23° Taça
SALVEEEEEEEEEEEE
Demorei, mas apareci. Vim desejar feliz ano novo para todo mundo. Dizer que amo demais vocês. Pedir desculpas por não conseguir aparecer com a mesma frequência que era antes. E atualizar VME também, porque a gente gosta hahaha
(justificativa para eu não ter atualizado dia 31/12 como foi o combinado está no Instagram)
Espero que curtam o capítulo. Boa leitura! 💕
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Pegamos no sono no chão da sala da casa luxuosa.
Eu me preocupo apenas em guardar a comida – a maior parte dela já que quase nem comemos – na geladeira, só então volto a deitar junto de Jimin no tapete.
Ele é o primeiro a dormir. Está, de fato, muito cansado. Já eu demoro um pouco para conseguir pegar no sono, mas durmo por horas direto quando consigo. Acordo com Taehyung deixando o molho de chaves cair no chão.
Provavelmente ele não estava esperando encontrar duas pessoas peladas dormindo no tapete da sala.
— Hm... A noite foi boa — ele diz bem baixinho e eu sopro uma risada.
Tae é mesmo sem vergonha.
— Desculpa por isso — peço.
Eu me pego com o braço direito em volta da cintura de Jimin. Ele está de costas para mim, adormecido. Ressona tão suave quanto um neném, chega formar um biquinho adorável nos lábios. Entretanto, por mais que eu queira passar horas velando o sono gostoso dele, a presença de Tae não me deixa à vontade. Pelo menos não com nós dois sem roupa. Então me afasto e sento; claro de forma que minha intimidade não fique à mostra.
— Relaxa. Eu vou começar lá por cima. — Aponta para o teto. — Bom dia, aliás.
— Bom dia — desejo meio sem jeito. — Hm... Está tudo bem?
Taehyung franze o cenho.
— Há algo... te magoando? — Talvez eu não devesse perguntar sobre essas coisas, ao mesmo tempo que prefiro me meter e parecer intrometido do que só ignorar. Pode ser uma brecha para uma conversa da qual ele não sabe como iniciar, mas que quer.
Ou pode não ser nada demais mesmo.
Porém, os olhos vermelhos e marejados, apesar do tom descontraído e divertido, de Taehyung chamam a minha atenção.
— Oh! — solta, sorrindo. — Não é nada. É que eu uso lentes e... elas irritam meus olhos de vez em quando. Relaxa, é bem comum.
Não é como se eu esperasse que Taehyung me contasse algo se estivesse precisando desabafar, da mesma forma que acredito que seja apenas por conta das lentes.
Até porque Jimin já mencionou que ele usa.
— Certo. Espero que melhore, de qualquer forma — digo como se não tivesse pelado no chão da sala.
— Obrigado, Sr. Jeon. — Aponta para cima fe novo. — Eu vou indo.
Tae deixa as coisas dele em cima do balcão e sobe os degraus assim que pega a vassoura. Nós nem chegamos a subir, então acredito que não tenha muita coisa para limpar.
Suspiro e esfrego os olhos, bocejando. Depois olho para Park, que ainda dorme de lado. Há finas e quase imperceptíveis marcas de unhas nas costas dele. A pouca área do pescoço que fica à mostra para mim me permite visualizar uma pequena mancha arroxeada que deixei na noite passada.
— Te odeio, Namjoon — resmungo, lembrando do dia em que ele disse que eu deveria fazer isso quando fosse para a cama com meu chefe – palavras dele, não minhas.
Me inclino e beijo o ombro nu de Jimin, acariciando o braço livre de desenhos, diferente do outro.
— Amor — chamo baixinho, me sentindo um monstro por ter que acordá-lo. — Bem... — Beijo a bochecha. Ele resmunga. O bico aumenta. — Tae viu a sua bunda branquela.
Ele franze as sobrancelhas e pisca algumas vezes antes de abrir definitivamente os olhos, me faz rir.
— Minha bunda é linda, me respeita. — Gargalho com a fala rouca e sonolenta, porém cheia de graça.
— Não disse que não é. — Beijo o ombro dele outra vez. — É mesmo linda. — Aperto uma das nádegas, sem vergonha, arrancando uma risadinha baixa dele. — Bom dia.
