Capítulo 17 parte 2
LINDA
Enquanto os garotos faziam ajustes no instrumental de uma canção, saí do estúdio para fazer um telefonema para minha casa. Os enjoos de Shari já não eram tão constantes, mas naquele dia ela estava mais indisposta. Eu queria saber se ela havia melhorado, pois seu cuidado estava sendo dobrado devido a gestação gemelar.
Sim! Eu não teria um irmão, eu teria dois!
Ainda não sabíamos o sexo dos bebês, porém essa dúvida não demoraria para ser sanada.
Fiquei aliviada em saber que minha mãe estava se sentindo melhor; deu para perceber só de ouvir a sua voz.
Encerrei a chamada e guardei o telefone no bolso traseiro da calça com um sorriso no rosto. Virei para entrar de volta ao estúdio e parei de supetão ao ver Hermann, o meio-irmão de Rup, me encarando com um olhar esquisito. Ele usava apenas uma bermuda de banho, provavelmente deveria estar tomando sol na piscina.
Ele deu um passo na minha direção e, por instinto, recuei outro. A maneira que seu sorriso crescia não me remetia a coisa boa.
— Gosto quando meu irmão traz suas amigas aqui em casa. — Falou suave, avançando lento.
Quando dei por mim, minha lombar estava encostada na parede. Hermann se aproximou mais, ficando frente a frente comigo. Seus dedos alisaram o meu braço esquerdo, um toque suave, mas nem um pouco bem-vindo. Meu estômago se contorceu de medo e raiva. Eu conhecia esse tipinho de pessoa e, o mais impressionante era constatar que assediadores tinham certas expressões faciais comuns, não importando a classe social que pertenciam.
Meses atrás, Pedro também havia me "encurralado" contra uma parede. Esse episódio aconteceu no dia em que fomos levado para a sala do diretor, devido a brincadeira de mau gosto que fizeram comigo e a reação violenta que tive ao socar o nariz de um colega da escola. Comparando as duas situações, eu notava a diferença. Com Pedro, fui surpreendida com sua ousadia, mas gostei da sua aproximação desafiadora, excitante. Com Hermann foi o oposto. Tive medo.
— Se afaste, por favor. — Pedi baixo, num tom raivoso.
— Por quê? Sei que está gostando. Vi como me olhou na cozinha. — Seus dedos se levantaram para tocar meu braço novamente, mas dei-lhe um tapa na sua mão boba.
— Não viaja, seu imbecil.
Ele riu.
— Que isso, Linda. Não estou fazendo nada demais.
— Você está invadindo meu espaço. — Consegui dar um passo para o lado, a fim voltar ao estúdio. Ele imitou o meu gesto, abaixando o rosto na direção do meu. Uma fúria incontrolável me fez falar mais alto. — Cai fora, Hermann!
Eu estava pronta para chutar seu saco e empurrá-lo nos ombros quando fui interrompida pela presença de uma terceira pessoa.
— O que está acontecendo?
Hermann e eu viramos juntos na direção da voz de Pedro, que mantinha porta do estúdio aberta, lançando-nos um olhar nada legal.
— Só estamos conversando. — Hermann ergueu o corpo e deu um passo para trás.
— Conversando uma ova! — andei até Pedro, pisando duro, porém, aliviada pela chegada dele.
Infelizmente a sensação de conforto se esvaiu quando reparei que ele, meu ex-amigo, não olhava feio para Hermann e sim para mim.
— O Hermann? — ele apontou na direção do "irmão" de Rup, que já se afastava como se nada tivesse acontecido. — Estava dando confiança para ele?
Arregalei os olhos e neguei repetida vezes com a cabeça.
— Não é nada disso...
— O cara é um vagabundo! — interrompeu a minha fala. — Não se iluda por ele ser mais velho e universitário.
— Pedro...
— Pensei que fosse mais seletiva, Linda. — Soltou a frase afiada para me abalar.
E conseguiu.
— Foi isso que você interpretou? Que eu estava gostando de ser importunada?
O certo seria ele me perguntar se Hermann havia feito algo que me chateou. Será que ele não percebeu o quanto eu estava incomodada? E assim que ele apareceu, não percebeu meu rosto mudar para uma expressão de alívio?
— E não estava gostando, Linda?
— Não! — Foi a sua vez de arregalar os olhos. Como ele ousava pensar esse tipo de coisa de mim? Nunca tinha dado margem pra isso!
— O que veio fazer aqui fora? — perguntou ainda com resquícios de desconfiança.
— Liguei para minha mãe. — Respirei fundo, sem medo de me justificar. — Hoje mais cedo ela estava com mal-estar.
— A tia está doente?
Ops!
Foi aí que percebei que tinha dado informação demais. Os Oliveira Rizzo ainda não sabiam da gestação de Shari.
Bom, pelo menos o novo assunto serviu para desfocá-lo do ocorrido com Hermann.
— Só acordou com dor de barriga, mas já está melhor. Nada demais. — Tentei parecer verdadeira, sorrindo de boca fechada, mas sua do frio. — Você deve ter vindo aqui me chamar de volta para o ensaio. Vamos entrar?
Ele apenas gesticulou que sim, em seguida, me deu passagem para que eu entrasse primeiro.
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