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4: Nuvens de Pipoca

Eu não sei dizer com exatidão quando a ideia de azeitona de me aproximar do Luccas se acendeu na minha cabeça como um lampião à gás, daqueles que não se usa há mais tempo do que certamente estou vivo.

Culpa, é óbvio, sua lagartixa albina, era o que meu cérebro desparafusado gritava toda vez que pensava nisso - e eu pensei nisso muitas vezes desde o momento em que bati os olhos nele pela primeira vez, naquela manhã. Porém, alguma coisa me impedia de dar o crédito à essa vontade repentina somente ao meu remorso por tudo o que fiz com o garoto em questão.

Eu me arrependia. Muito. Muito mesmo. Provavelmente, mais do que qualquer outra besteira que já fiz na minha existência - e não foram tão poucas assim. Também não me orgulho disso. Na verdade, não me orgulho de muitas coisas. Dava para encher um caminhão inteiro de todas as besteiras que permearam meus anos nesse humilde planetinha caótico girando no vácuo do espaço, se caminhões fossem do tamanho do próprio universo.

Tudo bem, talvez eu esteja exagerando um pouco. Às vezes, eu exagero. Talvez, muitas vezes. Vezes para caramba. Especialmente quando quero mentir sobre alguma coisa, ou ressaltar uma ideia.

O que acontece é que eu não era mais - ou queria acreditar que não - a mesma pessoa que fazia uma centena de maluquices impensadas e machucava seres humanos que, no fundo, gostava mais do que queria admitir, porque esse sentimento me causava mais nós internos do que a minha cabeça fora de órbita era capaz de desatar de um jeito normal.

Só para deixar claro: Esse não era o caso do Luccas. Com certeza, não. Não elevado a uma oitava potência que, por sua vez, está elevada a uma constante infinita.

A questão é que parecia ter alguma coisa que me puxava para ele, como se o garoto tivesse lançado uma linha de pesca ao acaso e seu anzol se prendeu em algum canto da minha pele, que eu não conseguia encontrar de jeito nenhum onde estava para puxar e, consequentemente, me livrar daquele magnetismo esquisito para burro.

Isso me incitava a fazer coisas estranhas, como, por exemplo, ficar olhando para ele sempre que se distraía com alguma coisa da cidade em profusão ao nosso redor, enquanto caminhávamos rumo ao cinema.

Nossos tênis imprimiam passos equalizados nas calçadas estendidas em frente aos estabelecimentos comerciais, com seus meios-fios desembocando no asfalto que preenchia o centro das ruas, cujo sol derramava seu óleo dourado sobre a escura superfície áspera e nas mechas dos nossos cabelos.

Minhas retinas um tanto mal cuidadas que gritavam por um par de óculos há anos ainda não tinham se acostumado com o quanto ele estava diferente. Meus neurônios nunca tinham parado para pensar em como seria a versão crescida daquele garoto gordinho e acanhado que não conversava com ninguém no colégio, mas eu podia jurar que nenhuma das projeções que poderia elaborar faria o mínimo jus à realidade.

Seus cachos pareciam com uma centena de conchas de caracol escorregando por toda parte, de um jeito tão hipnótico que me deixava questionar qual seria a textura daqueles fios cor-do-chocolate-mais-fantástico-do-mundo.

Ele era adorável. A forma como olhava para o mundo carregava um fascínio mesclado a uma inocência ímpar que os anos e decepções não foram capazes de tirar, pois ainda era extremamente semelhante ao jeito que fitava o jardim do colégio sempre que passava perto de lá quando criança, ou algum inseto bonitinho deslizava diante dos seus olhos.

Você está sendo estúpido, Oliver. Pare de encarar.

Entretanto, antes que eu pudesse desviar o foco, suas íris recaíram sobre mim, espalhando centelhas pela minha corrente sanguínea que viajaram até o órgão pulsante em meu peito, fazendo-o entrar em uma disritmia súbita.