Se vira um pouco e me olha por cima do ombro. As íris estão roxas outra vez. Porém, contudo, entretanto, todavia, o que eram apenas fragmentos quase imperceptíveis de vermelho – que só era possível notar olhando bem de pertinho – tornaram-se maiores.
É uma junção de vermelho com roxo onde nenhuma das cores se misturam de fato; mas o desejo ainda toma a maior parte.
Fica mais pavoroso do que encantador a cada dia.
— Bom dia, delírio — deseja. E fecha os olhos quando solta um suspiro pesado. — Me sinto mais fraco que o normal. Vou ficar surpreso se conseguir, ao menos, ficar de pé.
É a minha vez de suspirar. Acaricio a cintura dele e beijo o ombro de novo, escondendo o rosto no meio das costas.
— Me deixa ser o seu suporte? — peço abafado, contra a pele morna. — Te ajudo a ficar de pé.
— Eu confio em você. — Esfrego o nariz pela derme macia até a nuca, vendo Jimin ficar todo arrepiado. Selo a curvatura do pescoço e ele fica ainda mais.
Eu me afasto mesmo a contra gosto. Fico de pé e procuro minha cueca que deveria estar em algum lugar por perto. Acabo a encontrando quase inteiramente embaixo da mesa de centro, onde comemos na noite anterior.
A visto e tento ser rápido quando noto o esforço que Jimin faz para conseguir sentar. Ele prende os lábios em linha e me olha de baixo, e juro que posso ver uma criança pedindo colo.
— Acho melhor você não ir no vinhedo hoje — Eu me preocupo, não quero que se machuque ainda mais. Porém Jimin não diz nada. Ele só fica quieto e não se move tanto.
Então me abaixo e o ajudo a vestir a peça íntima dele que encontro perdida perto do rak. Depois, a sentar no sofá.
— Sua irmã vai entender se disser que não está se sentindo bem.
Me abaixo em frente a ele. Jimin mantém o olhar baixo, encarando as fartas coxas. Ele franze as sobrancelhas. Os dedos graciosos brincam com a bainha da peça íntima.
— Mas e se eu não conseguir ir outro dia? — Continua olhando para baixo. O tom é baixo e falho. Por um instante, temo que comece a chorar. — Talvez eu piore. Ou...
Não conclui.
Abaixo a cabeça e toco o joelho dele com a testa, fechando os olhos.
— Posso pedir para o motorista da empresa me levar, se esse é o seu medo — diz. — Mas eu vou.
Impedir Jimin não é uma opção, por mais que meu instinto protetor me diga para guardá-lo a sete chaves num lugar seguro e todo o mal.
— Você quer que eu vá? — pergunto, erguendo a cabeça. Ele nega.
— Você ficou o dia comigo ontem. E dormiu aqui. Os gatinhos sentem a sua falta. — Me mantenho em silêncio, atento às suas expressões. A atenção ainda está baixa. — Por favor, fique com eles hoje.
É quando enfim me olha nos olhos que respondo.
— Tudo bem.
Park está certo, apesar de eu querer ficar mais tempo com ele.
Acaricio a coxa de leve e fico de pé, estendendo a mão.
— Vem, vamos subir. Vamos tomar banho.
Jimin aceita a ajuda. Eu não sei como, mas conseguimos subir a escada. Ele vai se apoiando em mim e na parede grossa e transparente de vidro que dá visão para a piscina, degrau por degrau. E quando chegamos no banheiro, dentro do quarto impecável, encher a banheira é a melhor solução que encontro já que o enólogo não parece ter forças para um banho em pé.
Tae pergunta se está tudo bem quando passamos por ele no corredor, Jimin mente dizendo que bebeu demais na noite anterior. Ele mantém o olhar baixo para que o rapaz não note que a cor dos olhos está mudando, da mesma forma que Jimin não consegue ver o olhar avermelhado e marejado do Amare de lentes roxas.
Com a banheira cheia e Jimin dentro dela, não me preocupo em entrar junto. Estamos frente a frente, e eu chego bem pertinho do corpo dele por sinto necessidade, entrelaçando nossas pernas dentro da água até achar uma posição confortável.
