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12: Fósforos de Acender Cigarros

— Passa o sal, por favor.

O garoto foi certeiro em seu pedido, enquanto girava a panela cujas pipocas estouravam no interior sobre o fogo aceso.

Eu estava sentado na bancada ao seu lado, dando mini chutes no ar enquanto meus dedos montavam uma composição imaginária com os batuques que imprimiam no mármore abaixo de mim.

Tinha esquecido minha carteira de cigarros, na pressa para sair de casa. E estar na presença de Luccas todo aquele tempo estava despejando uma torrente de nervosismo no meu sistema muito maior do que julgava conseguir lidar sem um pouco de nicotina.

Estiquei a mão e fisguei o saleiro na prateleira acima da minha cabeça, estendendo-o para ele. Luccas descansou a panela na boca do fogão e desligou a chama que antes crepitava sob o recipiente, pescando o que pedira da minha palma.

Precisava de uma dose de água gelada no rosto, para recuperar o bendito foco.

— Vou no banheiro. — avisei, saltando de onde estava.

Ele murmurou em concordância, e me pus a percorrer caminho para fora do cômodo.

Enquanto caminhava rumo ao corredor, tive um vislumbre dos fundos da casa de Luccas através de uma das janelas da sala, e pude avistar o senhor Tomás, pai do indivíduo em questão, regando as várias plantas estonteantes com um cigarro pendendo nos lábios.

Como se fisgado pelo pequeno cilindro de câncer, desviei minha rota e saí pela porta da frente, percorrendo a pequena estrada composta de milhares de pedrinhas até onde o homem mais velho estava.

Ele trajava uma calça bege sustentada por um cinto de couro, que abraçava sua camisa azul cujo tecido se escondia sob os passantes, e empunhava uma mangueira na direção de um amontoado de samambaias penduradas no muro.

Uma música chiada dançava com o vento, em suas notas embaladas pela voz de Tim Maia escapando do rádio à pilha revestido de poeira e sonhos azuis da cor do mar, sobre a superfície amadeirada do tampo da pequena mesa encostada na parede. Ao lado do objeto, jazia um pequeno amontoado de folhas entupidas de palavras modeladas por uma caligrafia floreada, debaixo de um maço de Hollywood que servia como peso de papel.

— Bom dia, senhor Tomás. — cumprimentei, o mais cordial que pude.

As orbes do mesmo tom de castanho do filho recaíram sobre mim, e ele puxou o cigarro da boca para sorrir na minha direção.

— Rapaz, como você cresceu! Tá parecendo até gente! — Seu senso de humor transpareceu, e não pude conter uma risada.

— Acho que é a tendência. Daqui a uns cinco anos, acho que vou ser completamente gente. — respondi, divertido, jogando-me na cadeira encostada na mesa.

Podia jurar que os cigarrinhos dentro da sua carteira estavam falando comigo.

Salve-nos dessa prisão, Oliver! Confiamos em você e na sua bravura! Socorro!

— Você fuma? — Tomás indagou, provavelmente percebendo meu olhar direcionado.

Acenei com a cabeça.

— Pode pegar. — Apontou para o maço. — Fume comigo, faz um tempo que não tenho uma conversa decente com alguém. Acho que estão começando a me achar um velho rabugento. Não que eu não seja, mas também não precisam ficar me lembrando dessa joça. — Riu.

Não contive outro sorriso. Ele, então, afundou a mão no bolso e arremessou o pequeno isqueiro na minha direção, que se esborrachou na cerâmica perto dos meus pés graças ao meu senso de coordenação muito desordenado.

— Desde quando passou a usar isqueiros para acender seus cigarros? — Minha pergunta foi descontraída, referindo-me às vezes em que o via inflamar os próprios cigarros com fósforos todas as vezes na minha infância, enquanto eu tomava em mãos o objeto retangular que jogara.