- Por que você tem recortes de jornal na parede do quarto? - perguntei rapidamente, forçando-me a curvar os lábios em um relaxado sorriso torto, paradoxal ao furacão que circulava no meu estômago.

Ele deu de ombros, torcendo o nariz em uma pequena careta.

- Gosto de olhar ao meu redor e ver notícias boas. Ajuda a tirar o foco do caos que o mundo costuma ser.

Fiquei sem saber o que falar por um segundo ou dois, sentindo os efeitos da onda de fascínio que se dissolveu nas minhas células.

- Isso é bem... legal. - disse finalmente, um tanto abobalhado.

Sentia-me um idiota. Mais do que idiota, aliás. Um super-ultra-mega-idiota, que sequer estava conseguindo se conter direito na presença do Luccas, e rezava silenciosamente para que ele não percebesse o quanto tinha algo de errado comigo.

Não poderia dizer que era exatamente a primeira vez que coisas daquele tipo aconteciam. Mas eu não gostava das sensações que acometiam meu corpo em presenças masculinas. Nem um pouco. Era... constrangedor. Fazia-me sentir um peixe fora d'água tentando escalar uma árvore; completamente deslocado, em meio a uma sociedade que eu já percebera há muito o quanto olhava com tom de recriminação severo para garotos como eu.

Sabia que em algum momento não daria mais para fugir do confronto comigo mesmo e das minhas vontades mais escondidas, mas tentaria até onde fosse possível.

Algo me dizia que o momento desse embate não estava tão distante. Mais especificamente, o comichão que eu sentia perto das minhas escápulas sempre que Luccas olhava para mim.

Contenha-se, lagartixa albina. Ele sequer gosta minimamente de você.

A fila dos ingressos só continha duas pessoas, que estavam à nossa frente. A bilheteria adiante era um pequeno cubículo com pequenas lâmpadas amareladas fixas em sua parte de cima, sobre a cabeça do moço que distribuía as entradas por trás de uma pequena parede de vidro.

Troquei o peso de uma perna para outra conforme via uma delas se afastar, já com o retângulo de papel que autorizava sua entrada em mãos, e comecei a torcer os dedos incessantemente na barra da camiseta que Luccas havia me emprestado, para que eu substituísse a da farda.

Um desenho da constelação de Cassiopeia se esboçava no tecido, rompendo seu negro com os salpicos dos pontos cintilantes. Um aroma suave de baunilha mesclado ao vislumbre distante de naftalina escorria dele, preenchendo minhas narinas com o cheiro agradável que deveria ser o mesmo da pele do seu dono.

Direcionei as vistas para ele enquanto este pegava nossos ingressos com o moço da bilheteria, reparando em como as íris castanhas de Luccas se focaram nele por mais tempo do que seria considerado necessário, a ponto de esquecer de fisgar as nossas entradas.

- Senhor...? - O rapaz de fios acobreados chamou, para trazê-lo de volta à realidade, mas não deu certo.

Talvez, Luccas fosse como eu. E pensar nisso inundou meu peito de um furor que me fez ter vontade de sair correndo no meio da rua, enquanto berrava um Tim Maia no tom mais alto que minhas cordas vocais aguentavam debaixo do céu - e da constelação de Cassiopeia.

Fingi coçar o nariz, apenas para rir baixo de forma discreta. Então, estiquei os dedos e torci a pele do antebraço de Luccas com força, o que o fez soltar um grito exasperado e direcionar as orbes arregaladas para mim, com evidente dúvida.

- Os ingressos, caramba. - expliquei baixo, quase urgente. - Você tá viajando na maionese estragada.

Ele se tocou, e os pegou rapidamente, soltando um riso embaraçado para o cara da bilheteria antes de quase se pôr a correr rumo ao balcão de venda de comidas.

Não contive uma risada mais enfática, seguindo-o como um bom estagiário de carrapato.

O estouro das pipocas ecoava da máquina dentro do cômodo que exibia alguns pôsteres de filmes em suas paredes, como um recorte do clássico Tempos Modernos, de Charlie Chaplin, na cena em que Carlitos está deitado sobre as roldanas de uma máquina, Dona Flor e seus Dois Maridos e Guerra nas Estrelas.

