Capítulo 20 parte 1
LINDA
Quando restou apenas Pedro e eu na cozinha, ficamos em silêncio por um tempo, a poucos passos de distância um do outro.
Não havia nada de reconfortante no olhar que ele lançava a mim. Seu rosto transmitia fúria, como se eu fosse a responsável do que tinha acontecido.
— Por que não quis que eu chamasse os pais do Alejandro e a polícia? — perguntou baixo, possesso de raiva. — Ao menos pretende fazer uma denúncia?
— Não quero escândalo.
— Ah, é? — riu com desgosto e ironia, o cabelo bagunçado caindo na testa.
— É. — Sussurrei. — Não quero escândalo.
Ele estreitou os olhos.
— Por quê? Por acaso se sente culpada?
Incrédula com a pergunta que ouvi, dei um passo para trás, entretanto, por mais que eu estivesse me sentindo mal, consegui erguer meu queixo.
Pois eu não seria julgada por ele! Nem por ninguém!
— Vá se lascar, Pedro! — odiei o fato de não conseguir xingá-lo com um palavreado mais pesado.
Virei rápido em direção ao interior do casarão. Em segundos eu já estava subindo a escada que levava aos quartos no segundo andar. Minhas pisadas duras nos degraus de madeira ressoaram altas e compassadas.
— Ei, Linda! — escutei-o quando alcancei o topo.
Dei uma olhadela para trás a tempo de ver o infeliz subir de dois em dois degraus. Voltei a andar com raiva e louca para socar alguma coisa. Faltava pouco para que eu alcançasse o quarto em que Ami e eu estávamos hospedadas quando meu braço foi segurado. Por impulso, virei de frente para ele e empurrei seus ombros.
— Qual é a sua, hein, Pedro? Me defende e depois vem jogar a culpa pra cima de mim?
Antes que ele conseguisse dizer alguma coisa, ouvimos passos na escada e risos. Pedro agarrou meu punho e, com rapidez, abriu a porta de um dos quartos, nos arrastando para dentro. Assim que fechou a porta, ficou de frente para ela, com as mãos apoiada na madeira e cabeça abaixada. Ele respirava fundo como se estivesse pronto para explodir. Infelizmente, eu só descobriria anos mais tarde que aquela reação fazia jus a sua idade, sendo nada mais que um adolescente tentando controlar as emoções diante de uma situação delicada. No momento em questão, não entendi seu comportamento. Por isso, dei um passo para trás. Assustada por ter sido arrastada a um cômodo minutos depois de ter sofrido uma violação.
— Você é inocente demais — sussurrou ainda com a cabeça baixa.
— E isso é um problema? — atrevi-me a retrucar mesmo com a voz tremida.
Ele virou a cabeça para o lado e, ao me ver amedrontada, fez um esforço para suavizar a face.
— Não, Linda, isso não é um problema. — Surpreendentemente respondeu manso, o que me acalmou um pouco.
Devagar, ele endireitou o corpo e deu as costas para a porta. Também esfregou o rosto com as mãos, passando-as pelo cabelo em seguida.
— Me desculpa. — Encheu os pulmões e soltou o ar com uma baforada forte. — Nunca tive que lidar com esse tipo de situação.
Cerrei a boca para evitar dizer que estava tudo bem, que eu o compreendia e desculpava. A verdade era que se eu aceitasse sua desculpa, não viria do meu coração. Seria mais pelo instinto de não querer encarar conflitos e ter paz, mesmo que essa "paz" custasse a minha dignidade e o meu livre-arbítrio de expressar.
Permaneci em pé, vendo-o se sentar na cama de casal. Então olhei ao redor. Eu tinha ouvido que aquele era o quarto em que Pedro ficava todas as vezes que visitava a fazenda dos Rosado. Não pude controlar o ciúme — fora de hora — ao pensar em quantas garotas ele provavelmente tinha levado para aquele lugar. Eu ainda me lembrava com nitidez do dia em que ouvi Lauren comentar sobre o final de semana que passaria na fazenda. Senti o estômago se contorcer, imaginando os dois trancados ali dentro.
— Só me relacionei com meninas que deram consentimento. — Voltou a falar, falsamente pacífico. — Nunca vi meus amigos serem inconvenientes, incluindo o Alejandro que é o mais sem noção.
— Entendi — Falei seca, não querendo render o assunto.
Infelizmente, ele não percebeu meu incômodo e continuou:
— Mas odeio quando Hermann está por perto. Sempre odiei jeito que ele comporta quando vê meninas novas. O cara deveria estar saindo com gente da idade dele, com universitárias. Mas ele fica ao nosso redor, procurando uma oportunidade de se envolver com menores de idade. — Ainda com os braços sobre as pernas, ele cerrou os punhos. — Eu quero matar aquele cara!
— Não! Você não quer — deixei escapar.
— Por quê? Já matou alguém por acaso? — levantou a cabeça com um sorriso irônico. Apenas o encarei. Ele deve ter presumido que me ofendi com sua rispidez, e eu deixei que ele pensasse assim. — Desculpa. Mais uma vez fui estúpido.
— Tudo bem. — Suspirei, me virando em direção a porta. — Vou indo.
— Você está bem para voltar lá fora?
— Não vou voltar para a fogueira. A festa acabou para mim.
— Não precisa ir dormir.
Ainda de costas para ele, ri sem vontade.
— Vou ligar para meu motorista. Voltarei para minha casa.
— Não. Não vá. — Foi impossível não notar o toque de agonia e derrota em seu tom, com isso, não resisti a vontade de virar para encará-lo outra vez. Pedro havia se levantado e parecia inseguro. — Hermann não está aqui e seu motorista deve estar dormindo agora.
— Estou sem clima pra socializar, Pedro. Eu não quero... droga! — xinguei quando me lembrei da minha amiga. Ela estava tão feliz. — Tem a Ami!
Talvez consiga convencê-la a ficar, mesmo eu indo embora.
Fiquei matutando, com o olhar vago, e procurando uma solução quando, de repente, vi Pedro bem na minha frente. Perto demais a ponto de deixar meu coração acelerado.
— Então fique — pediu baixo com suas mãos subindo e repousando em meu rosto — fique, por Ami. Fique — ele engoliu em seco. O brilho dos seus olhos tão evidente — fique por mim. Se não quiser ver ninguém, tudo bem. Você pode ficar aqui no quarto — seus dedos acariciaram minhas bochechas — Eu te faço companhia e a gente pode conversar, ou não. Se não quiser falar nada, está tudo pra mim.
— Ami vai estranhar meu sumiço. A gente prometeu que uma não deixaria a outra por muito tempo.
— Ela não vai ficar sozinha. Posso mandar uma mensagem para o Rup — ele sorriu com charme — Já que eles estão juntos o tempo todo, não é mesmo? Você fica?
Se eu ficasse, pessoas saberiam que tínhamos passado noite no mesmo quarto. A fofoca rolaria solta pelos corredores da Roads. E se isso chegasse aos ouvidos dos meus pais... bem... se chegasse aos ouvidos dos meus pais... eu... ah! Se chegasse, eu veria o que fazer!
A verdade era que eu queria muito a companhia de Pedro.
Então, olhei bem para seu rosto bonito tão perto do meu, absorvendo tudo daquele momento. Ter ele insistindo por minha presença me fez sentir especial.
Pedro era imaturo, mas nunca seria uma ameaça a minha integridade.
— Fico com uma condição.
— Qual?
— Você não pode me tocar.
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