Tomás era o tipo de pessoa que eu tinha dúvidas se poderia existir alguém minimamente parecido no mundo, com a sua aversão a isqueiros, calças sempre mais altas que as canelas e um sotaque esquisitíssimo que ninguém sabia ao certo de onde tinha tirado. Mas sempre simpatizei com ele.

— Só uso quando fico com preguiça. — Lançou-me um sorriso torto.

Soprei um riso, e incendiei a ponta pálida de um daqueles que meu corpo tanto clamava, tragando-o com uma lentidão premeditada em seguida.

— O senhor ainda escreve? — inquiri, lembrando-me do quanto mamãe comentava sobre isso com ar de deslumbre na nossa casa, há tantos anos.

Seus cílios se apertaram por causa do sol fumegante, e ele levou a mão à testa, formando uma espécie de guarda-sol improvisado para olhos.

— Com certeza. Isso é a minha vida, garoto. As últimas páginas de um livro que estou trabalhando estão aí em cima da mesa. Pode ler, se quiser.

Alcancei as folhas, depositando-as o mais perto possível das minhas retinas defeituosas. Resvalei os olhos pela linha inicial do primeiro escrito, que me impressionou de imediato e me fez devorar cada fragmento da narrativa como se pudesse morrer a qualquer instante.

Um trecho chamou a minha atenção, assim que esbarrei nele.

— Os minutos com Ana eram cheios de tudo, e parecia valer mais à pena passar horas respirando sua poeira e sentindo o mundo parar de girar, do que passar a eternidade mergulhado em uma existência morna por saber que não a amei enquanto podia. — entoei, fascinado por cada letra que compunha o parágrafo.

Tomás me observou por meio segundo, antes de voltar sua atenção para as samambaia volumosas diante dele.

— Acha que ficou bom? Eu achei meio confuso...

— Bom? Isso aqui tá... excepcional! Profundo, sensível... absolutamente tudo.

Um sorriso radiante iluminou seu rosto, e um silêncio cortado apenas pelo ruído da água se desmanchando em folhas e cores estendeu sua teia fina sobre nós, até que desligou a mangueira, afundou a bituca minúscula do que antes fumava no tampo da mesa e capturou outro do seu maço, levando-o aos lábios debaixo do bigode espesso para, depois, fisgar uma caixa de fósforos e acendê-lo com a chama de um deles.

— Eu estava pensando em citar Drummond de Andrade. — comentou, a voz embolada, enquanto escorregava os dedos pelos fios do cabelo quase rente à cabeça.

— Gosto dele. — murmurei, passando a língua rapidamente pela minha boca ressecada. — Que poema pretende usar?

A fumaça com cheiro amargo escapou da sua boca, pouco antes de estreitar os olhos em uma careta pensativa.

— Não vou saber repetir tudo igual, porque minha memória deixou de ser boa há uns cinquenta anos, que curiosamente é a mesma idade que eu tenho. — brincou, e eu ri. — Mas ele fala que o amor é grande e cabe em uma janela sobre o mar, que o mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar, e que o amor é grande, mas cabe no espaço de beijar.

A intensidade das palavras me deixou sem fôlego por um momento.

— O senhor já viveu um sentimento assim?

Ele soprou o ar, e ficou distante em meio à sua imersão nos próprios devaneios.

— Já amei muita gente na minha juventude, mas ninguém da forma avassaladora como a gente costuma ler nas poesias. Antes, isso me fazia duvidar se já tinha amado, mas agora que estou ficando velho, estou começando a pensar que o amor é mais como a brisa que vem do mar do que a ventania forte no meio de uma tempestade de raios.

— Vê o amor como algo tranquilo. — constatei, escorregando as digitais pela superfície lisa das folhas em minhas mãos.

— É. Às vezes a gente vive procurando alguém que nos faça sentir algo avassalador, cheio de agonia e que nos tire do chão, e a gente acaba se frustrando quando encontramos algo mais sereno. Não que uma coisa avassaladora seja ruim, mas eu gosto de um amor leve, calmo. — Fez uma pausa para tragar, sorvendo a nicotina áspera na ponta da língua. — Talvez seja assim mesmo no final de tudo, ou talvez eu só tenha medo de altura. — completou, despejando um riso cinza.

