11° Taça
SALVEEEEEEEEE
Recuperados do capítulo anterior? Hahaha
Esse capítulo era para ser dois, mas resolvi fundir um ao outro como nosso querido amigo JK sugeriu em francês. Aí virou um só, maiorzinho
Oto apreciando um vinho nesse momento... Será que abro caixinha no insta? Seis querem me ver passando vergonha? Melhor não, né? Hahahaha
Enfim, é isso: espero que gostem do capítulo de hoje, deixem a ⭐ se isso acontecer e boa leitura 💕
🍷ི꙰͝꧖๋໋༉◈
Sábado.
Eu acordei na manhã (quase madrugada) de sábado um pouco agitado, devo confessar.
Namjoon, como frequentemente faz, saiu da Êxtase na noite de sexta-feira e veio para a minha casa. Eu já estava dormindo quando ele chegou. Chegou tão mansinho que nem o escutei, apenas notei que estava aqui quando acordei e senti que me abraçava. Combinamos que ele ficaria comigo antes da minha viagem com o Sr. Park e me levaria até o aeroporto.
Me levanto e Namjoon continua dormindo, e vou tomar banho para preparar o café da manhã. Jimin disse que é para eu estar no aeroporto da cidade sete horas. Partiremos às oito da manhã. Disse que eu só precisava levar meu passaporte e nada mais que isso. Ele até mesmo ofereceu um motorista para me pegar aqui e me deixar lá, mas achei demais então recusei.
Namjoon me leva, esse pateta.
Eu poderia abusar, já que o desprezo que senti na tarde do dia anterior ainda tomava conta de mim, mas eu teria outros momentos para isso.
Acho que consigo ser mais criativo.
— Querido... — Olho por cima do ombro, vendo meu amigo descer a escada coçando um dos olhos. — Bom dia.
Volto a olhar para a pia, tirando as fatias de pão que acabaram de sair da torradeira.
— Bom dia, britadeira — desejo de volta, sorrindo ao receber um beijo na bochecha.
— Ah, Jungkook, não começa! — Gargalho, colocando o prato com pães torradinhos em cima da mesa. Namjoon se senta em uma das cadeiras.
— Você vai cuidar dos meus filhos? — manho, voltando para a pia para pegar o café e a manteiga.
— Prometi, não prometi? — diz de boca cheia. Paro ao lado dele e coloco o restante das coisas sobre a mesa, mas sinto meu pulso ser segurando quando ameaço dar a volta para me sentar na cadeira de frente para o Cupidi.
— Quê? — Olho para Namjoon.
Os olhos violetas olham no fundo dos meus como se enxergassem a minha alma.
— Quem é? — Franzo o cenho.
— Quem é o quê, doido?
Ele me solta, mas continua me encarando.
— Seus olhos não estão escuros mais. — Intercala entre um e outro. — Estão rubi de novo. Voltaram a brilhar. — Engulo em seco. — Quem foi que mexeu com o seu coração, Jun?
— Ninguém que eu saiba. — Me sento e mantenho o olhar baixo quando começo a comer.
— Não é seu patrão não, né?
Dou de ombro.
— Não sei, Nam — digo, realmente sincero.
Eu de fato não sei de nada.
— Olhe para mim — pede.
Umedeço os lábios e ergo os olhos. Namjoon me encara por um tempo antes de dizer:
— Eles ficam muito mais bonitos assim, amor. Eu só não quero que se apaixone pela pessoa errada. — Apoio os cotovelos na mesa. — Vai quebrar seu coração de um jeito que não vou conseguir evitar, tampouco consertar depois.
— É algo que eu não consigo evitar.
Ele não diz nada.
— Eu não sei de nada, ok? Não faço ideia do que estou sentindo — murmuro, mordendo uma das fatias de torrada.
— E quer descobrir?
Aliso a testa com uma das mãos, segurando o pão com a outra.
Sinceramente? Não, não quero descobrir. Porque se for real, vai ser um problema. Um problema imenso. Gigante. Você não tem noção da merda que é quando um Amare se apaixona por um Cupiditatem.
Não quero passar por isso. É aterrorizante só de escutar falar quando acontece com outras pessoas. Porque eu me coloco no lugar delas e basta isso para me sentir destruído.
