LINDA

Naquele sábado, Ami dormiria na minha casa. Já de noite, estávamos na sala de tevê. La La Land passava na tela, porém mais papeávamos do que assistíamos o filme. De repente uma luz começou a piscar do meu lado esquerdo, era o meu telefone. Nem cogitei que seria outra pessoa além dos meus pais, por isso, estiquei o braço para pegar o aparelho e quando estava prestes atender, olhei para a tela.

O balde de pipoca que estava em meu colo pulou, caindo direto no chão. De pé, só conseguia encarar o único nome capaz de causar confusão ao meu mundo: Pedro.

Meio segundo depois, Ami estava do meu lado com pescoço esticado e olhar curioso em minhas mãos para ver o que tinha me causado tal reação.

— E aí, vai atender?

Apenas gesticulei que sim antes de aceitar a chamada.

— Alô? — minha entonação de pergunta soou idiota. Tive vontade de me socar.

— Oi — Ouvindo sua voz, pude imaginar que, apesar de um pouco tímido, ele sorria.

— Oi — Devolvi o cumprimento com o olhar fixo no rosto curioso de Ami.

— Obrigado pelo quadro.

— Ah, não foi nada demais — Abaixei minha cabeça para não ter que encarar o sorriso espertalhão que minha amiga deu.

— Foi sim. Você tem talento.

— Eu, ahn... obrigada.

Ficamos um tempo em silêncio. Eu olhava para o tapete e meio que "chutava" os pelos macios os dedos do pé direito.

— Pensei que viria aqui.

— Achei melhor que fosse um momento só dos garotos, já que estou convivendo muito com vocês.

— Bobagem. — Quando abri a boca para retrucar, Pedro continuou: — Depois da Fair Food vamos à fazenda do Alejandro. Falei com o tio Luís e ele disse que deixaria você ir. Se quiser, é claro.

— Ah, eu... — Ele perguntou meu pai antes? Fiquei mais uma vez sem ter o que dizer.

— Poucas pessoas foram convidadas. Só nossa banda, mais uns caras e algumas garotas da escola. Vamos?

— Não sei... — levantei a cabeça e, olhando para Ami, fiz uma pergunta; — posso levar a Sushi comigo?

Escutei um riso incrédulo.

— Se por algum milagre ela topar, não vejo problema.

— Ela vai! — afirmei enquanto Ami negava várias vezes com a cabeça. — Ela vai sim!

— Quero só ver. — Ele riu. — Então... combinado?

— Sim.

— Vai ser interessante ter Ami de volta a turma. Boa noite, Linda.

— Boa noite, Pedro, e feliz aniversário.

— Obrigado. — Antes de desligar, me chamou. — E Linda?

— O quê?

— Fiquei feliz em saber que você terá irmãos.

— Ah... — Pelo visto, ele já sabia da novidade.

— Era essa a notícia que me daria no dia da excursão, não é?

— Aham

— Fui um babaca, não fui?

— Foi.

— Me desculpa?

Como a apaixonada que eu era, óbvio que eu o desculparia, e seria de coração sincero. Porém o certo seria jogar as claras com ele também, aproveitar a oportunidade para confessar que fiquei magoada por ter se distanciado de mim. Em seguida, eu também falaria sobre os meus verdadeiros sentimentos em relação a ele. Entretanto diria que não precisaria ficar convencido, ou pior, pensar que eu seria uma grudenta carente que não o deixaria em paz. Por mais que meu interesse por Pedro estivesse evidente, seria bom se ele pudesse ouvir da minha boca que eu não tinha interesse em namoros ou rolos. Graças ao acompanhamento psicológico devido a minha adoção, eu tinha noção de algumas coisas. Uma delas era saber que não estava pronta para me envolver com garotos.

Bem, seria libertador se eu pudesse dizer tudo isso de vez só e sem interrupções. Mas, por outro lado, estávamos nos falando pelo telefone, com as guardas abaixadas de ambos os lados.

Ainda por cima era o aniversário dele! Eu não poderia ser tão dura.

Minha sinceridade ficaria guardada para mim mesma.

Então minha resposta foi simples e pacífica.

— Claro.