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Capítulo 5

A imagem acima é uma edição de duas artes. A primeira é do quadrinista Will Eisner e o segundo é da artista brasileira Syunoi.
Ambas as artes serviram de inspiração para este capítulo.
Tenham uma boa leitura.

LINDA

O sinal tocou dando fim a última aula da semana. A classe se agitou ao guardar seus materiais, ao passo que permaneci sentada com os olhos atentos no papel a minha frente. Eu tinha conseguido me matricular em Pintura e Desenho sem maiores problemas, e após o primeiro mês intenso na Roads, aquela aula nas sextas-feiras era um refúgio para minha mente cansada.

Naquele dia o professor havia passado um exercício para a turma. Teríamos que fazer um desenho livre, porém, usando as técnicas de lápis carvão ensinadas por ele. Não poderíamos cobrir com tinta ou qualquer outro material, apenas o carvão.

Logo me veio à mente os livros de quadrinhos que Shari tinha me presenteado. Fiquei encantada com o traço de Will Eisner. Achei tão autoral! A forma com que ele retratava os prédios, as pessoas, os carros, enfim, o cotidiano da vida urbana, era único! Suas histórias passaram a ter muito significado agora que eu vivia numa megalópole. Cada vez que eu percorria pela cidade de São Paulo, ficava fascinada com os exageros. Toda minha vida tinha sido no sertão e eu achava lindo o cenário da minha terra. Eu amava desenhar os arbustos espinhentos, as árvores de troncos distorcidos e o azul do céu. Eu até tinha um caderno repleto de cajueiros e diversos modelos de casinhas de pau a pique! No mais, apesar de ser interiorana, quando sobrava algum dinheiro, eu enfrentava duas horas de ônibus para ir a Fortaleza e me banhar no mar. Ou seja, eu sabia como era uma cidade grande. Sabia como desenhar prédios altos e ruas asfaltadas. Contudo, São Paulo não se comparava a outras grandes cidades sul-americanas no quesito de hiper urbanização. Tudo acontecia ao mesmo tempo naquele lugar: o feio e o bonito, os protestos, as comemorações, a cultura, a pluralidade, etc.

E esse caos do cotidiano paulista serviu de inspiração para o meu trabalho.

Todos os dias da semana, quando o motorista me levava e buscava na escola, passávamos por uma rua larga no centro velho. Lá havia uma construção de esquina abandonada. Percebia-se que no passado o sobrado era algum estabelecimento comercial, talvez um restaurante ou um bar de salão grande. As pixações atuais davam um ar decadente assim como as portas de enrolar, que estavam enferrujadas. Por cima tinha mais dois andares de janelas grandes e a fachada com colunas modernistas.

Aquele lugar me intrigava muito! Por isso decidi que o desenharia.

A tarefa não era para ser finalizada naquele dia, mas decidi ficar mais alguns minutos para adiantá-la. O professor de artes não se importava que os alunos ficassem no ateliê depois da aula.

Distraída com meus primeiros traços que já criavam uma forma, curvei-me para o lado direito e tateei por dentro da mochila em busca da minha necessaire. Encontrando-a, abracei-a com um braço, abri o zíper e peguei o brilho labial. Shari não gostava que eu ficasse tirando as pelinhas ressecadas com os dentes, pois geralmente, me feria sem perceber.

Passei o gloss sem tirar os olhos da folha papel e notei que talvez seria interessante aumentar a quantidade de fios dos postes para dar um ar mais decadente àquela ilustração. Mas quando me inclinei para analisar melhor de perto, a necessaire escapuliu do meu braço e foi direto ao chão. Uma grande tensão pesou em minhas costas e vergonha queimou minhas bochechas. Imediatamente me coloquei de pé, notando que não havia mais ninguém na classe, com exceção de Lauren, que estava sentada à minha direita.

Nós duas não éramos do mesmo ano de matérias obrigatórias, ela era um ano mais velha do que eu e estava na classe de Nico, mas vivia grudada em Pedro e na sua trupe de amigos idiotas. Filha de um executivo norueguês, sua mãe era escocesa. Porém ela havia nascido em Luxemburgo. A menina conhecia o mundo e fazia questão de que todos soubessem da sua vasta bagagem cultural. Por algum motivo, ela agia de forma cínica comigo. Eu sentia notas de maldade por trás de seus comentários engraçadinhos, seguidos por uma risadinha irritante, sempre cheios de duplo sentido e diminuição.

A minha necessaire havia caído com a abertura virada para baixo. Aparentemente não revelava nada demais, entretanto, quem estivesse atento a cena que acontecia, conseguiria ver um pouco daquilo que eu carregava comigo o tempo todo.

