O ritmo certo.
Quando Maya era pequena tinha uma tradição com seu pai: ir ao festival das cores, onde todas as crianças se reuniam e os adultos se tornavam crianças outra vez. Todos os anos o festival ocorria e Maya ia desde seus 5 anos de idade juntamente com seu pai.
A menina passava meses afins, imaginando e planejando como seria, quais roupas usaria e, principalmente, com quais cores sua pele sairia pintada de maneira divertida e espontânea.
Seu pai a levara por anos consecutivos, com a promessa silenciosa de que pai e filha manteriam essa tradição por diversos anos seguintes. Ela adorava e seu sorriso era de pura e genuína felicidade. A diversidade, a alegria e abundância das cores, a música envolvente, as pessoas sorrindo e brincando como se fossem crianças outra vez a encantava, suas mãos sujas, seus cabelos coloridos, tudo era tão perfeito que suas bochechas doíam de tanta felicidade.
Quando seu sétimo ano consecutivo indo para o festival das cores se aproximou, seu pai ficou doente, logo não fazia sentido imaginar tal festa. Faltando duas semanas para a festa em sua cidade seu pai veio a falecer, o coração de Maya parecia não saber bater no mesmo ritmo que antes, a comida perdeu o sabor, tudo a sua volta parecia sem graça e sem vida, pois perdera não só seu pai, mas seu melhor amigo.
Anos se passaram e Maya já era adulta, vivendo para o trabalho e uma rotina muito enraizada. Até que em seu e-mail de trabalho chegou uma mensagem sobre o festival das cores, o qual já não ia a dez anos, desde a morte do pai. Ela fechou os olhos e lembranças dela com ele, se divertindo e jogando bolas de tinta em pó para cima, dançando ao som da música, brincando e se divertindo... aquilo tudo parecia tão distante. Havia perdido seu pai a tantos anos atrás, ela se acostumou viver com a dor da perda, mas perdeu a paixão pela vida, seu coração ainda batia errado.
Destino ou não ela não sabia dizer, porém o festival era no mesmo dia do falecimento do seu pai. Maya não acreditava em destino, mas seu pai sim e algo sussurrou no seu ouvido, tão forte e tão certo que fluiu por toda a sua pele a certeza que ela deveria ir, que talvez isso acendesse seu amor e prazer pela vida outra vez. Ela precisava da chama e talvez essa fosse a faísca.
Os dias se passaram e ela pensava sobre a possibilidade de ir ao festival, mas tinha medo de como reagiria, pois em todas as vezes que foi quando era criança era na companhia de seu pai.
Os dias se passaram e ela resolveu ir, seria uma ótima maneira de homenagear a memória dele. Os dias se passaram e logo chegou o tão esperado momento, seu coração batia de ansiedade, aquela ansiedade que ela não sentia desde quando era uma menina, desde quando passava noites em claro pensando em tudo que faria no festival junto com seu melhor amigo, seu pai.
Chegando o esperado dia, se arrumou e se encaminhou para o local do evento. Na entrada pegou suas bolinhas de tinta em pó em uma espécie de vasilha de alumínio, lá havia todas as cores, azul, vermelho, amarelo, rosa, roxo. Seu pai havia dito uma vez "vamos pintar um arco-íris pro mundo todo ver".
As pessoas ao seu redor começaram a dançar ao som de uma música contagiante e jogar as bolas umas nas outras, todos sorrindo e se divertindo. Explosões de cores por toda parte. Maya se assustou quando uma bola da cor vermelha atingiu seu rosto do lado esquerdo, passou a mão no rosto e então viu aquela mistura de cores estampando agora seus dedos. Olhou para cima onde viu imensas nuvens de cores explodirem enquanto a música embalava a todos num ritmo emocionante e contagiante. De repente sentiu o ar mais leve e deixou seu corpo ser levado pela música.
Maya se permitiu dançar, sorrir e jogar todas suas tintas para o alto e vê-las explodirem em cores radiantes, seu corpo lembrava, da diversão da emoção de anos atrás. Rodopiou com os braços abertos torcendo para sair com todas as cores possíveis, na sua roupa, sua pele. Maya girava e dançava sem parar com olhos fechados sentindo a batida da música pulsar por todo seu ser, sua alma, sua essência vibrava ao som de cada nota. E naquele exato momento quando abriu os olhos, viu seu pai a uma distância dela, com as mãos no bolso da calça a observando. Ele estava com um sorriso enorme no rosto. Ela levou suas mãos ao coração que batia freneticamente, talvez fosse uma alucinação ou algo do tipo, mas lá estava seu pai, se isso fosse um sonho, ela não ia querer acordar jamais. Seu próprio sorriso começou a brotar. Lá estava ele admirando a alegria da filha, tão orgulhoso da mulher que ela se tornou e ainda mais orgulhoso em saber que a filha voltou a sorrir depois de sua morte. Maya não se segurou, suspirou profundamente e deixou as lágrimas descerem, não eram lágrimas de tristeza e sim de alegria e de saudade. Elas começaram a correr livremente em seu rosto manchado de tinta enquanto observava seu pai a distância. Maya sentiu no seu coração que ele sempre estaria com ela, enquanto seu coração batesse, o dele também bateria. E então ela sentiu. Sentiu seu coração voltar a bater do jeito certo outra vez.
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