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Capítulo Um

-Mãe, por favor! Eu não quero ir...

Já era a milésima vez que dizia a minha mãe que eu não queria participar daquela coisa que ela insistia em dizer que era um acampamento. Na minha cabeça aquilo não passava de um castigo.

-Filha, já disse que você vai. Não vou entrar nessa discussão de novo. Pega sua mala no quarto e vem. Você já está atrasada.

Saí bufando do quarto, arrastei aquela mala roxa pelo pequeno apartamento onde eu e minha mãe vivíamos. Infelizmente não sobrou outra opção além de ir pro bendito acampamento.

Ao chegarmos ao local marcado, encontrei muita gente, a maioria dos pais com seus filhos e filhas. Íamos pegar o ônibus que nos levaria para o tal lugar. Os piores dias da minha vida, sem sinal, sem internet, sem paz.

Eu não conhecia ninguém ali, mas todos pareciam muito animados e logo um grupinho se formou. Eu não podia ficar de fora, precisava me enturmar com aquele povo sem graça, seria muito pior se não fizesse isso.

-Oi gente – falei ao chegar à rodinha que estava ao lado do ônibus.

Diferente do que pensei, todos me responderam com animação, me convidando pra chegar mais perto e conversar. Mas logo tivemos que ir, então fui me despedir da minha mãe.

Ela me colocou nessa furada porque precisava de um mês para fazer seu curso no exterior. Viajaria para a Inglaterra sem mim. Fiquei muito triste com ela, mas precisava deixar que ela retornasse a sua vida de novo. Mamãe passou por muitos problemas logo que me teve, nunca conheci meu pai. Ela engravidou do namorado logo quando o ensino médio acabou, mas ele não queria saber de mim e nem dela, então hoje em dia somos apenas nós duas. Mamãe e eu.

Entrei no ônibus, onde as crianças faziam uma bagunça típica. Demorei um pouco para encontrar um lugar vago, muitas delas corriam pelo corredor, mas finalmente encontrei. A menina que estava sentada do lado da janela me olhou e sorriu.

-Oi, meu nome é Júlia. – ela disse logo que me sentei.

-Oi, meu nome é Dana. Tudo bem?

Ela fez um gesto afirmativo de cabeça e logo começou a rir de algo que os meninos faziam ao fundo. A gritaria era alta, a baderna era louca, mas tudo parecia estranhamente no lugar.

-Quantos anos você tem? – ela quis saber assim que começamos a nos locomover e todos precisaram se sentar.

-Tenho 10, e você?

-9, ainda. Faço 10 anos semana que vem, ainda vamos estar no acampamento, incrível né? – ela disse com uma empolgação que acabou sendo passada pra mim.

-Muito legal, quem sabe eles possam fazer um bolinho pra você! – disse com uma animação que não reconheci.

A viagem foi rápida, chegamos ao local em apenas meia hora. Mas tudo o que vi foi mato, um campo de futebol enorme e um galpão. Será que iríamos ter que dormir em um galpão? Sinceramente, o lugar era pior do que eu podia imaginar.

Logo que todos desembarcaram do ônibus, um dos homens que me pareceu ser o líder chamou a nossa atenção e começou a falar:

-Sejam bem-vindos ao acampamento. Estamos felizes com a presença de cada um aqui... - E continuou a falar algo que não prestei atenção.

O dia estava bonito, as nuvens encobriam o céu que não tinha nada de azul naquela manhã. Sempre gostei de dias nublados, são os melhores, sem dúvida alguma.

-... Espero que vocês estejam dispostos a encarar os seus próprios medos. Esse acampamento vai fazer com que tenham experiências totalmente diferentes das tidas até hoje. Passaremos o cronograma a ser seguido.

Nesse ponto todos já estavam de cara amarrada, muitos tristes, mas eu estava brava. Por que é que aquilo tinha que ser tão chato?

Eles nos levaram para conhecer o local. No galpão havia vários beliches que continham o nosso nome, colocamos nossas coisas no lugar marcado. Aquilo parecia realmente um castigo. A menina que dormiria na cama de cima era a Júlia, pelo menos eu já havia falado com ela.

O cronograma não agradou a ninguém. Por todos os cantos ouvíamos crianças reclamando, crianças gritando ou chorando querendo ir embora. Eu queria chorar, queria sair dali, mas não tinha como fazer isso, então o que me sobrou foi ficar e manter a calma.

Eles nos mostraram a cozinha onde, pelo menos, deixaria uma mesa com comida o dia todo.

Depois de nos mostrar aquele lugar incrível, disseram que teríamos um tempo livre para conhecer os nossos colegas. Mas a questão foi que não vi mais nenhum adulto desde então.

Jáera noite e nos perguntávamos onde estava todo mundo. Ainda bem que não haviacrianças menores de nove anos. A baderna se tornou insuportável. Sempre gosteide silêncio, principalmente quando estava chovendo. Do lado de fora caia umachuva de dar medo, e nada de aparecer algum adulto para cuidar da gente. 

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