O ar carregava vislumbres quentes da manteiga que derretia nas pipocas, tornando a atmosfera inexplicavelmente acolhedora, como se estivéssemos pairando em cima de nuvens salgadas feitas do milho explosivo em questão.

- O que você vai comprar? - eu quis saber, enquanto fitávamos a infinidade de coisas zero por cento saudáveis que infestavam os compartimentos do balcão, a exemplo de salgadinhos, chocolates e outros doces.

Parecíamos dois cachorros vendo os frangos girarem em frente a uma padaria.

- Se eu tivesse achado o pote de ouro no fim do arco-íris, compraria um pouco de tudo. - Riu brevemente. - Mas, como não tive essa sorte, vai ser só a pipoca. E você?

- Tô com vontade de comer um pão de alho desde cedo. - Fui sincero, torcendo o nariz em uma careta um tanto sôfrega, e recebi sua sobrancelha erguida em hilária descrença na minha direção. - Mas, como aqui não tem, vou me contentar com um chocolate. E um salgadinho. E algumas balas. Não, dois chocolates. Três, aliás, porque tenho que dividir um com você.

- Que negociação injusta! Dois para você e um para mim? - Transpareceu uma chateação infligida.

- É lógico. Meus bens, eu reparto desse jeito.

- Espero que nunca se divorcie. - brincou.

- Para isso acontecer, eu teria que me casar. E duvido muito se um dia vou pisar em um altar. - Dei risada.

- É tão anti-sentimental assim?

Torci os lábios, organizando mentalmente nas palavras que diria a seguir de um jeito que fizesse sentido.

- Não é bem isso. É só que eu acho que você já deve ter percebido que eu não sou exatamente alguém fácil de se lidar. E não posso exigir que outra pessoa ache isso as mil maravilhas, a ponto de tolerar se casar comigo. - Sacudi os ombros, imprimindo uma casualidade extrema que não exatamente sentia diante desse assunto.

Não que eu quisesse achar alguém a todo custo. Não se tratava disso. Apenas... me questionava, às vezes, deitado na cama enquanto fitava o amontoado de adesivos que brilhavam no escuro aderidos ao teto do meu quarto, se encontraria algum ser disposto a me aturar com todas as minhas nuances algum dia.

- Não se trata de achar as mil maravilhas. - Luccas elucidou, com convicção. - Não é assim que funciona o amor. É sobre você saber que alguém tem um milhão de defeitos, assim como várias qualidades, e... apreciar a pessoa como um todo, não olhando só para as partes ruins ou para as boas. E, acima de tudo, ter paciência e compreensão.

Arqueei as sobrancelhas em evidente descrença, impressionado com a sua fala sensata, que parecia pertencer a alguém pelo menos vinte anos mais velho.

- Você... fala do amor como se já tivesse sentido isso. - gaguejei feito um imbecil, como infelizmente acontecia diante situações que me causavam borbulhamentos internos.

Luccas riu. E as bolhas aumentaram ao som melodioso da sua risada.

- Não senti. Mas converso bastante com meu avô. Ele, sim, já amou demais. Casou quatro vezes, o velho.

Soprei um riso, e o garoto sorriu de volta para mim, encarando-me nos olhos com constelações inteiras crepitando em suas íris escuras.

As bolhas internas se atropelaram no meu estômago, enchendo-o tanto que pensei, por um momento que precedeu a chegada da moça que nos atenderia, que poderia implodir de dentro para fora facilmente.

Luccas capturou sua pipoca, e eu tive sérias dificuldades em equilibrar a coletânea de besteiras que tinha comprado por entre os braços enquanto caminhávamos rumo à entrada da sala de exibição.

- Se você derramar comida na minha camisa, eu te penduro em um poste de cabeça para baixo. - advertiu o dono da peça, duramente sério, e a única coisa que eu pude fazer diante da sua sisudez foi rir.

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