Capítulo 12 parte 1
PEDRO
A rotina de estudos extraclasse da Equipe de Matemática se consolidou ao longo das semanas. Esses encontros sempre aconteciam às sextas-feiras na casa de Linda.
Quando nós dois baixamos as guardas, nossa convivência se tornou fácil, descomplicada e boa. Mais do que boa para falar a verdade.
As ficadas com Any se tornaram cada vez mais espaçadas, servindo apenas para satisfazer as vontades sexuais de ambas as partes. Porém, qualquer sorriso que eu conseguia fazer nascer nos lábios de Linda era melhor do que tudo que eu já havia feito de mais sórdido com Any, Lauren e todas as garotas que passaram na minha vida.
A melhor parte disso tudo era que eu tinha mais do que um sorriso da Jaguncinha. Ainda que não fosse o contato físico que eu desejava, meu peito se agitava de um jeito bom com os pequenos avanços da nossa relação. Às vezes eu me atrevia em brincar com o rabo de cavalo que ela sempre fazia quando sentia calor. Passei a sentar ao seu lado durante as aulas de matemática e usava todo pretexto para falar qualquer bobagem em seu ouvido ou roçar nossos braços enquanto trabalhávamos juntos em alguma questão. Sem mencionar as aulas de dança, onde eu podia tocá-la por mais tempo. Várias vezes tive que me segurar para não roubar um beijo daquela garota. Só não o fazia porque se ela me correspondesse, eu nunca mais pararia e a coisa toda ficaria séria.
Para o desespero da minha mãe, Shari não a consultou sobre eu ser o príncipe da festa de debutante. Minha tia apenas anunciou que eu havia aceitado dançar com Linda e minha mãe teve que engolir o desgosto à seco e sorrir. Edna estava ficando boa na arte do fingimento porque, desde então, ela passou a azucrinar a minha cabeça quando estávamos sozinhos. Aos dezessete anos, eu ainda vivia sob uma forte influência dos meus pais, aquilo que eles falavam tinham um peso importante. Adolescentes são rebeldes por natureza, mas, por dentro de suas cabeças, as opiniões próprias entram em combate com as ordenanças dos adultos. Nossos pontos de vista e nossas decisões a serem tomadas têm como base a criação que recebemos, sejam elas de forma consciente ou inconsciente.
Esse era o meu dilema.
Como ter a nossa própria personalidade sem desacatar nossos pais?
Eu queria ser um bom filho. De verdade!
O problema era que minha mãe começou a fazer eu me sentir mal com frequência. Suas palavras e seu modo de agir machucavam um lado meu que nunca imaginei existir.
Entretanto, bastava colocar os meus olhos em Linda que toda minha carga pesada desaparecia. A mais simples interação que essa garota tinha comigo fazia valer a pena toda a convivência opressora de dona Edna.
Então o dia da festa de Linda chegou.
As famílias mais importantes do país compareceram para prestigiar os Montenegro. Ninguém ali parecia importar que, como num passe de mágica, Shari e Luís tinham uma filha adolescente. Todo o preconceito escorregou goela abaixo porque seria estupidez se indispor com gente tão poderosa. Foi divertido ver a elite da elite bajular uma nordestina de origem pobre.
Linda não decepcionou. Brilhou a altura, encarando com elegância as formalidades da comemoração. Ela não se acanhou diante daquele cenário ostensivo. Coisas que ficariam cafonas em outras garotas, com ela ganhou ares classudos. Seu comportamento seguro foi um fator importante para seu sucesso.
E por Deus! Como ela estava bonita! Até Alejandro, que pertencia a uma das famílias convidadas, não conseguiu se segurar quando ela veio em nossa direção.
Estávamos próximo ao bar, onde havia cadeiras e mesas altas. Nico e Rup pararam de falar para prestar atenção na chegada da aniversariante. Já Alejandro saltou do banco e, se colocando a frente dela, segurou uma de suas mãos e a fez girar no próprio eixo.
— Caramba, Jaguncinha! — ele vibrou com seu jeito paspalhão de ser.
Pensei que Linda reagiria mal, o empurraria e o mandaria se mancar, mas ela rodopiou de bom grado e riu, olhando-o de cima a baixo com divertimento.