— Você disse que tem medo de me perder. — O tom baixinho chama minha atenção. Assim que o encaro, ele toca meu peito com delicadeza e eu me arrepio no instante em que a palma encosta na minha pele, bem em cima do meu coração. — Mas eu vou estar bem aqui. Você não vai me perder. — Antes estava calmo, agora parece que há uma festa dentro do meu peito. Não consigo evitar a ardência nos olhos quando as palavras dolorosas e doloridas chegam em meus ouvidos. — Você só vai me perder se quiser muito me esquecer.
Não existe uma realidade em que eu escutaria isso vindo dele. Uma realidade que alguém me amaria sem fingimento; sem que eu precisasse pedir para ser amado.
Mas Jimin está fazendo isso. Está sentindo dor por me amar. Está...
— Céus... Eu não vou te esquecer, Jimin. E nem quero. — Coloco a mão por cima da dele, pressionando-a mais contra mim. Meu coração está acelerado. — Só que é inevitável, amor. Vai doer muito.
— A gente não iria ficar junto independente se eu morresse ou não. Porque eu não iria sentir nada por você. — Desvia o olhar do meu para nossas mãos unidas em meu peito. — Ontem foi tão diferente... O que eu senti por você quando a gente ficou no hotel foi diferente do que senti ontem. Eu nem sei o que foi tudo aquilo ontem.
Eu não posso negar que ele está certo sobre não ficarmos juntos. Ele só está enfraquecendo porque, de alguma forma, o amor conseguiu laçar ele. Porém, se isso não estivesse acontecendo e tivéssemos certeza de que ele não morreria, também não iríamos ficar juntos. Porque Jimin não iria sentir nada por mim, somente eu por ele. No máximo iriamos transar uma única vez, só porque ele sentiu vontade, e depois eu não significaria nada.
Entretanto, pensar em Jimin vivo e me ignorando é menos doloroso do que pensar nele me amando e... morrendo. Sofrendo. Porque em algum momento ele não vai estar aqui comigo e essa falta vai me causar muita dor. Muito mais do que apenas ser rejeitado por ele.
— O que sentia por mim no hotel? — ouso perguntar.
— Desejo. Eu só estava a fim de transar com você. Mas não vou negar que tinha algo dentro de mim que me incomodava desde que a gente conversou no meu escritório pela primeira vez. Só que era insignificante comparado a hoje. E eu achei que era só tesão, que resolveria quando a gente fodesse. — Umedece os lábios. — Estava mais forte quando a gente transou naquela noite. Você começou a me ignorar quando voltamos do hotel e eu fiquei incomodado, e transar com você foi um soco no estômago. Aquela coisa abominável que eu sentia ficou mais forte. Não era tesão, não. — Jimin me olha com piedade, com súplica. E medo. — E agora tomou conta de mim, delírio. Está in su por tá vel. Ao mesmo tempo que é bom, machuca.
E então, pela primeira vez desde que conheci esse homem, vejo uma micro expressão de choro.
A questão é que Cupiditatens não choram.
— Eu tenho vontade de arrancar meu coração e colocar bem aqui, na sua mão, Jungkook.
Engulo em seco quando vejo os olhos dele marejarem.
— Eu só... — A primeira lágrima de amor na vida de Park Jimin escorre no mesmo instante que a minha; a diferença é que eu já perdi as contas de quantas vezes chorei até hoje. — Eu só quero que pare de doer. Eu quero que isso acabe de uma vez.
— Desculpa — imploro, em prantos. — D-desculpa. Eu não consigo te ajudar. — Amasso a mão alheia entre meus dedos. — Eu não posso fazer essa dor parar, bem.
Jimin soluça. O choro dele se torna mais intenso e audível a cada tomada de fôlego. É como se o que ele não tivesse chorado em trinta e cinco anos estivesse saindo agora, tudo de uma vez.
Cupiditatens só choram em uma única ocasião: dor física. Sabe quando a criança rala o joelho ao cair de bicicleta? Então, é nesse caso; ou parecido com esse. Não há outro motivo para um Cupiditatem chorar.