Não quero me machucar.
— Não sei, Nam — choramingo. — Talvez eu nem devesse ir nessa viagem.
— Querido, não. Vai e se diverte. Você vai conhecer um lugar novo como sempre quis. E tudo de graça! — Sorrio e olho para ele. — Me liga se alguma coisa acontecer, está bem? — Me lança um sorriso bonito de covinhas antes de dizer: — Eu vou estar aqui. E prometo, com todas as minhas forças, que vou colar todos os pedacinhos do seu coração se acontecer.
Devolvo o sorriso, me sentindo, nesse momento, cuidado e protegido por ele.
— Eu farei um esforço para não acontecer — garanto.
🍷ི꙰͝꧖๋໋༉◈
— Quer que eu te leve lá? — pergunta quando estaciona o meu Uno em uma vaga. É somente para embarque e desembarque, o que quer dizer que ele não pode ficar tanto tempo parado nela.
— Não precisa. — Pego a bagagem de mão no banco de trás e olho para ele. — Obrigado por me trazer. Te vejo amanhã.
— Me avise quando chegar lá. — Se inclina e beija a minha testa de forma demorada. E depois me dá um abraço forte. — Seus filhos estão em boas mãos.
Espremo os olhos para ele, o que o faz rir.
— Me liga se acontecer alguma coisa — peço.
— Deixa comigo. — Beijo a bochecha dele.
— Te amo, tá?
— Se cuida.
Saio do carro quando abro a porta e aceno para Namjoon quando a fecho. E então eu começo a andar aeroporto adentro rumo ao lugar indicado por Park numa mensagem que me enviou na noite do dia anterior.
— Me procurando? — Todos os pelos da minha nuca sobem quando escuto a voz suave atrás de mim.
— Não faça isso — imploro, fechando os olhos e me mantendo de costas para ele.
Céus, Jimin mexe tanto comigo que apenas o tom de voz dele é capaz de me deixar... excitado.
Não excitado de uma maneira sexual. Apenas... eufórico. Inquieto.
Inquieto demais.
— Por quê? — Ah, não é possível. Ele sabe. Ele deve notar que mexe comigo.
Porque às vezes parece que faz de propósito.
Me viro devagar e não resisto a vontade de olhá-lo de cima a baixo.
Jimin está desprovido de todas aquelas roupas formais que usa diariamente. A camisa polo verde escura de marca está a conta no corpo, realçando-o bem. Os bíceps estão sendo apertados pelas mangas e eu quase consigo ver a tatuagem inteira. Bom... eu acho, pelo menos. O braço direito dele todo é tomado pelos desenhos permanentes, mas mesmo que esteja com uma camisa de manga curta, não é possível ver o fim dela. Ela some manga adentro.
Além da camisa, veste uma bermuda branca, deixando à mostra as pernas do joelho para baixo. Usa óculos escuros também, o que faz com que eu não consiga ver os olhos roxos. De qualquer forma, não faz diferença já que ele quase não me olha mesmo...
— Bom dia, Sr. Park — saudo, apertando a alça da bagagem com as duas mãos.
— Está mais calmo que ontem?
Espremo os olhos. Ele sorri debochado.
— Precisamos fazer o check-in — e diz, não esperando uma resposta para seu questionamento anterior.
E provavelmente sairia uma resposta sarcástica de mim, mas me contento apenas em assentir com a cabeça e passo a andar ao lado dele até uma das várias filas existentes.
Essa viagem não precisa ser mais caótica do que sei que vai ser, então prefiro evitar situações do que ter dor de cabeça. Ainda mais dor de cabeça.
Não ficamos muito tempo esperando. O check-in é rápido – vale deixar bem claro que não entendo nada quando o assunto é viagem – e Park toma conta de tudo. Minha passagem está com ele, inclusive. Para falar a verdade, quem tomou conta dessa parte da compra das passagens e reserva do hotel foi Stacy Bacelar já que ela já tomava antes de eu começar.
Entretanto, de agora em diante eu tomo conta da vida de Park, unicamente. Eu que sei que passo ele dará, quando e porque dará. Park Jimin é minha responsabilidade agora.
Passamos pela esteira (só passamos mesmo porque não iriamos despachar nada), pelo detector e não demoramos muito para ir para a área de embarque.
