Oneshot
Esse ano foi particularmente difícil.
Primeiro, foi escolhida como a parceira de classe de um garoto super arrogante. Achou estranho os olhares de inveja que recebeu de várias garotas da sala. Sim, tinha que admitir que o garoto era bonitinho, mas não era nada demais. Era... só um ano de parceria e pronto (ouçam seu suspiro). O nome dele era Damian, que ela apelidou "carinhosamente" de Peste, e trabalhar com ele era um inferno. Nunca foi uma pessoa muito paciente, mas ele testava todos os seus limites. O moleque se achava o mais inteligente de todos, não a levava a sério, não queria ouvir suas opiniões... Em outras palavras, o cara era um porre.
Não foi até o fim da semana que eu descobri quem realmente era meu parceiro.
Damian Wayne
- Você é insuportável! – Rachel praticamente gritou no meio da aula – Nossa! Que moleque chato! – passou as mãos pelo rosto
- Você também não é flor que se cheire, Roth. – Damian resmungou, sem parar o movimento natural de sua mão enquanto ele desenhava – E eu sigo te aturando.
- E eu sigo te aturando. – apagou o desenho em seu caderno de novo, com força. A página, antes branca, estava toda marcada dos desenhos que Rachel já tinha apagado antes. Milhares de vezes – Essa foi a semana mais longa da minha vida. Se eu tiver que ficar até o final do ano com você, eu juro que eu me mato.
- Quanto exagero! – Damian se fingiu de ofendido, mas ele estava com um sorriso sarcástico no rosto, não fazendo questão de disfarçar. Tirou os olhos de seu desenho e olhou para a página marcada de Rachel e fez uma careta – Você devia arrancar essa folha e começar o desenho em uma nova.
Rachel respirou fundo.
- Por quê?
- Porque essa folha já tá toda marcada do seu lápis, que por sinal nem é o certo para desenhar. O desenho tem que estar limpo e sua página também já está quase toda cinza do pó da ponta do lápis. Pelo visto Artes não é a sua praia, hein.
Ela jogou o lápis na mesa, fazendo Damian olhar para ela com os olhos levemente arregalados. Ela aproximou o rosto do dele.
- Escuta aqui, Wayne. Você não é melhor do que ninguém aqui e não é ninguém pra me dar ordens ou pra me criticar. O que eu faço com meu trabalho de artes é problema meu e só meu.
Damian examinou o rosto dela com calma e, provavelmente, viu alguma coisa em sua expressão, porque ele teve a audácia de sorrir de novo.
- Primeiro, eu não estou te dando ordens e nem te criticando. Eu estou te aconselhando. Uma coisa da qual eu sei que você não está acostumada, já que é você que faz os trabalhos em grupo sozinha, mas dessa vez é diferente. Eu sou diferente. E quero uma nota justa, o que significa que eu vou fazer a minha parte e te ajudar na sua.
Rachel olhou para ele com uma mistura de raiva e espanto. Em todos os anos na escola, em todos os trabalhos em grupo, era ela que fazia todo o trabalho. Nenhum dos participantes a ajudava e apenas levava o crédito depois, então ela realmente não estava acostumada a ser ajudada ou... Aconselhada.
O sinal da aula tocou e todos começaram a arrumar suas coisas para ir embora. Ela suspirou de aborrecimento e começou a jogar suas coisas na mochila. Olhou para Damian.
- Por que você fez isso?
Damian arrancou a folha da qual ele estava desenhando e deixou na frente dela, tampando o desenho com a mão.
- Até segunda-feira, Roth. – foi isso que ele deu de explicação antes de sair
Rachel encarou a porta, observando a figura dele se afastar nos corredores antes de ver o desenho.
Era ela.
Ele tinha feito um desenho dela.
Era um desenho apenas em preto e branco, bem sombreado. Ele ficou olhando para ela a aula toda – o que a irritou demais -, agora ele sabia o motivo. Ele desenhou exatamente a posição em que ela estava na mesa durante os últimos 40 minutos.
A mão apoiando a cabeça, o cabelo preso atrás da orelha, mas com algumas mechas rebeldes caindo sobre os olhos. Até os cinco brincos pequenos nos seus cinco furos na orelha.
Que ótimo. Sua raiva foi totalmente esquecida.
Depois de duas semanas, eles começaram a se aturar um pouco mais, então sua relação passou a ser meio... passiva-agressiva. Logo depois, de uma forma diferente, isso passou a ser uma amizade, mesmo que ainda frágil.
Mas esse não é o ponto principal dessa história.
O ponto principal não é o acontecimento perigoso, ou os momentos perigosos.
O ponto principal é ele.
O herói mascarado que a salvou em todas essas situações.
Robin
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1° vez
- Por que a gente não vai com o seu carro? – Jinx perguntou, entrando no carro de aplicativo – Você já tem carteira.
- Mas minha mãe está fazendo plantão no hospital e foi com o carro. – Rachel respondeu
- Para onde, garotas? – o motorista perguntou. Seu casaco tinha a gola tão alta que cobria sua boca e seu nariz
- Para o cinema, na Avenida Panic. – Rachel colocou o cinto e Jinx seguiu o exemplo
Para falar a verdade, ela também não estava muito feliz. Ela não confiava muito nos carros de aplicativo, principalmente quando passava das 22h da noite, mas hoje era o último dia para assistir a um filme que as duas estavam ansiosas para ver, então... Elas meio que estavam sem opções.
O trajeto duraria mais ou menos uns 20 minutos de acordo com o GPS do celular de Rachel. Jinx estava largada no banco, jogando um joguinho de celular, enquanto Rachel acompanhava o trajeto.
Estava indo tudo bem até que seu nariz começou a coçar ao sentir um cheiro estranho no ar. Um cheiro adocicado.
Rachel levantou a cabeça e viu que o motorista tinha ligado o ar condicionado do carro, mesmo com o frio que estava lá fora.
- Você pode desligar o ar por favor? – Jinx pediu antes dela – Já tá frio.
- O carro tá meio abafado. É só para circular o ar. – o motorista respondeu, puxando a gola do casaco mais para cima
- Moço, desliga isso, por favor. – Rachel pediu
O motorista ignorou e acelerou discretamente o carro.
Rachel começou a se sentir seus membros ficarem pesados, assim como suas pálpebras. Jinx, que parecia estar em sua própria luta, agarrou seu braço.
- Rae, chama a polícia. Chama a polícia. – ela murmurou baixinho para o motorista não ouvir
Rachel tentou se concentrar no celular para teclar o número, mas sua vista começou a ficar embaçada e seus dedos tremiam.
- Para o carro!
O motorista ignorou de novo e, mesmo com a gola da blusa, Rachel podia ver seu sorriso sinistro.
Tentando fazer seu corpo funcionar, Rachel soltou o cinto e – graças a Deus, o carro era antigo – girou a manivela para abrir a janela.
- Ei! Sai daí! – o motorista gritou, fazendo uma curva fechado, quase fazendo Rachel cair da janela do carro
- SOCORRO! SOCORRO!
- Desce daí!
O motorista se esticou e puxou Rachel para dentro do carro de novo. O cheiro adocicado aumentou e Rachel sentiu seu corpo a abandonar. Jinx já estava praticamente inconsciente ao seu lado.
Talvez fosse sua mente grogue, lutando para permanecer acordada, mas podia jurar que viu uma sombra pular de um prédio. Com certeza estava alucinando.
Mexeu de leve a mão, procurando o celular, mas não o achou.
Quando achou que ia perder a consciência, o carro deu um tranco, parando quase imediatamente.
- Merda! – o motorista xingou e saiu do carro – O que...?
Rachel não viu, mas ouviu o motorista gritar e urrar algumas maldições. Sua cabeça pendia para a frente e não sentia que tinha forças para abrir a porta agora. Além disso, não queria abandonar Jinx.
De repente, a porta ao seu lado se abriu, fazendo-a quase cair para fora do carro, mas dois braços impediram sua queda.
- Ei, você tá bem? Consegue me ouvir?
A voz era masculina, familiar, mas estava grogue demais para tentar se lembrar de onde.
Como ela não respondeu, o cara/garoto/homem – ela não sabia dizer – a sentou corretamente no banco e se afastou. Rachel fechou os olhos, então não viu o que ele fez, mas logo depois, o cheiro adocicado parou de preencher o ar.
A porta do outro lado se abriu e uma outra voz falou.
- Essa aqui tá apagada, Robin!
- Tira ela daí e leva para o hospital, Superboy. – a voz familiar disse, de novo ao seu lado
Robin. Era esse o nome da pessoa com a voz familiar? Ela não conhecia nenhum Robin. E quem era Superboy?
Uma mão segurou suavemente seu queixo e o virou para o lado, com cuidado. Ela abriu levemente os olhos. Com sua vista embaçada, não conseguia ver nada muito claro, mas conseguiu pegar algumas coisas.
Conseguiu ver traços de uma roupa vermelha, uma... capa preta e um R brilhante no peito. A mão que segurava seu queixo estava coberta por uma luva verde, mas o que chamou sua atenção foi a máscara. Ela era em um estilo dominó, com bordas pretas e um tecido branco cobria seus olhos.
- Ei, Ra-garota, garota! – se corrigiu rapidamente – Consegue me ouvir? Balança a cabeça para cima e para baixo se sim.
Com esforço, ainda lutando contra a inconsciência, assentiu de leve. Ou achava que sim. Aparentemente, o tal Robin sentiu o movimento de sua cabeça.
- Bom, bom. Eu vou te levar para o hospital agora, ok? Só para garantir que você está bem.
- A J-jinx... Ela...
- Sua amiga está em boas mãos. Superboy já está a caminho do hospital com ela. Prometo, vai ficar tudo bem.
Ele falou mais alguma coisa, mas Rachel só viu sua boca se mexendo, já que sua mente se cansou de ficar acordada. Seus olhos fecharam, sua cabeça pendeu e os braços de Robin a impediram de cair de novo.
Logo depois, se sentiu sendo levantada e teve a sensação de estar voando.
No dia seguinte – ou horas depois, ela não sabia – acordou em uma maca de hospital, com sua mãe acariciando seus cabelos.
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- E então? – Rachel empurrou seu caderno de literatura para Damian – Alguma objeção? Eu posso mudar algumas coisas se você achar melhor.
Damian pegou o caderno e leu todas as anotações. Tudo que Rachel escrevia nas aulas valeriam para o trabalho de literatura deles, sem contar que complementavam suas próprias anotações. Devolveu o caderno para ela.
- Não. Por mim, está tudo bem. Você escreve muito bem.
Rachel sorriu levemente para ele, como uma forma de agradecimento. Depois de um tempo, sua amizade frágil estava ficando cada vez mais sólida, mas ela ainda era tímida demais em vários assuntos. Aparentemente, ser elogiada era uma coisa estranha para ela; Damian pensou. As bochechas dela ficavam coradas e ela desviava o olhar para qualquer coisa que não fosse o rosto dele. Damian achava adorável.
A amizade deles estava indo bem, mas tinha uma coisa que podia colocar ela em risco.
Garfield Logan e suas péssimas habilidades de esconder um segredo.
Sua péssima habilidade de esconder que sabia que Damian era o Robin.
O herói que a salvou de uma tentativa de sequestro por um motorista de aplicativo.
Damian estava por perto quando Rachel contou toda a situação para Garfield e o rosto do garoto imediatamente congelou e ele começou a rir nervosamente. Os olhos de Garfield se desviaram para o de Damian praticamente a aula toda. Rachel apenas não percebeu por estar concentrada na matéria e por ainda estar um pouco abalada.
Garfield sabia sobre sua vida secreta desde o começo do ensino médio, já que ele apareceu de surpresa na sua casa para um trabalho escolar e, com seu maravilhoso TDAH, explorou a casa com a mesma curiosidade de uma criança de quatro anos e, simples assim, descobriu a Bat-caverna, que por acaso, foi no exato momento em que Batman, Robin e Asa Noturna estavam voltando de uma patrulha e estavam sem máscaras.
Damian nunca se sentiu tão burro.
O lado bom disso é que, desde a descoberta, Garfield arrumava um jeito de acobertar Damian toda vez que ele precisava sair para os seus deveres heroicos. E ele se mostrou alguém, Damian tinha que admitir, simpático. Tão simpático que, em algum lugar do caminho, os dois tinham virado amigos.
A relação de amizade deles era bem aquilo de Golden Retriever e Gato Preto, mas Damian não só começou a tolerá-lo, como começou a gostar de sua companhia.
E logo depois de um tempo, Garfield era o amigo "comum" do Robin e do Superboy.
Amigo esse que não sabia esconder um segredo.
Damian iria matá-lo.
- Logan, você tem que parar de olhar pra mim toda vez que ela menciona o herói mascarado. – Damian rosnou baixinho no ouvido dele – Ela não é burra, qualquer hora ela vai perceber.
- Eu sei, foi mal. Mas é que fica difícil, é muito tentador. Ela disse que a voz era familiar, será que ela não desconfia?
- Ela disse que acha que era familiar, ela nem sequer viu meu uniforme direito, já estava praticamente dormindo quando encontrei ela. – cerrou os punhos, com raiva ao se lembrar do ocorrido – Não acho que ela desconfie.
- Mas e se?
- Como eu disse, não acho que ela desconfie, mas é uma possibilidade. – suspirou, derrotado
- Então... Você vai fazer alguma coisa? – sussurrou quando a professora olhou feio para ele
- Não. É provável que ela nunca mais encontre o Robin. – deu de ombros
2° vez:
- Sim, mãe, eu lembro de tudo que precisa. – Rachel disse ao telefone
- Você esqueceu a lista de compras aqui em casa, só precisava me certificar. – Ângela disse ao telefone
- Mãe, eu não esqueci, você esqueceu que eu tenho memória fotográfica? Sei de tudo que precisa.
- Então repete.
Rachel suspirou. Dona Ângela nunca confiava em sua memória fotográfica.
- Uma caixa de ovos, duas caixas de leite, um pote de manteiga, quatro pacotes de molho de tomate, três pacotes daquele salgadinho de bacon que você gosta, uma caixa de uva, um pacote de farinha e uma caixa de chocolates para mim, porque aparentemente, vou estar de TPM semana que vem. – recitou exatamente o que estava no papel – Viu só? Tudo na cabeça.
- Espertinha. Toma cuidado aí na rua, meu amor. Se precisar de alguma coisa, me manda mensagem. Vou estar na sala de cirurgia daqui a pouco.
- Tá bom, mãe. Te amo.
- Também te amo, meu amor.
Rachel desligou e guardou o celular no bolso. Ela precisou ir em um mercado mais longe, já que o que ficava perto da sua casa sempre fechava aos domingos, mas ela não via problema. Já conhecia o caminho de cor.
Passou pela floricultura, pela joalheria, pela padaria, por algumas casas, pelo parque do bairro e pelo lava-jato antes de chegar em um dos lugares do qual ela se ressentia em passar.
O bar.
Não, ela não tinha preconceitos, inclusive alguns dos frequentadores regulares a conheciam de passagem e acenavam, mas várias vezes havia alguns bêbados que perdiam a noção da realidade e que... a incomodavam.
Respirando fundo, atravessou a rua e passou em frente ao bar.
Os regulares acenaram com a cabeça para ela em reconhecimento e ela retribuiu, mas um deles em específico a olhou de um jeito malicioso e sorriu.
Era esse tipo de coisa que a incomodava.
Revirou os olhos e passou reto, ignorando.
Seu celular vibrou com uma mensagem e ela o tirou do bolso.