Ver Jimin soluçar como se o joelho de todas crianças do mundo tivessem ralado ao mesmo tempo é assustador. E o pavor soma ao sentimento de inutilidade ao ver a pessoa que gosto sentindo dor, enfraquecendo, sucumbindo e não poder fazer nada para impedir ou amenizar.
— Desculpa — continuo implorando, soluçando junto dele. — Por favor, me p-perdoa.
Eu o abraço. Simplesmente jogo o corpo contra o dele e o aperto com todas as forças que tenho. O corpo malhado, mas sem muita força, sacode contra o meu a cada soluço solto. Jimin treme, funga, implora para que eu faça a dor parar. A voz trêmula e quase indecifrável corta meu coração.
E eu peço mais desculpas. Eu suplico por perdão. Porque não há o que eu fazer.
Por um segundo desejo acordar desse pesadelo horrível, mas então constato que não existe pesadelo. Essa é a minha realidade. A minha e a de Jimin.
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Não preciso olhar no espelho para saber que meus olhos estão inchados. Eu sinto. Eles mal abrem.
Não sei com precisão quanto tempo Jimin e eu ficamos dentro daquela banheira, mas foram minutos. Talvez até mais de uma hora. Ele não parava de chorar. Parecia fazer força, como quando fazíamos amor, mas era mais forte que ele.
Foi quando finalmente não escutei mais os soluços dolorosos que pude me acalmar. E pude tentar acalmá-lo, banhá-lo, secá-lo e, por fim, vesti-lo. E só então colocá-lo na cama. Acordamos cedo demais e como Jimin não quer ir trabalhar – tampouco que eu vá sozinho, ou o deixe sozinho –, nós deitamos na cama espaçosa e bem arrumada do quarto impecável. Estamos há bastante tempo deitados, em silêncio.
— Ah, isso é tão bom... — o escuto dizer baixo. Seu suspiro de satisfação e conforto corta o ar segundos depois.
A cabeça dele está apoiada em meu peito. Meus dedos correm entre os fios loiros num carinho suave a fim de fazê-lo dormir de novo. Talvez assim acorde mais forte para ir ao vinhedo.
— O carinho?
— Também. — Abraça meu tronco com um pouco mais de força. — Ficar tão perto de você, em específico.
Sorrio.
— Eu também gosto. Muito. — Não é um segredo que gosto muito de passar meu tempo grudado nas pessoas que amo. — Você está se sentindo melhor?
Jimin hesita, porém, por fim, diz:
— Acho que não consigo responder essa pergunta de forma positiva enquanto estiver ao seu lado. Quanto mais fico com você, mais fraco fico. Porque demonstro o que sinto o tempo todo. Ontem de manhã eu me sentia tão bem. Tão forte. — O tom alheio abaixa ainda mais e se iguala a um sussurro. — Hoje mal consigo ficar em pé.
Sei que a intenção dele não é me magoar. É claro que não é. Porque, querendo ou não, é verdade. Passar tempo comigo acelera o processo. Mas, mesmo assim, magoou.
— Quer que eu vá embora?
Ainda mantendo a cabeça apoiada em meu peito, ele ergue o olhar para mim. O vermelho do olhar igualando ao roxo.
É... assustador.
— Eu não disse isso — rebate. — Eu quero muito ficar com você, apenas... disse a verdade. — Nossos olhos se alinham. — Você me enfraquece.
— Então eu preciso ir embora. — Aliso a lateral do rosto belo.
— Fica só mais um pouco, por favor — pede cheio de manha. — Nós já não vamos nos ver durante a tarde, e pelo resto do dia.
Por mais doloroso que seja, eu fico com Jimin. Apenas até a hora do almoço. Somente até depois dessa refeição. Depois disso volto para a minha casa. Porque é o melhor a ser feito.
Para nós dois.
— Que isso, nunca imaginei que te veria com marcas de sexo no pescoço. — Namjoon está jogado no sofá da minha sala quando chego.
Ele realmente vem passar o olho nos gatos algumas vezes durante o dia. E eu sei disso porque minha comida simplesmente some do armário e da geladeira.