Classe executiva. As poltronas parecem camas e não é exagero.
— Pode ficar na janela, doze anos. — Paro no meio do corredor e olho para ele, vendo-o sorrir e erguer os óculos e deixá-los no topo da cabeça.
— Engraçadinho — resmungo. Mas passo primeiro que ele e, de fato, me sento na poltrona da janela. — Uau, olha o tamanho daquele avião! — digo admirado para a aeronave que está lá fora, parada ao lado da que estamos agora.
— Doze anos. — Escuto ele dizer. — Quer que eu guarde a sua bagagem?
Quando olho, ele está colocando a bolsa dele no compartimento em cima de nós. Fico apenas com meu celular e passo a mala para ele. Jimin só senta quando se livra das bolsas.
— Park... — chamo baixinho, olhando pela janela.
— Sim?
— Qual é a probabilidade dessa coisa cair? — Olho para ele.
Ele bate os cílios algumas vezes seguidas e olha para mim.
— Um voo em três milhões.
E se eu levantar daqui e ir perguntar quantos aviões já saíram até agora?
— Como você sabe dessas coisas? — Dá de ombro.
— Está no Google, Sr. Jeon, é só pesquisar. — Rolo os olhos. — Primeira vez? — pergunta provavelmente sobre viajar de avião e eu apenas balanço a cabeça. — Relaxa, é tranquilo.
— Não confio em você. Você dirige como se fosse decolar!
Ele solta uma risadinha como se tivesse gostado de escutar isso.
— É um dos meios de transportes mais seguros — garante. — Só perde para... Adivinhe — pede e eu dou de ombros. Não é o tipo de pesquisa que costumo fazer. — Elevadores.
— Que irônico...
Ele sopra um riso antes de dizer:
— Não vai acontecer nada, não se preocupe.
Afundo na poltrona confortável e fico fitando o avião que está parado ao nosso lado. Entretanto, não muito tempo depois disso, é anunciado que partiremos em breve.
Não vou mentir, entro em pânico.
Instruções são feitas pelo rádio que ecoa por toda a aeronave e uma comissária de voo passa de cabine em cabine checando se todas estão sendo seguidas corretamente, e quando essa coisa enorme começa a se mover eu me questiono se conseguirei chegar em Miami com a mesma saúde mental de quando saí de casa nessa manhã.
— Ei... — Escuto aquele maltido tom baixo e calmo; o que sempre me pega desprevenido.
Estou de olhos fechados e aperto o cinto como se dependesse disso, e tudo piora quando começa a subir.
Sinto, então, Jimin segurar meu pulso esquerdo com extrema delicadeza, e não hesito em deixar que segure a minha mão quando toca nela.
— Estabiliza quando chega lá em cima — ele conta, acariciando de forma sutil o dorso com o polegar.
Não esperava pelo carinho, mas estarei mentindo se disser que não gostei e que não me conforta de alguma maneira.
Além disso, ele estava certo. Quando o avião chega à sua altura máxima, tudo fica calmo. Não chacoalha mais como quando estava subindo. Agora eu até consigo ver a paisagem pela janela. E, uau, estamos sobre as nuvens!
— É lindo, Sr. Park — digo, admirado com a vista.
— É sim — concorda, suspirando baixo.
Jimin não faz menção de soltar a minha mão, então também não faço já que gosto do contato. Contudo, em um momento arrisco afrouxar um pouco para enfiar meus dedos entre os dele e ele não parece se incomodar com tal ato.
Na verdade, nem olho para ter certeza, somente faço. Jimin não impede, tampouco me afasta, então vou encarar como algo positivo.
Passam-se muitos minutos e eu mantenho a atenção na janela. Até mesmo tiro algumas fotos com o celular. Quando resolvo olhar para Park, pela primeira vez desde que começamos a subir, o pego com as íris violetas presas na pequena tela à frente dele.
Parece entretido.
Afundo na poltrona confortável e relaxo a postura, encarando nossas mãos unidas. A mão tatuada encaixa na minha imaculada. O carinho com o polegar continua, tão delicado que parece quase inexistente.
Jimin me deixa confuso.