Era apenas Garfield perguntando que filme eles iam assistir naquela noite. Ela respondeu rapidamente, mas antes que pudesse guardar o celular, alguém a empurrou para o beco entre as duas lojas mais a frente. Rachel não teve nem a oportunidade de gritar antes que seu rosto se chocasse contra a parede de tijolos. Sentiu uma dor lancinante em seu nariz ao mesmo tempo que sentiu o sangue começar a escorrer dele e de um corte na testa.
- Quem você pensa que é para me ignorar daquele jeito, hein? – uma voz masculina rosnou em seu ouvido.
A frase saiu arrastada. Claramente bêbado. Ele empurrava a cabeça dela contra a parede com uma mão enquanto a outra segurava os pulsos dela atrás das costas.
- Me solta!
- Acha que é melhor do que eu, garota? Pra me ignorar? Empinar o nariz e virar a cara?
- Eu não fiz nada disso! Me solta!
Aparentemente, era o cara que sorriu para ela no bar, mas Rachel estava assustada demais para raciocinar. Será que não tinha ninguém vendo aquilo da rua? O beco não tinha muitos esconderijos, a não ser se estivesse atrás da lixeira enorme no canto. Exatamente atrás de onde o homem a segurava. Merda!
Soluçou enquanto as lágrimas caíram de seus olhos.
- Por favor, me solta. Pode levar o dinheiro e meu celular, eu não me importo, mas me deixa ir embora, por favor! – resmungou desesperada, tentando se desvencilhar, mas sua força era inútil comparada a dele
- Eu não quero nada disso não, garota. – o sentiu puxar seu cabelo e o ouviu fungar – Seu cabelo cheira muito bem, sabia?
- SOCORRO! POR FAVOR, ALGUÉM ME AJ... – não conseguiu completar a frase, pois o homem bateu sua cabeça na parede de novo
Ela viu estrelas e seu corte na testa começou a sangrar mais ainda, sem contar o aumento na dor de seu nariz.
- Se você gritar mais uma vez, eu juro que te mato, entendeu?
Rachel soluçou, mas não respondeu. O homem agarrou seu cabelo e puxou sua cabeça para trás, expondo o rosto dela para ele. Ela ofegou de dor. Se ele continuasse puxando seu cabelo assim, logo ele iria ficar cheio de falhas e o couro cabeludo ficaria dolorido. Mais ainda.
- Entendeu? – ele perguntou de novo
- Me solta, por favor... – choramingou
- RESPONDE A MINHA PERG...
- Solta ela! – uma terceira voz se intrometeu
O homem olhou para a entrada do beco, mas não tinha ninguém lá. Mas Rachel viu logo de cara.
Uma sombra – uma pessoa – tampava o sol se pondo. A pessoa pulou de cima do prédio e caiu no fundo do beco. Rachel chorou de alívio ao reconhecer o uniforme vermelho e o R amarelo no peito. Ao ver a máscara.
- E quem é você, hein, moleque? – o homem grunhiu, apertando os pulsos de Rachel
- Alguém que você não quer ter como inimigo. Solta ela. Agora! – tirou uma espada da bainha
Uma espada de verdade.
Rachel teria ficado surpresa se não estivesse tão assustada.
O homem riu, achando graça, mas imediatamente gritou de dor quando, em um movimento rápido e preciso, Robin apareceu ao seu lado e fez um corte feio em seu rosto, que pode, acidentalmente ou não, ter pego seu olho. O corte parecia feio, da sobrancelha esquerda até o queixo.
Robin sorriu. Deixaria uma cicatriz horrível.
O homem soltou Rachel, que estava com as pernas bambas de medo e caiu no chão, e pôs as mãos no machucado, tentando parar o sangramento.
Robin chutou o homem no estômago, que caiu e rolou no chão. Robin o chutou mais uma, duas, três vezes até o sujeito cuspir sangue no chão e tossir. Mas isso não amoleceu o garoto, que estava com sangue nos olhos cobertos pela máscara.
Robin ergueu a espada, pronto para mais um golpe, mas um soluço o fez congelar. Ele olhou para trás e viu Rachel encolhida em uma bola no canto, chorando. Temeu tê-la assustado mais ainda.
Se virou para o homem uma última vez e, com um golpe preciso do punho da espada, o nocauteou. Com cautela, andou até o canto do beco e se ajoelhou na frente dela, mas ainda mantendo distância. Rachel não levantou os olhos para ele.
- Ei. – começou com a voz suave – Respira. Já passou, ele não vai mais te machucar.
Ele não disse para se acalmar. Nem que estava tudo bem. Sabia que isso não era o certo a se falar em uma situação como aquela.
Rachel olhou para ele de relance, depois para o homem caído no chão e se abraçou mais apertado, soluçando de novo.
- Obrigada. – ela murmurou, mas a voz falhou
Robin comprimiu os lábios. Já tinha lidado com aquela situação, mas ver Rachel, sua colega de classe e amiga – a garota que ele secretamente gostava -, naquele estado, o abalou de uma forma inexplicável.
- Não se preocupe com isso. – tirou sua capa e a entregou para Rachel
Ela hesitou, mas acabou aceitando. Não porque estava com frio – talvez um pouco, sim -, mas porque, deu um jeito que ela não sabia explicar, a capa lhe passou uma sensação de segurança e conforto.
- Você tá machucada. – Robin notou seu nariz e sua testa sangrando
Rachel fungou e limpou o sangue do nariz, mas não tinha muito o que fazer em sua testa. O corte parecia fundo e doía pra caramba. Ela não disse nada.
Robin estendeu a mão e ela se encolheu. Imediatamente ele se afastou.
- Desculpa. – ela choramingou, secando o rosto
- Você não tem nada para se desculpar. – garantiu, com a voz firme. Depois apontou para a testa dela – Posso?
Ela hesitou, mas assentiu. Ele aproximou a mão do corte e, com cuidado, passou os dedos enluvados, limpando um pouco do sangue, mas ao passar os dedos pelo corte, ela se encolheu.
- É fundo. Você precisa de pontos. – afirmou, procurando alguma coisa em um dos compartimentos do seu cinto
Rachel olhou para o homem nocauteado de novo, com medo que ele se levantasse e partisse para cima dela de novo. Nunca tinha sentido tanto medo e sabia que nunca esqueceria aquele susto. Ouviu sirenes se aproximando e isso a fez desviar os olhos do homem.
Quando se virou para Robin de novo, ele estava com um algodão encharcado com algo. Ela o olhou interrogativamente, apertando a capa ao seu redor. Se sentia exposta demais.
- É álcool. Vai limpar o corte e controlar o sangramento. – ela continuou olhando para ele em uma pergunta silenciosa – Chamei a polícia quando ouvi alguém gritar e dei as coordenadas.
Ela acenou com a cabeça e permitiu que ele colocasse o algodão sobre o machucado, chiando com a ardência do álcool entrando em contato com o corte.
- Você consegue andar?
Ela duvidava que conseguia. Suas pernas estavam bambas demais, mas mesmo assim, assentiu. Robin a ajudou a levantar e, com a permissão dela, passou um braço sobre seus ombros, a mantendo firme.
Quando passaram pelo homem no chão, ela tentou andar o mais longe possível dele. Robin teve vontade de matá-lo. Não queria que ela ficasse traumatizada.
A polícia chegou bem na hora em que eles viraram em uma esquina.
- Tem certeza de que não quer ir com meu gancho? Você tá tremendo. Chegaríamos mais rápido assim.
- Não. – ela murmurou
Depois de uma caminhada um pouco demorada, eles chegaram ao hospital. Ângela ainda estava na sala de cirurgia, então não poderia ser interrompida e nem informada de que a filha estava lá.
Um enfermeiro levou Rachel para uma sala e a sentou numa maca, começando a preparar o que precisaria para fazer os pontos. Robin ficou parado ao seu lado, em silêncio.
- Vou buscar um anestésico, volto já. – o enfermeiro informou e saiu da sala
Rachel se ajeitou na maca, cruzando as pernas. Olhou para Robin, hesitando.
- Obrigada. – ela murmurou com a voz baixa
Robin olhou para ela e, mesmo não conseguindo ver seus olhos, sua carranca se suavizou.
- Você já disse isso. Não precisa agradecer.
- Preciso, sim. – fungou – Eu... Achei que ninguém ia aparecer. E, mesmo se aparecesse, a maioria ia simplesmente virar o rosto e fingir que não viram.
Robin cerrou os punhos ao pensar nisso, mas sabia que era verdade. Abanou esses pensamentos e pegou a mão dela.
- Mas eu apareci. Tá tudo bem agora, nada aconteceu.
Ela lhe ofereceu um sorriso pequeno e tímido, mas que mesmo isso fez o coração de Robin bater mais rápido.
- Ah. – ela pigarrou – E obrigada, pela primeira vez.
Ele franziu o cenho, não entendendo.
- Eu nunca consegui te agradecer por me salvar da situação com o motorista de aplicativo. Você e o... Superboy? Salvaram minha amiga e eu.
- Ah. – ele acenou com a cabeça – Também não precisa agradecer. É o nosso trabalho.
Ela soltou uma risada nasalada. Rachel abriu a boca para falar mais alguma coisa, mas a porta se abriu e o enfermeiro entrou bem na hora.
- Voltei. Podemos começar?
Rachel acenou com a cabeça e puxou a franja, esperando o enfermeiro tirar o curativo.
- Você vai ficar? – o homem perguntou para Robin
Ele olhou para Rachel, com uma pergunta silenciosa. Ela deu de ombros enquanto o enfermeiro passava uma pomada anestésica no machucado. Vendo isso, Robin se sentou na cadeira ao lado da maca e esperou.
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- O que tá fazendo? – Garfield perguntou aparecendo atrás de Damian, o fazendo levar um leve susto – Te assustei? – perguntou pasmo
- Eu estava concentrado. – Damian resmungou
Garfield seguiu sua linha de visão e sorriu maliciosamente.
- Ah, eu sabia que você estava gostando dela! – exclamou, um pouco alto demais
- Cala a boca! – socou seu ombro com, talvez, força demais e voltou a olhar
Rachel estava sentada com Kory e ela estava sorrindo confusa para algo que a ruiva disse. O cabelo dela estava um pouco mais comprido e as raízes pretas estavam aparecendo debaixo da tinta roxa. Viu quando Kory perguntou alguma coisa e Rachel respondeu, provavelmente algum comentário sarcástico ou ácido, porque Kory revirou os olhos e sorriu brincalhona.
Damian não conseguia parar de olhar.
Em algum momento, os olhos de Rachel encontraram os dele. Ela sorriu e acenou. Ignorando o constrangimento por ter sido pego olhando, ele acenou de volta e começou a sair do refeitório. Garfield o seguiu.
- Você devia convidar ela pra sair.
- O quê?! Não!
- Ah, qual é, Wayne! Tá na cara que você gosta dela e, eu tenho certeza, o sentimento é recíproco.
- Eu não gosto dela.
- Cara, o jeito que você olha pra ela é tão óbvio.
- Eu vou quebrar os seus dentes, Logan!
- Você tá apaixonado! – Garfield cantarolou
- Não tô apaixonado coisa nenhuma!
- Uhum, e eu sou o Batman.
Damian parou de andar e fuzilou Garfield com os olhos. Percebendo o que tinha falado, o garoto riu nervosamente.
- Foi mal.
Damian voltou a andar até entrar no banheiro.
- Mas sério, Damian. Se você chamasse ela pra sair, tenho certeza de que ela aceitaria.
- Você não tem como saber.
- Ah, tenho sim. Ouvi a Kory perguntando pra ela se algum dia toparia sair com você. A Rae concordou.
Damian ignorou a batida rápida de seu coração e passou água no rosto, esfriando a cabeça.
- Ah, você ficou com vergonha. – Garfield notou, com um sorriso
- Não, não fiquei!
Garfield riu e Damian passou por ele, irritado, determinado a ir embora, mas quando abriu a porta, deu de cara com Rachel. Ela ficou com as bochechas coradas e olhou para ele como se tivesse duas cabeças.
- O que vocês estão fazendo no banheiro feminino?
Damian arregalou os olhos e olhou para a placa na porta e, de fato, era o banheiro das meninas. Na sua pressa para tentar fugir de Garfield, ele acabou entrando no banheiro errado. Burro.
- Eu... Eu... Não é o que você tá pensando!
Ela riu e imediatamente ele relaxou.
- Juro que foi sem querer.
- Relaxa. Sei que não foi de propósito. – ela garantiu, mas imediatamente, ficou com as bochechas coradas de novo – Eu... É...
- O que foi?
Ela olhou para ele com uma falsa confiança e respirou fundo.
- Quer ir no cinema comigo hoje à noite? – ela perguntou rapidamente
O coração de Damian dançou. Ela o convidou para sair. Ela. Rachel. A garota por quem ele estava apaixonado...
O. Convidou. Para. Sair.
- Eu?
Rachel riu de novo, mas ainda parecia envergonhada.
- É, você, Damian. Se você não quiser, eu vou entender. Juro. Eu só...
- Eu aceito! – Damian falou, a cortando – É que... Eu tava pensando em te convidar. Você foi mais rápida que eu. Parabéns, Roth. – sorriu sarcasticamente
Ela riu e relaxou visivelmente. Ele mal notou o quão tensa ela estava antes de ele aceitar.
- Ok, então. Que horas eu te pego? – ele perguntou, tentando parecer relaxado
- A gente se encontra lá. E eu pago a pipoca.
- Não, eu...
- Parou! Eu quero dividir a conta, Romeu. Adoro o seu cavalheirismo, mas ainda amo a minha independência.
Ele sorriu com isso. Nunca tinha se sentido assim perto de alguém. Ela estava quebrando suas barreiras de uma maneira inexplicável. E o mais assustador de tudo isso, era que ele não se importava.
- Não sabia que você gostava de filmes de terror. – Damian sussurrou para ela
- Eu até gosto, embora tem alguns que me dão um pouco de medo. – ela admitiu
- Relaxa, Roth. Qualquer coisa, eu tô aqui. – provocou
Ela olhou feio para ele e jogou pipoca em seu rosto.
O filme passou sem problemas, os dois assistindo concentrados, vez ou outra tomando alguns sustos, mas nas cenas de calmaria, os dois se entreolhavam e sorriam timidamente um pro outro.
Durante uma cena particularmente tranquilo, Damian a chamou.
- O quê? – ela sussurrou
- É que... – ele engoliu em seco, envergonhado
Rachel o encarou com expectativa, mas ele congelou, gaguejando e se engasgando com as palavras. Ela arqueou uma sobrancelha.
- Jura, Wayne?
- O quê? – perguntou confuso
Ao invés de responder, Rachel o puxou pela camisa e o beijou. Damian arregalou os olhos e não se mexeu. Rachel se afastou e deu uma risada baixa.
- Não imaginei que o infame Damian Wayne fosse ficar com vergonha de uma garo... – não foi capaz de terminar a frase, porque Damian a puxou para um beijo de novo, mas dessa vez, mais demorado
Ele afundou os dedos nos cabelos dela e um braço, com dificuldade, circulou sua cintura, a abraçando, sem quebrar o beijo. Rachel sorriu entre o beijo quando o sentiu tentando se aproximar mais, mas o braço entre as poltronas tornava isso impossível.
Eles teriam continuado assim por muito tempo, mas alguma cena assustadora fez o cinema inteiro gritar e os dois pularam com o susto, se separando. Rachel respirou ofegante, mas riu quando olhou para o rosto vermelho – e frustrado – de Damian.
- Mais sorte na próxima, Romeu. – ela murmurou e voltou a atenção para o filme, fingindo se concentrar
Damian não ligou. Passou o resto do filme a encarando, sem perceber o sorriso bobo no próprio rosto.
Eles saíram juntos toda semana durante dois meses depois disso, mas nunca pararam para pensar em uma definição do que eles eram. Amigos? Ficantes? Namorados?