Nam sempre aproveita para fazer um lanchinho.
Fecho a porta a porta ao entrar em casa. — Oi, querido.
— Que desânimo é esse? A noite não foi boa? — Sento no sofá e deixo um suspiro denso escapar. E então não me importo em deixar a cabeça ir de encontro à uma das coxas dele ao me deitar.
— Foi boa. — Olho meu amigo de baixo, ao mesmo tempo em que ele me fita de cima.
— Park repetiu foda? — Confirmo só com a cabeça. — Uau, isso é novo.
Umedeço os lábios.
— Querido, preciso te contar uma coisa. — Ele foca ainda mais a atenção em mim.
Quando eu digo que ele é obcecado por uma fofoca, estou falando sério.
— Sou todo ouvidos. — Tira a franja da minha testa. — O que aconteceu?
Eu não desvio o olhar. Deixo que Namjoon encare o fundo dos meus olhos. Os dele, diferente dos de Jimin, continuam roxos.
Totalmente roxos.
— Jimin gosta de mim. — Eu não sei como contar isso, e não sei soltar assim seja melhor alternativa. Eu só quero conversar, contar a alguém o que me magoa e me deixa aflito. Namjoon é a melhor pessoa, é a que eu confidencio meus segredos porque confio. Porque sei que sempre me entende.
Vejo o cenho dele franzir e a cabeça pender para o lado.
— Hm... — Sopra uma risada baixa. — Ele já te disse isso, é?
— Não. Não com palavras, pelo menos.
— Ótimo. Porque ele estaria mentindo. — Tento engolir mas o bolo na garganta não desce. — Ele não vai te amar, Jungkook, não seja idiota.
— Eu juro, Namjoon. Eu juro que é verdade!
— Não é! Eu disse que se envolver com ele mexeria com você. — Sinto meus olhos arderem.
— Foi você que me incentivou!
Ele gargalha com vontade, tanta que inclina a cabeça para trás. Como se eu tivesse dito algo hilário.
— Eu sou um idiota, Jungkook. Não faz diferença para mim te incentivar ou não. — Eu já estou acostumado com a rudeza nas palavras dele. Ele é um Cupidi, afinal, e eu o conheço há uma década. Entretanto, nesse dia em específico estou mais sensível que o comum, então tais palavras me acertam com força. Me machucam de verdade. — E você quer mesmo seguir os conselhos de um Cupiditatem? Me poupe, né? Não coloque a culpa em mim. Você se apaixonou porque você quis.
Ele está com raiva.
— Você está sendo muito maldoso, Nam.
— Tenho que pedir desculpas? — Não digo nada. — A gente já teve essa conversa. E não foi uma, nem duas, nem três vezes. Então para de ser estúpido. Ele só quer comer você. Ele não vai te amar do dia pra noite. Acorda!
— Você não sabe... de nada. — Eu tenho todos os argumentos que preciso para refutá-lo, mas é como se tivessem tomado a minha força. Eu não consigo. Não quero brigar.
Quero um abraço.
— Ah, é? Hmm... Então me diz o que fizeram nas vezes em que passou a noite com ele. — As palavras estão na minha boca, mas não consigo abri-la para dizer. — Não foderam, né? Ele não passa a mão em você o dia todo, né?
— CALA A BOCA!
Minha respiração está agitada. Namjoon para com a minha ordem, fecha os olhos, respira fundo e devagar e só então volta o olhar para mim.
— Não seja inocente, Jungkook, por favor. Você não está mais no ensino médio.
— Ele tá morrendo — digo num fio de voz. — O olho dele está mudando. Eu vi e escutei ele chorando a manhã toda hoje, Namjoon. Chorando.
Ele nega com a cabeça.
— Você tá delirando. É impossível.
— Eu também achei. Até ver ele implorar para fazer a dor que está sentindo parar. — Tiro a cabeça do colo dele e me sento, pegando o celular com as mãos trêmulas.
Então digito, com certa dificuldade, Transição Cupiditatem na barra de pesquisa. Eu fiz essa pesquisa assim que fiquei sozinho quando voltei do hospital com Park. Logo depois de ler alguns poucos parágrafos de um enorme artigo publicado por um médico que eu nunca havia escutado falar, liguei para Namjoon pedindo consolo.