A tatuagem da mão imita um cyborg. É como se os ossos fossem articulações de ferro, com fios e engrenagens. Minha boca coça para perguntar se tem algum significado metafórico por trás ou se fez apenas por fazer.
Mas não questiono.
Minha atenção intercala entre o tapete de nuvens fora da janela e nossas mãos unidas no apoio das poltronas. Fico um tempo olhando um, depois encaro o outro. E continua assim até que, em algum momento, pego no sono.
Eu não estava cansado. Devo ter dormido por não ter o que fazer. E quando desperto – não sei quanto tempo depois – é porque sinto minha mão ser solta. Abro devagar os olhos a tempo de ver Park levantando e seguindo pelo corredor de assentos até sumir de vista.
Suspiro e estico o corpo, olhando o mapa da viagem na telinha à minha frente. Falta uma hora e meia de voo. Eu dormi por duas horas direto.
Jimin volta minutos depois. Senta ao meu lado e recoloca os fones.
— Não quer comer? — pergunta sem me olhar. — Se quiser conhecer o lugar quando chegarmos, sugiro que coma agora para não perder tempo comendo lá.
— Uhum — murmuro apenas, me sentindo sonolento ainda. Jimin sopra um riso nasal e me olha, e eu deito a cabeça de lado, a um fio de deitar no ombro dele e fechar os olhos novamente.
— Não durma tanto, caso contrário vai ficar a noite toda acordado. O fuso horário é de três horas adiantado.
Franzo o cenho.
— Como assim?
— Vamos chegar quase às cinco da noite lá, mas será uma da tarde em casa. — Arregalo os olhos.
— E que horas mesmo vai começar o comitê? — Eu sei o horário, é apenas a sonolência que me impede de pensar um pouco.
— Oito da noite, mas sempre atrasa. — Sopro um riso.
— É. Você deve ser o motivo do atraso — brinco, e o vejo arquear uma das sobrancelhas para mim.
— Lógico. Eu gosto de chamar atenção.
— Nota-se, Sr. Park.
Deixo o olhar cair para o braço alheio e mordisco o lábio inferior quando aproximo a mão, tocando o desenho da taça de vinho cravado no antebraço.
— Até onde vai? — pergunto bem baixo, deslizando as pontas dos dedos médio e anelar pelos desenhos. Além da taça de vinho, consigo ver uma borboleta. E uma bússola. E o que parece ser, já chegando no bíceps, uma enorme e realista juba. Mas a manga esconde o restante do animal.
— Ombro — Park responde tão baixo quanto.
Escorrego meu toque em direção ao pulso alheio, onde começa a tatuagem mecânica; essa que cobre os dedos e vai até próximo das unhas.
— Mas a do braço não é a única. Eu tenho outra no p...
Jimin iria falar, mas é interrompido pela presença de um comissário de bordo. Não só para de falar como se afasta de mim também.
O CEO pigarreia e diz novamente sobre comer e eu acabo pedindo um dos pratos do cardápio. Está saboroso. Ao contrário de mim, o mais velho não come nada.
Vou ao banheiro quando termino de comer e muitos minutos depois que volto a me sentar é anunciado que começarão a pousar em breve.
A mesma sensação estranha na barriga de quando estava subindo aparece quando começa a descer. Entretanto, é mais tranquilo do que antes.
— Não gosto disso — resmungo, sentindo o solavanco do avião quando este toca o chão.
Jimin não segurou a minha mão desta vez. Na verdade, desde que me afastou, sequer me dirigiu a palavra. O olhar muito menos.
— Viu? Eu disse que seria tranquilo — diz quando nos permitem sair, enfim parados e em terra firme. — E agora que estamos em solo, devo dizer que seu seguro de vida não cobre quedas de avião.
Pisco algumas vezes e olho para ele, que me lança um sorriso ladino a astuto.
— E você só me diz agora?! Eu tenho filho pra criar.
— Você não subiria se eu dissesse antes — murmura, mas ri em seguida, ficando de pé. — Estou brincando, cobre sim. Mas a sua cara foi engraçada.
— Depois eu que tenho doze anos...
— Mas tem. Agora vamos.
Rolo os olhos, mas me levanto em seguida também. Park entrega a minha bagagem e não muito depois já estamos passando pelo portão de desembarque.