Rapidamente agachei no piso frio e capturei a bolsinha com as duas mãos, jogando-a de qualquer jeito dentro da mochila. Com o coração a mil, dei uma olhadela para o lado e vi Lauren sorrir com superioridade. Droga! Ela nem precisou de palavras; sua expressão mostrava que tinha visto o meu segredo e que agora tinha algo contra mim!

Voltei a dar atenção ao meu desenho torcendo para que a menina arredasse o pé dali logo. Mas ela continuou no mesmo lugar, e mesmo que minha cabeça estivesse curvada diante do papel, eu sabia que ela me encarava.

Já sem tanto entusiasmo, comecei esfumaçar um céu nublado com o carvão e os meus dedos. Embora minhas unhas estivessem se sujando, não me importei porque o resultado ficaria incrível. Além disso, Ami e eu tínhamos manicure marcada para aquela tarde. Isso seria depois do nosso almoço, no restaurante de seus pais, onde eu seria introduzida a comida japonesa. Diga-sede passagem, minha intuição dizia que meu paladar de pobre não se acostumaria com peixecru logo na primeira vez.

Devido ao silêncio absoluto ao redor, a apreensão foi se esvaindo e fui me concentrando na atividade novamente. Quando eu já tinha me esquecido que Lauren estava por perto, escutei uma voz conhecida.

— Ei, vai ficar aí parada? A aula já terminou!

Ao ouvir Pedro, levantei a cabeça no impulso. Nossos olhares se cruzaram e, por um segundo, pensei que ele tinha dirigido a palavra a mim.

— Eu sei. Estou indo. — Lauren respondeu num tom tedioso e imaginei ela revirando os olhos, como costumava fazer. — Só vou guardar meu material.

Então avistei Rup alguns passos atrás Pedro. O loiro era o único da trupe dos almofadinhas que, quando passava por mim, cumprimentava. Eram gestos sutis, um tímido menear de cabeça e um pequeno sorriso. Porém, o bastante para que eu o diferenciasse dos demais.

Assim que os dois garotos começaram a vir em nossa direção, abaixei a cabeça para cuidar da minha vida.

— Pronta para o fim de semana? — Pedro perguntou.

— Prontíssima! — sua empolgação repentina me fez dar uma espiada ao lado, a tempo de vê-la saltar da cadeira e se agarrar no pescoço do primogênito dos Oliveira Rizzo. Ele a abraçou pela cintura com naturalidade e ela deu um selinho na boca dele. Imediatamente voltei para meu desenho sentido o coração se apertar. — Finalmente vou conhecer a famosa fazenda da família do Alejandro. Vocês falam tanto desse lugar!

— Está levando o repelente? — ele fez outra pergunta.

— Esqueci, mas uso o seu. — Ouvi um estalo do que imaginei ser um outro selinho. Eu queria me desligar da cena que acontecia bem do meu lado, mas, mesmo rabiscando o papel, estava impossível obter tal feito. Lauren prosseguiu a falar, dessa vez num tom manhoso e enjoado. — Só acho chato termos os pais do Alejandro por perto.

— Somos menores de idade, Lauren. — Rup entrou na conversa. — Eles têm que estar por perto.

— Quanta bobagem! Não somos mais crianças! — Lauren riu sua risadinha irritante. — Mas tudo bem. Só espero que você, Pedro, me dê a atenção que me prometeu!

Rabisquei um pouco mais forte os fios dos postes. Que atenção era essa que ela receberia dele? O que ela tinha em mente que não queria adultos por perto? Por que eu estava tão preocupada com isso?

— O desenho está ficando muito bom. — Escutei a voz séria de Rup que, de repente, estava materializado à minha esquerda, o lado oposto do casal beijoqueiro.

Ótimo! Agora eu estou cercada pelos inimigos!

Enquanto Lauren engatava uma conversa com Pedro, continuei em meus traçados sem querer falar com Rup, mas o garoto loiro insistiu em puxar papo comigo.

— Nem Pedro e nem Nicolas fizeram a gentiliza de nos apresentar. Sou o Ruprecht.

Ainda com a cabeça baixa, lancei um olhar para ele, que sustentava um semblante sereno e nem um pouco intimidante. Amigável até!

— Meu nome é Linda.

— Eu sei. — Sorriu. — Gostei do seu desenho.

— Obrigada.

Obviamente Lauren tinha que intervir.

— Olha só a jagunça conseguindo arrancar um elogio do Rup! — já era a terceira vez que ela me chamava assim e eu estava morrendo de medo do apelido pegar.