Quando pesquiso, passo o aparelho para o barman. Namjoon hesita, mas pega. Os mirantes violetas seguem as linhas com rapidez e nós ficamos minutos em silêncio enquanto lê. Ele parece realmente empenhado em entender, enquanto eu fiquei assustado e parei logo no começo.
— Como...? — indaga, me olhando mesmo que não tenha terminado tudo.
— Eu também não sei. — Passo as costas da mão direita embaixo dos olhos. — Está matando ele, bebê. É horrível ver e não poder fazer nada.
Os olhos arroxeados de Namjoon se perdem na mesinha de centro da minha sala.
— Ele já dormiu aqui, querido. Eu te contei. A gente não transou. Ele só... só ficou aqui. E me abraçou. — Mordo o lábio inferior ao lembrar daquela noite. — A gente brigou na chuva porque ele disse que sentia alguma coisa por mim e eu não acreditei. — Namjoon me olha. — Eu disse que não tinha como porque ele não ama, nem nunca amaria. — Ergo os ombros. — E agora os olhos dele estão ficando vermelhos e ele não para de chorar. E de reclamar que não quer ficar sozinho, mesmo sabendo que ficar perto de mim deixa ele mais fraco.
Namjoon continua sem dizer nada por mais um tempo. Eu também paro de falar, a cabeça explodindo. Eu não aguento mais chorar. A cara do meu amigo mostra receio e até mesmo pânico; ou está processando ou está surtando, não dá para saber.
— Eu não... — Estreita os olhos, me olhando com demasiada atenção. — Eu não amo você, Jungkook.
Fecho e cubro os meus, largando um suspiro carregado de cansaço no ar ao apoiar os cotovelos e cobrir meu rosto com as mãos.
— Eu sei que não, Namjoon. Eu já entendi isso. — Descubro os olhos para fitar o homem à minha frente, mas mantenho o queixo apoiado em minhas mãos. — Você finge que gosta de mim e eu também fingo que você gosta de mim. Com o passar de todos esses anos... nem dói mais. Está tudo bem.
— Mas eu queria. — A confissão me pega totalmente de surpresa. Namjoon nunca havia admitido isso antes. — Eu queria te amar.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, negando.
— Amar machuca. Muito. Não dá pra resolver tomando remédio. É uma tortura.
— Mas é bom também — rebate. — Eu não sinto nada por você, nem pela minha mãe, nem pelos gatinhos. Vocês me irritam pra caramba. Tenho vontade de gritar com vocês. E isso é uma merda porque eu sei que vou magoar vocês. — Dá de ombros. — Eu só... queria conseguir retribuir tudo de um jeito menos... rude. Fingir cansa demais.
Se for parar para olhar, todo mundo está na merda.
A diferença entre mim e Namjoon é que eu sinto, ele não. Mas estamos, basicamente, no mesmo barco; e ele está afundando.
Lembra que eu disse que nada é perfeito? Todo mundo sabe disso, é claro. Esse fato pode ser aplicado em diversas instâncias e situações.
Não está escrito em lugar nenhum que alguém é obrigado a amar outro alguém; ou alguma coisa. Da mesma forma que não é lei desejar, cobiçar, ambicionar alguém; ou alguma coisa. Mas, porra, somos humanos. Ou éramos, pelo menos. Esses sentimentos eram naturais da nossa espécie, não imposta ou forçada.
Deveríamos descobrir se amamos ou desejamos algo com o tempo.
É um processo natural.
Todos devemos ter a chance de construir uma relação, e falo apenas no sentido romântico. Amar a si próprio, ou sua série favorita, ou então aquela música que te faz vibrar de um jeito diferente. Assim como todo mundo deve ter a chance de sonhar em ter, possuir, desejar. Não apenas no sentido sexual, mas todos temos sonhos e devemos ter um pouco de ambição para realizá-los.
É um inferno não poder ter a chance de sentir algum dos dois. Ou ao menos tentar.
Isso foi arrancado de nós anos atrás.
— Por que você só... só não vai embora? — questiono.