Eu não conheço nada, então apenas confio no homem que está comigo e o sigo pelo aeroporto. Quando chegamos do lado de fora, um carro preto e luxuoso espera por nós. Ele nos leva ao hotel resort do qual acontecerá a festa.
Não fica longe do aeroporto; talvez uns vinte minutos. Aliás, a cidade é muito bonita. São por volta das cinco horas da tarde e o sol ainda brilha radiante no céu, é possível apreciar as paisagens com clareza. Principalmente o hotel. É gigante e muito luxuoso. Fora o mar. Uau, o mar é lindo! Nós passamos por ele o caminho todo e o hotel fica literalmente de frente para a praia.
Somos deixados na porta do resort e seguimos até a recepção. Eu fico afastado observando em volta enquanto Jimin conversa com o homem no balcão.
— Toma. — Park me estende um cartão quando chega perto de mim. — É o acesso para o quarto. Ficaremos no mesmo andar, mas certamente em quartos distintos.
— Não sei se me sinto confortável com o senhor pagando por tudo isso — falo, mas é mentira. Porque por dentro eu estou: "Isso, me banca mesmo. Pra compensar os danos morais que me causou ontem''. — A passagem... Agora a hospedagem...
— Dinheiro não é um problema — garante. — Além do mais, você é meu convidado.
Olho nos olhos violetas, mas como sempre estão em qualquer lugar, menos nos meus.
— Por quê? — quero saber. — Por que faz tanta questão de me ter ao seu lado?
Jimin pigarreia e pega a minha mão, colocando o cartão nela antes de me dar as costas.
— Vou subir, fique aí se quiser.
O vejo se afastar de mim. Olho para o cartão preto na minha mão e suspiro, seguindo o CEO até o elevador dourado.
Todo o chão da recepção é coberto por um carpete azul escuro. É bonito, mas não deve ser nada fácil de limpar. Não sei porque reparei nisso.
— Andar Deluxe — uma mulher, cujo uniforme tem as mesmas cores do hotel, diz quando as portas se abrem no, que julgo ser, último andar. — Bem-vindo novamente, Sr. Park.
— Grato — o dito cujo agradece e sai da caixa metálica com passadas determinantes; como sempre anda.
Eu o sigo pelo extenso corredor que, apesar de longo, contém apenas quatro portas. Quatro quartos.
Ele para próximo as duas últimas portas, que ficam de frente uma para a outra, e me olha.
— Seu quarto. — Aponta para uma delas. — Eu vou descer daqui a pouco para jogar, fique a vontade para fazer o que quiser. Pode usar qualquer espaço do hotel, está tudo por minha conta.
Queria perguntar o que significa quando diz que vai jogar e perguntar também porque faria isso faltando poucas horas para o comitê, mas não pergunto. Não porque não sou tão ousado ou curioso, mas porque ele entra no quarto logo depois que diz isso, fechando a porta praticamente na minha cara.
O quarto dele é exatamente de frente para o meu.
Eu deixo outro longo suspiro escapar, talvez que deixasse explícito meu cansaço (mental, não físico) e me viro para a porta do que seria o meu quarto. Ergo o cartão preto e basta aproximá-lo da trava, então a pequena luz vermelha fica verde indicando que está liberado.
Não conheço ninguém, não sei como me comportar, ou o que falar e o que não falar. E se Park Jimin continuar me evitando como está, vai ser uma viagem caótica.
Entretanto, sei que não posso exigir nada. Não vindo dele, pelo menos. Nunca. Porque ele é um Cupiditatem e Cupiditatens fodem com tudo.
E sempre vai ser assim.
O quarto é majestoso.
Na verdade, nunca na minha vida imaginaria passar uma única noite num lugar como esse. Nem se compara ao meu simples quarto.
Logo que se entra, ao lado direito, há uma porta branca. É um banheiro fabuloso. E é tão espaçoso que até banheira tem. O box é todo de vidro, assim como a pia quadrada – essa que fica em cima do mármore branco. Há muitas toalhas na cor preta dobradas, e elas cheiram a flores assim como todo o cômodo.
E sei disso tudo porque, assim que entro no quarto e fecho a porta, vou direto para o banheiro; estou morrendo de vontade de fazer xixi. Só de fato olho o restante do quarto quando saio, minutos depois.