— É realmente um bom desenho. — Ele ignorou o comentário de Lauren e apontou para um pequeno caderno que estava sobre a minha mesa. — O que é isso?

Por instinto, soltei o carvão e coloquei a palma da minha mão sobre a capa vermelha que imitava couro.

— Não é nada! São só folhas de papel com adesivos colados!

Rup deu um pequeno sorriso e antes que conseguisse dizer alguma coisa, fomos interferidos outra vez.

— Ah, a jagunça é mesmo uma gracinha! Ela usa saia pré-escolar e faz art journal! — Lauren riu alto novamente.

Olhei na direção oposta, onde estava o casalzinho, e tive vontade de acertar meu caderno na cabeça daquela menina risonha. Melhor ainda se eu pudesse puxar seus cabelos e lhe arrancasse um chumaço de suas luzes platinadas. Mas, ao vê-la de mãos dadas com Pedro, bateu-me um imenso desânimo, pois até então eu tinha certeza de que nunca seria a sortuda que um dia estaria no lugar de Lauren. Meus dedos nunca ficariam entrelaçados aos dedos dele, nunca saberia qual a sensação das nossas palmas unidas e muito menos o gosto de seus beijos. Meu coração, que já estava entristecido, se amargurou. Pela primeira vez na vida tive inveja de alguém.

Talvez Pedro tenha percebido o que me acontecia, porque no mesmo instante soltou a mão da sua garota. Então olhei para ele, unicamente só para ele, e não vi a impavidez que eu costumava ver em seu rosto. Por alguma razão ele parecia envergonhado, me arriscaria a dizer até mesmo pesaroso.

— Eu acho tudo legal. Gosto dessas artes em adesivos... — Rup falou, me fazendo encará-lo novamente. — e também gosto da saia.

Minha reação natural foi ficar envergonhada, mas ao ver seu sorriso, sorri de volta mesmo que minhas bochechas estivessem pegando fogo.

Não notei malícia em sua fala, pareceu-me que foi uma sinceridade espontânea, daquelas que a gente diz sem pensar. Entretanto, foi bom receber um elogio de um garoto. Fez bem para minha autoestima.

— É... as saias do uniforme são legais. — Tive que concordar, pois finalmente eu tinha tomado coragem de usá-la de novo.

— Quem sabe a moda pega.

— Tomara.

Rimos juntos.

— Está pronta, Linda? — a voz de Ami veio da porta.

Avistei a minha amiga sisuda demais, alternando olhares entre os outros três que estavam ali comigo.

— Só um instante. — Falei e comecei a juntar meu material o mais ágil que conseguia.

Assim que guardei tudo, me coloquei de pé, jogando a mochila nas costas e, em seguida, limpando meus dedos sujos de carvão num guardanapo. Dei um tchauzinho tímido para Rup, que me retribuiu com um meneio de cabeça, já não sorrindo mais. Ele tinha voltado a ficar sério, relançando algumas encaradas na direção de Ami.

A situação estava estranha, por isso, apressei os passos.

— Bom fim de semana, Jagunça. — Quando ouvi Lauren se despedir de mim, não aguentei. A lambisgoia estava com as asinhas soltas demais para meu gosto!

Olhei para trás e, sorrindo, falei:

Pra você também, Raimunda.

— Esse não é o meu nome! — exclamou em inglês e em tom defensivo.

— Não me importo. — Rebati em português, já de costas.

Logo enlacei o meu braço ao de Ami e saímos dali.

Enquanto andávamos pelo corredor da escola, notei que minha amiga estava muito quieta, pois ela havia demonstrado animação com nossos planos para aquela sexta-feira durante a semana inteira.

— Por que está tão séria, Ami?

Minha pergunta a fez enrijecer o corpo, mas sem parar de andar, ela respondeu:

— Fique longe daqueles garotos.

— Tudo bem. — Concordei sem questionar, porque não sentia que estava em meu alcance tentar amizade com a trupe dos almofadinhas. Porém, logo pensei em Rup, que tinha sido gentil comigo. — Até do alemão tenho que manter distância?

— Principalmente dele! — Ami interrompeu os passos, olhando-me duramente.

— Mas o cabra me parece ser gente fina! — lamentei.

— O alemão é o pior deles. — Houve um leve tremor em sua voz.

— Ok, então.

Concordei mais uma vez, no entanto, fiquei preocupada. Ami era sempre leve, calma e segura em muitas questões. Jamais pensei que se amedrontaria só de me ver rodeada pela turma mais popular da escola.

Aquilo tudo era muito estranho.

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