Eles se beijavam. Se abraçavam. Damian às vezes até tentava ser um cavalheiro ao levar a mochila dela – Rachel brigava com ele depois, mas ele apenas ria. Adorava vê-la irritada.
Mesmo não definindo seus status de relacionamento, eles estavam felizes desse jeito. Talvez nenhum deles estivesse pronto o suficiente para entrarem em um relacionamento sério.
- Sério? – Conner perguntou – Não estão namorando?
- Não. – Damian respondeu, sem tirar os olhos do desenho
- Eles estão enrolados demais. – Garfield revirou os olhos – Sempre que se veem, ficam se beijando, mas nenhum toma atitude nenhuma!
- Meu relacionamento com ela não é da conta de vocês!
- Hã, meio que é. Ela é minha melhor amiga e, caso você fique enrolando ela, vou começar a achar que você não é bom o suficiente para ela.
- Eu tô com o Garfield nessa. – Conner levantou a mão, com um sorriso provocativo
- Os dois são insuportáveis que eu sou obrigado a aturar. Tenho certeza que é meu castigo por algum crime que eu cometi na minha vida passada.
- Damian, admita que você nos ama de uma vez. Juro que não conto pra ninguém.
- Kent, se você não calar a boca agora, eu juro que eu vou... – Sua fala foi cortada pelo alarme alto e uma sirene vermelha
O Alerta de Crime.
Garfield abriu um sorriso enorme e bateu palmas. Conner e Damian correram para o computador na mesma hora que Bruce chegou na Bat-caverna.
- Qual o problema? – ele perguntou se aproximando
- É um incêndio em um prédio. – Conner disse resumidamente
- É naquele hospital enorme, com uns 30 andares. – Damian disse – Parece que tem muita gente lá.
- Acidental ou proposital? – Bruce perguntou, correndo para colocar o uniforme, assim como Damian e Conner
- Não sabemos. – Conner disse
Garfield chegou mais perto do computador, analisando o prédio. Ele arregalou os olhos e engoliu em seco.
- Hã... Damian?
- Que é, Logan?
- Que horas era a consulta da Rae?
- Às 16h, por quê?
Engoliu em seco de novo. Era 16:26h.
- Esse não é o hospital que ela ia fazer o exame de vista hoje?
Damian surgiu com o uniforme, desesperado.
- Merda! – praguejou e correu para sua motocicleta
3° vez:
Os bombeiros tentavam desesperadamente apagar o fogo, que parecia se alastrar pelo prédio inteiro, enquanto Batman, Superboy e Robin tiravam todas as pessoas de lá. Conner acabava saindo pela porta com muitas pessoas ainda na maca, devido a sua super força.
Enquanto tirava as pessoas do prédio, Robin procurava desesperadamente por Rachel. Ele procurou em todos os andares, inclusive na sala do médico que a atendeu, mas nem sinal dela.
Quando estava se convencendo de que ela tinha ido para a casa e estava bem – segura -, uma enfermeira agarrou sua capa.
- Robin, um segurança disse que tinha alguém no elevador quando o fogo começou, mas o elevador está parado agora. A pessoa provavelmente está presa lá.
- Certo. Vou até lá. Obrigada.
Jogou o gancho até o alto do prédio, entrando pela porta do terraço. Naquele andar, não estava pegando fogo, mas ele ainda sentia o cheiro de fumaça. Correu até o elevador e abriu as portas com as mãos, já que as mesmas não estavam funcionando.
O elevador estava apenas dois andares abaixo. Robin jogou o gancho no teto e se certificou de que estava bem preso antes de prender a corda no seu cinto e pular. Foi descendo devagar e, de repente, ouviu um estalo. Olhou um pouco para cima e viu as cordas que seguravam o elevador. Estavam gastas demais. Duas das quatro cordas estavam... se partindo! O estalo que ele ouviu, foi uma terceira corda começando a se partir. Os fios de arame se soltando um a um, com um barulho agonizante.
Ele xingou baixinho e, nessa falta de atenção, sua mão escorregou de sua própria corda. Caiu com tudo na parte de cima do elevador. A corda, estando presa em seu cinto ainda, deu um tranco em sua coluna. A pessoa dentro do elevador gritou de susto.
- Quem tá aí?
Robin xingou de novo. Reconheceria aquela voz em qualquer lugar e de qualquer jeito.
- Fica calma. É o Robin.
- Ah, você de novo. – ouviu a voz dela abafada
Abriu a boca, ofendido pelo tom dela, mas não era de se admirar. Ela já precisou da ajuda do Robin demais para um intervalo de tempo tão curto. Ele também ficaria frustrado. Conhecia Rachel, e sabia que ela era independente e odiava a ideia de precisar de ajuda às vezes.
- Não se assusta, mas eu vou entrar aí dentro e, provavelmente, o elevador vai balançar um pouco. – disse abrindo a portinha no teto do elevador – Se afasta.
- Tá bom.
Quando não viu mais ela embaixo do buraco, arrumou a corda no seu cinto e então pulou. Como ele esperava, o elevador deu um tranco e Rachel se agarrou nas barras da parede. Robin firmou os pés no chão e olhou para ela. Rachel estava com os olhos semicerrados e piscava rápido e vezes demais para ser normal. Ele franziu o cenho.
- Hã... Garota, tudo bem?
- Tudo, é que eu fiz um exame de vista hoje e eu ainda tô vendo tudo muito embaçado e escuro por causa do colírio. Não tô enxergando quase nada.
- E você tá sozinha? Isso é perigoso, Ra...Garota!
Rachel franziu o cenho, percebendo a frase inacabada.
- Minha mãe ia vir me buscar depois. Eu ia ficar na sala de espera.
O elevador deu mais um tranco. Outro estalo. Rachel se agarrou as barras de novo e Damian segurou com força na corda em seu cinto.
- Tá estalando mais rápido. Tá assim desde que o elevador parou. – Rachel comentou, com a voz levemente trêmula
- As cordas estão se partindo. – ele disse, correndo para a porta, tentando abri-la – Eu tenho que tirar você daqui logo. Vou abrir a porta aqui e a gente corre para a primeira janela que eu ver. O fogo daqui a pouco chega aqui.
- Fogo?! – os olhos dela se arregalaram – É por isso que o elevador parou?! Eu achei que era porque faz muito tempo desde a manutenção!
- Não, é um incêndio, que está só a alguns andares abaixo!
Não importava o quanto tentasse, aquela porta não abria. Já estava quase desistindo quando uma brecha finalmente se abriu. Ele não perdeu tempo e enfiou as mãos no espacinho e empurrou com força. Sorriu para sua conquista, mas seu sorriso logo sumiu. O elevador estava parado entre dois andares, ou seja, Robin deu de cara com uma parede. Uma parede.
- Merda!
- O que foi? – ela perguntou, se segurando de novo quando outro tranco balançou o elevador
- A gente tá de frente para uma parede.
O elevador deu outro tranco e ele inclinou para um lado. Rachel se agarrou as barras desesperada de novo, olhando para Robin por entre a névoa que cobria sua visão.
- O elevador vai cair. – ele avisou
Não era necessário, Rachel já tinha percebido isso antes. Não fazia ideia de como iam sair dali e estava começando a se desesperar.
- Ra-Garota, garota. – ele se corrigiu de novo – Vem cá.
Foi até o centro do elevador, debaixo da portinha do teto. Rachel andou em passos lentos até ele, ainda com a visão embaçada. Robin esperou até que ela estivesse ao seu alcance e a puxou para perto.
- Segura firme em mim, ok? E não solta!
Rachel assentiu, insegura, e enlaçou os braços no pescoço dele.
- Tá, eu vou dar um jeito de prender a minha corda em...
Antes de ele terminar a frase, o elevador sofreu outro tranco e, sem outro ultimato, a caixa de metal simplesmente despencou. Robin imediatamente agarrou a cintura de Rachel com força e os dois gritaram de susto ao deixarem de sentir o chão sob seus pés. Por sorte, os dois estavam sob a portinha, que era grande o suficiente para os dois passarem sem problemas.
- O que foi isso?! – Rachel perguntou assustada, mas já sabia o que era mesmo sem dizerem
- O elevador caiu. Uns 27 andares pra baixo. – Robin respondeu, ofegante, se recuperando do susto
Eles ficaram lá, pendurados no poço do elevador, dependendo apenas da corda presa ao cinto de Robin, enquanto os dois respiravam pesadamente.
- Você tá bem? – ele perguntou baixinho
Ela apertou os olhos, estranhando. A voz, a frase e o tom eram muito familiar. Muito mesmo, mas não conseguia reconhecer de onde naquele momento.
- Tô. – murmurou, tentando respirar fundo
Eles ficaram balançando no ar por mais um tempo. Rachel suspirou e encostou a testa no peito dele, fazendo o coração do herói dar um pulo. Sentindo-se um pouco mais seguro de si, ele soltou um de seus braços da cintura dela, colocando seu cabelo atrás da orelha. Rachel levantou a cabeça lentamente, olhando para ele por entre a névoa da sua visão.
Robin moveu a mão até a bochecha dela, a acariciando com o polegar. Ela continuou encarando a máscara dele, hipnotizada. Ficaram se encarando por mais um tempo até Rachel inclinar o rosto na direção dele.
Robin entendeu sua intenção e inclinou seu rosto para baixo. Logo, suas bocas já tinham se encontrado. Ele nunca se cansaria de beijá-la. Havia séculos que ele pensava em pedi-la em namoro oficialmente, mas desistia na última hora sempre. Ele era um covarde!
Foi ele quem se afastou primeiro quando sentiu cheiro de fumaça. Olhou para baixo e viu a fumaça sumindo. Quanto tempo ficaram se beijando?
- É melhor a gente sair daqui. – ele disse
Rachel assentiu, atordoada e sem encontrar seus olhos. Ele pegou seu gancho e jogou para o teto, o puxando algumas vezes para se certificar de que estava bem preso.
- Olha, eu vou levar a gente lá para cima. Não precisa se assustar.
Apertou um botão no gancho e, em questão de segundos, a corda do gancho os levou para o terraço.
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- Aí o elevador caiu. – Damian contou
Conner, Garfield, Dick e Bruce estavam na Bat-caverna, logo depois de voltarem do resgate do incêndio e de Dick voltar de um crime isolado. Um assalto a mão armada. Agora, todos estavam reunidos na caverna, retirando os disfarces.
- Meu Deus. – Dick murmurou – Mas vocês não se machucaram, né?
- Claro que não, Grayson! Você tá falando comigo!
Bruce ergueu uma sobrancelha para a cena. Nunca via Damian voltar tão animado de um salvamento. Convencido? Sim. Animado? Não.
- Tá, mas e aí? – Garfield perguntou empolgado, balançando os ombros de Conner, que também sorria – O que aconteceu depois?
- Depois nós ficamos pendurados no poço do elevador pela corda do meu cinto. – Damian tirou a última bota, indo colocá-la no suporte – E aí, a gente ficou se encarando por um tempo, sabe? Aí depois...
- Se beijaram?! – Conner praticamente gritou
- Nos beijamos! – Damian confirmou, sorrindo orgulhoso
Garfield e Conner se entreolharam animados, comentando sobre. Damian guardou todas as suas roupas e armas nos suportes e se virou para eles. Dick franziu o cenho, ao mesmo tempo que Bruce.
- Quer dizer que ela te beijou? – Bruce perguntou
- Sim. E nem vem querer ter aquele tipo de conversa, pai, eu não vou...
- E você não tá bravo? – Bruce perguntou, o interrompendo
- Bravo por quê?
- Por ela ter te beijado.
Garfield riu.
- Por que ele ia ficar bravo se a garota que ele gosta beijou ele?
- Não. – Dick negou com a cabeça – Ela beijou o Robin.
Damian franziu o cenho.
- Tá, eu sou o Robin.
Garfield e Conner concordaram, confusos.
- Gente! – Dick chamou – Nós sabemos que o Damian é o Robin.
- A Rachel, não. – Bruce completou
Imediatamente as risadas cessaram e a confusão se foi. A caverna foi tomada por um silêncio esmagador e constrangedor. Damian repetiu aquelas palavras na sua cabeça.
- Não, isso não faz sentido. Ah, não. – ele murmurou, passando as mãos pelo cabelo – A Rachel me traiu.
- Wow, espera aí, cara! – Garfield se levantou – Ela não traiu não, ela só...
- Ela beijou um cara que não era eu! – ele exclamou – Quer dizer, era eu, mas não era... Ela não sabia!
- Calma, Damian, também não é assim... – Dick levantou as mãos, tentando acalmá-lo
- Ela beijou o Robin enquanto tá saindo comigo!
- Bom, cara... – Conner arqueou uma sobrancelha – Você pode culpá-la? Quer dizer... Você é uma gracinha naquele uniforme.
Garfield deu um tapa na cabeça dele, que despreparado, caiu pra frente na cadeira. Damian o fuzilou com os olhos.
- Não é hora de brincadeira. Ele tá tendo uma crise de ciúmes.
- Não é ciúmes! – Damian quase gritou, indo até os suportes de armas – Eu só tô bravo! Ela me traiu!
- Foi só um beijo. – Dick tentou
- Foi traição! – ele disse, sua voz saindo muito mais aguda do que o normal, o deixando de bochechas coradas, por um motivo muito diferente de irritação
Bruce franziu o cenho para essa mudança. Ele viu Damian pegar sua espada de treinamento e ir para o elevador que levava à Mansão. Quando o caçula saiu, ele olhou para os outros três, com uma pergunta não dita.
Dick assoviou.
- Ele definitivamente está com ciúmes! – Conner e Garfield assentiram juntos
- Damian, me passa a cola, por favor. – Rachel pediu, recortando as imagens para o cartaz
- Não sei se eu posso. – ele resmungou, mal-humorado – Por que não pede para outro garoto fazer isso?
Rachel levantou os olhos para ele, surpresa. Ele estava estranho assim desde ontem à noite, quando ela ligou para ele. Quando eles se encontraram com Garfield e Conner para fazer o trabalho, Damian continuou agindo daquele jeito estranho, parecendo à beira de um colapso nervoso. E nenhum dos três lhe ofereceu uma explicação.
Garfield pigarreou, desconfortável.
- Aqui, Rae. – Conner entregou o bastão de cola para ela
Ela pegou a cola em silêncio. Estava começando a ficar ofendida com o comportamento de Damian, mas ele se recusava a falar qualquer coisa, então ela não poderia ajudar muito nessa questão.
- Tá. Como vocês querem montar o formato do cartaz? – Garfield perguntou, arrumando a cartolina
- Eu acho que a gente pode dividir tudo por tópicos. – Rachel sugeriu – Assim, não vai ter muito texto e não vai confundir as pessoas...
- Não gostei! – Damian a cortou
Os três olharam para ele, de saco cheio.
- Cara, a ideia dela é ótima. – Garfield disse
- E assim não fica tão cansativo de ler. – Conner completou
- Não tô nem aí. Não concordo.
Rachel balançou a cabeça, cansada.
- Você tá bravo comigo por alguma coisa?
- Não sei. Deveria? – grunhiu, com a voz aguda demais
- Por que tá sendo tão babaca assim hoje?
- Eu não tô sendo babaca! Você que tá!
- Eu?! Eu só tô tentando fazer o trabalho da escola!
- E eu tô tentando fazer o trabalho da vida! Que é viver! E é complicado!
Conner suspirou aborrecido enquanto Garfield bateu a mão na testa. Malditos sejam Bruce e Dick que fizeram aquela observação tão desnecessária!
Se fez um silêncio constrangedor na sala, até Rachel se levantar, guardando suas coisas na bolsa, com raiva.
- Onde você vai, Rae? A gente nem começou ainda.