— Não sei. — Mordisco o lábio inferior. — Eu realmente não sei.
— Se eu pedir para eles... Você vai?
Não há expressão no rosto dele. Meu coração reclama para que eu pare de falar.
— É o que você deseja?
— Eu não desejo nada, Namjoon. Eu só aceito o que está acontecendo. Sempre foi assim. Eu me contento com as coisas que eu tenho e consegui e não reclamo de nada. — Não consigo ver nada, as lágrimas me impedem. Mas tento manter a voz firme. — E se você quiser ir embora da minha vida, para não passar mais raiva e ter um minuto de paz, eu vou entender, por mais que machuque.
— Você vai morrer. — É uma conclusão. Ele tem certeza que isso vai acontecer. — Jimin vai embora. E se eu também for seus gatos não serão o suficiente. Não morando aqui sozinho.
— Não estou nem aí — Pisco e as lágrimas escorrem, me permitindo ver com nitidez. — Está aí o meu remédio. É o jeito de fazer a dor parar.
— Cala a boca, Jungkook. Para de falar merda. — Volto a cobrir o rosto inteiro com as mãos. — Não peça nada aos seus pais. Eu não vou embora.
— Não precisa ficar por pena.
— Não estou na sua vida por pena e você sabe disso. E nem dó eu consigo sentir. — Sinto seu carinho suave quando passa os dedos entre os fios dos meus cabelos. — Você deseja sim, apenas troca essa palavra por gostar. Só pra fazer sentido na sua cabeça.
Nego, mas Namjoon não para de falar.
— Nunca percebeu, não é? Você se força inconscientemente a não desejar, porque sabe que não é do comportamento da natureza Amare. Mas você deseja, Jungkook. Você não é como seus pais ou Stacy. — Meu amigo aponta para o meu celular e diz: — Se parar de negar que não deseja, vai notar que você também deu errado.
No artigo publicado por esse médico que é renomado, mas que nunca ouvi falar e que se enfiou de cabeça nos estudos sobre transição, diz que os casos que existiram até então, desde que o DNA foi alterado pelo grupo genocida, são falhas. Os Cupiditatens que entraram em processo de metamorfose são "erros". E são tão erros que sequer chegaram a completar a transição.
São imperfeitos.
Jimin, assim como os outros Cupidis que morreram, é a margem de erro.
Eu também sou? Mas sou um Amare, diferente dos outros. Não é possível, é?
Sinceramente, na atual conjuntura eu já nem duvido mais do que é possível ou não. A questão é que tudo isso me causa pânico e mais uma vez não consigo segurar o choro. Não há muito mais o que eu fazer a não ser chorar, na real.
— Eu sei o que você quer dizer quando vê ele sofrendo e não poder fazer nada — diz baixinho para mim. — Talvez um abraço?
Não digo nada, só deixo meu corpo pender para o lado dele. Namjoon não hesita em me abraçar forte. E então faço do ombro dele meu travesseiro, meu conforto. Eu choro até cair no sono. Não de cansaço. Pelo menos não físico.
Apagar talvez tenha sido o jeito que meu corpo encontrou de fazer a dor amenizar.
Temporariamente.
🍷ི꙰͝꧖๋໋༉◈
E aí, anjos! Como vocês estão?
Essa mini discussão entre o Nam e o JK machuca um pouco, principalmente quando ele afirma que não ama mesmo o Jungkook ao descobrir que o Jimin ama
Depois de verem o Jimin se enfraquecendo de amor, vocês ainda acham que o Namjoon ama o Jungkook? Estou curiosa para saber a opinião de vocês...
E entenderam agora porque ele é um Amare não-confiável?
Eita mamãe, vambora que o trem tá ficando bom
Sei que parece que tudo vai dar errado, mas CONFIEM EM MIM. Segurem a minha mão aqui
SPOILER: no próximo capítulo o JK vai tirar a virgindade do Jimin. O que isso significa? Aguardem. Mas vai dar muita merda também, então se preparem para uma montanha russa de emoções
Se amem. Se cuidem. Se hidratem. Se protejam. Amo vocês muito. Desejo que o 2024 de vocês seja nuito foda, tá? 💜
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