Logo depois que passo a porta do banheiro a visão do quarto em si se expande, e então consigo ver tudo o que há nele. Encostada na parede, a enorme cama de casal está perfeitamente arrumada. Em cada lado dela tem uma mesinha com abajur. Na parede oposta uma gigante televisão plana está presa nela, bem no alto.
Há uma pequena geladeira também, em um dos cantos. E a parede paralela a cama é toda coberta por uma cortina. Quando me aproximo, curioso do jeito que sou, e afasto um pedaço do material grosso e pesado, noto que toda aquela parede é feita de vidro.
Com vista para o mar.
Fico encantado. Fico um tempão admirando. Mando mensagem para Namjoon avisando que cheguei e ele me responde imediatamente. E briga comigo quando descobre que estou no quarto em vez de estar aproveitando o lugar.
Nós temos algumas horas antes do comitê, eu, definitivamente, não vou ficar dentro do quarto – apesar de muito bonito e agradável – sabendo que tenho todo aquele mar lá fora.
Mar e sol.
Eu resolvo não levar nada além da roupa que está no meu corpo. Deixo, inclusive, meu celular para trás.
No saguão de entrada tento me localizar, mas acabo me perdendo na beleza do lugar e também perdendo alguns minutos admirando os arredores.
O balcão da recepção logo na chegada, o acesso ao bufê logo à direita, o acesso ao salão e bar ao meio, e à esquerda o elevador para os quartos e o salão de jogos.
Salão de jogos.
Eu tento evitar a minha ida até lá, porque talvez eu não queira ver Park Jimin no momento, mas meus pés me conduzem até a porta dupla de madeira escura.
Sou recebido por um homem elegante de sorriso encantador que pergunta se preciso de ajuda. Eu nego com a desculpa de que estou apenas dando uma volta e continuo andando pelo espaço.
A iluminação cai comparada ao saguão, então luzes coloridas se fazem presente. O espaço é grande, dividido entre jogos de mesa – que são separados do restante por uma parede grossa de vidro, provavelmente para que os jogadores não sejam afetados pelos ruídos –, jogos em máquinas eletrônicas barulhentas e pista de boliche ao fundo. Bem ao fundo.
É onde encontro meu chefe.
De todos os jogos aqui presente, não achei que Jimin se interessaria por boliche. Quero dizer, ele tem muito mais cara de gostar de jogos complexos como Poker ou Blackjack.
— Seus sócios devem amar saber que você os deixa esperando por causa de boliche — digo alto, chamando a atenção do Cupidi quando chego perto o suficiente para que me escute.
Jimin interrompe uma jogada por um instante ao ouvir a minha voz, mas a conclui segundos depois. Ele se vira de frente para mim antes mesmo da bola chegar nos pinos. E quando ela chega e todos vão ao chão, os olhos violetas estão grudados em mim.
— Eles não sabem — diz, tocando os lábios grossos com o dedo indicador. — Guarda esse segredo para mim?
Cruzo os braços.
— O que faz aqui, Sr. Jeon? Não sabia que apreciava jogos. — Vai até a esteira de bolas enfileiradas.
— Não gosto muito, confesso. — Olho em volta. — Mas aqui até que é aconchegante.
Ele sopra um riso.
— Certo... — solta baixo, virando de costas para mim.
Enquanto se concentra e se prepara para jogar, reparo em como não perde a postura impecável nem mesmo em seu momento de lazer. Ele inclina o corpo, escorrega os pés sobre o piso de madeira e solta a bola, que desliza com maestria até o final da pista e derruba, mais uma vez, todos os pinos.
— Esse jogo tem alguma graça para você se acerta tudo? — indago quando se vira de frente para mim outra vez.
— Essa é a graça, Jeon. — Passa a língua entre os dentes.
— Exibido.
— Sim. Esse é o objetivo. — Engulo em seco. — Porque sei que tem pessoas, como aquele grupo do outro lado, que estão me assistindo agora.
Desvio os olhos dele para o grupo de pessoas bem afastado de nós, mas que algumas delas não tiram os olhos de Park.
Jimin está se exibindo para elas.
E isso não me surpreende, porque sentem prazer em se exibir.