- A gente combina isso um outro dia. Quando alguém voltar ao normal. E quando alguém me conta o porquê desse idiota estar sendo tão babaca!
Depois disso, saiu batendo a porta.
- Tá feliz agora? – Conner apontou – Você espantou o cérebro do nosso grupo. Sua própria namorada!
- Ela não é minha namorada! – Damian grunhiu, embora saísse com muito esforço. Não queria que aquelas palavras fossem verdade, mas infelizmente eram. Eles não eram nada além de amigos que se beijavam. Droga de realidade!
- Você tá muito babaca mesmo. Cara, foi só um beijo.
- Cala a boca, Logan! Foi traição.
- Na verdade... Vocês não são namorados oficialmente. Você tá livre e ela tá livre para se relacionar com quem quiser. Não foi traição.
As palavras de Conner foram como um balde de água fria na cabeça de Damian. Droga de realidade de novo!
- Não importa. A gente tá saindo e, se ela gostasse de mim de verdade, não beijaria outra pessoa.
- Meu Deus, ele tá muito emocionado. – Conner balançou a cabeça
- Tive uma ideia! – Garfield deu um pulo no sofá, assustando os heróis
Garfield parecia totalmente determinado. Damian e Conner se entreolharam, receosos.
- E se, da próxima vez que você encontrar com ela, como Robin, você tentar beijar a Rae. Se ela te beijar... É provável que ela possa estar confusa. – suavizou as palavras – Se ela não te beijar, é porque ela gosta de você, tipo, de verdade!
- Olha. – Conner refletiu – Não é uma má ideia.
- Não. Vocês são loucos. Ela não vai mais precisar do Robin. Nunca.
- Aqui é Gotham, Damian. Nada é impossível.
- Não, a gente não vai mais se encontrar. Tenho certeza.
4° vez
Era uma ronda normal que resultou em três pequenos salvamentos de carteiras e celulares. Totalmente tedioso. Robin estava andando calmamente pela calçada, contando as pequenas poças de água que se formaram por causa da chuva que teve de manhã, quando ouviu alguma coisa mais à frente, mas não viu ninguém.
Pareciam sussurros e maldições. Era uma pessoa definitivamente irritada. Com cuidado, pegou a espada e a posicionou na sua frente, dando passos cautelosos até lá.
Tudo que viu era um buraco de bueiro destampado. Robin reprimiu sua frustração. Não tinha aviso nenhum de buraco aberto. Qualquer pessoa desatenta poderia cair lá dentro. Quando ia dar a volta, escutou outros xingamentos serem murmurados e, enfim, se aproximou do buraco.
Não pôde evitar. Soltou uma risada e a pessoa lá dentro olhou para cima, com o rosto completamente vermelho.
- Parece que você se meteu numa fria, princesa. – ele disse, guardando a espada
- É mesmo? Eu nem reparei. – Rachel resmungou, aborrecida
Ela cruzou os braços e virou o rosto para longe dele. Robin riu de novo.
- Como você foi parar aí?
- Eu... Não estava prestando atenção. – falou com a voz baixa
- O que você estava fazendo para não ver o buraco aberto?
- Isso é um interrogatório, por acaso?
Ele ficou em silêncio, ainda com aquele sorriso. Rachel queria socar aquele sorriso. Por fim, ela suspirou.
- Eu estava lendo livro no celular. Satisfeito?
- Muito. – riu e balançou a cabeça – Por que não ligou para os bombeiros para te tirar daqui?
- Meu celular caiu nessa água nojenta e se perdeu no meio do lixo. Mesmo se eu encontrasse, duvido que funcionaria depois de tomar um banho aqui. Tô oficialmente no fundo do poço. Literalmente.
- Estou começando a pensar que você gosta de se meter nessas enrascadas porque sabe que eu vou aparecer e você adora ver minha carinha charmosa.
- O que eu sinto pela sua carinha charmosa é uma vontade absurda de socar ela até virar poupa.
- Por que eu fiquei tão animado com isso?
- Vem cá, será que você pode me tirar daqui antes que eu pegue uma leptospirose? Eu estou me esquivando das fezes boiando aqui há mais de 20 minutos.
Foi então que Robin se lembrou de que tipo de buraco ela estava.
- Claro, claro.
10 minutos e uma grande luta para Robin conseguir se espremer no buraco também, os dois estavam na calçada limpa, embora ainda molhada. Enquanto Rachel praguejava maldições sobre sua roupa molhada, Robin a encarava divertido.
Rachel tirou os tênis e as meias, se sentando no meio fio.
- Eu sempre uso calça e botas, mas justo quando eu estou de shorts e tênis eu caio em um bueiro cheio de fezes!
- Você é muito sortuda.
- Não me provoca! Você ainda merece um belo soco.
- Se for você que vai me socar, eu deixo. Aposto que vou gostar.
Rachel revirou os olhos e zombou baixinho quando Robin se sentou ao seu lado. O único barulho eram os carros e motos que passavam devagar na rua estreita.
- Sem ofensas, mas espero nunca mais te ver na vida. – Rachel quebrou o silêncio
Robin jogou a cabeça para trás e gargalhou alto. Não a culpava. Ele também esperava nunca mais ver ela como Robin, apenas como Damian. Fazia quase duas semanas desde sua birra com ela e ele sentia falta. De repente, se lembrou da "grande ideia" de Garfield. Não queria fazer isso. E se ela não gostasse dele... Do Damian... Dele na versão normal, de verdade?
Mas, pelo menos, isso acabaria com sua dúvida.
- Não acredito. Essa é a 4° vez esse ano. Me acha tão irresistível assim?
- Não te acho irresistível. Te acho babaca. Presunçoso. Te acho um babaca presunçoso. – uma pausa – Aposto que você é um hétero top na sua vida normal.
Ele gargalhou de novo, mas mais alto.
- Eu não sei dizer.
- Viu? Se entregou. Aposto que você ri quando as crianças caem.
- Sim, é exatamente o que um herói faz, claro. – murmurou sarcasticamente, mas com um sorriso
- Você riu quando me viu no esgoto.
- Você não é criança.
- Legalmente, sou, sim. Ainda não tenho 18 anos.
- Faz sentido, por isso é tão infantil assim.
Ela lhe mostrou o dedo, o fazendo rir de novo. O silêncio voltou, mas dessa vez parecia mais leve.
- Bom, eu acho que tenho que te agradecer. – ela disse, se virando suavemente para ele – Já é, mesmo, a quarta vez que você me salva.
- É só o meu trabalho.
- Eu juro que não é por mal, eu só sou... Muito azarada. Se minha tia Alice descobrir sobre tudo isso, aposto que ela tentaria me colocar naquele Convento de novo.
- De novo?
- É uma longa história. – ela revirou os olhos e sorriu para ele, mas quando colocou os olhos na parte branca da máscara, não conseguiu mais desviar o olhar
Robin também não desviou. Não tinha percebido o quão próximos seus rostos estavam até notar ela desviar o olhar para sua boca. É, parece que ele já tinha sua resposta. Mas como tinham dito, eles não eram nada, oficialmente. Os dois estavam solteiros ainda, ela estava livre para namorar quem quisesse. Mas ele era egoísta demais para deixá-la ir sem um beijo de despedida. Com tristeza, aceitou a escolha dela e começou a aproximar o rosto.
Porém, quando seus lábios estavam a milímetros de distância, ele sentiu a mão dela em seu peito, o parando suavemente. Abriu os olhos. Nem tinha reparado que os fechou. Olhou para ela, surpreso e confuso. E com uma grama de felicidade começando a crescer em seu peito quando percebeu que ela estava o afastando, delicadamente.
- Você... Você não quer me beijar? – ele perguntou
Ela hesitou, comprimindo os lábios, mas quando levantou os olhos para ele, Robin percebeu que ela estava determinada e decidida. Sua hesitação era apenas em falar a verdade e magoá-lo. Mal sabia ela que o sentimento seria exatamente o contrário.
- Não. – ela respondeu, por fim
- Mas... A gente se beijou antes.
- Eu sei, mas... – balançou a cabeça, com um sorriso fraco – Aquilo foi um erro.
Mais uma vez, sentiu a felicidade ficar cada vez maior. Tinha certeza de que, se não tivesse sido treinado com uma expressão neutra desde sempre, estaria sorrindo de orelha a orelha.
- Um erro? – mais uma vez, forçou a voz a sair neutra e controlada
- Não me entenda mal, você me salvou muitas vezes, você é uma graça e tudo mais, mas... – comprimiu os lábios enquanto suas bochechas coravam – Eu gosto de outro garoto.
Fogos de artifício explodiram em seu peito.
- Seu namorado?
Ela hesitou, pensando um pouco.
- Eu acho que não. A gente não definiu nossos status de relacionamento. Mas eu gosto muito dele e... Seria errado eu te beijar. Me desculpa.
Sorriu suavemente para ela.
- Não se preocupe com isso. Eu entendo. Não estou bravo.
- Obrigada por entender. – ela sorriu agradecida para ele
Robin se levantou e ajudou ela a se levantar também.
- Então... Esse cara que você gosta... Deve ser bem bonito, né?
Rachel franziu o cenho, surpresa, mas suas bochechas coraram.
- É, sim. Ele é lindo.
- Esperto?
- Até demais.
- Inteligente?
- Irritantemente, sim.
- Talentoso?
- Ah, e como. – suspirou dramaticamente
- Carinhoso?
- Nah... – não respondeu, sem graça. Robin quase deu um passo para trás, ofendido, mas então se lembrou de que tipo de pessoa ele era – É, dá pro gasto. Pelo menos comigo, ele é um pouco mais suportável.
- Certo. – ele sorriu para si mesmo
- Embora ele tenha sido bem babaca comigo nesses últimos dias.
De novo, um balde de água fria caiu sobre sua cabeça.
- Não te conheço, e nem sei como é esse garoto, mas só digo uma coisa. Não liga. Garotos são estúpidos às vezes. Isso me incluí também.
Rachel sorriu para ele e, Robin jurava, que tinha alguma coisa escondida naquele sorriso.
- Obrigada pelo... Maravilhoso conselho.
- 20 dólares.
- Cara de pau, não vou te pagar nem 10 centavos.
- Assim você me magoa.
- Agora eu preciso ir para casa. Daqui a pouco minha mãe vai chegar e, se ela não me encontrar em casa, ela vai pensar em mil teorias. Não quero preocupar ela.
- Quer que eu te acompanhe?
- Não precisa. Já é na próxima rua.
- Faço questão.
- Sei que você só está tentando ser cavalheiro, mas ainda vou negar. Desculpa. Você pode ficar vigiando daqui mesmo. Dá pra ver certinho a minha casa.
Robin ficou confuso a princípio, mas então entendeu. Se a mãe estivesse chegando e a visse com o Robin, era capaz de Ângela ter um infarto. Quantas vezes ele já a resgatou e a deixou no hospital logo em seguida?
- Certo. – acenou com a cabeça – Nos vemos por aí.
- Eu falei sério quando disse que não quero ver sua cara mascarada de novo. – pontuou
- Bom, eu também espero não te ver mais se isso significar que você está segura.
Rachel sorriu para ele, revirou os olhos e começou a caminhar em direção a sua casa. Quando Robin a viu entrar em casa, ele finalmente sorriu para si mesmo.
- Isso, isso, isso, isso, isso!!! – comemorou, parecendo uma criança ganhando um brinquedo novo
###
Dois dias depois, Damian tinha feito às pazes com Rachel. Garfield e Conner deram a desculpa vergonhosa de ter sido a puberdade, mas era óbvio que Rachel não tinha acreditado, mas ela não tinha perguntado de novo o que aconteceu, então por ele estava tudo bem.
Agora, eles dois estavam sentados em uma mesa externa na sorveteria. Enquanto Damian comia uma taça de sorvete de menta, Rachel bebia tranquilamente um milkshake de chocolate.
- Mais uma. – ela disse, engolindo com esforço a bebida – A Casa Monstro ou Coraline?
- Filmes de "terror" infantis? – fez aspas com os dedos
- São filmes legais. – ela deu de ombros, dando um sorriso enquanto batucava os dedos na mesa
Damian fixou os olhos na no anel prata mais largo em seu dedo anelar. O anel que ele deu para ela algumas horas atrás. Um anel de compromisso. Eles eram oficialmente namorados agora.
Depois da conversa como Robin, ele percebeu como ela também estava frustrada com esse relacionamento não estabelecido corretamente, o que o fez finalmente achar a coragem que ele sempre teve, mas que sempre o abandonava quando estava diante dela.
- Coraline. – ele disse, depois de um suspiro
- Eu concordo.
Eles continuaram conversando, mas toda vez, as pessoas passavam por eles cochichando e sussurrando. A princípio, Damian acho que fosse por causa dele. Ele era uma espécie de celebridade. Mas quando viram algumas pessoas apontando nada discretamente para Rachel, nenhum dos dois entendeu mais nada.
- Isso está ficando meio desconfortável. – ela murmurou
- Quer sair daqui?
Ela hesitou, mas quando foi responder, seu celular vibrou com uma mensagem. Ela leu a mensagem de Gar ao mesmo tempo que ele enviou o link de uma matéria de notícias online.
- É o Gar. Parece que essa é uma notícia que, segundo ele, eu preciso urgente ver.
- Mesmo? – ele se inclinou para frente
Quando a página carregou, Rachel empalideceu. Damian, preocupado, pegou o celular da mão dela e leu o título.
O Amor Está no Ar: Robin tem um novo amor?
E logo abaixo do título, tinha uma foto. Uma foto de Rachel e Robin quase se beijando na calçada, quando ele a resgatou do bueiro.
A matéria dizia sobre alguns rumores de que eles já foram vistos juntos mais de duas vezes, com algumas fotos vazadas – embora a maioria estivesse desfocada, mas dava para ver nitidamente o uniforme dele e o cabelo roxo dela.
- Eu juro que não é verdade. – Rachel se defendeu, quando ele não falou nada – Ele tentou me beijar, mas eu não quis. Juro, Damian, eu não...
- Ei, tá tudo bem. – ele pegou na mão inquieta dela – Eu sei que não é verdade. Você não faria isso.
Ela sorriu agradecida para ele, mas Damian ainda consegui ver que ela estava desconfortável com a situação. Na notícia, o nome dela não era mencionado e ninguém sabia quem ela era, mas se eles ficassem lá agora, definitivamente iam começar a tentar descobrir. Damian não queria isso.
- Que tal a gente ir para minha casa? – ele sugeriu – Meus irmãos estão com saudades de você, e eu preciso te apresentar para eles e para o meu pai você como minha namorada, né? – arqueou uma sobrancelha
Rachel revirou os olhos, mas concordou. Ele pagou pelo sorvete e os conduziu para sua casa.
Fazia uma semana que aquela notícia de fofocas foi postada e, agora, graças aos seus odiados colegas de classe, o nome de Rachel caiu na boca da mídia. Muitas pessoas a paravam na rua para perguntar sobre o relacionamento dela com o herói, como ele era na vida normal e coisas do tipo, não adiantava o quanto ela negasse. Bruce sugeriu a Damian a procurar uma ordem de sigilo para Rachel e Ângela, o que o garoto concordou. Só precisava conversar com a namorada sobre isso, mas tinha certeza de que ela ia concordar. Ela mesma já disse que se pudesse, processava todos que estavam usando a imagem dela sem autorização. Foi em um tom de brincadeira, mas ele sabia que ela estava falando sério.
Damian sabia que isso não era o único problema. Ser um herói, significa ser discreto e não mostrar fraquezas. E, com certeza, Robin ser visto com qualquer garota automaticamente a colocaria em perigo. Os vilões amavam tornar as pessoas que os heróis amavam de refém. Pergunte a Louis Lane quantas vezes Lex Luthor atingiu o Superman através dela.