— Você também não parece tão ruim quando toma banho e se arruma.
Ele riu.
— Todo esforço é válido se o objetivo for agradar minha amiga aniversariante.
— Não somos amigos. — Ela negou num gesto de cabeça e colocou as mãos na cintura para concluir. — Você ainda é o que eu menos gosto da Trupe dos Almofadinhas.
— Ok. Não precisamos ser amigos, até porque um dia você ainda vai me amar.
— Não vou não. — Negou com a cabeça mais uma vez sem perder o sorriso.
O diálogo seria comum se o histórico de interação entre eles não fosse complicado. No primeiro dia de Linda na Roads, Alejandro não foi gentil ao me perguntar se era seguro deixar nossas mochilas perto dela. Confesso que a minha resposta não ajudou em nada a amenizar a situação. Depois disso os dois mal trocaram meia dúzia de palavras, já que Linda sempre endurecia o semblante para ele. Mas ali, em seu baile de debutante, ela finalmente pareceu entender que meu amigo era apenas um idiota sem filtro. O cara sempre foi mestre em fazer perguntas e comentários constrangedores.
No instante seguinte, Ami Shibata se aproximou e chamou Linda para dançar. Era impressionante o visível desconforto da japonesa toda vez que sua amiga estava perto de nós.
— Vem me fazer companhia na pista!
— Claro, Sushi! — Linda se empolgou e fiquei com vontade de rir do apelido dado a Ami. Em seguida, a aniversariante me lançou um olhar e falou: — A gente se vê daqui a pouco para a valsa e para a sessão de fotos.
Apenas meneei a cabeça, tentado esconder o fascínio. Ela segurou a amiga pela mão e juntas seguiram para a pista de dança.
Na hora da valsa, tive um breve lampejo de arrependimento. Não tinha nada a ver com medo de errar, pois a coreografia estava em modo automático. Talvez fosse o sentimento estranho de ter tanta gente me assistindo fazer algo que não era o meu talento. Mas bastou observar Linda e sua determinação em fazer tudo dar certo para que eu deixasse de ser um bunda mole. A passos lentos e cuidadosos, ela levou sério o ritual ao dançar com Maximus Montenegro, seu avô. Depois foi a vez de seu pai, e assim os movimentos ganharam mais sincronia. Meu tio olhava com orgulho para a filha, que girava graciosa pela pista com seu vestido esvoaçante. Quando chegou meu momento de tomá-la nos braços, suei frio, mas a conexão imediata dos nossos olhares deu-me a certeza de que eu estava no lugar em que deveria estar. As pessoas ao nosso redor se tornaram apenas borrões. A festa desapareceu, não havia mais os convidados, garçons, bartenders. Não existia a Roads, nem a dúvida para quais universidades que eu aplicaria, nem o preconceito da minha mãe ou qualquer outra circunstância que me impedia de aproveitar todas as coisas boas que eu tinha com a menina mais linda do mundo. Só existia ela, eu e o som orquestrado de With or Without You do U2.
Quatro minutos para não me preocupar com nada, a não ser Linda Montenegro.
Um tempo que não deveria acabar. Não era justo ter que soltá-la sem saber quando ficaríamos tão perto de novo.
Eu a girei algumas vezes como foi combinado nos ensaios. Ela sempre sorria, fechava os olhos e, ao trazê-la de volta para mim, ela levantava as pálpebras sem vacilar na valsa.
Nos últimos acordes firmei minha mão em sua cintura delicada e a curvei com meu corpo, também curvado, e rente ao dela. Essa era o gran finale daquela dança, onde a encerrávamos com nossos rostos praticamente colados. Foi nesse momento que não aguentei segurar as palavras presas em minha garganta e as soltei:
— Eu queria ter coragem e te dar mais do que uma dança.
Ela sorriu com tanta ternura que quase a beijei em meio aos aplausos.
— Tenho tudo que preciso de você, Pedro. — Ela disse enquanto eu a levantava e fazíamos um gesto de agradecimento ao público. Olhando para frente, ela concluiu: — Tenho tudo que preciso, pelo menos por enquanto.
Virei para seu lado, erguendo sua mão até meus lábios.
— Mas eu não. — Beijei seu dorso delicado. — Foi uma honra ser seu príncipe.
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