Mordo de leve o lábio inferior e desvio os olhos, indo devagar até o sofazinho preto acolchoado de frente para a pista que o enólogo está. Cruzo os braços e as pernas, vendo Park erguer uma das sobrancelhas de maneira sutil.
— Continue, Park.
Estreita os olhos.
— Vai ficar me olhando?
Não é isso que você quer?
— Achei que quisesse se exibir. — Ergo um pouco o queixo, encarando o homem parado à minha frente. — Mas posso ir embora...
Ele para de me olhar. Sem dizer nada, vai até onde as bolas estão. Quando pega uma, solta uma risadinha astuta.
— Sabe jogar?— e pergunta.
— Não como o senhor.
Se afasta da esteira e me olha.
— Me acompanha?
Não. Tenho que te manter longe. Bem longe.
— Tem certeza? — pergunto.
— Por que não teria? — Alisa a esfera brilhante e verde. — Se não quiser, basta dizer. Sei que deve ser intimidador enfrentar alguém tão bom como eu.
Meu estômago se remexe em agonia. Como alguém consegue ser tão assim como Park Jimin?
— Tsc!
Fico de pé e vou até onde está.
— Acho que não deixei claro o suficiente. — Chego ainda mais perto, quase colando a boca na orelha dele. — Você não me intimida, Cupidi.
Eu tomo a bola da mão dele, caminhando com o peito estufado até perto da linha demarcada no chão. Sei que não tenho a mesma técnica e elegância que Jimin ao executar uma jogada, mas dou o meu melhor. O último pino só cai porque outro bateu nele, balançando de um lado para o outro antes de ir ao chão.
Quando me viro e fito o enólogo, há um sorriso moldando os lábios carnudos.
— As vezes me questiono se o senhor é, de fato, um Amare — ele diz. — Você se comporta como um Cupiditatem.
— Eu finjo, Sr. Park.
Enfia as mãos nos bolsos da bermuda.
— Mas e aí? — mudo de assunto, apontando para a esteira. — Eu sei que não tenho chances de te derrotar, mas vou te dar uma dor de cabeça. Vai ser divertido.
— Eu aceito o desafio.
Na verdade, não é um desafio para ele. Ele é preciso nas jogadas. Não erra uma. Mas a gente se distrai. Eu erro mais do que acerto, o que arranca risadas dele. Não por causa dos erros, mas pelas palavras nada bonitas que saem da minha boca sempre que jogo para o lado oposto ao que queria.
Eu sou péssimo em boliche.
— Aqui, deixa eu te mostrar.
Eu só percebo o quão perto está quando toca minha cintura. A respiração bate no meu ombro e constato que está mesmo muito perto.
— Se importa? — A mão sobe para a minha costela, tocando de maneira sutil.
Você deve ficar longe.
— Não — digo baixo. — Me mostra.
O toque se torna firme. Me faz fechar os olhos por dois segundos. Então me pergunto se seria estranho se eu pedisse para que chegasse mais perto e me abraçasse de fato.
— Concentre seu peso nessa perna — diz por cima do meu ombro, segundos depois sinto a mão livre tocar a lateral da minha coxa. — Só nessa. Com a outra você estabiliza o corpo e a jogada.
— Uhum.
É a única coisa que sou capaz de dizer no momento.
Volta a segurar a minha cintura, e com a outra toca o pulso da mão em que seguro a bola.
— Relaxa o braço. Não é ele que move a bola, é a bola que conduz ele. Você só solta. — Ele puxa meu braço para trás com gentileza e solta, e o peso da bola faz com que meu braço relaxado continue balançando. — Não jogue-a, apenas solte-a.
Força minha lombar e eu saio do lugar ao andar, perto da linha da pista eu foco todo o peso em uma perna e solto. A bola não cai, ela desliza. Ela faz uma leve curva que não a faz acertar o meio, mas todos os pinos caem em algum momento.
— Não foi ruim.
Me viro para ele, ajeitando a postura.
— Será que é o professor que é bom em ensinar ou o aluno que é bom em aprender? — provoco, cruzando os braços.
Jimin nega com a cabeça, enfiando as mãos nos bolsos da bermuda branca. Então ergue os ombros de leve.
— O professor, óbvio — se gaba.