Ele não queria colocar a própria namorada em perigo por causa de rumores idiotas. Tinha que dar um jeito de reverter aquela situação antes que a informação caísse em mãos erradas.
Infelizmente, ele não achou a solução antes do incidente no banco.
5° vez
- Mãe, a gente não pode mesmo voltar outro dia? Isso aqui tá lotado! Vai demorar muito! – Rachel reclamou
- Não posso, Rae. Eu estou aqui em nome do Dr. Sevilla. Ele precisa de um empréstimo urgente e tem que ser hoje.
- Então não quer voltar mais tarde, pelo menos? A gente já tá aqui há mais de 2 horas e ainda tem... – viu o número na TV – umas 20 pessoas na nossa frente! Sem contar aquele casal de idosos que está aqui desde que a gente chegou e ainda não saiu. – baixou a voz – E parece que nem estão perto de terminar.
- Rachel, se você vai continuar reclamando, teria sido melhor ficar em casa.
- Você não me deixou ficar em casa!
- Não confio em te deixar sozinha em casa enquanto sua imagem circula descontroladamente por aí.
É, fazia sentido. Graças a Deus, não tinham descoberto onde ela morava, mas tanto Ângela quanto Rachel estavam sendo cuidadosos em deixá-la sozinha em casa por questão de cautela.
Rachel enfiou os fones nos ouvidos e esperou. Esperou, esperou e esperou. Mais uma hora se passou e ainda tinham 13 pessoas na frente, mas pelo menos o casal de idosos tinha ido embora finalmente. Só para ser substituído por um casal que nunca concordavam em nada e ignoravam totalmente a atendente, que não fazia ideia do que fazer.
Rachel gemeu de frustração. Ela queria morrer!
Ela foi ao banheiro e, logo depois de lavar as mãos, pegou o celular e ligou para Damian. Ele atendeu no terceiro toque.
- Oi, habibi.
- Más notícias. O cinema tá cancelado porque eu vou ficar o resto da tarde presa no banco com a minha mãe. Tem muita gente na nossa frente e tem um povo que gosta muito de falar!
Damian riu do outro lado da linha.
- Eu adoraria ajudar, mas eu não aguentaria ficar muito tempo em um banco para te fazer companhia. É um lugar sem graça e silencioso demais. Todos iam ouvir minhas piadas para você. Eu não ia gostar disso.
Rachel riu.
De repente, um barulho foi ouvido. Parecia o barulho de algo caindo. O barulho se repetiu. Rachel escutou aquilo, congelada. Não, não era nada caindo.
Era barulho de tiro.
Ela rapidamente correu para uma das cabines e se trancou, subindo no vaso sem tampa, tremendo.
- Rae? Rae, o que foi? – Damian perguntou quando ouviu a respiração trêmula dela
-Era um... um barulho... – respirou fungando – Barulho de tiro.
- Tiro?! Rae, você tá bem? Se machucou?
Imediatamente desligou a conversa com Damian e começou a discar o número da polícia. Ouviu mais um barulho e se encolheu, tremendo mais ainda. Pareceu uma eternidade até a telefonista atender.
- Eu... Ouvi um barulho de tiro aqui no banco e... Eu não sei o que tá acontecendo, mas eu tô ouvindo um monte de gritos também e eu... – sua voz começou a ficar mais alta e aguda inconscientemente
- Calma, querida. Calma. – a telefonista disse do outro lado, tentando fazê-la falar mais baixo – Você tem que respirar e falar devagar para eu entender. Em que banco você está?
- Na Avenida Dirty... 610, no... Olive Garden.
- Ok, anotei aqui. Vamos mandar as viaturas agora mesmo. Onde você está agora?
- Eu tô... – respirou fundo quando mais gritos foram ouvidos lá fora – Escondida no banheiro.
- Isso é ótimo, querida. Muito bom. – a telefonista falou com uma voz calmante. Sabia que deveria manter a garota o mais calma que conseguisse – Você não pode sair daí, tá bem?
- Mas minha mãe tá lá fora! Eu não posso...
- Querida, sei que é difícil, mas você tem que se manter segura agora. Não saia daí. A polícia deve chegar em poucos minutos.
- Minha mãe... – ela choramingou quando desligou a ligação
Tinha ouvido barulhos de tiros e, entre os gritos, ouviu o de Ângela. E se um dos tiros tivesse acertado... Não, ela não pensaria nisso. Sua mãe estava bem.
Será?
Sabia que devia escutar o que a telefonista disse, que devia se manter escondida, mas estava preocupada com a mãe. Rachel nunca foi muito boa em ouvir as ordens quando alguém que ela amava podia estar encrencado. Ou em perigo.
Fazendo o melhor para descer e abrir a porta da cabine em silêncio, tentando conter o tremor e as lágrimas. Andou em passos cautelosos e silenciosos até a porta, abrindo uma pequena fresta, mas o suficiente para conseguir ver a cena.
As pessoas estavam todas juntas, encolhidas em um canto, com três pessoas mascaradas apontando as armas para eles. E duas pessoas caídas e sangrando. Rachel engasgou, mas tampou a boca com a mão para não fazer barulho.
Uma dessas pessoas já estava com os olhos fechados, o peito imóvel. Morta. Mais lágrimas caíram. A outra pessoa, um homem que parecia ter uns 30 e poucos anos, também sangrava, mas pelo menos estava vivo. Ele parecia ter sido baleado na batata da perna. Rachel viu sua mãe, agachada ao lado dele, fazendo pressão na ferida, tentando parar o sangramento enquanto o homem uivava de dor.
Os olhos de Ângela encontraram os da filha. Nada foi dito, mas Rachel entendeu a mensagem. Não saia daí! Fique quieta!
Rachel segurou outro soluço quando um dos homens armados parou em frente a sua mãe, apontando a arma para sua cabeça. Sua mão na porta tremia e seu coração trovejava em seus ouvidos. Ela inteira estava tremendo mais que um terremoto.
- Anda, madame! Passa o celular e o dinheiro!
Ângela, com cuidado, tirou as mãos da ferida do homem e alcançou sua pequena bolsa, entregando o celular e a carteira, mas o homem não pareceu satisfeito.
- E o anel também! Rápido, rápido!
Ângela hesitou. Aquele anel era de sua família há gerações, e foi dada a ela por sua mãe, Azar. Ângela daria a Rachel de presente logo após a formatura na escola, ela disse, igual sua vó tinha feito. Era um simples anel dourado, parecido com uma aliança, mas era nitidamente banhado em ouro de verdade. Todos do hospital falavam para Ângela que aquele anel valia mais que três meses de seu salário fazendo plantões e horas extras.
Percebendo sua hesitação, o homem destravou a arma. Rachel estava pronta para intervir, mas uma voz aguda e esganiçada foi mais rápida.
- Ah, vamos lá, rapazes. Não queremos atirar em uma mulher bonita à toa, não é mesmo?
Quando essa pessoa entrou em seu campo de visão, Rachel teve que segurar um grito. Ele estava vestido com roupas elegantes em um tom de vinho, com uma cartola alta na cabeça. O nariz grande e a boca suja de preto, os olhos enormes já deixavam claro quem ele era, mas foi aquilo. Aquele guarda-chuva que definitivamente o entregou.
O Pinguim.
Rachel já tinha visto notícias sobre ele nos jornais. Ele tinha um grande arsenal de guarda-chuvas com várias utilidades. Alguns com lâminas nas pontas, outros com lança-chamas, outros soltavam gases venenosos, um deles tinham uma hélice tão potente que o fazia voar!
Ele era mais conhecido por roubos a bancos, joalherias e cassinos, mas nunca deixava as pessoas em paz. Ele estava longe de ser tão cruel e maluco como o Coringa – graças a Deus -, mas ela viu as obras dele na TV. Ele também gostava do caos e do medo.
Agora, ele estava usando o guarda-chuva como uma bengala, andando teatralmente até sua mãe. As pessoas começaram a se encolher. Uma criança enterrou o rosto do pescoço da mãe, mas Rachel conseguia ouvir o choro dela ainda assim. Céus, quando a polícia iria chegar?!?!
O homem baleado estava começando a parar de resmungar de dor, os olhos pareciam pesados. Meu Deus, ela devia chamar uma ambulância também, mas agora estava assustada demais para fazer sequer um movimento. Mesmo piscar parecia barulhento demais. Errado demais.
- Não precisamos utilizar a violência agora, não é? – ele disse, dramaticamente – Você não gostaria disso, não é, amor? – olhou para sua mãe
Se ele dissesse "não é?" mais uma vez, Rachel perderia a cabeça. Ângela se encolheu quando ele se ajoelhou na sua frente.
- Passa o anel para mim.
- Eu já entreguei tudo de valor. – ela murmurou com medo – Isso é só um anel velho que eu ganhei da minha mãe. Não vale nada.
- Não é o que parece, já que está tão relutante para entregar.
- P-p-por favor, me deixa ficar com ele, eu entrego todo o resto, mas o anel...
- Será que você precisa de uma motivação? – ele estalou os dedos e um quarto homem mascarado se aproximou, com um outro guarda-chuva.
Era um guarda-chuva verde musgo, quase normal, mas o que fez as pernas de Rachel ficarem bambas foi a lâmina na ponta. A lâmina grande e fina, e afiada. Ângela engasgou quando Pinguim apontou a lâmina para ela.
- Devo usar essa ponta para fazê-la entregar esse arco de ouro?
- P-por favor, eu t-tenho uma fi-filha em casa e...
Pinguim enfiou a lâmina no peito do homem ao seu lado. O homem baleado. Todos engasgaram, segurando os gritos. Infelizmente, Rachel não conseguiu dessa vez. Ela gritou alto de susto, o som ecoando no banheiro e na sala do banco.
Pinguim olhou para trás, para a porta do banheiro.
- Achei que você tivesse dito que todos estavam aqui! – Pinguim gritou para um dos homens
- M-mas estavam!
Quando percebeu seu erro, Rachel fechou a porta, mas era tarde demais. Sabia que eles a encontrariam. Começou a correr para uma das cabines, mas escorregou no piso molhado e encerado de antes, batendo a cabeça e viu estrelas por alguns segundos. Balançou a cabeça e se levantou rápido, mas foi agarrada por trás. Gritou de novo, se debatendo o máximo que conseguia.
- Fica quieta, garota! – o homem que a segurava rosnou, com o cano da arma em sua têmpora
Ela não parou de lutar enquanto o homem a arrastava para o salão e a jogou no chão. Ela caiu de joelhos, a queda fazendo seu capuz cobrir seu rosto de novo. Viu os pés de Pinguim se aproximando dela. Fez questão de manter o rosto baixo.
- Então temos uma espertinha por aqui, não é?
Ele definitivamente gostava daquelas palavras. Não é, não é, não é, não é, não é. Nunca mais ouviria aquelas palavras sem ouvir a voz dele, tinha certeza.
- Não, ela, não, por favor! – Ângela gritou, desesperada – Deixe ela em paz, por favor!
- Ah, aposto que é a filha que estava te esperando em casa, não é?
Não é?; Não é?; Não é?; Não é?; Não é?; NÃO É?!?!
Sentiu ele agarrar se braço, forçando-a a se levantar. Ela ficou em pé, mas ainda se recusou a olhar para ele.
- Por favor, ela não fez nada! Eu dou o anel, juro que dou, só deixa minha filha ir embora. Princesa, assim que eu entregar o anel, você vai pra casa, tá? Me promete, filha!
Rachel não deixou de notar como sua mãe evitava falar seu nome. Era exatamente pelo mesmo motivo que ela evitava olhar para ele. Não queria que Pinguim a reconhecesse como a "namorada do Robin". Isso certamente a colocaria em um grande problema. Maior do que esse.
Ouviu várias sirenes na mesma hora que o criminoso abriu a boca. Quase suspirou de alívio. Quase.
- Mas que droga!
- Saiam todos com as mãos no alto! O prédio está cercado! Não nos obriguem a usar a violência!
Dessa vez, Rachel suspirou. Sua ação não passou despercebida. Pinguim a sacudiu com força.
- Sua criança idiota! Foi você que chamou a polícia, não foi?!
A sacudiu com mais força, fazendo seu capuz cair. Rachel prendeu a respiração, assustada, quando viu o reconhecimento no rosto dele.
- Ah, não. Não creio. – apertou com mais força o braço dela – Não acredito que estou com a namorada do Robin, literalmente, nas minhas mãos. – ele riu loucamente, largando o guarda-chuva para agarrar o queixo dela, a forçando a olhar pare ele – Quase tão bonita quanto a Mulher-Gato que o morcego roubou de mim.
- Só vamos falar mais uma vez. Saiam agora e libertem as pessoas! – um policial gritou do lado de fora
O Pinguim se virou para Rachel de novo, ignorando os policiais e Ângela. Seu nariz pontudo cutucava o rosto dela. Rachel tentou afastar um pouco o rosto, mas sentiu o guarda-chuva dele atrás de seu pescoço. Ela nem tinha percebido que ele soltou seu braço e que o outro homem tinha lhe entregado outro guarda-chuva. Ela nem queria saber para quê aquele servia.
- Vamos brincar um pouco, garota. – riu de novo
Pelo menos não era o Coringa. Não era o Coringa. Não era o Coringa. Não era o Coringa. Ela repetiu isso para si mil vezes, mas nada a acalmou o suficiente. Ela não achou que a polícia fosse fazer muita diferença. Pinguim já tinha matado vários policiais em seus assaltos anteriores. Pelo menos os seus comparsas pareciam meio hesitantes.
Pinguim notou a hesitação deles e fechou o sorriso.
- É por isso que eu não trabalho com pessoas.
Rachel sentiu dois trancos atrás dela e quando se deu conta, dois de seus comparsas estavam mortos no chão. O guarda-chuva era literalmente uma arma. Ela tremeu de novo.
- Tudo bem, então. Vocês dois. – apontou para os dois homens ainda vivos – Vão até lá e digam que só vamos sair assim que conseguirmos achar o cofre, entenderam?
- Mas... Se formos lá fora, vamos ser presos. – um deles comentou e, em um piscar de olhos, também estava morto no chão
- Ops, foi sem querer. – riu maniacamente de novo
Rachel conseguiu virar um pouco a cabeça e viu sua mãe mais pálida que um fantasma. Sabia que a mãe estava tão desesperada quanto ela, senão mais. Ângela aceitaria facilmente trocar de lugar com a filha se isso significasse que ela estaria segura.
- Você vai lá para fora e entregar a minha mensagem ou...?
- Sim, senhor. – o homem guardou a arma e correu para fora
A criança que estava chorando antes levantou a cabeça e olhou para a entrada de um dos corredores, ouvindo um barulho. Rachel seguiu o olhar dele e arregalou os olhos.
Pinguins. Duas dezenas de pinguins com alguns equipamentos estavam andando até eles. Rachel não achou que fosse possível, mas pelo menos metade daqueles pinguins pareciam bravos.
- Muito bem, amiguinhos. Me ajudem a achar o cofre! – ele gritou para as pequenas aves – Explodam todas essas paredes se precisarem, mas peguem tudo de valor que acharem!
Os pinguins graniram. Será mesmo que eles entendiam? Será que eram pinguins de verdade? Ou seriam robôs? Rachel não sabia. A única coisa que sabia era que queria muito, muito mesmo que ele a soltasse.
Foi então que percebeu que deve ter se desligado de novo, porque quando piscou, o guarda-chuva de pinguim tinha mudado. Era aquele com a lâmina na ponta. Uma lâmina que estava encostado a milímetros de seu pescoço. Suas costas estavam pressionadas contra o relógio no peito de Pinguim, deixando-a muito mais desconfortável do que já estava.