Senti minha boca se repuxar, enquanto o que tinha dito flutuava nas partículas de oxigênio entre nós, mergulhando minhas células no oceano profundo que elas traziam e enchendo-me até a borda de reflexões sobre aquele sentimento motor do mundo, que morava no início, no fim e no tudo.

Concordei que Tomás deveria incluir a poesia no livro, pensando em como a essência do amor parecia se encaixar não só nela, mas na própria existência do universo, que começou com a união de átomos que fervilhavam em uma energia pulsante que moldou tudo o que conhecemos.

— O que raios você está fazendo aqui? Eu quase morri de nervoso, achando que tinha, sei lá, desmaiado no banheiro, batido com a cabeça em algum lugar ou sido abduzido! — A voz raivosa de Luccas interrompeu nosso diálogo, e eu virei a cabeça para fitar o leãozinho caminhando na nossa direção, com as bochechas tão infladas feito um esquilo.

Será que tinha noção do quanto ele era adorável?

— Só estava batendo um papo com o senhor Tomás.

— Senhor é o seu avô, meu rapaz. — O mais velho ergueu a sobrancelha volumosa para mim. — Só Tomás. Não preciso de mais um me lembrando do quanto estou velho. — Gargalhou com leveza, puxando-me junto para tal ato.

Despedi-me dele pouco depois, e segui com Luccas para a sala, onde nos enfiamos no sofá de frente para a televisão combo após mergulhar a fita no pequeno espaço retangular designado para ela.

Para a minha surpresa, Luccas não fez questão de impor distância entre nós após um determinado tempo, como reparei que sempre fazia. Estava tão próximo a mim no estofado que nossos braços pressionavam um ao outro, e sua pele na minha irradiava uma miríade de faíscas pelos meus poros.

No final das contas, acabei prestando mais atenção nele do que naquilo que se transcorria na tela, porque era cômico observar a forma como suas orbes se mantinham fixas nas cenas com uma atenção quase palpável, sem ao menos piscar, o que o fazia lacrimejar vez ou outra e alegar para mim que não estava chorando quando acontecia; era apenas ressecamento da córnea.

E eu apenas ria, porque já sabia disso. Mas ele não podia saber que eu sabia, sob pena de acabar denunciando o quanto não conseguia parar de olhá-lo.

Era muito melhor observá-lo, na verdade, considerando que a televisão exibia as cenas tenebrosas para cacete de It, que estavam prestes a me fazer ter um colapso nervoso. E ainda era a primeira fita! Havia outra à nossa espera, pelo fato do filme ser tão enorme quanto o monte Everest!

Em dado momento, fingi que estava alongando os braços, e aproveitei a deixa para circundar seu pescoço com um deles ao abaixá-los. Pude senti-lo estremecer suavemente sob o meu toque, e seus cílios piscaram uma centena de vezes em um nervosismo evidente, mas não recuou, o que elevou minha pulsação a níveis megalomaníacos.

Gradativamente, seus músculos relaxaram em um efeito dominó, e seus cachos de concha roçaram na minha camisa assim que deixou a cabeça pender até o meu ombro, descansando-a contra o tecido.

Foi como se eu tivesse engolido o sol inteiro, que desceu derretendo tudo pela minha garganta e trilhou caminho até o meu peito, dissolvendo uma sensação abrasadora e, simultaneamente, macia feito nuvem.

Foi quando percebi que a duração do filme não importava, tampouco o gênero escolhido, porque ele estava ali. E isso bastava.

Droga. Eu estava, sem dúvidas, muito ferrado, e não tinha ideia do que fazer com relação a isso.

Precisava de ajuda para descobrir. E já sabia exatamente a quem pediria.

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