— Claro, claro, Sr. Park. Créditos totais a você, então. — Aponto para trás. — Sua vez.
Me afasto para que tome o lugar na frente da pista. Me aproximo do sofá, mas não me sento. Park pega uma das bola, mas não vai para perto da pista logo.
— Mas devo admitir que o aluno tem uma grande parcela de culpa nisso — diz naquele tom que sempre me surpreende. Ele não me olha, mas há um sorriso ladino nos lábios gordos.
— Eu sei disso, senhor. Só queria babar o seu ovo.
Jimin, então, solta uma risada sincera.
Gostosa.
Eu me perco nas feições. Me perco na delicadeza que joga a cabeça para trás. Na melodia que é sua risada espontânea. Na maneira como seus olhos se fecham ao gargalhar.
O som me derrete. Me faz querer continuar escutando, porque tenho a impressão de que me sentiria calmo em dias caóticos ao mesmo tempo que eufórico em momentos de calmaria. Como se, nesse instante, a risada dele tivesse se tornado o meu som favorito.
Mas aí meu sorriso vai diminuindo. Diminuindo até sumir. Meu estômago gela, vibra. Engulo em seco, de repente me sentindo um otário. Um idiota. Um inocente.
Um bobo.
A cena de um Jimin desarranjado em seu escritório na companhia de outra pessoa me faz voltar a realidade. As coisas não são tão simples. Jimin não é simples. "A gente" não é simples.
Nem real. Nem possível. Nem natural.
Mas é tarde. Eu sei que é tarde. Porque já me sinto nervoso quando estamos perto. Me sinto agitado quando me olha de verdade. Quando me toca. As coisas já saíram do controle.
Já.
Vejo Jimin parar de rir aos poucos, controlando a risada com elegância e delicadeza. Sem pressa. E aí ele passa a língua entre os lábios, prendendo o inferior entre os dentes de leve. O sorriso é atrevido, malicioso, sugestivo, com certeza com segundas intenções. Mas o loiro não me olha.
A atenção está naquelas pessoas no canto do salão de jogos das quais ele estava exibindo quando cheguei. Mas uma em específico fleta de volta.
Limpo a garganta ao forçar um pigarro.
— Cansei de jogar. — Ele enfim me olha, ainda sorrindo. — Eu vou... — Coço a nuca, desviando os olhos para qualquer outro lugar que não seja os violetas dele. Porque me incomoda um pouco. — vou subir. Pra me arrumar.
— Certo.
Me viro.
— Foi bom jogar, você joga bem — diz, preenchendo o silêncio que causei ao não dizer nada.
— Também me diverti. — Sorrio de lado mesmo que não possa ver, me afastando. — Não se atrase, está bem?
Eu não escuto mais sua voz, não sei se devido a distância, ao som alto ao nosso redor ou ele só não diz nada mesmo. Não olho para trás para ter certeza, apenas cruzo os braços na frente do corpo ao me abraçar e continuo andando mesmo depois de sair do salão de jogos.
Encaro meu reflexo no espelho do elevador dourado e sinto meus olhos arderem, segundos depois se enchem d'água. A cor me encanta, ao mesmo tempo que me assusta.
E machuca.
— Merda, Jungkook. O que você fez?
🍷ི꙰͝꧖๋໋༉◈
E aí, anjos! Como vocês estão?
Muitas coisas rolaram hoje hahaha a viagem aconteceu e já começou caótica. E a 12° Taça é a continuação desse caos
Principalmente porque o JK está começando a perceber o quanto gosta da presença de Jimin, apesar de saber que nunca será amado por ele. E que episódios como o que rolou no escritório serão comum (até porque Jungkook já trabalhou como secretário de um Cupidi antes, ele sabe como as coisas funcionam)
O Nam disse que juntaria todos os pedaços do coração dele, mas será que consegue? Porque, assim como Jimin, Namjoon também é um Cupiditatem
Mas enfim, é isso por hoje
SPOILER: posso dizer que as coisas vão esquentar no próximo capítulo. Em qual sentido? Não sei. Aguardem
Minha conta no Instagram é @dan_kyunsoo, direto ando soltando spoilers e novidades lá
Se amem. Se cuidem. Se hidratem. Se protejam. Amo vocês 💜
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