Ele estava falando alguma coisa, mas ela não ouvia nada. Nada além dos tiros, dos gritos e dos granidos enlouquecidos dos pinguins.
Os barulhos se repetiam em sua mente conforme ela observava os civis se levantarem com cautela e andarem de costas até a saída, com as mãos levantadas. Um homem e uma mulher puxavam suavemente sua mãe para longe, que se debatia e gritava alguma coisa, desesperada, tentando chegar até a filha. Não adiantou, ela foi levada para fora do banco.
O desespero tomou conta de Rachel também. Ela ia ficar sozinha com ele?!?!?!
Interrompendo o loop em sua mente, começou a se debater de novo, fazendo Pinguim encostar a lâmina fria em seu pescoço com mais firmeza.
- Ah, você estava tão quieta antes, garota. Por que quer começar a fazer birra agora?
- Você já vai pegar todo o dinheiro, por que tá me mantendo aqui?
- Ah, ela fala! – riu mais, o som reverberando pela sua espinha – Garota, se eu sair lá fora, os policiais não vão hesitar em abrir fogo cruzado comigo e com meus amigos com penas. Considere-se meu escudo humano.
- Me deixa ir embora, por favor.
- Eles nunca vão atirar em uma pessoa inocente, ainda mais na namoradinha do morcego bebê.
- Eu não sou a namorada dele! Me larga!
A lâmina fez um corte em seu pescoço, pequeno, mas o suficiente para tirar sangue. Com a adrenalina percorrendo seu corpo, Rachel nem percebeu.
Um dos pinguins graniu loucamente e o criminoso pareceu entender. Ele sorriu de novo, os dentes manchados de preto assombrariam seus pesadelos para o resto da vida.
- Parece que um dos meus amiguinhos penosos encontrou alguma coisa. Anda, garota.
Ele a arrastou, seguindo um pinguim com uma faixa amarela ao redor do pescoço até o andar de cima. Ela ouviu os policias falando no megafone de novo, dizendo que se ele não saísse, eles entrariam. Dessa vez, ela torcia para não entrarem. Tinha quase 100% de certeza de que, se eles entrassem à força, Pinguim passaria aquela lâmina em seu pescoço e a mataria.
Quando entraram na sala que o pinguim de amarelo mostrou, estavam inúmeros compartimentos. Rachel levou um momento para perceber que era os cofres privados de algumas famílias.
- Ah, esse ainda não é o cofre principal, mas deve servir, por enquanto. Chame alguns de seus irmãos e peguem o que puderem.
Levou no máximo dois minutos até outro pinguim "chamá-lo", dessa vez com uma faixa verde, e o levou para o terceiro e último andar. E lá ele achou.
Uma grande porta de metal. A porta do cofre. Os olhos de Pinguim pareciam brilhar de empolgação.
- ISSO! – comemorou – Me tragam meu guarda-chuva especial. – pediu aos dois pinguins que o acompanhavam – Prepare-se para ver um show, garota.
Mas Rachel não ouviu. Enquanto eles andavam segundos atrás, ela viu a porta do terraço a poucos passos desse corredor. E seu plano de fuga estava se formando na sua mente. Era óbvio que ele teria que soltá-la quando fosse abrir a porta do cofre e, no momento em que fizesse isso, correria pra lá. Com sorte, conseguiria... Ela não fazia ideia do que fazer quando chegasse lá, mas sabia que estaria longe de Pinguim e isso já era o suficiente.
Talvez não fosse o plano mais inteligente, mas quem poderia culpá-la? Ela estava em pânico!
- Não adianta pensar em correr para o andar de baixo, garota. Meus amiguinhos estarão de guarda no começo da escada caso você tente bancar a espertinha de novo.
- Não vou fazer isso. – murmurou com a voz trêmula
Quando o outro guarda-chuva chegou, ele finalmente afastou a lâmina de seu pescoço e a soltou. Rachel suspirou aliviada, finalmente notando uma umidade em sua clavícula e blusa. O corte em seu pescoço estava sangrando ainda. Ela preferia não ter notado, porque agora, começou a sentir a ferida arder.
Colocou a mão no pescoço e se afastou, Pinguim a analisou por um minuto que mais pareceram horas antes de se virar. O guarda-chuva parecia ter aquela ferramenta que são usadas para soldar ou cortar ferro na ponta. Rachel não entendia como uma sombrinha poderia guardar aquilo. Quantos guarda-chuvas aquele cara trouxe?!
Quando ele colocou uma máscara – ela não fazia a menor ideia de onde ele tirou aquilo – e se virou, começando a tentar cortar a porta do cofre, Rachel esperou, dez, vinte segundos e se virou, andando a passos cautelosos fora daquele salão.
No corredor, não viu nenhum dos pinguins. Pelo menos, nenhum que estivesse a vendo. Tinham 3 deles de guarda na entrada do corredor que dava para as escadas. Azar deles. Ela ia por outro caminho.
Tentando correr o mais silenciosamente possível, abriu a porta que dava para as escadas do terraço. Infelizmente, a porta parecia estar enferrujada e as dobradiças fizeram barulho, alertando os pinguins, que se viraram.
- Merda! – ela rosnou e bateu a porta, a trancando
Correu escada acima até achar a porta que dava para fora. Ar puro. Muito ar puro. Muito ar puro e chuva. Rachel respirou fundo e trancou aquela porta também. Isso lhe daria um tempo para pensar no que fazer.
Correu para a beirada. Muito alto. Se pulasse, se quebraria inteira. Ou morreria. Ela não gostou de nenhuma das opções. Um policial a viu e gritou alguma coisa, mas com o coração trovejando em seus ouvidos, ela não conseguiu ouvir. Não, não era seu coração. Era a porta batendo. Com muitos granidos.
Pinguins estúpidos! Por que não ficaram no polo norte ou polo sul de uma vez?!
Se virou para a beirada de novo, pronta para gritar por socorro, mas viu uma coisa no meio deles que, em seu desespero para acalmá-la, não perceberam. Era uma granada. Sem o anel. Uma granada sem o anel. Aquilo ia explodir!
Arregalou os olhos.
- Uma granada! Cuidado! – ela gritou o mais alto que pôde
Funcionou. Alguns ouviram e gritaram para se afastarem, mas já era tarde demais. A granada explodiu. Rachel esperou a explosão de laranja e vermelho, mas não aconteceu. O que saiu da granada foi um gás verde claro. Ela franziu o cenho quando os policiais foram caindo, um a um.
Por favor, não estejam mortos. Ela já tinha visto morte demais por um dia. Onde estavam os civis? Onde estava a ambulância? ONDE ESTAVA SUA MÃE?!?!
Alguns pinguins apareceram em seu campo de visão lá embaixo, correndo com sacos gordos, cheios de dinheiro e objetos valiosos, até um carro muito chique estacionado no fim da rua. Meu Deus, aquele carro tinha passado na frente da escola dela um milhão de vezes! Proposital ou coincidência?
Um barulho parecido com vento tirou sua atenção das aves sem joelhos. Ela olhou para o prédio da frente e viu duas formar correndo. Uma super alta e outra menor. As duas tinham capas. A mais alta parecia ter dois chifres na cabeça. Ela reconheceu.
Batman e Robin.
Robin. É claro, ela sabia que uma hora ele ia chegar, por mais que odiasse admitir.
- Robin! – gritou, chamando a atenção da figura menor
Ele tirou os olhos da porta do banco e olhou para o terraço. Para ela. Seus olhos encontraram os mascarados dele. Soltou um suspiro de alívio e sorriu levemente.
Ela não ia morrer hoje. Ela não ia morrer hoje. Ela não ia morrer hoje.
Gritou quando sentiu alguém agarrá-la por trás. Sabia quem era. Sentiu o relógio e viu o guarda-chuva.
Ela ia morrer. Ela ia morrer. Ela ia morrer. Ela ia morrer. Ela ia morrer.
Pinguim pôs a mão na testa dela e puxou sua cabeça para trás, expondo seu pescoço, sem nenhum impedimento. Ele encostou a lâmina no corte aberto, fazendo-o doer mais. Ela comprimiu os lábios para evitar que tremessem.
Não conseguia ver nada além do céu escuro e da chuva pingando em seus olhos, mas ouviu o barulho de Batman e Robin aterrissando no telhado em frente a eles.
- Solte a garota, Pinguim! – a voz grave e baixa de Batman foi ouvida
- Você sempre acaba com a brincadeira, morcego. – o criminoso disse e o pinguim ao seu lado graniu, parecendo concordar
- Você machucou ela! – Robin rosnou ao ver o sangue em seu pescoço e clavícula
- Não, não, não. Eu não fiz nada com sua namoradinha, baby bat. Na verdade foi você, não é, garota? – puxou sua cabeça mais para trás – Eu disse para ela ficar quieta, mas ela não ficou. Não é?
- Para de falar isso. – ela choramingou
Robin deu um passo para frente, mas congelou quando Pinguim fez pressão no machucado de Rachel, fazendo-a engasgar. Batman colocou um braço na frente de Robin, impedindo qualquer movimento futuro.
- Você já está levando o dinheiro do banco. Solte a garota agora!
- Não sei, não, morcego. Você roubou minha companheira de mim. Por que eu devolveria a do seu filhote tão fácil assim?
- Sua companheira?
- Tá falando da Mulher-Gato? – Robin grunhiu – Você tá mesmo mantendo uma garota inocente refém por que ainda não superou uma mulher que nunca te quis, pra começo de conversa?!
- Nós temos uma história! – ele gritou
- Isso não é motivo para você manter ela. Solte ela agora!
Rachel ainda não conseguia ver, mas podia jurar que o rosto dele estaria levemente vermelho. Sempre ficava quando ele estava a ponto de matar alguém. Figurativamente, por favor.
O nariz pontudo de Pinguim cutucou sua bochecha quando ele se virou para ela, inspirando fundo.
- O que você acha, garota? Não acha que é justo eu ter algo de alguém que tirou algo de mim?
- A Mulher-Gato não é algo que você pode ter, e nem a garota. Solta a Rachel, Pinguim.
Pinguim virou a cabeça para Batman, com um sorriso.
- Então você sabe o nome da sua norinha, que coisa fofa, morcego. – riu – Rachel. Um nome bonito, garota.
Robin viu Rachel estremecer quando Pinguim falou seu nome. Sentiu vontade de martelar a cabeça de seu pai por ter dito o nome dela. Claro, estava em várias notícias recentes, mas Pinguim não parecia saber o nome dela até aquele momento.
Seus olhos focaram no corte em seu pescoço. Não era fundo, mas ela estava machucada e isso já era motivo para ele querer aquele idiota morto. Batman falou alguma coisa que ele nem se incomodou em ouvir, mas fez Pinguim rir loucamente de novo.
Isso o fez perder a cabeça. Sem pensar logicamente, pegou seu gancho e o lançou na direção do pinguinzinho ao seu lado. A corda se enrolou na ave e ele a puxou. A ave graniu.
- Ei! – Pinguim gritou
Robin colocou sua espada na cabeça da ave.
- Solta ela agora ou eu juro que fatio esse animal agora!
Era um blefe. Ele nunca machucaria qualquer animal, mas Pinguim não sabia disso. Batman sabia, por isso não o reprendeu pela ameaça.
Mas...
Se aquele cara não soltasse Rachel depois disso, Robin não sabia o que faria. Talvez ele realmente perdesse a cabeça.
Pinguim fechou a cara e assumiu uma expressão perigosa. Sem aviso, fez pressão e aumentou o corte no pescoço de Rachel, fazendo-a gritar de dor.
Batman deu um passo à frente, preocupado. Robin imediatamente soltou o animal, entendendo o aviso. Nunca se perdoaria se algo acontecesse com ela por sua causa.
- Ótimo, ótimo, muito bem. Agora... – Pinguim se interrompeu, parecendo ouvir alguma coisa. Logo ela também ouviu. Granidos, granidos e mais granidos de pinguins loucos – Ah, parece que meus amiguinhos terminaram o serviço.
Foi então que Batman e Robin se deram conta do que ele tinha feito. Estava apenas ganhando tempo para os animais terminarem de saquear o cofre. Os cofres.
Batman olhou discretamente para o fim da rua, onde o carro chique estava lotado de sacos cheios.
- Adoraria ficar mais tempo para conversar, rapazes, mas... – começou a andar para trás lentamente – Eu sou um homem muito, muito, muito ocupado. – um pinguinzinho o entregou outro guarda-chuva, dessa vez um vermelho – Então... – subiu no parapeito – Eu tenho que ir!
Jogou o guarda-chuva com lâmina no chão e empurrou Rachel para frente, com força. Robin correu até ela e a segurou antes que ela caísse no chão. Batman correu até o parapeito ao mesmo tempo que Pinguim pulou de lá, acionando a hélice na ponta da sombrinha e voando – realmente voando – até seu carro. Batman hesitou em ir atrás, olhando para os dois mais novos, como se perguntasse se eles ficariam bem.
- Vai! – Robin grunhiu
Não precisou falar duas vezes. Batman pulou do prédio.
Robin se virou para Rachel de novo. Ela estava tremendo dos pés a cabeça em seus braços. Ele a abraçou com mais força, esfregando suas costas.
- Calma, respira. Respira comigo. Tá tudo bem, tudo bem. Acabou, ele foi embora.
- E-eu ach-achei que ia m-morrer... – ela soluçou
- Eu nunca ia deixar isso acontecer. Nunca!
Ela se agarrou aos braços dele como se sua vida dependesse disso. Na verdade, dependeram, segundo atrás, quando tinha uma lâmina em seu pescoço. Meu Deus, como isso dói!
Colocou uma das mãos no corte, ainda sem soltar os braços dele. Sabia que se ele estivesse ali, ela ficaria segura. Sabia com toda certeza.
- O-os civis e... – soluçou de novo – A minha mãe. Onde eles...?
- Vi algumas ambulâncias saindo daqui um tempo atrás. Provavelmente estão todos a caminho ou já no hospital, ou foram para casa assim que saíram.
- Minha mãe estava desesperada quando percebeu que ele não me deixou ir também.
- Ela vai ficar bem. Tenho certeza de que ela está no hospital, sendo bem cuidada e vai ficar muito feliz quando ver que você está bem. – olhou para o pescoço dela, sentindo uma raiva enorme – Você está bem. – disse mais para si mesmo do que para ela
Rachel respirou fundo e fechou os olhos, enterrando a cabeça no peito dele. Robin nem pensou em sentir ciúme. Sabia que ela estava assustada demais para pensar no que realmente estava fazendo. E cansada. Ele podia sentir os membros dela ficando pesados agora que a adrenalina estava saindo do corpo dela.
- Rachel, né? – perguntou suavemente e ela acenou com a cabeça – Seu corte tá sangrando mais. Vou levar você para o hospital, tudo bem?
Ela hesitou, não querendo sair do abraço dele, mas sabia que precisava de um curativo, rápido.
- Eu... Eu aceito ir de gancho hoje. – disse com a voz baixa
Robin a olhou, surpreso, mas acenou com a cabeça. Ele a ajudou a levantar e os levou até o parapeito, subindo com cuidado.
- Eu só vou conseguir te segurar com um dos braços, então você tem que segurar firme, ok?
Ela assentiu, o abraçando pelo pescoço. Robin enlaçou um braço ao redor de sua cintura.
- Pronta?
Ela assentiu de novo, e então, ele pulou.
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- Bom. – Jinx suspirou – Era o mínimo que ele podia fazer, depois de ter te colocado nessa situação.
Kory concordou, mas Rachel apenas encarou a tela com o vídeo pausado. Um vídeo de Robin, na Bat-caverna, esclarecendo os "rumores" sobre sua suposta namorada. Ela tinha visto aquele vídeo umas 20 vezes, já sabia recitar a maioria das suas palavras.
