ombros.
— Por que eu sou um vagabundo? — Ele sorri de lado.
— Porque você passa vinte e duas horas do seu dia em casa. Só sai quando tem que comprar alguma coisa. Passa dezoito horas sentado ou deitado, dividindo isso em dormir, ler e assistir televisão. Ou criar diálogos com coisas que nunca vão te responder. — Nega minimamente com a cabeça. — Eu não estava muito a fim de continuar vendo você morrer aos poucos. Seus olhos não são mais aquele vermelho rubi de quando nos conhecemos. Estão escuro. Bordô. Eu precisava fazer alguma coisa. E... — Ele sorri fraco. — Eu fiquei tão feliz quando vi você animado pra fazer isso, Jungkook. Quando eu vi você ocupando a sua cabeça com essa entrevista... Você não faz ideia do quanto.
Sabe o que significa quando falo que Amares necessitam dar e receber amor? De interagir e fazer amizades, gostar de coisas e pessoas? Porque é fatal quando isso não acontece. Somos movidos pelo amor, sem ele não temos força. Nós morremos se não tivermos amor. É por isso que passamos a vida inteira sonhando com a nossa alma gêmea.
Porque precisamos dela.
E a cor dos nossos olhos indicam o quão perto ou longe estamos dessa pessoa. Quanto mais escuro, mais longe. Quando um Amare morre por falta de amor, ele morre com as íris na cor do céu numa noite sem nuvens; só que sem estrelas ou o brilho do luar. Completamente opaco e sem vida.
Sabe o que eu significo para Namjoon? Não sabe? Nem eu. Porque Cupiditatem não ama. Eu não sei o que ele sente por mim. Nunca entendi como eles não conseguem desenvolver nenhum sentimento afetuoso por ninguém, nem mesmo pelas pessoas da própria família. Talvez, lá no fundo, Namjoon apenas tenha pena. Mas eu não me importo muito com isso, eu o amo mesmo assim. Porque ele cuida de mim e me deixa fazer o mesmo com ele.
É por isso que Amares não se relacionam com Cupiditatem. Porque Cupiditatens não demonstram afeto e não devolvem ele.
Então você me pergunta: mas e o Namjoon? Ele é sempre tão carinhoso.
Namjoon mente. Finge. É tudo fachada.
— Eu não iria me perdoar se deixasse você morrer — conclui. — Nunca vou.
— Isso é amor para mim, Namjoon — digo, com a voz trêmula. Eu sempre choro quando as pessoas são carinhosas e afetuosas. Namjoon faz isso direto comigo, então meio que é comum chorar na frente dele.
— Mas não é para mim. — O tom imparcial e insensível é inevitável. E costumeiro. — Eu não sei o significado dessa palavra.
— Não é uma palavra. É um sentimento. — Dá de ombro.
— Você sabe que nunca senti nada além de tesão. E raiva.
Viu? É disso que eu estou falando.
Suspiro e dou um passo na direção de Nam, deixando que minha testa vá de encontro ao ombro dele e meu peito de encontro ao semelhante. Não adianta ficar triste por escutar isso. Já tivemos essa conversa incontáveis vezes e chegou num momento que eu me dei conta de que não dá para exigir mais. Namjoon não vai mudar, ele nasceu assim. Assim como eu nasci desse jeito. Então a gente só... só deixa quieto, entende?
Só finge. Engana. Mente.
— Obrigado, eu devo tudo a você — digo, com toda a sinceridade que há dentro de mim.
Namjoon envolve os braços à minha volta, me apertando num abraço gostoso que me faz simplesmente esquecer que ele não está sentindo nada nesse momento e aproveitar. Porque eu amo abraços e não tenho mais ninguém além de Namjoon.
— Não chora, amor. — Acaricia minhas costas. — Ei... — Se afasta minimamente para me olhar nos olhos. E ri quando olha meu rosto que provavelmente está todo vermelho e molhado. — Já deu a notícia para os seus pais?
Nego com a cabeça, fungando.
— Eu liguei mais cedo, mas ninguém atendeu. Devem estar ocupados com o trabalho. — Ele franze o cenho.
— Eles não se aposentaram ainda?
Sopro um riso.
— Também acho que já esteja na hora, mas aqueles de lá são cabeça dura. — Passo as costas da mão direita embaixo dos olhos, mantendo o outro braço em volta do tronco do meu amigo. — Dois véios cabeças duras.
— Vou falar pra eles que você falou isso — ameaça. — Eles nem são tão velhos assim.
E não estão mesmo, apenas gosto de fazer graça. Eles estão plenos e lindíssimos. Um tem cinquenta e cinco e o outro cinquenta e nove. Meus velhinhos. São meu tudo.
— Você é o único Cupidi que eles aturam, sabia? — digo, e não me surpreendo com a cara convencida que Namjoon lança para mim.
— Eu já disse que sou um amor. — Rolo os olhos, o fazendo rir. — Vamos para casa? — pergunta, acariciando meu braço. Resmungo mas assinto, o abraçando de novo.
Eu disse que estou carente.
— Vamos — murmuro contra a jaqueta jeans alheia.
— Tenham mais respeito. Há crianças aqui...
Escuto alguém dizer ao longe, baixo e sutil, mas com o ódio e o nojo escancarado. Eu apenas fecho os olhos e aperto mais Namjoon a mim, que também não se sente ameaçado pelo comentário do desconhecido.
— Eu não acredito que acabei de sofrer homofobia — diz quando me afasto. — E nem gay eu sou.
Eu deixo uma risada escapar, passando uma das mãos na cabeça para jogar meu cabelo para trás.
— Isso é porque você é hétero. Imagina eu que sou gay e filho de dois homens gays? Eu já escutei cada merda... — Namjoon se põe ao meu lado e nós voltamos a caminhar, agora rumo ao lugar em que o carro está estacionado. — Obrigado por não ser um cara frescurento.
Ele ri.
— Isso quer dizer que eu sou um bom pretendente? — Arqueio uma das sobrancelhas, olhando para ele de rabo de olho.
— Seria se você não fosse tão pervertido — provoco e ele solta uma breve risada. — Mas meus pais me matam se eu me casar com um Cupiditatem.
— Eu também te mato se você casar com um. — O encaro sem parar de andar. — Que foi? Você merece alguém que te ame, querido.
Desvio o olhar para o chão e não contenho o sorriso bobo, trombando meu ombro propositalmente no dele.
— Idiota. Eu te odeio.
— Fonte: Wikipédia.
🍷ི꙰͝꧖๋໋༉◈
E aí, anjos! Como vocês estão?
Terceira taça! Clap clap
Jungkook conseguiu um emprego e ainda foi chamado pra dar um rolê hahahaha porque essas coisas nunca acontecem comigo?
E o Nam é tão fofo, cuida tanto tanto do JK 🤧
SPOILER: no próximo capítulo vocês lidar com o JK tendo o primeiro dia no trabalhado... vai ser interessante. Aguardem.
Minha conta no Insta é @dan_kyunsoo, eu sempre interajo por lá
Se amem. Se cuidem. Se hidratem. Se protejam 💜
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