A foto foi tirada de um ângulo errado e passou a mensagem errada. E por conta desses rumores, acabaram colocando uma civil inocente em perigo. A adolescente Rachel Roth não é minha namorada e nem tem qualquer vínculo comigo. Ela é apenas uma moradora de Gotham que eu salvei de um apuros, assim como muitas outras garotas e garotos.
Eram essas as palavras que ela sabia recitar. Ela agradecia Robin pelo vídeo e agradecia a Bruce por usar seus contatos para conseguir uma ordem de sigilo para ela. Agora, qualquer pessoa que usasse seu nome ou sua imagem sem autorização, teria que pagar uma multa com um valor bem salgado e corriam o risco de ter seus portais de mídia banidos. Sem contar que, para os jornalistas, eles corriam o risco de perder o emprego. De certa forma, isso aliviaria um pouco toda a pressão em cima dela.
Fazia apenas 3 dias desde o incidente com Pinguim e parecia que seus amigos estavam pisando em ovos quando tentavam falar com ela. Será que ela estava com uma cara tão horrível assim?
Quer dizer, ela achou que ia morrer! Isso não é uma coisa que ela esqueceria fácil em só 3 dias!
- Não foi culpa dele. – Rachel disse, balançando a cabeça – Foi culpa da pessoa que postou e compartilhou a foto. E do povo da escola, que expuseram meu nome por aí.
- Verdade. Aquilo foi muito mancada. – Kory assentiu e seus olhos se desviaram para o curativo na garganta de Rachel – Tá doendo muito?
- Não tanto quanto antes. – deu de ombros
Olhou para Jinx e percebeu que ela queria muito, muito mesmo perguntar alguma coisa. Rachel conseguiu sorrir levemente. Jinx nunca se importava com o que falava, mas ela estava fazendo um esforço enorme por ela. Rachel agradecia.
- Pode perguntar, Jinx.
Ela hesitou.
- Não, não. – desdenhou
- Não vai me incomodar, prometo.
Jinx hesitou de novo, mas sua curiosidade foi maior.
- Os pinguins pelo menos eram fofinhos?
Isso foi o suficiente para Rachel e Kory caírem na risada.
Rachel sabia que não esqueceria isso de novo, nunca, mas torcia para que, pelo menos, as coisas voltassem ao normal com seus amigos.
- Ela não tá brava com você. – Garfield murmurou pela centésima vez
- Não comigo, mas com o Robin, provavelmente.
- Ela não tá! Cara, eu conheço ela há mais tempo que você e, acredite em mim, se ela estivesse brava com alguma coisa, você saberia.
- Ela podia ter morrido por minha causa!
- Por causa de um babaca na internet! Você não fez nada demais!
- Eu tentei beijar ela naquele dia. A foto não era falsa.
- De novo: você não fez nada errado!
- Mas...
- Caramba, Wayne! Não achei que você fosse ficar tão sentimental assim. Pare de agir como eu! Isso é medonho.
Damian parou de andar de um lado para o outro. Ele estava agindo como Logan?! Meu Deus, qual era o problema com ele???
- Tô ficando maluco, tenho certeza. – ele murmurou para si mesmo – Preciso ver ela.
Garfield demorou para entender, mas arregalou os olhos e pulou da cama.
- Você não falou com ela ainda?! Nesses três dias?!
- Eu não conseguia nem olhar pra mim mesmo! Como eu iria olhar para ela com naturalidade? Tudo que eu mais quero fazer agora é me ajoelhar e pedir desculpas um milhão de vezes!
- Não faça isso. Vai ser muito vergonhoso. – Garfield fez uma careta, mas balançou a cabeça – Então, o que você está esperando? Vai falar com ela!
- Ah, eu não sei, Logan...
- Vai logo!
- Eles vão se beijar agora? – Kory perguntou, colocando pipoca na boca – Parece que eles vão se beijar!
- Ah, com certeza vão. – Jinx concordou, roubando o refrigerante da mão de Rachel, que olhou feio para ela
O casal se beijou. Bastante. Um beijo vergonhoso de se assistir. As três fizeram careta, mas seus olhos se arregalaram quando o casal se deitou na cama.
- Credo, que nojo! Muda de canal! – Rachel gritou para Jinx, que tateava o tapete em busca do controle debaixo dos cobertores
- Cadê a merda do controle?!
- Se minha mãe chegar e ver a gente assistindo isso...
- Isso é muito vergonhoso e nojento. – Kory murmurou cobrindo os olhos com uma das mãos e jogando pipoca na boca com a outra. Ela nunca parava de comer, nem se o mundo estivesse acabando
- Achei! – Jinx gritou, mudando o canal
Ok, o filme vergonhoso foi trocado por um episódio de desenho. Winx. Uau, que contraste!
- Quer que eu troque de novo? – Jinx perguntou, mudando o canal
Rachel pensou e quando encarou Kory, a ruiva tinha a mesma resposta que ela. As duas balançaram a cabeça negativamente. Jinx as encarou por um tempo, mas deu de ombros e se aconchegou na coberta de novo.
- Só para vocês saberem, eu sou super a Estela. – ela disse
Kory olhou para ela, pasma.
- Eu sou a Estela.
- Você tá mais pra Flora.
- Não, eu sou a Estela. Você é a Aisha.
- Eu sou a Estela!
- Eu sou ela!
- Vocês estão mesmo discutindo isso? – Rachel perguntou, colocando uma colher de brigadeiro na boca
As duas nem pareceram ouvir. O programa continuou sem problemas. Isso é, até a campainha tocar. As três se encararam, confusas.
- Você está esperando alguém? – Kory perguntou
- Não. – se virou para Jinx – Você pediu pizza com meu cartão?
- Ah, eu não faria isso! – uma pausa – De novo.
Rachel se levantou e foi até a porta. Hesitou. Quando abriu a porta, teve apenas 2 segundos para raciocinar, porque Damian já a estava beijando. Um beijo carinhoso e demorado. Ela se recompôs aos poucos, colocando a mão suavemente na bochecha dele.
Damian quebrou o beijo, mas não se afastou, encostando a testa na dela e respirando ofegante. Ela olhou para ele por entre os cílios.
- Tudo bem? – ela perguntou
- Eu te amo. – ele disse ao invés de responder – Eu te amo, eu te amo, eu te amo. – beijou rapidamente a ponta de seu nariz – Eu te amo muito.
- Eu também te amo. Muito.
- Eu fiquei muito preocupado quando soube o que aconteceu. Só não vim antes por... Eu fiquei me sentido culpado por não conseguir te ajudar e depender da ajuda da polícia e todo o resto.
Damian viu aquele sorriso leve no rosto dela. De novo, seus olhos brilhavam com algum tipo de entendimento que ele não sabia explicar.
- Não tem problema. Eu entendo. Eu não tô chateada com você, se é por isso que você fugiu esses dias todos. Você foi ótimo.
Ele foi ótimo? Do que ela estava falando?
Ah, é. Ele ligou para ela naquela noite, fingindo ter visto tudo na TV e a acalmou como pôde, e ficou na ligação com Rachel até ela conseguir dormir. Com muito esforço.
- Queria ter feito mais do que falar em um telefone com você. – ele murmurou
Ela o encarou com um misto de emoções, mas ao invés de falar, apenas o puxou para um abraço com um beijo, tudo muito carinhoso. Damian levou a mão até seu queixo, seu mindinho acidentalmente tocando o curativo na garganta.
- Ewwww! – os dois ouviram e se afastaram, Rachel se lembrando que tinha visitas
As bochechas de Damian coraram furiosamente ao notar Kory e Jinx os assistindo, debruçadas no encosto do sofá, sorrindo maliciosamente.
- Aw, eu não achei que o grande Damian Wayne seria tão sentimental assim. – Jinx zombou
- Cala a boca, é fofo! – Kory bateu com uma almofada em seu rosto
- Eu não... Não queria interromper. – ele pigarreou, falando baixinho – Só precisava ver você.
- Não tem problema. Eu estava com saudades.
Damian olhou lá dentro e viu o que passava na TV, um sorriso sarcástico crescendo em seu rosto. Dessa vez foi a vez de Rachel corar.
- Não achei que você gostasse de Winx.
- É um desenho legal. – deu de ombros
- Aham. Fadas que usam o poder da amizade, que original.
- Rachel, ele tá ofendendo nosso esquadrão! Manda ele embora agora!
- Concordo! – Kory disse com dificuldade, se forçando a engolir o brigadeiro rapidamente
Rachel revirou os olhos, sorrindo e se virando para ele.
- Você ouviu. Se manda daqui antes que nós precisemos usar pó mágico em você.
- Você não devia falar assim. Alguém com uma mente mais poluída pensaria em pó mágico como outro tipo de pó.
Rachel olhou para ele, boquiaberta, mas segurando uma risada. Não teve tempo de responder.
- Magia Winx! Believix! – Jinx gritou e jogou um punhado de pipoca em Damian
Kory e Rachel riram, sem conseguir se conter. Damian olhou surpreso para Jinx, mas acabou sorrindo também. Sorriu mais ainda ao ver a namorada rindo daquele jeito, depois de passar três dias com o olhar meio perdido. Kory e Jinx eram o melhor remédio para ela, ele sabia.
- Ok. Depois desse ataque super perigoso, é melhor mesmo eu ir. Nem quero ver o próximo golpe.
Rachel sorriu e balançou a cabeça. Damian deu um beijo carinhoso em sua testa, mas antes de ir embora, ouviu Kory chamar seu nome.
- Anders?
- Quem você acha que parece mais a Estela para você?
Jinx e Kory olharam para ele com expectativa. Damian franziu o cenho e olhou para Rachel, com uma pergunta silenciosa. Ela apenas revirou os olhos e cruzou os braços, indicando com a cabeça as amigas, que esperavam uma resposta.
Ele pensou um pouco antes de responder.
- A Kory.
Depois disso, saiu. Kory comemorou enquanto Jinx o xingava de maneiras que só ela entendia, dizendo que ele com certeza era o Riven na vida real.
Rachel já se sentia bem melhor.
5° vez:
- Dá pra você levantar a cabeça?! – Garfield gritou por cima do barulho – Eu tô ficando surdo!
Rachel o ignorou. Ela estava debruçada sobre a buzina do carro, repensando suas escolhas de vida. Ela e Garfield estavam presos naquele engarrafamento há mais de uma hora, em cima de uma ponte velha. A ponte tinha uma estrutura perigosa há dias, mas ela resolveu pegar aquele caminho para encurtar o tempo da viagem para casa. Obviamente não deu certo, já que aconteceu algum acidente e estavam esperando a emergência e o resgata virem.
Até agora nada.
Rachel ligou para Ângela avisando do ocorrido, prometendo ligar a cada 30 minutos. Garfield também fez essa promessa para Steve e Rita.
A ponte estava balançando um pouco e, mesmo negando, os dois estavam meio preocupados. Aquela ponte estava frágil e tinham muitos carros e caminhões parados em cima dela. A ponte estava a mais de 10 metros do chão e, a cada tranco da ponte, o coração deles errava uma batida.
- Chega! Para! Todo mundo já está irritado com essa buzina! – Garfield puxou Rachel para o encosto de novo, finalmente parando o barulho
- Já faz muito tempo. Quando o socorro vai chegar? – ela choramingou como uma criança
- Rae, vai vir ambulância, polícia, bombeiro e o guincho. E aqui dá em uma estrada bem estreita. Vai demorar para chegar. – bocejou
- Já faz 1 hora! Eu quero ir embora logo!
- Você parece uma criança birrenta. Normalmente essa pessoa sou eu. Tem algo de errado com você.
- Meu ciclo desce na semana que vem, Garfield Logan! Isso se chama TPM, já ouviu falar? – perguntou ironicamente
Ele revirou os olhos. Se Rachel não tivesse ficado um bom tempo soando a buzina, ele já teria dormido há séculos, mas agora seu sono passou. Se alongou como pôde no banco e seus olhos caíram nos embrulhos no banco de trás. Um dele próprio e no de Rachel. Um pouco maior que o dele.
- Você vai mesmo dar isso pra ele? – ele perguntou
Rachel virou o rosto para ele, desacreditada.
- Você vai dar aquilo para ele? – contra atacou
Garfield segurou uma risada ao pensar no que comprou de presente. Damian ia matá-lo, mas valeria a pena só de ver sua cara. Damian faria aniversário dali alguns minutos, considerando que faltavam 20 minutos para meia-noite.
- Ele vai amar. – deu de ombros
Rachel revirou os olhos, mas antes de responder, outro tranco sacudiu a ponte, mas dessa vez mais forte. Não foi um tranco natural. Alguém gritou e foi quando Rachel viu.
Uma enorme sombra se ergueu da beirada da ponte, enorme mesmo. Aquilo era... Um gorila? Um gorila enorme. Com uma boina e com uma faixa passando pelo peito. O animal "rugiu" e pulou na ponte, correndo para o outro lado e pulando da beirada de novo.
- Que merda é essa? – Rachel resmungou, saindo do carro
Foi até a beirada e olhou a cena lá embaixo. Muitas pessoas fizeram o mesmo. Muitas escolheram ficar no carro também.
A estrada debaixo estava em pânico, tentando escapar e evitar ser pisoteado ou golpeado pelo gorila. Todos estavam gritando.
Garfield coçou a cabeça quando Rachel voltou para o caso, batendo a cabeça repetidamente na buzina.
- Por quê? Por quê? Por quê?! – praticamente gritou
- Você devia mesmo considerar o Convento da sua tia. – ele comentou
Ela o fuzilou com os olhos e lhe mostrou o dedo. Outro tranco. Mais forte. Mais gritos.
- Eu vou vomitar. – saiu do carro e bateu a porta
Aproveitando que ela não estava ouvindo, Garfield pegou o telefone e discou para Damian. O celular tocou, tocou e tocou. Garfield tinha 72 anos quando ele atendeu.
- Fala logo, Logan. Tô ocupado! – Damian gritou do outro lado da linha. Eram gritos no fundo?
- Resumidamente, estou preso na ponte Kiliang e ela está sendo atacada por um gorila gigante e... – viu a cena de novo, arregalando os olhos. O gorila tinha subido de novo e dessa vez, uma pessoa com uma capa apareceu – O Batman tá aqui então quer dizer...
- Você tá na ponte agora?! – Damian perguntou – Droga! Logan, olha...
De repente, Robin apareceu na ponte, só para ser pego no punho enorme do gorila. Robin tentou alcançar a espada na bainha das costas com uma mão. A outra mão estava em seu... ouvido. Ele estava mesmo falando no telefone enquanto lutava? Hum, e ele ainda diz que é profissional.
- Eu tô te vendo da janela do carro. Não acredito que tá falando no telefone comigo agora.
- Eu disse que estava ocupado!
- Owww, você me ama tanto assim?
- Logan!
Pela janela, viu Robin do punho e cair em posição de luta, com a espada em mãos.
- Tá, tá entendi... – ouviu engasgos vindos do lado de fora – Tudo bem aí, Rae?
- O quê?! – Robin saiu da posição de luta, procurando o carro em que Garfield estava e, quando encontrou, fixou os olhos nos dele – Ela tá aí?!
- Hã... Sim, ela tá...
- O que minha namorada tá fazendo com você num sábado à noite?
Garfield piscou.
- Você quer ficar com ciúme agora?! Você tá em uma luta, a ponte tá sendo atacada e ela tá vomitando na estrada!
Viu Robin balançar a cabeça, completamente alheio a briga do vilão com Batman atrás dele.
- Você tá certo, foi mal. Foi um momento de fraqueza e... Ela tá vomitando?
Garfield tentou responder, mas bem nessa hora, o punho do animal atirou Robin para longe, o jogando para fora da ponte e, pelo telefone, Garfield percebeu que não foi uma queda nada suave. Ele fez uma careta.
- Acho melhor você desligar. – disse estupidamente
- Obrigada pelo conselho. – Robin grunhiu e logo depois desligou
Bem na hora, Rachel voltou para o carro, suspirando. Medo estúpido que a fez vomitar e agora ela estava com esse gosto azedo na boca. Não era atoa que ficava com tanto medo assim em ataques de vilões. Ela quase morreu no último.
- Eu tô seriamente considerando o Convento.
Garfield riu.
- O Batman e o Robin estão aqui. Não vai acontecer nada.
- Eu sei. – comentou, com um leve sorriso, mas foi tão rápido que Garfield pensou ter imaginado
Outro tranco. Outro tranco.
O gorila voltou para ponte e começou a correr. Batman e Robin atrás. Várias pessoas corriam e desviavam de golpes, mas era difícil fugir da ponte. A saída mais próxima estava bloqueada pelos veículos do acidente.
- A gente sai do carro? – Garfield perguntou
- Não! Vamos virar poupa se sairmos daqui com... – viu Gorila levantar um carro e arremessá-lo em direção ao Batman... Que estava bem na frente deles! – Sai do carro!
Garfield e Rachel se jogaram para fora do veículo bem a tempo. O carro vermelho que o animal jogou aterrissou bem em cima de seu próprio carro. A lataria preta foi totalmente esmagada.
- O carro da minha mãe! – ela lamentou, ainda estirada na calçada – Ela vai me matar!
- Sua mãe é nossa menor preocupação, Rachel! – Garfield gritou do outro lado, tirando os pedaços de vidro do cabelo
Alguém aterrissou no carro na frente deles, gemendo de dor. Eles o reconheceram na hora.
- Robin! – Rachel correu até ele
Ele virou a cabeça para ela.
- Você tá bem? – ela perguntou
Robin respirou fundo e tentou dar um sorriso sarcástico.
- Já tive quedas piores.
- Isso não é brincadeira... – ela fechou a boca com força, como se estivesse se impedindo de falar algo. Ele franziu o cenho – Robin. – terminou, pigarreando
- Essa aterrisagem não foi nada suave. – Garfield comentou, aparecendo do outro lado dele
Robin estreitou os olhos por trás da máscara.
- Você eu não conheço, mas cala a boca!
Garfield riu pelo nariz e Rachel pareceu comprimir um riso. O porquê ele não sabia. Grunhindo de dor ao se levantar, massageou a cabeça.
- Vocês têm que sair daqui. Deem a volta e corram para o outro lado.
- É muito longe! E a ponte parece prestes a desabar! – Garfield argumentou
- Mais um motivo para vocês saírem rápido! – pulou do carro e arrumou a capa
- Vamos, a gente consegue. É só você pensar que lá do outro lado está a maior... Tigela de tofu que você já viu. – Rachel deu um tapinha no ombro do amigo
Garfield pensou a respeito, mas um outro rugido de gorila decidiu por ele.
- De acordo.
Anates de começar a correr, Rachel segurou a mão de Robin, escondida dos olhos de todos. Ele olhou para ela, confuso.
- Toma cuidado, tá? – deu um aperto de leve em seus dedos e saiu correndo
Ele tentou não sentir ciúmes. Ela só estava pedindo para o cara que salvou sua vida ter cuidado, era uma coisa perfeitamente justificável. Balançou a cabeça e se concentrou na luta, bem a tempo de desviar de uma moto sendo jogada em sua direção.
Enquanto isso, Garfield e Rachel tentavam ao máximo desviar de várias pessoas – muitas quase os pisoteavam -, carros e motos e, principalmente, dos projéteis lançados pela luta.
- Essa é minha primeira vez fugindo de um vilão! – Garfield disse ofegante
- Ah, é? Tá se divertindo?
- É emocionante!
Rachel riu pelo nariz. A ponte tremeu. Não foi só um tranco. Realmente tremeu. As pessoas gritaram com o susto. Rachel parou de correr e olhou para trás e entendeu o motivo do tremor.
O gorila estava batendo seus punhos enormes na ponte ao mesmo tempo que pulava. Ele queria derrubar a ponte!
Ela arregalou os olhos e procurou por Batman e Robin. Não viu sinal deles e isso a deixou mais preocupada. Outro tremor foi mais forte ainda e foi aí que ela sentiu. A estrada rachando debaixo dos seus pés.
- Rachel! – ouviu Garfield gritando
Despertou do transe e começou a correr de novo, alcançando o amigo. A maioria das pessoas já tinha alcançado o outro lado e estavam encorajando quem estava na ponte a correr mais rápido, puro desespero. Outro tremor, mas dessa vez um carro caiu atrás dele e levando uma parte da ponte junto.
Uma mulher quase caiu, mas felizmente, Rachel e Garfield conseguiram puxá-la antes que ela encontrasse o buraco.
Quase lá, quase lá, quase lá, quase lá; ela ficou repetindo isso para si mesma. Faltavam no máximo uns dois metros até alcançarem o fim.
Quatro pessoas. Eram só essas que ainda corriam pela ponte quando a estrada desmoronou. Merda! Faltava tão pouco!
Eles gritaram de susto quando deixaram de sentir seus pés sobre o chão, tentando agarrar o que conseguiam para se impedirem de despencar até a estrada debaixo. Duas pessoas não tiveram tanta sorte, mas Rachel sabia que estavam vivas. Ouviu os choros e os grunhidos de dor. Provavelmente, algumas pessoas lá debaixo as viram caindo e conseguiram segurá-las a tempo.
Ela não ia tentar a própria sorte.
Garfield conseguiu segurar em uma beirada, a agarrando firmemente, desesperado.
- Rae!
Rachel se agarrou aos destroços do interior da ponte, os canos sendo o material mais seguro para se segurar.
- Eu tô bem! – olhou para cima e viu Garfield a olhando preocupado – Juro, eu tô bem!
- Garoto, vem, rápido! – um homem gritou da beirada, tentando alcançar a mão de Garfield
Ele olhou para ela, desesperado. Ele não ia deixar ela ficar lá sozinha.
- Vai, Gar! Tá tudo bem!
- Eu não...
- Vai logo!
Ele protestou e negou veemente, mas o homem e mais algumas pessoas o puxaram para cima à força, mas assim que foi posto em terra firme, se debruçou para a beira para conferi-la. Pelos sons, os tremores pararam e ela ouviu a voz de Batman.
Ótimo, eles estavam bem e voltaram a lutar. Isso era bom.
Rachel viu algumas pessoas tentando fazer uma corda humana para tentar alcançá-la, mas com o peso, fizeram mais destroços cair e o cano onde ela se segurava entornou para baixo, rangendo. Ela engoliu o desespero e pediu para não tentarem aquilo de novo.
Garfield olhou para a luta e viu quando Batman finalmente usou uma granada de fumaça. Gás lacrimogênio. Isso, ele ia por o gorila para dormir. Robin estava tentando parar o animal, que andava até a beirada, pronto para pular para a estada de baixo.
- Robin! – ele gritou, tentando chamar atenção
Robin não ouviu, mas Batman sim. Por segundos, ele olhou para Garfield, que estava apontando para baixo. O morcego não pareceu entender exatamente o que aconteceu. Ele pode pensar que ele estava falando dos destroços que caíram ou ainda estavam caindo. Quer dizer, era um risco para as pessoas lá embaixo.
O cano entortou de novo. Alguns cabos que o segurava arrebentaram e o cano soltou mais um pouco e, dessa vez, Rachel gritou de susto.
E dessa vez, Robin ouviu. Olhou para trás por míseros segundo e viu Garfield apontando. Arregalou os olhos e xingou. Ele não podia soltar o gorila agora. Precisava segurá-lo até o gás fazer efeito. Senão ele fugiria e eles não o encontrariam tão rápido.
O desespero tomou conta dele.
Apaga logo, apaga logo, apaga logo! Sua mente ordenou ao animal.
Felizmente, o gorila começou a cambalear, quase pisoteando Robin no caminho, que apertou a corda em volta dos grandes pés.
Mais um rangido, mais um movimento do cano se soltando. Os destroços caíram mais rápido e Rachel só não foi atingida por sorte. As pessoas lá embaixo se afastaram. Não tinha mais ninguém lá embaixo para segurá-la.
Era estranho que essa situação ainda não a assustou tanto quando a do Pinguim.
- Ai, meu Deus... – ela ofegou quando o cano soltou mais
Mais um pouquinho e ele quebraria e ela cairia, se quebrando inteira nos destroços ou morrendo. Ela não sabia qual das opções era melhor, mas preferia que a opção de permanecer ilesa aparecesse logo.
Rangido. De novo e de novo.
- Rachel! – Garfield gritou desesperado
Suas mãos estavam suando e doendo de segurar o cano com tanta força. Ela ofegou e fechou os olhos.
- Sai daí, Gar!
Ele arregalou os olhos.
- Não, não, não. Robin!
O gorila caiu na ponte, desacordado, mas aquela estrutura também caiu, enviando os destroços e carros para baixo, indo em direção a civis inocentes. Batman pulou, indo ajudar a desviar. Sabia o que o filho faria sem nem dizer.
Suas mãos escorregaram ao mesmo tempo e que o cano quebrou, e quando se deu conta, estava caindo, em direção a uma pilha de destroços, cabos e ferros perigosos. É, provavelmente seu destino seria a opção 2. Uhul.
Conseguia ouvir Garfield gritando seu nome desesperado por cima das pessoas. Bom, o lado positivo era que ela não foi morta, diretamente, por um vilão, como prometeu à mãe. Pelo menos essa promessa ela cumpriu.
De repente, um braço muito familiar se enrolou firmemente em sua cintura, parando sua queda. Ela ofegou com o tranco que o corpo deu, mas muito grata.
Respirou fundo algumas vezes e finalmente abriu os olhos, vendo o olhar mascarado. Ele franziu o cenho, preocupado.
- Você podia ter chegado um pouco mais cedo. – ela disse, para acalmá-lo
Ele sorriu, parecendo aliviado ao vê-la bem. Seu sorriso logo virou sua marca registrada de sarcasmo.
- Você sempre fica caindo por aí? – ironizou
- Só quando você tá por perto pra me segurar. – ela sorriu
Robin sentiu uma vontade absurda de beijar ela naquele momento.
Batman já tinha acalmado as pessoas da estrada debaixo e os civis da ponte, aliviados de ver que a garota não caiu, finalmente relaxaram e começaram a se dispersar. O único que ficou os observando foi Garfield, e ele não os incomodou.
Robin a levou para uma parte de ponte ainda intacta e a segurou até Rachel conseguir firmar os pés. Ela olhou para ele.
- Obrigada. De novo. – revirou os olhos, brincando
- Foi um prazer.
Ela riu pelo nariz de sua zombaria, mas soltou um suspiro com um sorriso, baixando a voz para um sussurro.
- Feliz aniversário, Damian.
Robin arregalou os olhos e tinha certeza de que sua cara empalideceu. Deu um passo para trás, desnorteado, mas logo ficou próximo dela de novo. Ela tinha um sorriso divertido no rosto.
- Como...? Você...? Mas...
- Sabia que era você desde o elevador. – ela admitiu – Em todas as vezes que você me salvou, sabia que sua voz era familiar. Mas eu sempre estava ou desnorteada ou assustada demais para diferenciar. No elevador, eu não estava vendo quase nada, então eu dependia da minha audição. Reconheci sua voz na hora, Damian. Desde lá, sabia que você era o Robin.
- Eu...
- Foi por isso que eu te beijei. – deu de ombros – Sabia que era o garoto que eu amava e beijei ele. Mas depois o Damian sem a máscara pareceu ficar irritado com isso. – revirou os olhos e as bochechas dele coraram – Acha mesmo que eu beijaria o Robin se eu não soubesse que era você?
- No... No começo, eu achei que sim. Mas... Na noite que eu te tirei do bueiro, eu percebi que você não faria isso. Sinto muito por duvidar.
Ela deu de ombros de novo. Segurou a mão enluvada dele.
- Foi por isso que eu disse que não queria ver sua cara mascarada de novo. Achei que você ia entender as dicas.
Ele nem sequer pensou nisso, nunca tinha reparado. Voltando atrás, ele começou a notar. As dicas sutis que ela pareceu enviar desde aquele dia, até mesmo na rotina comum em seus encontros. Os sorrisinhos que ela dava... Ela realmente sabia!
- Por que não me contou? – ele perguntou baixinho, apertando a mão dela
- A identidade é secreta, até mesmo para as namoradas. – franziu a testa – Acho que eu sou inteligente demais para ser ignorante ao ponte de não perceber.
Ele riu um pouco, tirando o pó do cabelo dela. Aproveitou e deixou sua mão descansar em sua bochecha.
- Bom, acho que eu que fui ignorante de não perceber os sinais. Devia saber que uma hora minha namorada, super inteligente e esperta e linda e genial... – beijou a testa dela – ia descobrir sobre minha vida secreta.
Ela tentou conter um sorriso.
- É, você me subestimou.
- É, eu fiz.
- Eu não contei para ninguém. Juro.
- Sei que não.
- O Conner, o Bruce, seus irmãos... – ela sorriu maliciosamente
Ele zombou.
- Sua espertinha. Esperta demais.
- Raciocínio básico são as palavras certas, na verdade.
Ele riu e beijou a ponta do nariz dela.
- O Gar sabe desde quando? – ela perguntou
Ele formulou uma pergunta, mas balançou a cabeça.
- Vamos falar disso depois, pode ser?
Ela respondeu o beijando, finalmente.
- Aí, casal! – ela ouviu Garfield comemorando
Ela riu contra a boca de Damian, que suspirou aborrecido, embora também estivesse sorrindo.
Ele jogou o gancho em uma árvore e os levou até o outro lado da ponte, parando em frente a Garfield.
- Eu disse pra contar pra ela antes.
- Cala a boca, Logan.
Rachel olhou para seu carro destruído e soltou um suspiro lamentável.
- Era o carro novo da minha mãe.
Damian abanou a mão.
- Eu posso comprar outro.
Ela zombou, mas logo seu sorriso morreu.
- O seu presente de aniversário estava lá.
Garfield e Damian piscaram.
- Nossa, é verdade. – Garfield lembrou – Você ia amar o que ela te comprou. – riu com a lembrança
Damian tirou a máscara e a encarou.
- O que você comprou?
Ela comprimiu os lábios, segurando um sorriso divertido.
- Um Batman de pelúcia.
Damian piscou e engasgou, fazendo Garfield e Rachel rirem.
- Isso não tem graça!
- Verdade. Você ia morrer se visse o que o Gar comprou.
Damian fez uma pergunta silenciosa ao garoto. Garfield se aproximou e cochichou no ouvido dele.
- Um conjunto de cuecas com o rosto do Robin.
Damian corou furiosamente e ergueu a mão, preparado para socá-lo, mas Rachel fechou a mão sobre a dele.
- Nada de violência contra civis inocentes. – abaixou as mãos e fechou os dedos sobre os deles – Agora, será que a gente pode ir embora? Tô morrendo de fome.
- Nossa, eu também! – Garfield pulou, entrelaçando o braço ao livre de Rachel
Damian pôs a máscara de novo e sorriu, sendo puxado pelos amigos. Ele os acompanhou até a estrada debaixo, onde os socorristas esperavam. Tinha alguns ônibus que levariam as pessoas ilesas para a cidade.
Antes de entrar em um, Rachel o abraçou e sussurrou no seu ouvido.
- Meu herói.
Depois disso, entrou no ônibus e ele observou o veículo se afastar, com um sorriso bobo no rosto.
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